Swinton e os Kevins: assombrada pelo filho em todas as idades.
Ainda não consigo entender como Tilda Swinton não foi indicada ao Oscar deste ano (acabou perdendo a vaga, inexplicavelmente, para Rooney Mara para a versão americana de Os Homens que Não amavam as Mulheres/2011). A atriz alcança o seu trabalho mais notável (para quem conhece a carreira da atriz nascida na Irlanda sabe que isso não é pouca coisa). Ela consegue absorver o espectador na angústia de sua personagem de forma que conseguimos sentir o mundo como ela. Obviamente que devemos reconhecer que a atriz está muito bem amparada pela diretora Lynne Ramsay que consegue extrair todo o horror que brota do livro de Lionel Shriver, ao ponto de esquecermos que estamos diante de uma drama. O resultado é realmente perturbador - em maior parte à desenvoltura da diretora em criar cenas que ficam assombrando nossa cabeça um bom tempo. A tortura psicológica de sua personagem acaba surtindo mais efeito do que a cena final, onde descobrimos o motivo de toda a cidade odiá-la, ainda que ela esteja sozinha e se culpando pelas atrocidades cometidas pelo filho, Kevin. Considero fascinante como Ramsey consegue anunciar a violência eminente com detalhes vermelhos em cada cena, como se fosse o prenúncio de uma grande tragédia. Quando conhecemos Eva (Tilda Swinton) ela está na Itália, banhada de vermelho na tradicional tomatina. Este é um dos poucos momentos em que a personagem aparece feliz ao lado do esposo Franklin (John C. Reilly). Pouco depois descobre-se grávida e com o pequeno Kevin nos braços. Alguns críticos reclamaram da forma como o filme culpa a mãe pelos atos de seu filho, mas isso é compreensível já que todo o filme é contado sob a perspectiva de Eva sobre o relacionamento com o filho (o livro era até escrito em formato de diário). Seu presente solitário busca respostas no passado exibido em flashbacks, afinal, como a maioria das mães ela se sente culpada pelos atos do filho e são em suas memórias que mergulhamos conhecendo Kevin em cada fase de sua vida. De início Eva relembra sua inadequação ao fato de ser mãe, as diferenças com o esposo na forma de lidar com o bebê, a forma como percebe que havia algo de diferente em Kevin em suas travessuras e pequenas crueldades - especialmente depois que ganha uma irmãzinha. Enquanto Eva percebe que Kevin não sente culpa em seus atos (especialmente quando é vivido pelo ótimo Ezra Miller, num tom sádico assustador) o pai sustenta que ele não deve mesmo se sentir culpado e lhe instiga no que seria sua arma.seu brinquedo favorito: arco e flecha. Os atos de Kevin irão culminar numa dessas tragédias ambientadas em escola - que já se tornaram moda nos Estados Unidos - e revelarão que existe algo de muito estranho naquele rapazinho. Além do passado conturbado com o filho, o presente de Eva não é mais agradável, sua vida ficou manchada pela presença dele e estagnada em volta do filho. Se o tema já rendeu filmes recentes como O Deus da Carnificina (2011) e Tarde Demais (2010), apenas em Precisamos Falar sobre Kevin ele recebe uma abordagem visceral, tão intensa que nos faz pensar como nenhum efeito 3D poderia nos despertas as sensações proporcionadas pelo filme. Ainda que possam criticar a forma como Ramsey gira em torno da culpa de Eva (não por acaso ela tem esse nome) é interessante como ela consegue ampliar esse olhar pela forma como lidamos com a educação social de crianças e adolescentes, além dos limites dos pais na criação do caráter de seu filho. Seria Kevin um psicopata desde pequeno? Seria um sociopata? Um sádico? Um rejeitado pela própria mãe? Na última cena não existe justificativa para seus atos, mas existe o abraço mais caloroso de uma mãe no pedaço que sobrou de si.
Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin/Reino Unido-2011) de Lynne Ramsey com Tilda Swinton, Ezra Miller, John C. Reilly, Ashley Gerasimovich e Jasper Newell. ☻☻☻☻
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