A Outra Terra: Melancolia que não deu certo.
Alguém poderia explicar para alguns cineastas iniciantes que fazer filme lento não é a mesma coisa do que fazer um filme a ser levado a sério? Basta pegarmos o exemplo deste A Outra Terra que esconde em todos os seus vícios uma premissa até interessante. Rhoda Williams (Brit Marling) é uma estudante brilhante, afinal foi aceita no concorrido MIT, mas depois que beber mais do que devia numa festa e avistar a proximidade de uma outra Terra no céu ela acaba causando um acidente. Ela vai presa e é libertada para ter uma nova chance. Ela não sabe muito bem o que fazer, acaba arranjando emprego de faxineira numa instituição e cruza o caminho do homem cujo a vida ela arruinou anos atrás. Ele se chama John Burroughs (William Mapother que é primo de Tom Cruise e ficou conhecido pela sua participação na série Lost), é músico e desde que perdeu a esposa e o filho no tal acidente não conseguiu refazer sua vida. Enquanto se aproxima de John, Rhoda está cada vez mais instigada com o planeta similar à Terra e as teorias científicas que desperta. A ideia do mundo paralelo como promessa de uma nova vida até que mantém o interesse na trama até que o filme começar a se perder no tom pretensamente arrastado e dois personagens que não dão liga. Brit Marling consegue ser, na melhor das hipóteses, distante do mundo ao seu redor, ela não convence nem quando subitamente sente-se atraída por John. Mapother até que tenta sair das obviedades do seu personagem (ele poder ser um músico brilhante - capaz de tocar um serrote! - mas ele é incapaz de jogar o lixo na lixeira ou lavar a roupa), mas não consegue. A direção é pesada em sua tarefa de dar a impressão de que nada importante está acontecendo. Haja paciência para aguentar o didatismo da trama em anunciar um destino diferente para John e Rhoda no mundo paralelo ("no momento em que avistamos a nova terra nossa sincronicidade se extinguiu" diz um dos cientistas no rádio, qual o fundamento para essa teoria? Talvez a bola de cristal que a fada do dente emprestou para ele, oras!). O roteiro do diretor Mike Cahill e da própria Marling (o que piora ainda mais a situação, já que ela deveria conhecer a personagem melhor do que ninguém) se perde em tantas voltas que torna impossível o espectador manter o interesse numa trama que não consegue aproveitar ideia de ficção científica, assim como não mergulha nos dramas de sua personagem depressiva. Para piorar, torna-se inevitável comparar o filme com Melancolia (2011) de Lars Von Trier - existe até uma cena muito semelhante em que a protagonista se despe para admirar o planeta no quintal. No entanto, se no filme de Trier havia o constante flerte com o apocalipse, A Outra Terra opta pela vacuidade das ideias. Assisti o filme imaginando que no final haveria uma grande surpresa (descobrir que na verdade a história era ambientada na Terra2 e não o contrário, ou que o tempo inteiro a edição misturava o que acontecia nesses dois mundos), mas o final só deixa claro que a intenção era ser um melodrama óbvio. Perdidos na pretensão de fazer um filme de "arte", os envolvidos esqueceram de um princípio básico de contar uma história: explorar as possibilidades que ela possui. Ao invés disso, o diretor prefere tremer a câmera e utilizar closes bruscos para mostrar que é mais uma vítima desse vício pseudo documental que assola as produções atuais.
A Outra Terra (Another Earth/EUA-2011) de Mike Cahill com Brit Marling, William Mapother, Megan Lennon e Robin Taylor ☻
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