Jacques e Sarah: comédia romântica surpreendente.
A comédia romântica deve ser o gênero mais castigado do cinema, afinal, um bando de gente preguiçosa vive lançando filmes sobre um casal que briga o filme inteiro para descobrir que um não consegue viver sem o outro. Obviamente que de vez em quando aparece um que torna-se a exceção da temporada. Lançado no Brasil ao fim do ano passado, o ótimo Os Nomes do Amor foi um desses casos. Quem gosta de se divertir com as desventuras de um casal vai gostar da história da militante de esquerda que seduz direitistas para que mudem de partido - e quem é antenado com a situação atual da Europa no seu trato com imigrantes vai gostar ainda mais. Numa França cada vez mais marcada pela tensão com os estrangeiros, nós conhecemos Baya (a saborosa Sarah Forestier, que ganhou o César de Melhor Atriz pelo papel) uma jovem livre, leve e solta que rege a vida com o lema hippie "faça o amor e não faça a guerra". Ao invés de se meter em protestos políticos, ela prefere seduzir homens para que mudem de convicção política. Seguir uma carreira? Ela nem pensa nisso, mas se dedica a realizar ações "engajadas" como libertar siris na praia ou arranjar casamentos de conveniência para imigrantes ilegais. Ela é o oposto de Arthur Martin (Jacques Gamblin) um biólogo renomado que presta consultoria para os casos de gripe aviária enquanto mantém sua reservada vida pessoal de quarentão solteiro. No entanto, quando um cruza o caminho do outro a química é irresistível. É hilariante como o filme trabalha o contraste entre os dois personagens como se suas características lhes atribuíssem um encaixe perfeito, essa habilidade aparece tanto no momento em que Baya explica sua convicção "ativista" quanto no momento em que o casal tem de lidar com um perigoso jantar com os pais de ambos. A presença dos pais é fundamental na trama, uma vez que ela é filha de uma burguesa revoltada com um refugiado argelino e Arthur se apresenta como um autêntico francês (seu nome é tão comum que é até marca de eletrodomésticos) até que começa a rever (literalmente) suas origens. O roteiro flerta com um divertido surrealismo quando trabalha com a presença de "fantasmas" dos avós dele e a imagem do jovem Arthur visitando aconselhando o personagem em momentos cruciais. A relação cada vez mais apaixonada com Baya só ressalta que ele precisa perceber a importância de sua mãe ser judia e de seus avós terem morrido durante a Segunda Guerra Mundial. Ao ressaltar o quanto a história está impregnada na identidade cultural de um país, o filme surpreende ao trabalhar questões políticas de forma muito bem humorada - sem parecer panfletário e acertando até em momentos delicados (como no jantar onde apenas palavras que lembram o holocausto são lembradas por Baya). O filme consegue desenvolver seus personagens de forma irresistível aos olhos da plateia e (o mais importante) mostra que a vida de ambos jamais será a mesma depois que se conheceram. "Para a natureza as vidas são todas iguais, é a economia que estabeleceu que uma lagosta vale mais que um siri, mas para a natureza a vida de um equivale à vida do outro..." diz a personagem em certo momento. Dificilmente Arthur continuará sacrificando animais depois dessa - e universalizar essa ideia para as relações humanas é o que o filme tem de melhor.
Os Nomes do Amor (Les Noms des Gens/França-2011) de Michel Leclerc com Jacques Gamblin, Sarah Forestier, Zinedine Soualen e Adrien Stoclet. ☻☻☻☻
Os Nomes do Amor (Les Noms des Gens/França-2011) de Michel Leclerc com Jacques Gamblin, Sarah Forestier, Zinedine Soualen e Adrien Stoclet. ☻☻☻☻
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