Os piratas: entre a corte e o evolucionismo.
Alguns críticos já apontam que a animação Piratas Pirados deve figurar entre os indicados ao Oscar de animação do ano que vem. Se isso acontecer, será bastante justo. Trata-se de uma animação bem divertida sobre um grupo de piratas que se mete em encrencas ao lado da Rainha Vitória e de Charles Darwin. Acho que o título não ajudou muito o filme, já que o filme pode ser tudo menos idiota como o nome faz parecer. Acompanhamos as aventuras de Capitão Pirata e sua tripulação (o fiel escudeiro, um pirata albino, uma mulher disfarçada de homem...) motivados por um roteiro inspirado que faz graça até onde parece não existir. Tudo começa quando o Capitão pretende participar do concurso de "Pirata do Ano", mas tem um problema sério: ele é um dos piratas mais fracassados que o cinema tem notícia. Faz tempo que não conseguem roubar nenhuma fortuna nos sete mares (e quando tentam rendem um dos momentos mais divertidos do filme). Vá entender como foi que a partir dessa premissa o roteiro resolveu colocá-los num concurso de cientistas depois de cruzar com Charles Darwin - que descobre que o papagaio do pirata não era um papagaio e sim uma rara sobrevivente da espécie dodo. Não demora muito para que os piratas se confrontem com a Rainha Vitória em pessoa, que diz odiar piratas e que quer muito que a rara ave dodo faça parte de seu zoológico particular. O maior mérito do filme é demonstrar que nada é sagrado e tudo está ali para virar piada. A Rainha Vitória se torna uma mulher tenebrosa, sabe lutar espadas e se encontra com os maiores líderes do planeta (incluindo o Tio Sam em pessoa) para saborear pratos de fazer qualquer ambientalista espumar de raiva enquanto Darwin se torna um solteirão apaixonado por ela e que gasta o tempo catalogando espécies e treinando um macaco para ser seu capanga (um dos grandes achados do filme). Mas dificilmente o filme funcionaria se não tivesse um protagonista tão carismático quanto Capitão Pirata (uma ótima criação de Hugh Grant). Com sua barba vistosa e seu porte de pirata dos velhos tempos, o estúdio teve a sabedoria de não copiar Piratas do Caribe, criando um universo próprio e divertido capaz de agradar as crianças com seu ritmo de aventura constante e os adultos com as inúmeras referências que espalha no roteiro. Além disso a qualidade técnica desta produção é admirável, o colorido em cena e a expressão dos personagens realmente impressionam e mantém o padrão de qualidade dos estúdios Aardman (o mesmo do premiado Wallace e Gromit/2005 e A Fuga das Galinhas/2000) no trabalho com stop motion com massinha de modelar. Pura diversão baseada na série de livros (inédita por aqui) de Gideon Defoe (que assina o roteiro do filme).
Piratas Pirados (Pirates! Bands of Misfits/Reino Unido-2011) de Peter Lord e Jeff Newitt com vozes de Hugh Grant, Martin Freeman, Salma Hayek, Jeremy Piven e Imelda Stauton. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário