Douglas: garanhão em crise.
Traduzir o nome para um filme gringo que estreia no Brasil deve ser a fonte de um dos piores trabalhos do universo. De vez em quando aparecem anormalidades gritantes e, o que é mais raro, dois filmes que recebem o mesmo nome. Isso aconteceu com Greenberg (2010) dirigido por Noah Baumbach e estrelado por Ben Stiller e este Solitary Man (2009) estrelado por Michael Douglas. Ambos ganharam o nome O Solteirão e poderiam ter chamado mais atenção se seus nomes originais fossem respeitados. Conheço um bocado de gente que deixou de ver um por ter assistido o outro. Levando em consideração que considero Greenberg uma das coisas mais insuportáveis que já assisti, espero que a maioria tenha visto este aqui. Além do título, ambos tem em comum a presença de dois personagens estagnados em suas vidas, ainda que de forma distintas. Se Greenberg era solteiro por ser chato de mais para conviver com qualquer ser humano, o solteirão de Michael Douglas até parece ter salvação - mais por conta do carisma do ator do que do personagem em si. Apesar de ter alguns tropeços no ritmo (talvez por ter dois diretores Brian Koppelman - que também assina o texto - e David Levien), o filme tem ideias interessantes que valem a visita. O filme começa com a cena de Ben no cardiologista descobrindo que tem um problema cardiológico que pode acabar com sua vida. Um corte temporal o mostra com a mão no peito e pensando em alguns segundos sobre o que pode lhe acontecer, isso é importante para cravar a ameaça da morte no personagem - já que só depois da metade do filme ele volta a falar sobre ela. O longa começa com aquele ritmo cômico para ganhar a simpatia da plateia: Ben (Douglas) é um verdadeiro predador, está sempre à caça - ao ponto de pedir para a filha fingir que é namorada dele e o neto chamá-lo de pai para não perder uma beldade que está por perto. Ainda que tenha teorias tendenciosas sobre relacionamentos, descobrimos que Ben tem um relacionamento estável com uma dondoca (Mary Louise Parker, que depois da série Weeds voltou a chamar atenção no cinema) e tem que aguentar a perseguição da mimada enteada (uma eficiente Imogen Poots). Ele tenta reconstruir a vida depois de um escândalo que manchou sua vida profissional, mas no meio do caminho precisa levar a enteada para entrevista de admissão numa Universidade onde ainda tem alguma influência. É neste ponto que começamos a entender do que se trata a trajetória de Ben. Podem chamar de crise de meia idade, mas acho que o filme vai um pouco mais fundo do que isso. É curioso como o protagonista se envolve com as pessoas ao seu redor, as mulheres são apenas alvos e não merecem muita atenção depois que ele consegue o que quer. E ainda que se comporte feito um adolescente ele repete a todo instante são os outros que não cresceram. Nesta visita à Universidade, onde ele mesmo estudou, reencontra um amigo (vivido por um inspirador Danny DeVito), faz amizade com um tímido membro do grêmio estudantil (Jesse Eisenberg) e (é só colocar uma camisa teen) que ele parece se transformar naquele típico colega de dormitório que irá ajudar o garoto tímido a conquistar a mulherada. Ben ainda se dá muito bem com o neto (especialmente quando jogam video game), mas este é um fato que acontece menos do que as vezes em que pede dinheiro para a filha - como se fosse um menino que acabou com a mesada. Mas ele acredita, com todas as forças, que são os outros que não cresceram. Ele nem faz ideia do estrago que a enteada irá promover na sua vida e tão pouco como o seu comportamento é capaz de magoar a si mesmo e as pessoas ao seu redor. Quando ele parece entender as contra-indicações de seu estilo de vida o título em inglês (Homem Solitário) faz falta, mas quem pode mudar as coisas é ele mesmo - e fugir não é o melhor caminho para isso. Com ótimas atuações, ainda que esteja longe de ser um filme perfeito, ainda existe um punhado de ideias na construção deste anti-herói que fazem do filme uma dramédia eficiente, cenas como o momento em que, apesar de girar em torno de seu universo umbigo, ele descobre que possui amigos (mesmo que ele pareça não dar a mínima para isso) fazem a diferença. O roteiro só precisava ser um pouco mais lapidado, especialmente em sua cena final que transparece sutilmente, uma tendência suicida na teimosia de Ben em não assumir responsabilidades com os outros ou consigo mesmo.
O Solteirão (Solitary Man/EUA-2009) de Brian Koppelman e David Levien com Michael Douglas, Jenna Fischer, Susan Sarandon, Mary Louise Parker, Imogen Poots, Danny DeVito, Jesse Eisenberg e Olivia Thirlby. ☻☻☻
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