quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

PL►Y: Nunca Ramente Às Vezes Sempre

Sidney:  ótima estreia em personagem complicada. 

Quando começaram as especulações para as premiações de fim de ano eu ficava instigado com o título de Never Rarely Sometimes Always, um  conjunto de palavras que eu já associava a algum formulário. Foi assim que o filme entrou no meu radar e fiquei surpreso em saber que ele estava disponível para alugar no Youtube e o assisti sem saber muito sobre a história. Nunca Raramente às Vezes Sempre acompanha alguns dias na vida da adolescente Autumn (a estreante Sidney Flanigan) a partir do momento em que ela começa a desconfiar que está grávida. Ela vive com a mãe (a cantora Sharon Van Etten), o padrasto (Ryan Eggold) e a irmã caçula no interior da Pensylvannia e desde o início demonstra receio de que sua família descubra a situação pela qual está passando. Desde o primeiro momento Autumn decide interromper a gravidez e parte para a cidade de Nova York devido a limitações na legislação de seu estado. Ela e a prima (Talia Ryder) dão um jeito para ir até a cidade grande para fazer o serviço e algumas coisas não saem como o planejado. A missão da diretora Eliza Hittman (do bom Ratos de Praia/2017) é acompanhar esta jornada pessoal intimista de forma quase documental. O roteiro não gasta tempo explicando o que aconteceu para que a garota esteja nesta situação, mas deixa alguma pistas ao longo do caminho (a música que ela canta na escola, a tensão vivida em casa...). Embora não apareça um namorado ou interesse amoroso ao longo da história, o questionário que ela responde na cena título deixa claro que existe algo de errado, mas Autumn não sente-se segura para contar. Hittman é esperta por não fazer um filme panfletário sobre o aborto, mas uma obra que evidencia que existem outros problemas que levam a esta decisão e que recebem menos atenção do que o procedimento em si. Ao final do filme  a sensação é de que ela volta para o que a colocou naquela situação e a preocupação do espectador só aumenta quando os créditos finais sobem. Hittman demonstra aqui mais uma vez a sensibilidade necessária para abordar adolescentes com dilemas sérios, especialmente relacionados ao sexo. É curioso que numa sociedade com tanta informação e tecnologias, dialogar sobre o assuntos relacionados à sexualidade ainda é tabu na maioria das famílias e padecem de análises para além do moralismo no âmbito social. Quando o filme começou a se revelar, temi que ele seguisse os mesmos caminhos que  Romeno  duríssimo 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), mas ainda bem que segue um caminho oposto e igualmente convincente. Além das temáticas fortes em condução sensível, a diretora também se consagra mais uma vez por trabalhar com jovens atores que são verdadeiros achados, a atuação de Sidney Flanigan é um verdadeiro presente. Introvertida, silenciosa, dolorosa, ela comove sem fazer muito em cena e despedaça nosso coração na cena que dá título ao filme. Premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, o filme bem que merecia chamar atenção para além das premiações indies

Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Always / EUA - 2020) de Eliza Hittman com Sidney Flanigan, Talia Ryder, Sharon Van Etten, Ryan Eggold e Théodore Pellerin. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário