Ruffalo e Linney: alcançando um novo patamar na carreira.
Kenneth Lonergan é um desses ilustres desconhecidos do público. Tendo apenas dois filmes no currículo ele já provou que suas produções são capazes de fazer bonito no circuito independente - e se ano passado Margaret serviu para dar alguns prêmios de interpretação para Anna Paquin, o mesmo aconteceu em 2000 quando escolheu Laura Linney para interpretar a irmã sistemática de Conte Comigo. O filme rendeu à atriz sua primeira indicação ao Oscar (hoje ela já soma três) e ainda apresentou Mark Ruffalo ao público. O filme começa com um acidente de carro que vitima os pais dos pequenos Samantha e Terrence. Anos depois vemos o que a vida fez daquelas duas crianças órfãs. Sammy (Linney) trabalha num banco local e cuida do filho sozinha, portanto fica contente quando finalmente recebe notícias do irmão, Terry (Ruffalo) que irá visitá-la (pena que esse reencontro parece fadado ao fracasso na primeira vez que se veem). É visível as diferenças entre os dois irmãos, enquanto Sammy mostra-se certinha demais, Terry não consegue esconder que tornou-se um desajustado. Não que seja um marginal ou coisa parecida, mas fica evidente que algo está errado no rumo que sua vida tomou - e isso fica ainda mais forte quando ele revela que ficou preso por três meses depois de uma briga (que ele gosta de ressaltar que não foi ele quem começou). No fim das contas ele queria era pedir dinheiro para a irmã e voltar para sua vida no Alaska, mas uma série de imprevistos fará com que convivam por algum tempo. É compreensível a decepção de Samantha ao reencontrar o irmão, afinal ela esperava que ele fosse um exemplo para o seu filho, o pequeno Rudy (Rory Culkin que mostra que era mais expressivo quando era criança). Da mesma forma, compreendemos que Terry fique chateado com os constantes sermões que recebe da irmã. Embora as expectativas de Sammy sejam elevadas demais, até ela vai perceber que a presença do irmão é muito proveitosa para Rudy. Embora esteja sempre de olho nos tropeços do irmão, Sammy tem sua própria cota de problemas. Tem um chefe que adora pegar no seu pé (Matthew Broderick), um noivo compreensivo e atraente (Jon Tenney) mas que ela parece estar presa à ele mais por comodidade do que por amor. Lonergan trabalha as personalidades dos dois irmãos de forma sutil, num ritmo de eficiente dramédia que consegue ser extremamente verossímil na abordagem de um tema tão complexo quando o relacionamento entre dois irmãos. Filmes sobre o relacionamento fraterno não costumam funcionar por exagerar no açúcar ou no melodrama, o que não é o caso deste aqui. Boa parte dos méritos vem da química do par central de atores. Na pele da neurótica Sammy, Linney provou que estava muito acima dos papéis que recebeu em filmes como Congo (1995) e As Duas Faces de Um Crime (1996), enquanto Mark Ruffalo alcança momentos comoventes em que parece apenas um garoto crescido amaldiçoado pela lei de Murphy - isso sem falar na piada incidental de colocar o eterno Ferris Bueller (personagem de Broderick em "Curtindo a Vida Adoidado"/1986) como um engravatado chato. Com o visual limpinho de uma cidadezinha do interior dos EUA (odiada por Terry, registre-se), o filme merece destaque pelo trabalho com personagens e diálogos - que parecem lapidados para que todos pareçam que são nossos vizinhos há tempos.
Conte Comigo (You can count on Me/EUA-2000) de Kenneth Lonergan com Laura Linney, Mark Ruffalo, Rory Culkin, Matthew Broderick, Jon Tenney e Amy Ryan ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário