Butler: em busca de reconhecimento com o roteiro errado.
Podem até dizer que eu estava num mal dia quando inventei de ver esse filme do diretor Marc Foster estrelado por Gerard Butler, mas tive a impressão que o filme beira o desastre. A história edificante pode até ser boa e inspiradora, mas é conduzida com uma preguiça pelo diretor que simplesmente não me envolveu. O filme trata da história de Sam Childers, um ex-presidiário que sai da prisão, briga com a esposa por ela ter deixado de ser uma stripper (quando se torna religiosa). Revoltado ele mete a cara nas drogas e chega a matar um homem. Aí ele encontra a religião e se torna um exemplo de vida. Parece que esqueci algum detalhe? Esse é o problema que perpassa todo o filme. Nada contra histórias redentoras ou um pouco de fé na humanidade, mas o filme mostra essa transição de forma tão brusca que não convence. Gerard Butler até que se esforça num papel que lhe exige mais do que ser um brutamontes sorridente, mas o personagem é tão esquemático que não lhe dá o mínimo amparo para alcançar seus objetivos (que seria aparecer em algumas premiações). Depois de mudar sua concepção de mundo ao tornar-se religioso, Sam torna-se missionário no Sudão e fica indignado com a situação social, política e econômica do país, ao ponto de enfrentar os guerrilheiros locais em defesa de crianças órfãs da guerra civil que acontece por lá. Quero deixar claro que a história é interessante e poderia render um belo filme, mas o resultado fica aquém do esperado com um roteiro fracote e mal desenvolvido. Até Foster está tão acomodado que esquece de envolver o espectador no que interessa: o filme. A impressão é que apostaram todas as fichas nos aspectos mais "solidários" da história e ficaram repetindo a vida toda que aquele homem não fez nada de bom até o momento em que encontra uma causa para lutar. Da forma como aparece, soa como se o ponto de mudança para esse homem fosse tornar-se um assassino - mas não existe reflexão suficiente no personagem para que tal mudança ocorresse. A simplificação das situações apresentadas é o que mais compromete o resultado. Ao optar por girar em torno da lógica do personagem o filme se empobrece em termos narrativos,tornando tudo superficial e apressado - e mesmo assim a história não anda numa duração longa e aborrecida. A história de Childers pode até causar polêmica pela forma radical escolhida para combater as atrocidades que presencia (ao ponto de muitos considerá-lo um mercenário). Pode até chocar por frases como "Falar de paz em uma sala é perda de tempo", mas se atrapalha mais ainda por repetir para si mesmo que os fins justificam os meios e se as intenções são boas as atrocidades são até permitidas [sic], mas não se engane, o longa se apropria do sentimento cristão para embasar uma visão empobrecida do contexto político em que Childers se insere. Nada é tão simples como aparece no filme. A impressão que tive é que Marc Foster tinha total consciência dos problemas melodramáticos do roteiro esquemático que tinha em mãos e optou por uma narrativa seca para atenuar essas características. O resultado soa tão passivo quanto desengonçado, um desperdício do que poderia ter sido uma bela reflexão sobre política. Afinal, por mais que você se identifique com a indignação do personagem, isso não torna as ações dele menos questionáveis - além de não justificar porque sua visão "nobre" sobre o mundo é a única que aparece no filme.
Redenção (Machine Gun Preacher/EUA-2011) de Marc Foster com Gerard Butler, Michael Shannon, Michelle Monaghan, Madeline Carroll e Kathy Baker. ☻
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