Joan Allen: o fel correndo nas veias.
Joan Allen é uma das minhas atrizes favoritas, costumo assistir seus filmes desde que a reparei em As Bruxas de Salém (1996) de Nicholas Hytner. Pelo filme ela acabou indicada ao Oscar de coadjuvante pela segunda vez (a primeira foi por sua interpretação de Pat Nixon em Nixon/1995). Anos depois ela acabou concorrendo ao prêmio de atriz por A Conspiração (2000), mas ela ainda poderia ter sido indicada outras vezes, seja pela esposa em crise de Tempestade de Gelo (1997) ou a mulher colorida de A Vida em Preto e Branco (1998). Sabe se lá por qual motivo a atriz ainda não foi premiada pela Academia, mas talento não lhe falta, tanto que é frequentemente convidada a dar credibilidade em filmes de ação como A Outra Face (1997) e a trilogia Bourne original. Se ela não estivesse no alto dos créditos de A Outra Face da Raiva, provavelmente eu nem assistiria à essa produção. O mais legal é que mesmo em uma comédia, Joan é capaz de dar nuances inusitadas para sua personagem. Allen é a mal humorada Terry Ann Wolfmeyer, que foi abandonada pelo marido - ela suspeita que ele fugiu com uma secretária sueca. Terry passa os dias fumando e bebendo diante da TV vestida num roupão e implicando com suas quatro filhas que se tornaram responsáveis pela casa: Hadley (Alicia Witt) que está prestes a terminar a faculdade, a bailarina Emily (Keri Russell) que enfrenta problemas alimentares, Andy (Erika Christensen) que pretende ser independente e a caçula Lavender (Evan Rachel Wood). Mais do que explorar a dinâmica entre esse monte de progesterona, o filme consegue inserir situações interessantes capazes de prender a atenção do público - especialmente pela forma que Terry encara o mundo. As coisas já parecem que vão mudar quando seu esposo desaparece e ela recebe a visita de Denny Davies (Kevin Costner), um jogador de baseball aposentado que ganha a vida num programa de rádio e vendendo bolas autografadas. Desde o início Terry acredita que o interesse de Denny por ela é apenas imobiliário (já que está de olho numa parte do terreno da família Wolfmeyer), mas Costner consegue deixar claro desde a primeira cena que nutre uma verdadeira paixão platônica por aquela loura esguia há tempos. O diretor Mike Binder consegue fazer um filme bastante simpático, que não subestima a inteligência do espectador e que sabe criar situações bem armadas e divertidas (como a descarada cena em que Terry mostra-se disposta a satisfazer os desejos do admirador). Pode até haver algo sistemático na forma como desenvolve as histórias paralelas das filhas de Terry, mas não chega a comprometer o ritmo da trama (Binder até faz uma participação muito bacana como o amigo de Denny que começa a namorar Andy), o que interessa mesmo é a força que Joan Allen confere à sua personagem que aos poucos percebe que o mundo pode não ser tão amargo quanto aparenta. Devo reconhecer que a atriz teve a sorte de encontrar nessa empreitada a química surpreendente com Kevin Costner (no papel de um bom sujeito que ele poderia interpretar dezenas de vezes sem tropeçar). Chega a ser reconfortante ver um filme simples e redondinho (que ousa criar um final surpresa totalmente coerente com a poposta do filme - e especialmente da personagem que rendeu à Joan Allen algumas indicações a prêmios da crítica). A Outra Face da Raiva é uma comédia despretensiosa num formato que era muito comum na década de 1980 e, por isso mesmo, bem interessante de se ver.
A Outra Face da Raiva (The Upside of Anger/ EUA-2004) de Mike Binder com Joan Allen, Kevin Costner, Keri Russell, Erika Christensen, Evan Rachel Wood e Mike Binder. ☻☻☻
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