Quatro professores seguem suas vidas normalmente na maturidade. Já alcançaram estabilidade profissional, a situação familiar que desejavam vai bem e suas rotinas funcionam dentro de um confortável relógio de segurança, comodidade e previsibilidade. Se para três deles tudo parece absolutamente satisfatório, com Martin (Mads Mikkelsen) a situação é um pouco mais complicada. O casamento dele chegou naquele ponto morno em que todos os dias são iguais, a esposa e os filhos convivem com ele na mesma casa, mas ele não é muito diferente daquela poltrona confortável que gostamos de ver na sala. No trabalho também os alunos reclamam de suas aulas serem desinteressantes e, por conta disso, o melancólico Martin corre até o risco de perder o emprego. Nem mesmo Martin sabe em que ponto a vida se tornou daquele jeito, menos pela rotina que segue e mais pela sensação de que perdeu a graça faz um tempo. Eis que um belo dia, seus três amigos comentam sobre a teoria de um psiquiatra norueguês de que o homem precisa de 0,05% de álcool no sangue ao dia para viver melhor, ou seja, com mais humor, leveza e menos tensão. Assim, junto aos amigos Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe), Martin irá fazer uma "pesquisa" se a teoria realmente funciona. Para dar conta disso, tomarão sua dose de álcool de manhã antes de ir para o trabalho e ver o que acontece. Não vale dizer os detalhes desta vida de cobaia vivida pelo quarteto, mas cabe dizer que conforme percebem que o álcool os ajuda a enfrenta melhor seu cotidiano, eles imaginam que aumentando a dose a coisa pode melhorar mais ainda. Ledo engano.O filme de Thomas Vinterberg concorre ao Oscar de Filme Estrangeiro e fez com que o cineasta, co-fundador do movimento Dogma95 (cujo seu bombástico Festa de Família/1998 é o primogênito) se torne o primeiro diretor dinamarquês indicado ao Oscar de Melhor Direção. Talvez o fato de Thomas não fazer julgamentos morais sobre seus personagens crie um desconforto na plateia, afinal existem apenas um comentário de um personagem aqui e outro ali sobre a situação em que os personagens se meteram, existem também algumas situações pesadas e outras que poucos diretores ousariam escrever e mostrar. Embora os desavisados possam enxergar aqui uma apologia ao alcoolismo, o que interessa ao filme são outras questões: por que aqueles personagens precisam do álcool para se sentir bem e, mais ainda, por que a vida pode perder a graça quando se atinge a maturidade? Por que as obrigações acabam se tornando mais importantes do que aquilo que nos dá prazer? Druk não traz respostas, mas subverte as emoções da plateia, fazendo muitas vezes alegria e tristeza emanar de uma mesma cena, especialmente quando Martin está em cena. Por conta disso, vale dizer que Mads Mikkelsen é um verdadeiro colosso! Lembrado no BAFTA de melhor ator, houve uma grande campanha para que o dinamarquês fosse indicado ao Oscar pela primeira vez. Mads já trabalhou com o diretor em outro filme, o ótimo A Caça (2012) que também concorreu ao Oscar de filme estrangeiro (e rendeu a Mikkelsen o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes). Mads faz seu personagem ser a alma do filme, da melancolia absoluta, passando por uma renovação surpreendente pouco antes dele cair num abismo que lhe parece tão irresistível. Sem dúvida ele é um dos melhores atores da atualidade (basta lembrar que ele teve coragem de reimaginar um ícone feito Hannibal Lecter em uma série de televisão e não fazer feio. Falando nisso, a retomada de Hannibal sai ou não sai?). Druk fala mais do que sobre bebida, é principalmente sobre as relações, seja no casamento, no trabalho, com os amigos, com a vida em si e principalmente com você mesmo.
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