terça-feira, 25 de setembro de 2012

CATÁLOGO: Capote

Hoffman e Keener: Capote e Harper Lee revolucionando a literatura americana. 

Truman Capote é um dos maiores nomes da literatura americana e o mais interessante é que em um determinado ano foi escolhido para que o cinema lhe dedicasse dois filmes sobre o processo de criação de seu livro mais importante: A Sangue Frio (1966). Baseado em biografias distintas do escritor foram lançados dois filmes bem diferentes - mas igualmente interessantes. Confidencial (2005) foi estrelado por Toby Jones (como Truman) e Sandra Bullock (na pele de sua fiel escudeira Harper Lee) sob a batuta de Douglas McGrath. Infelizmente o filme foi engolido pela repercussão desta visão de Bennet Miller sobre o autor - que chamou atenção desde que viram a atuação de Phillip Seymour Hoffman no set de filmagem. Enquanto o filme de McGrath utiliza tons cômicos (apesar de ousar em algumas polêmicas que este apenas sugere), Miller optou por uma sobriedade mórbida que deixa a cargo de seu elenco tornar as coisas mais suportáveis para a plateia. Não se trata de ser um filme ser melhor ou pior que o outro, mas ressaltar como dois autores tiveram olhares e emoções distintas sobre o mesmo período da vida de um cinebiografado. Em Capote ele já era famoso por sua relação com Hollywood - especialmente por ter escrito Bonequinha de Luxo que fora imortalizado no cinema com Audrey Hepburn em 1961. Em 1959 o escritor resolveu pesquisar sobre a chacina  de uma família ocorrida no Texas. O assunto lhe chamou a atenção e causou estranhamento em quem acompanhava a sua carreira, já que era um campo completamente diferente do que costumava retratar em suas obras. Desde a primeira cena, Phillip Seymour Hoffman recebe todo o nosso crédito capturando a fala e os gestos do escritor, considero fascinante como consegue exalar carisma com as frases articuladas e milimetricamente calculadas de Capote - não por acaso o filme insere várias cenas onde ele solta diálogos que são verdadeiras pérolas aos amigos em jantares que eram recorrentes em sua vida social. O filme consegue trabalhar bem essa relação do sujeito com os conflitos do profissional. Mesmo sincero em suas amizades, são questionáveis as escolhas de Capote em seu contato com os assassinos que inspiraram seu livro. Ele paga advogados para interferirem no caso, mas  não comenta com o entrevistado os caminhos que o livro pretende seguir. Este é apenas o início de um dilema moral que Truman enfrentará conforme seu livro ganha forma. Capote gostava de ressaltar que Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hicock (Mark Pellegrino) eram representantes de um mundo completamente diferente da família Clutter que foi assassinada naquela noite onde aqueles dois mundos distintos se encontraram. E sobre esse encontro trágico que Capote se concentra em sua obra. No seu processo de escrita, Capote sofre influência de algumas pessoas, uma delas é o editor (que fica fascinado com a obra que tem em mãos), outro é o xerife da cidade (Chris Cooper) e a sua voz da consciência vivida pela centrada Harper Lee (Catherine Keener, indicada ao Oscar de coadjuvante) - que o faz questionar os rumos de seu relacionamento com o caso, especialmente com o assassino Perry Smith. A identificação de Capote com Smith é um dos pontos fortes do filme, afinal ambos tiveram infâncias complicadas, mas enquanto um escolheu um caminho o outro seguiu o oposto. É essa relação que faz com que Capote sinta-se mal com a pena de morte de Perry, ao mesmo tempo que necessita dela para que seu livro tenha a repercussão necessária no retrato que pintaria sobre a repercussão daquele caso na pequena cidade de Holcomb (que na época tinha apenas 270 habitantes). A Sangue Frio torno-se um marco na literatura como um pioneiro no estilo romance jornalístico, afinal Capote acompanhou o caso da investigação até a execução dos culpados. Vendo em Perry Smith um personagem interessante, o autor procurou conhecer sua história de vida, seus ideais e motivações, ao ponto de Smith ter-lhe confiado o próprio diário para maior profundidade do livro. Truman apenas não contava que ao mergulhar neste universo, encontraria grandes dificuldades para distanciar-se do caso. Pelo capricho com que Miller trata a história o filme foi indicado a cinco Oscars (filme, diretor, ator, atriz coadjuvante e roteiro adaptado), mas foi Phillip que levou para casa a única estatueta do filme. 

Capote (EUA-2005) de Bennett Miller com Phillip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr, Chris Cooper, Amy Ryan e Bruce Greenwood. ☻☻☻☻

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