sexta-feira, 16 de abril de 2021

#FDS Oscar2021: Nomadland

Frances: terceiro Oscar na mira.

O Oscar é na próxima semana, mas neste #FimDeSemana o blog irá se dedicar aos filmes que estão na disputa por estatuetas na premiação que está chegando. Fiquei em dúvida sobre qual filme era o mais adequado para começar, mas fica complicado não dar o devido destaque para Nomadland. Filme que começou a sua escalada no complicado ano da pandemia no único festival de cinema que resolveu ser presencial perante os protocolos de segurança: o Festival de Veneza. Ganhador do Leão de Ouro de melhor filme, o filme de Chloé Zhao já acumulou duzentos e dezesseis prêmios (!!!) desde que foi lançado no exterior. O que o torna uma destas raras unanimidades que chega forte para levar o Oscar de melhor filme para a casa, no entanto, confesso que só vou acreditar ao ver o resultado no dia 25 de abril. O filme está bem longe de ser o tipo de filme que Hollywood gosta de premiar, tanto que pode ser caracterizado como um filme de Festival que criou certo fascínio por suas características bastante peculiares (e aquela vontade danada de cair na estrada sem destino em tempos de isolamento social). Grande responsável por este apelo é a direção de Chloé Zhao, cineasta de origem chinesa e que desde seu primeiro filme aprimora sua forma de lapidar um cinema-verdade, em que não se sabe muito bem onde começa e termina o que é realidade ou ficção. Quem viu sua estreia com Songs My Brothers Taught Me (2015) e Domando o Destino (2017) terá a impressão que a diretora faz aqui o mesmo que já fez anteriormente, a diferença está na presença de intérpretes conhecidos misturados com pessoas que não sabemos se são atores ou pessoas comuns improvisando diante da câmera (e nada é improvisado). Outra diferença é o forte comentário social que desconstrói o american way of life com base no livro (não fictício) de Jessica Bruder que é repleto de histórias de pessoas que perderam tudo e passaram a viver como "nômades", morando geralmente em seus veículos e trabalhando de contratos temporários de cidade em cidade. A personagem Fern (Frances McDormand indicada ao Oscar de Melhor Atriz e recém ganhadora do BAFTA) é o amálgama de várias das histórias do livro. A trama revela aos poucos o que houve com aquela personagem, suas perdas e sobrevivência à última grande crise econômica dos Estados Unidos. Sabemos apenas que houve um ponto em que sua vida se transformou e sua casa passou a ser o  carro e seu bairro as paisagens (lindamente fotografadas por  Joshua James Richard indicado ao Oscar de fotografia e parceiro de Zhao em todos seus longas anteriores). Entre uma viagem e outra, entre o contato com novas pessoas e o retorno aos velhos conhecidos, Nomadland é um filme bastante sutil, mas que aborda questões interessantes sobre crise, família, lar, solidão, trabalho e muitas outras coisas que ajudam a construir um road movie diferente de todos os outros que você já assistiu. Zhao realiza aqui seu trabalho mais impressionante, deixando que sua narrativa evolua quase que por conta própria e surpreende ao encaixar Frances McDormand naquele universo como se de fato ela pertencesse a ele. É interessante notar como seu primeiro filme girava em torno de jovens em uma reserva indígena, para no segundo dedicar-se a um autêntico cowboy em crise e para neste centrar-se numa mulher sem paradeiro. Em seus três longas, Zhao demonstra grande inquietação com personagens que procuram um lugar no mundo (e curioso notar como nos três utilizam signos do faroeste americano nativos, cowboys e mulheres sobre um prisma realista e diferente do usual). Se Frances não levar o prêmio de atriz para casa, não se preocupem, ela tem fortes chances de levar sua terceira estatueta para casa ao sair premiada na categoria de Melhor Filme, afinal, foi dela a ideia de adaptar o livro e convidar Zhao para o projeto. Depois de seu contundente discurso ao receber o Oscar de atuação por Três Anúncios para um  Crime/2017 (ela já tinha outro ao viver a antológica policial de Fargo/1996), Frances demonstra que cumpre o que promete e pode render fazer de Zhao a segunda mulher a levar o Oscar de direção para casa. Para uma mulher de origem chinesa que está apenas no seu terceiro longa é um feito e tanto (e o melhor, muito merecido). Agora, depois de ver Nomadland, me explica a Marvel cogitar o nome de Chloé para filmar Os Eternos? Curioso para ver o que ela fará depois de ganhar o Oscar. Ao todo o filme concorre em seis categorias: filme, direção, atriz, roteiro adaptado, fotografia e edição.

Nomadland (EUA-Alemanha/2020) de Chloé Zhao com Frances McDormand, Patricia Grier, Linda May, Charlene Swankie e David Strathairn. ☻☻☻

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