Cavill: Seria Clark Kent, Teseu?
Gosto de mitologia grega desde que era moleque (acho que o clássico Fúria de Titãs/1981 tem muita relação com isso). Eu tinha até um gibi sobre os deuses gregos e na faculdade um bom dicionário de mitologia ajudava a passar o tempo. Portanto, ainda que a decepção seja eminente eu costumo ver os filmes que flertam com o tema. O último que assisti foi esse Imortais do diretor indiano Tarsem Singh. Tarsem ficou famoso na década de 1990 quando dirigiu o elaborado video Losing My Religion do REM. Demorou para Hollywood perceber que seu visual poderia render filmes de estética invejável, mas desde que estreou com A Cela (2000) ficou claro que quando lhe oferecem um roteiro é porque o público terá de engolir o roteiro capenga pela estética arrebatadora. Em Imortais não é diferente, não que o roteiro seja ruim, o considerei até melhor que o remake blasfemoso de Fúria de Titãs (2010), mas a história faz uma grande confusão ao basear-se no mito de Teseu, filho do soberano Zeus com uma mortal. No roteiro, Teseu (Henry Cavill, que é o novo Superman no filme que deve estrear no ano que vem) cresce entre os mortais mas sempre sob os olhos atentos de Zeus (Luke Evans) que o visita constantemente com a aparência de um ancião (John Hurt). Tanto cuidado com até quando ele já está crescido e parrudo é porque Zeus acredita que ele terá a competência de liderar seu povo quando o vilão Hyperion (Michey Rourke, figura bastante apropriada para um sujeito abandonado pelos deuses) resolver soltar os bestiais Titãs que está presos no Monte Tártaro. O filme tem a gentileza de explicar um pouco da conturbada relação dos deuses com os titãs. Ainda que de forma apressada, a introdução deixa clara que os titãs reinavam na terra antes dos deuses os destronarem pelo comportamento bárbaro. Hyperion, percebe que se libertar os titãs ele terá a chance de reinar e ainda destruir os deuses. A jornada de Teseu para destruir os planos de Hyperion se torna uma jornada violenta, que em muitas vezes me fez pensar que estava assistindo uma versão helênica da série Jogos Mortais. Existem requintes de crueldade demais na história, sei que a mitologia não é constituída de histórias leves, mas a violência que se vê no filme passa algumas vezes dos limites. A desenvoltura que o filme tem em mostrar pessoas sendo mutiladas (das formas mais diversas) faz falta quando precisa ter mais seriedade, como no desenvolvimento do romance de Teseu com uma Oráculo (a sempre bela Freida Pinto) ou quando os deuses descordam entre si. O problema maior do filme é que existem muitas subtramas que precisam ser fechadas, muitos personagens que precisam ser desenvolvidos e fica a impressão que tudo vai ficando pelo meio do caminho de Teseu. Sorte que Tarsem continua ostentando um visual elaborado de encher os olhos (menos com a roupa dos deuses que são carnavalescas demais). Se Henry Cavill manter o tom heróico desse filme na pele de Superman, Clark Kent está em boas mãos. Ainda que irregular, Imortais me fez dar conta do motivo de gostar de mitologia: os deuses gregos devem ser os primeiros super-heróis da história da humanidade. A DC Comics deve ter percebido isso quando fez a Mulher Maravilha ser a filha de uma deusa (e a Marvel quando bebeu na mitologia nórdica par criar Thor). Um produtor antenado poderia aproveitar a deixa (imortais custou 75 milhões e rendeu mais de 200 milhões) para criar uma franquia com os deuses helênicos atuando como heróis nos dias de hoje. Eu não acredito que escrevi isso... (mas se fizerem isso eu cobro direitos autorais).
Zeus: "Onde é o baile, pessoal?"
Imortais (Immortals/EUA-2011) de Tarsem Singh com Henry Cavill, Mickey Rourke, Freida Pinto, Luke Evans, Stephen Dorff, John Hurt, Daniel Sharman e Joseph Morgan. ☻☻
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