Penélope: musa de Almodóvar pela quarta vez.
Sou fã do cinema de Pedro Almodóvar, mas recentemente percebi que ele se distancia cada vez mais do cinema escandaloso de outrora e investe numa atmosfera de suspense que nem sempre tem o resultado desejado. Além disso, o excesso de referências cinematográficas pode até dar algum charme aos seus longas, mas corre o risco de deixar tudo meio previsível e superficial. Nessa sua tentativa de criar mistérios existiu o confuso Má Educação (2004), o pouco elaborado Volver (2006) além do recente (e melhor executado) A Pele que Habito (2011). Nessa sua fase o menos aclamado foi Abraços Partidos (2009), que assisti recentemente e que prefiro encarar como uma ode do diretor à sua atual musa: Penélope Cruz. Essa é a quarta parceria do diretor com a atriz e é fácil entender o motivo de tanto carinho com a senhora Javier Bardem. Penélope está admirável como uma versão espanhola de Audrey Hepburn. Abraços Partidos tem um punhado de outras referências ao mundo do cinema, eles vão desde Cidadão Kane (1941) passando por Alfred Hitchcock até chegar em Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (1988). O desafio de Almodóvar era conciliar universos tão diferentes com eficiência, isso ele consegue, mas fica longe da genialidade que seus fãs esperam. O filme começa com o roteirista cego Harry Caine (Lluís Homar, mas galante do que em Má Educação), que conta com a ajuda de uma amiga , Judit (a ótima Blanca Portillo) e o filho dela, Diego (Tamar Novas). Quando Harry descobre que o rico empresário Ernesto Martel (José Luis Gómez) faleceu não demora muito para que receba a visita de uma figura de seu passado que o faz lembrar de sua musa, Lena (Penélope Cruz). O filme se concentra num longo flashback onde Harry conta que era o conhecido cineasta Mateo Blanco, que estava produzindo o filme Garotas e Malas quando conheceu Martel e sua esposa, Lena que desejava ser atriz. Martel acaba produzindo o filme para satisfazer sua esposa, mas seu ciúme torna-se cada vez mais doentio com a suspeita de que Lena e Mateo tornaram-se amantes. Além de embaralhar os tempos da narrativa não existe nada de realmente original no filme, por mais que Almodóvar consiga criar um ritmo eficiente, existe clichês demais na história do diretor que tem um caso proibido com a atriz principal. Curioso é que ao vermos Almodóvar criar as cenas de Garotas e Malas com várias referências ao filme que lhe deu fama mundial, Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos (ele encontra espaço até para colocar a icônica Rossy dePalma no elenco), nos dá uma saudade daquele diretor kitsch que sabia embaralhar referências sem a necessidade de parecer descolado. Nesse universo, Penélope é quem sai ganhando com a heroína romântica que recebeu de presente (além de usar os figurinos elegantes da Maison Chanel), mas os coadjuvantes são os que mais sofrem. Diego, por exemplo tem cenas que não fazem o mínimo sentido (como a que usa MDMA ou quando descobre quem é seu pai) por pura falta de interessem em desenvolvê-las. No fim das contas, fica a impressão de que Almodóvar complicou demais o que era para ser simples: Abraços Partidos é uma história de amor - e não há vergonha nenhuma em ser só isso.
Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos/Espanha-2009) de Pedro Almodóvar com Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luíz Gomes, Tamar Novas e Lola Dueñas. ☻☻☻
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