A bela Rafaela e o monstrengo Santoro: corretos num filme que peca pelo excesso.
Mauro Lima fez sucesso com seu filme anterior, Meu Nome Não é Johny (2008), e não demorou a engatar um novo trabalho. Reis e Ratos foi um dos filmes mais aguardados do ano por ser uma comédia de erros sobre o período que precede o AI-5. Ambientado no ano de 1963, o marketing do filme se amparava em comparações com a forma como Roberto Benigni abordava o holocausto no superestimado A Vida é Bela (1998) e a forma Tarantino de reciclar o tema com Bastardos Inglórios (2009). Sinceramente, o filme fica a dever todo o burburinho que fizeram em torno dele. Bem produzido, o filme padece de uma falta de estilo gritante em suas gracinhas com personagens bizarramente interessantes, mas que, em sua maioria, não conseguem se distanciar da caricatura. Sei que o tom de farsa é proposital, mas isso acaba trabalhando contra o humor que o filme apresenta - isso, sem contar, que a trama é uma grande confusão. A narrativa ficou por conta da cantora de boate vivida pela belíssima Rafaela Mandelli (que está entre os poucos que conseguem dar carne e osso ao personagem) que narra uma série de incidentes que a envolveu antes do golpe militar. Sem saber muito bem os motivos, ela acaba envolvida em uma série de conspirações arranjadas por dois agentes da CIA (Seltom Mello e Otávio Müller), que num primeiro momento parecem querer que um fazendeiro (Orã Figueiredo), motivado por ciúme, faça o serviço sujo para eles: matar o presidente. Só que nada sai como o esperado e existe uma arriscada operação de queima de arquivo. A trama poderia ser eletrizante se Lima não desse a mínima para ela! Prefere ocupar o tempo com as esquisitices de um radialista médium (Cauã Reymond) que atrapalha as ações da CIA ou um cafetão que era envolvido com a militância política (um asqueroso Rodrigo Santoro). As idas e vindas temporais quando sossegam até deixam o espectador entender um pouco o que está acontecendo, mas não chega a envolver. O motivo disso deve ser o excesso. Há narrativa demais, diálogos demais, piadinhas demais, escracho demais e se havia alguma coisa séria no contexto histórico se perdeu no que deveria ser o fio condutor da trama e do estilo buscado pelo diretor. Não sei por qual motivo os diretores brasileiros resolveram fazer filmes de época copiando a linguagem noir de Hollywood (outro filme que padece desse mal é Heleno de José Henrique Fonseca) - se não tivessem os atores conhecidos e as falas em português poderia se dizer que este era um filme americano equivocado. Essa carência de identidade em abordar um período tão delicado de nossa história é o que o filme como maior defeito. Não vejo problemas na ideia de uma abordagem cômica, o problema está na forma como ela é conduzida de forma pouco original ou inventiva. ao ponto de perceber que a trama poderia acontecer nos dias hoje com alterações mínimas. A parte histórica da trama não consegue nem fazer parte do contexto. As viagens do roteiro só demonstram uma infantilidade ao criar uma trama que pudesse dialogar com nossa História. De nada adianta Seltom Mello fazer cara de detetive noir se o personagem não consegue sair do lugar nem quando descobre que a esposa (Paula Burlamaqui) o trai com um marinheiro (Seu Jorge) e todos os personagens acabam seguindo pelo mesmo caminho. Curioso é que com todo o cuidado na produção o filme mostra-se um grande desperdício -e deve ser lembrado somente como o filme em que Rodrigo Santoro estava feio.
Reis e Ratos (Brasil/2012) de Mauro lima com Seltom Mello, Rafaela Mandelli, Cauã Reymond, Otávio Müller, Rodrigo Santoro, Seu Jorge, Paula Burlamaqui, Bel Kutner e Orã Figueiredo. ☻☻
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