Owen e Luke: mano a mano na estreia de Wes Anderson.
É até engraçado imaginar que Wes Anderson estreou na direção com um filme como esse Pura Adrenalina (o nome recebido em terras tupiniquins é um grande mistério, já que não tem grande relação com a história - e todo mundo que conhece a cadência do cinema de Wes Anderson deve estranhar). O filme é baseado num curta metragem dirigido pelo diretor em 1994 sobre dois amigos que pretendem seguir carreira no mundo do crime, Anderson deu uma anabolizada na história e o resultado virou este longa em 1996. O mais bacana é que chamou atenção da crítica, mas o prêmio mais badalado que recebeu foi o MTV Movie Awards de diretor estreante! O diretor ainda não apresentava o alto nível do senso estético de seus filmes posteriores, mas já apresentava o seu gosto por personagens anticonvencionais, alegria melancólica e histórias de temática juvenil. Foi aqui também que o diretor inaugurou sua parceria com Owen Wilson (dois filmes depois eles dividiriam uma indicação ao Oscar pelo roteiro de Os Excêntricos Tennenbaums/2001). Feito na camaradagem, com a ajuda de vários amigos na produção deste longa de cinco milhões de dólares (e rendeu menos de um milhão em bilheteria), o filme conta a história Digman (Owen Wilson) um aprendiz de ladrão que sonha em se tornar um grande bandido, por isso gasta a maior parte do seu tempo articulando ideias mirabolantes que só podiam sair da mente de quem pensa que roubar é uma arte. Para ajudar nos seus golpes ele convida o amigo Anthony (Luke Wilson, irmão de Owen) que acabou de sair de uma temporada (voluntária) de internação num hospital psiquiátrico. Depois de alguns pequenos golpes eles conhecem Mr. Hernry (James Caan), um malandro que confia a eles um grande assalto à uma fábrica, mas aí começam a aparecer algumas crises no relacionamento dos dois amigos (especialmente quando Anthony parece encontrar a sua cara metade). Para quem conhece o trabalho do cineasta o melhor é encontrar algumas referências sobre o caminho que o cinema de Anderson seguiria. Embora o clima cool dos diálogos pareça apenas um esboço do que ele faria depois, existem cenas em que o diretor ensaia o humor peculiar que se tornaria sua marca registrada (em especial a cena de Digman andando de bicicleta, o apelo dos macacões amarelos e o grande assalto que parece saído de um dos melhores filmes dos Trapalhões). Embora não figure entre os melhores filmes do diretor (não sei se vocês percebem, mas acho que ele não é chegado a armas nem para fazer piada) aqui já podemos perceber que estavamos diante de um artista disposto a enxergar fora dos padrões se arriscando numa trama onde os personagens são desenvolvidos como se fosse uma história em quadrinhos. Podem falar que o filme é uma alegoria sobre as amizade, sobre a alienação juvenil ou até uma paródia dos filmes de Tarantino, o fato é que misturando gêneros e referências o filme chamou atenção de alguns produtores e abriu o caminho para que Wes realizasse o seu primeiro grande sucesso: Rushmore (chamado por aqui de Três é Demais/1998 - será que ele nunca vão acertar nos títulos?), que aprofundava as cores mais interessantes de seu imaginário criativamente delirante.
Pura Adrenalina (EUA-1996) de Wes Anderson com Owen Wilson, Luke Wilson, James Caan, Lumi Cavazos e Andrew Wilson. ☻☻☻
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