sábado, 31 de março de 2018

N@ CAPA: FILMES MAIS AGUARDADOS DE 2018


Este primeiro trimestre foi tão agitado que preferi deixar a capa do mês de janeiro, especialmente por ilustrar tudo o que o ano cinematográfico nos revela. Alguns filmes já estrearam por aqui em meio aos filmes indicados ao Oscar. Alguns já se tornaram sucessos (e estão cotados até para o Oscar do ano que vem, dá para acreditar?), outros... nem tanto. Hora de conhecer melhor os filmes que prometem dar o que falar em 2018:


Os Incríveis 2 estreia em junho e é um dos filmes mais aguardados dos últimos quatorze anos  Paraíso Perdido é um drama meio musical e conta com Júlio Andrade e Erasmo Carlos dirigidos por Monique Gardenberg ☻ Jason Momoa é Aquaman no único filme da DC a estrear este ano (e cadê o trailer?)  Missão Impossível: Efeito Fallout nem estreou e o bigode de Henry Cavil já virou estrela de cinema faz tempo  Será que The Party de Sally Potter chega aos cinemas ou sairá direto na Netflix?  Novos Mutantes mistura filme de herói com doses de terror, mas o estúdio pisou no freio e agora o filme só estreia no ano que vem  Alita: Battle Angel leva o universo mangá de Yukito Kishiro para a telona  Maze Runner: A Cura Mortal finalizou a saga sem empolgar muito público e crítica  O Predador não desiste nunca e volta com direção de Shane Black e Thomas Jane no elenco  Spielberg e Tye Sheridan já estão nos cinema com a aventura Jogador Nº 1 e promete ser o maior sucesso do diretor em muito tempo. 


Wes Anderson retorna à animação com o elogiado Isle of Dogs  Cacá Diegues volta aos cinemas com o aguardado O Grande Circo Místico, com Bruna Linzmeyer e Vincent Cassel  Sicario: Dia do Soldado narra os acontecimentos após o filme de 2015  X-Men: Fênix Negra teve a clássica saga mutante adiada para o ano que vem  Herbie Returns marca mais um retorno do fusca falante, desta vez pilotado por Hayley Stanfeld  Tomara que Detona Ralph 2 repita o sucesso inventivo do primeiro filme  Marco Pigossi é um assassino profissional disfarçado de homem de bem em O Nome da Morte ☻ Paul Dano estreia na direção com o elogiado Wildlife sobre o divórcio dos pais aos olhos de um menino  O controverso 15h 17: Trem para Paris deve ser o filme menos elogiado de Clint Eastwood  Sobrenatural: A Última Chance é o quarto filme da franquia que já entrou e saiu de cartaz por aqui  Emily Blunt aceita o desafio de ser a Mary Poppins do século XXI (será que agora sai a indicação ao Oscar?)  O documentário Robin Williams: Come Inside My Mind busca desvendar a pessoa por trás do comediante que se suicidou em 2014. 


 American Animals conta  a história real de um grupo de rapazes que organizou um dos assaltos mais audaciosos da história americana  Taraji P. Henson bota pra quebrar no controverso Proud Mary  Tom Hardy é a nova versão de Venom em aventura solo  Tomb Raider: A Origem com a oscarizada Alicia Vikander já está em cartaz no Brasil  The Happy Time Murders traz bonecos brincando com cinema noir  Creed 2 prova que a saga de Rocky realmente ganhou novo fôlego  First Man traz Ryan Gosling como o primeiro astronauta a pisar na Lua  Ava Duvernay dirige a superprodução da Disney Uma Dobra no Tempo  com Oprah Winfrey e Reese Witherspoon  O universo de Harry Potter volta às telas com Animais Fantásticos e Onde Habitam 2  Marco Pigossi é um lutador em busca de redenção em A Última Chance   Existe grande expectativa em torno do novo Robin Hood estrelado por Taron Egerton  Oito mulheres e um segredo é a versão feminina do sucesso estrelado por George Clooney e traz no elenco Sandra Bullock ao lado de várias colegas renomada  Solo mostra a origem do famoso personagem de Star Wars e tem direção de Ron Howard. 

Emily Blunt é dirigida pelo esposo no suspense Um Lugar Silencioso  Outro destaque do cinema brasileiro que estreia neste ano é Como é Cruel viver Assim  Nicolas Cage causou sensação em Sundance com o terror Mandy  Com Amor, Simon é elogiado pela sensibilidade com que conta a história de um jovem homossexual  A animação Homem-Aranha no Aranhaverso estreia em dezembro, trazendo Miles Morales no lugar de Peter Parker  Jon Hamm se firmará como astro de cinema com Beirut? ☻ Claudia Abreu vive uma taxista carioca no suspense Berenice Procura  Charlize Theron e David Oyelowo estão na comédia de humor negro Gringo  A refilmagem americana de Intocáveis, Untouchables, traz Bryan Cranston e Kevin Hart  Chloe Sevigny e Kristen Stewart estão juntas no dramático Lizzie  Jamie Lee Curstis volta a ser atormentada pelo irmão em Halloween  Rooney Mara é protagonista do bíblico Madalena, já em cartaz no Brasil ☻ Aniquilação com Natalie Portman já colhe elogios por fundir a mente de muita gente na tela da Netflix.


Sorry to Bother You chamou atenção em Sundance com sua distopia sobre sucesso profissional  Melissa McCarthy é a escritora Lee Israel em crise pessoal em Can You Ever Forgive Me?  Idris Elba estreia como diretor no elogiado Yardie, adaptação do livro de Vicor Headley  Mary of Scotland promete colocar Saoirse Ronan mais uma vez na mira do Oscar  Jennifer Lawrence é uma espiã russa em Operação Red Saparow  Desenho  On the Basis of Sex traz Felicity Jones como a ativista Ruth Bader que travou várias lutas por direitos iguais nos Estados Unidos  Depois de indicado ao Oscar, o diretor Lenny Abrahamson está de volta com o suspense The Little Stranger  O engenhoso A Maldição da Casa de Winchester já está em cartaz no Brasil  Sucesso em todo mundo,  Pantera Negra deve ser um dos maiores sucessos da Marvel  O coerano Joon Ho Bong prepara o drama de ficção científica Parasite  Paul Rudd é o jogador de basquete que se torna espião em The Catcher was a Spy


Outro filme de produção controversa foi Bohemian Rhapsody sobre o ícone Freddie Mercury, mas parece que após a saída do diretor Bryan Singer o filme com Rami Malek vai bem, obrigado!  A nova versão de Nasce uma Estrela traz Lady Gaga ao lado de Bradley Cooper - que marca sua estreia na direção  O aguardado Homem-Formiga e Vespa promete alegrar os fãs da Marvel  John Boyega protagoniza Círculo de Fogo 2  A animação Arctic Justice traz uma guerra de bichos no ártico  John Candy está no sci-fi Captive State  Chri Pratt volta a enfrentar dinossauros em Jurassic World  Boy Erased é o novo filme dirigido por Joel Edgerton e traz Nicole Kidman como a mãe de Nichola  Mary and the Witches Flowers é o primeiro filme produzido pelo estúdio Ponoc, fundado por discípulos de Hayao Miyazaki  Jessica Chastain se despede do filme de Xavier Dolan, já que todas as suas cenas de The Death and Life of John Donovan ficaram de fora do corte final... o ano mal começou e já está cheio de surpresas!

HIGH FI✌E: Março

Cinco filmes vistos em março que merecem destaque:

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terça-feira, 27 de março de 2018

PL►Y: Sobre Viagens e Amores

Ingrid, Frey, Brando e Joseph: amizade que faz a diferença. 

O cineasta italiano Gabriele Muccino fez sucesso ao redor do mundo com seu terceiro filme, O Último Beijo (2001). O filme chamou tanta atenção que recebeu uma versão americana e rendeu convites ao diretor para trabalhos com artistas americanos. Pena que o que poderia ser um bom começo de carreira internacional foi infectada por um sentimentalismo que nos faz imaginar se Hollywood realmente entendeu a mensagem do seu hit cinematográfico sobre adolescentes em crescimento. Para ajudar a entender o olhar deste cineasta sobre seus personagens, vale a pena conferir Sobre Viagens e Amores, um filme italiano quase todo ambientado nos Estados Unidos que tem foco num grupo de jovens que se conhecem quase que por acaso e se tornam grandes amigos. Não é por acaso que o foco da história começa em Marco (Brando Pacitto), um jovem que mora em Roma e não vê muita graça em ter 18 anos. Ele está naquele ponto em que precisar tomar decisões sobre os rumos que sua vida tomará dali em diante. Antes de ingressar na faculdade, ele entra em contato com um amigo que foi estudar nos Estados Unidos e resolve viajar para lá, aproveitando o tempo "livre" em uma viagem que dificilmente poderá fazer depois. Sabe-se lá o motivo, mas o amigo combina que Maria (Ingrid Lutz) faça companhia para o viajante, mas o jovem casal não se entende muito bem - especialmente por Maria ser vista como chata e antiquada. Os dois nem chegam a encontrar o amigo que estuda na Terra do Tio Sam, mas é o amigo distante que arranja um lugar para os dois ficarem durante a viagem. Eles ficam hospedados na casa de dois rapazes - e a reação de Maria ao descobrir que se trata de um casal gay, só demonstra como a garota vê o mundo de uma forma um tanto conservadora. O casal de anfitriões é formado por Matt (Taylor Frey) e Paul (Joseph Haro), simpáticos e atenciosos, os dois já tiveram de tomar decisões importantes sobre o rumo que suas vidas deveriam seguir - e ajudarão os visitantes a se entenderem um pouco melhor entre uma conversa e outra. O grande trunfo do filme é a leveza ao lidar com o relacionamento entre seus personagens, entre pequenos alguns conflitos e diálogos espontâneos, o filme consegue desenvolver bem a ideia de como a amizade é capaz de nos modificar. Em alguns momentos o filme se enrola, se apressa (como a temporada em Nova York) ou se esquiva de aprofundar algumas situações (como a presença da irmã de Matt e Paul na história, a atração de Maria por um dos rapazes), mas talvez a ideia do filme seja esta mesmo, deixando abertas as possibilidades para histórias seguintes na mente do espectador (ou quem sabe uma continuação, como Muccino fez com O Último Beijo  dez anos depois). O elenco composto por atores desconhecidos também funciona bem, o que fica ainda mais notável quando precisam segurar a narrativa que perde o ritmo conforme se aproxima do final. Despretensioso e bem realizado, Sobre Viagens e Amores é um bom filme sobre a transição para a vida adulta - ainda que prefira enfatizar as coisas que deixamos pelo caminho. 

Sobre Viagens e Amores (L'Estate Addosso/Itália - 2017) de Gabriele Muccino com Brando Pacitto, Ingrid Lutz, Taylor Frey, Joseph Haro e Scott Bakula.  

segunda-feira, 19 de março de 2018

PL►Y: Verónica

Escacena: sustos baseados em fatos reais. 

Sucesso no catálogo da Netflix, o espanhol Verónica é a nova criação de Paco Plaza, cineasta por trás da bem sucedida série de filmes de terror [Rec]. Alguns fãs exagerados já alardearam que o filme é o mais assustador de todos os tempos, mas não é para tanto, mas mostra-se um terror bastante eficiente, especialmente pela forma como consegue universalizar o horror de sua história, sobretudo entre os adolescentes. Este apelo acontece principalmente pelos signos que utiliza: a filha mais velha que tem que cuidar dos três irmãos mais novos, o pai que morreu precocemente, a mãe que tem que se desdobrar no trabalho (e nunca fica em casa), isolamento na escola, além de uma certa repressão sexual. Para piorar ainda mais,  a história é baseada em acontecimentos reais em torno de uma adolescente que brincou com um tabuleiro de Ouija durante um eclipse. O tabuleiro é utilizado em rituais de comunicação com os mortos e, tentando se comunicar com o pai, a jovem acaba evocando um espírito demoníaco que a persegue. Plaza capricha nos sustos e acerta ao deixar sempre em dúvida a credibilidade de sua protagonista. Seria realmente um espírito ou ela estaria enlouquecendo? A atuação da novata Sandra Escacena também funciona, embora não seja uma grande atriz, ela consegue captar as inseguranças de sua personagem e a torna bastante convincente de pesadelo em pesadelo. Em alguns momentos o filme exagera e pode até provocar algumas risadas, mas em geral consegue ser bastante assustador, especialmente por transformar o lar da personagem num lugar mal assombrado e seus irmãos mais novos em vítimas em potencial. Algumas cenas conseguem ser arrepiantes (principalmente quando mais sugere do que mostra) e outras soam um tanto repetitivas, mas o importante é que no geral compõe uma narrativa cheia de estranhezas. Você realmente acredita que aquela jovem inocente abriu as portas do inferno e agora está sofrendo as consequências. O filme é baseado na história de Estefania Gutierrez, que após utilizar o tabuleiro Ouija com suas colegas afirmava ser perseguida por um espírito maligno. O comportamento paranoico da moça só aumentou, mesmo que os médicos não identificassem qualquer problema psicológico com a garota que, com a saúde cada vez mais deteriorada, faleceu meses depois. Meses após a morte da jovem, família ligou para a polícia afirmando existir vultos estranhos pela casa e quando a polícia chegou, realmente perceberam que havia algo sombrio na casa, incluindo barulhos estranhos, mãos invisíveis e a foto de Stefania pegando fogo dentro de um porta retrato. O caso se tornou famoso na Espanha por ser o único caso policial onde foi declarado a presença de atividades paranormais num local. É fácil compreender o interesse de Plaza pela história e, ainda que tenha alterado alguns fatos verídicos, consegue ser bastante fiel ao que aconteceu de fato. 

Verónica (Espanha - 2017) de Paco Plaza com Sandra Escacena, Bruna González, Claudia Placer, Iván Chavero, Ana Torrent e Consuelo Trujillo. 

domingo, 18 de março de 2018

§8^) Fac Simile: Alexander Skarsgård

Alexander Johan Hjalmar Skarsgård
Nosso repórter imaginário conseguiu uma entrevista com o ator sueco Alexander Skarsgård, que está na melhor fase de sua carreira em Hollywood. Nascido em Estocolmo, no início ele era mais conhecido por ser filho do grande Stellan Skarsgård, ele já conseguiu ter uma carreira estável nos últimos anos. Com trabalhos o cinema e na TV, Alexander está com 41 anos e promete mais projetos importantes para o futuro. Nesta conversa (que nunca aconteceu), nosso repórter aborda prêmios, projetos, ameaças de morte, desafios e como é ser considerado um dos homens mais belos do cinema atual. 

§8^) Você despertou grande ódio das pessoas na última temporada de prêmios. Seu personagem na série Big Little Lies lhe conferiu o Emmy, o Globo de Ouro, o SAG e todos os prêmios da temporada. Você chegou a sofrer ameaças de morte pelos outros concorrentes?

Alexander Não, mas chegou perto. O mais interessante é que o personagem fez muito sucesso quando a série foi ao ar e eu só imaginava que as pessoas odiariam um personagem abusivo como o meu, mas tive sorte que elas souberam separar. Ironicamente, acho que não levaria os prêmios se Kevin Spacey estivesse no páreo...

§8^) Você acha que se o seu personagem fosse abusivo e feio o resultado seria diferente? Acha que receberia os prêmios se você fosse, por exemplo, o Palhaço It?

Alexander KKKKK eu entendi a piada, tá! Eu já ouvi muitos desses comentários de como eu sou o irmão bonito da família e o Bill [irmão de Alexander e que viveu o palhaço na última versão de It nas telas] é o patinho feio, mas não é bem assim... tem a maquiagem e tudo mais, seja no caso dele ou no meu. Além disso, fazia parte do personagem ter essa aura de perfeição ao lado de Nicole Kidman . Desconstruir esta ideia era importante para o programa. Enfim, aparência às vezes faz parte do processo de construção do personagem. 

§8^) Sim, por isso você interpretava o Tarzan sem camisa e seu irmão foi escolhido para ser o palhaço macabro do cinema...

Alexander Ok. É verdade... mas o palhaço fez mais sucesso do que o Tarzan.

§8^) Muitas pessoas disseram que o filme não fez muito sucesso porque você não tirou a calça...

Alexander Pode ser, mas... que tipo de entrevista é essa?

§8^) Tem algo que sempre quis te perguntar...

Alexander Pelas barbas de Odin.... tenho até medo. O que é?

§8^) Por que seu nome tem aquela frescura em cima da letra A?

Alexander O que? Ah sim, o anel! É uma longa história, mas fica mais fácil dizer que ele substitui o a dobrado. Pa não escrever Skarsgaard, se escreve Skarsgård. É algo bem nórdico, vem lá do século XVI...

§8^) Uau... que chato. Em Mudo você interpreta um Amish no futuro e que não consegue falar por conta de um acidente. Foi o personagem mais difícil que você já fez, ainda mais por você ficar vestido a maior parte do tempo?

Alexander Ah, você reparou, rsrs... é sempre complicado fazer um sujeito que não pode falar. É um desafio para qualquer ator estar restrito nos recursos que temos para dar vida a um personagem, mas era o tipo de desafio que fazia parte da minha lista de personagens que gostaria de interpretar. 

§8^) Como assim?

Alexander Ah, tem alguns tipos que eu sonhava interpretar mesmo. Risquei da lista "um religioso ortodoxo" e "mudo" de uma vez só com Mute. Estava também "um herói dos quadrinhos" e fiz Tarzan. Tinha "o sujeito violento" e risquei quando fiz Big Little Lies. Com True Blood eu risquei "Vampiro" e "bissexual" ao mesmo tempo. Risquei também o "filho do meu pai" quando fiz Melancolia do Lars Von Trier...

§8^) Riscou o careca com The Hummingbird Project também...

Alexander Exatamente! Nem me lembre daquilo...

§8^)  Eu estava lá quando você apareceu com aquele visual atípico...

Alexander Sério? tinha gente surpresa achando que eu havia abandonado a peruca... tive que dar várias entrevistas dizendo que eu tinha cabelo de verdade...

§8^) Deixa de ser mentiroso!

(A verdadeira face de Alexander Skarsgård)

PL►Y: Mudo

Alexander: Amish cyberpunk.

Em 2009, Duncan Jones estreou na direção com o excelente Lunar. Longa que ainda apresenta a melhor atuação de Sam Rockwell e chamou atenção para o cineasta, que estreou fora da sombra do pai, o ícone David Bowie. Seus filmes seguintes foram feitos com orçamento robustos para grandes estúdios, mas não foram tão interessantes. Quando apareceram as primeiras imagens de Mute a galera ficou otimista. Produzido pela Netflix com toda a famosa liberdade criativa que proporciona, o filme está disponível desde o final de fevereiro, sendo bem menos falado do que se imaginava. O filme começa mostrando como Leo perdeu a voz por danos nas cordas vocais quando ainda era pequeno. Chegamos então ao ano de 2058 e o personagem já está crescido (e com a cara do sueco Alexander Skarsgård), mas um tanto deslocado na cidade de Berlim repleta de imigrantes e brilho de luzes neon. Leo é religioso, sendo interessante a ideia de colocar um personagem Amish no futuro, já que os adeptos desta religião não andam de carro, não utilizam eletricidades e não podem utilizar qualquer máquina que não seja movida pela força muscular (de um homem ou de um animal). Leo mora num bairro da pesada, num apartamento modesto (com energia elétrica), só bebe água, faz desenhos num bloquinho com um lápis, trabalha como barman numa boate de strip e namora uma garçonete árabe de cabelo azul, bem... no futuro, talvez um Amish possa ser assim. Leo e Naadirah (Seyneb Saleh) tem alguma química e funcionam como duas almas perdidas no cenário cyberpunk que o filme oferece. No entanto, assim como as obras recentes do gênero (como o brilhante Blade Runner 2049 e a série Altered Carbon) existe um mistério a ser decifrado. Naadirah some repentinamente e todas as lacunas que existiam sobre ela farão falta para que o namorado a encontre. A busca de Leo é um tanto desengonçada, já que nem ele sabe direito como encontrá-la, mas para o espectador existe uma pista desde o início. Ela está na figura de Cactus Bill (Paul Rudd), um sujeito estranho que vive perambulando com sua filha e um amigo pouco confiável (vivido por Justin Theroux) durante boa parte do filme até que descobrimos como os dos núcleos se misturam. No fim das contas, Mudo é um filme esquisito, onde as ideias não se encaixam muito bem e se perdem na narrativa um tanto arrastada na longa duração do filme. O elenco é esforçado e o visual do filme é de encher os olhos, mas... o filme não convence.  Jones alcança um resultado confuso e arrasta o final do filme mesmo quando ele já deveria ter terminado. Mudo parece a colagem de vários outros filmes do gênero, não tem muita personalidade ou atmosfera suficiente para prender a atenção do público em suas intermináveis duas horas de duração. Sinceramente, eu preferia quando Jones fazia muito mais com muito menos - e este gosto só se fortalece quando percebemos que Mudo se passa no mesmo universo de Lunar. Sam Rockwell sozinho na Lua era muito mais interessante.

Mudo (Mute / Reino Unido - Alemanha / 2018) de Duncan Jones com Alexander Skarsgård, Paul Rudd, Justin Theroux, Seyneb Saleh e Sam Rockwell. 

PL►Y: Suburbicon

Moore, Noah e Damon: segredos do subúrbio. 

Com Suburbicon, O astro George Clooney já contabiliza seis filmes como diretor e ele deixa claro que seu trabalho como cineasta tem grande influência das obras dos irmãos Coen. O mais curioso é que quanto mais o Clooney diretor se aproxima de sua inspiração, mais interessantes são seus filmes (Clooney já trabalhou três vezes com Joel e Ethan Coen). Suburbicon foi lançado no ano passado e tem o roteiro assinado pelos irmãos, Clooney e Grant Heslov, mas, em sua alma é um filme coeniano, - só que dirigido por outra pessoa. A ambientação de época, o estilo das atuações, a violência e o humor negro em torno de um personagem que se acha muito esperto (e se enrola cada vez mais em sua vida ordinária) tornam até o andamento da história previsível para quem conhece a obra dos autores, no entanto, a sorte é que o discípulo tem manejo narrativo suficiente para deixar o público atento para ver onde a história vai dar. A trama é ambientada na cidade de Suburbicon, meticulosamente projetada para ser o paraíso na Terra. Um lugar tranquilo e seguro, com moradores pacatos que escolheram o subúrbio para viverem e criarem seus filhos sem a correria e os riscos das grandes cidades. Este mundo aparentemente perfeito atrai pessoas de todos os cantos dos EUA e... começa a mostrar que nada pode ser tão perfeito em 1959. A chegada de uma família de afro-americanos na vizinhança começa a causar desconforto nos demais moradores - que são a favor da inclusão de pessoas "de cor" entre os brancos, mas não enquanto eles não aprenderem a se comportar e conviver com outras pessoas. Vale lembrar que os Mayers (Karimah Westbrook e Leith Burke) não fazem nada durante o filme que possa desagradar seus vizinhos, a não ser resolverem se mudar para um lugar totalmente habitado por pessoas brancas. Ainda assim, terão que aguentar toda forma de perseguição, discriminação e manifestação para que saiam dali. Esta relação é mostrada através dos olhos de uma criança, Andy (Tony Espinosa) que não consegue entender o motivo dos vizinhos serem tão hostis. Mas esta não é a trama principal do filme, ela serve  apenas de contraponto para o centro da história que é ambientada na família do melhor amigo de Andy, o pequeno Nicky (o ótimo Noah Jupe que já vimos na pele de Jack Will em Extraordinário/2017). Nicky vive com o pai, Gardner (Matt Damon), a mãe paraplégica (Julianne Moore) e a tia Margareth (a mesma Julianne), que ajuda a manter a casa em ordem. Em uma noite a casa de Nicky é invadida e a mãe de Nicky falece em decorrências do uso de clorofórmio pelos bandidos. Por mais que Gardner tente manter as aparências de que tudo permanece como antes, o pequeno Nicky desconfia de que existe algo estranho na casa e a coisa piora quando seu pai e tia Margareth precisam identificar os bandidos. Não vale contar muito mais do que isso, apenas que o filme utiliza a chegada dos Mayers como uma contraponto para a violência silenciada daquele subúrbio habitado por pessoas que acreditam ser cidadãos de bem, mas que são capazes de atrocidades em nome de uma ordem que só eles acreditam existir. É um olhar bastante ácido sobre o american way of life que fracassou (lógico) nas bilheterias americanas, mas que tem seus méritos. A começar pela reconstituição de época, que faz com que o filme pareça realmente uma obra dos anos 1950. A trilha sonora, as atuações, o ritmo e o tom são bastante coerentes, principalmente quando o filme oscila entre o drama, o humor negro e o suspense. Julianne Moore está (mais uma vez) excelente como as duas irmãs fadadas à tragédia, mas é o novato Noah Jupe que rouba a cena. Optar pelo olhar de uma criança sobre a história que está sendo contada foi um grande acerto, atrai a identificação do público e mostra-se uma grande ousadia, já que a contagem de corpos só aumenta durante a sessão. Jupe é realmente um talento diante da câmera e deve aparecer em três filmes a serem lançados em 2018. Suburbicon pode não ser tudo o que promete, mas consegue ser um exercício bastante interessante de Clooney para se tornar o terceiro irmão Coen na história do cinema. 

Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso (Suburbicon/EUA-2017) de George Clooney com Matt Damon, Julianne Moore, Noah Jupe, Oscar Isaac, Tony Espinosa, Karimah Westbrook e Glenn Fleshler. ☻☻☻

sábado, 17 de março de 2018

Na Tela: Pequena Grande Vida

Damon e Jason: brilhante ideia num filme irregular. 

Com o crescimento da população mundial, os recursos terrestres se tornam cada vez mais escassos, colocando em risco a própria existência da humanidade. Por conta disso um cientista norueguês cria uma das maiores descobertas da história da humanidade: um método capaz de diminuir o ser humano e fazê-lo não apenas ocupar menos espaço, mas também consumir menos por conta de suas necessidade diminutas. Por depender de menos recursos e despesas, os rendimentos de um indivíduo pode lhe garantir uma vida confortável inimaginável anteriormente. Este estilo de vida começa a seduzir cada vez mais as pessoas, assim como o casal Paul (Matt Damon) e Audrey (Kristen Wiig), que começa a pensar ainda mais na ideia quando um casal amigo (vivido por Jason Sudeikis e Maribeth Monroe) aderem ao processo chamado Downsizing. Em busca de uma nova vida, Paul decide se diminuir, mas, logo depois tem uma surpresa desagradável que diminui (também) seu ânimo pela sua nova realidade. Nesta primeira parte, o filme de Alexander Payne consegue ser bastante envolvente ao construir uma realidade fantasiosa, com suas regras próprias e características bastante específicas, mesmo quando começa a abordar como aquela existência de maiores recursos pode ser bastante ilusória frente à felicidade que promete. Paul não fica feliz, pelo contrário, sente-se mais solitário e numa situação ainda mais desconfortável. Payne mergulha aqui num humor surreal que nunca apareceu em seus filmes, embora tenha um humor bastante semelhante aos de seus primeiros trabalhos (os ótimos Ruth em Questão/1996 e Eleição/1999) está infinitamente distante de seus trabalhos mais recentes (como o aclamado Nebraska/2013). Ainda assim, todos os filmes do diretor são unidos por um olhar bastante astuto pelo estilo de vida americano em suas promessas de  enriquecer, ser bem sucedido e rico. O problema de seu novo filme está na segunda parte, quando Paul conhece o outro lado desta realidade em miniatura, repleta de imigrantes, pobreza e pessoas marginalizadas que são diminuídas contra sua vontade por governos autoritários, ou seja, na prática, o mundo não mudou tanto assim. Se trata do outro lado de uma mesma ideia, no entanto, o resultado soa bastante desengonçado e irregular. Pequena Grande Vida parece então ser a mistura de duas abordagens diferentes de um mesmo tema, dois filmes misturados em um só e de costura um tanto apressada. Embora a segunda parte apresente alguns personagens interessantes, como o vizinho espertalhão Dusan Mirkovic (Christopher Waltz) e a imigrante vietnamita Ngoc Lan Tran (Hong Chau, indicada ao Globo de Ouro de atriz coadjuvante), o desenvolvimento deles permanece quase o tempo todo preso à caricatura. A transição do filme do humor absurdo para o tom mais críticos não funciona, soando quase como um pastiche de sátira social bem intencionada. A mudança de tom fica visível na atuação de Matt Damon, que perde a energia gradualmente até o final, onde o inevitável se aproxima. Pequena Grande Vida padece, ironicamente, pela sua grande pretensão, de querer ser dois filmes em um. Talvez fosse melhor ter optado entre ser um ou outro. 

Pequena Grande Vida (Downsizing/EUA-2018) de Alexander Payne com Matt Damon, Kristen Wiig, Hong Chau, Christopher Waltz, Jason Sudeikis, Udo Kier, Rolf Lassgård e James Van Der Beek. ☻☻

PL►Y: Aniquilação

Portman: mistério que vem do espaço. 

Alex Garland depontou como estrela literária em 1996 com o lançamento do romance A Praia. Na época a maioria dos críticos se derreteram de amores pelo jovem escritor que já começava a ser sondado pelo cinema quando Danny Boyle comprou os direitos de adaptação para o cinema (que virou um filme irregular com Leonardo DiCaprio). Com o lançamento de seus livros seguintes, The Tesseract (que virou filme estrelado por Jonathan Rhys-Meyers) e The Coma (que foi adaptado para o teatro) o firmaram como um dos maiores talentos literários do Reino Unido. Quando lançou o seu terceiro livro, Garland já estava envolvido com o cinema, especialmente na escrita de roteiros de ficção-científica, que aos poucos demonstrou ser o seu gênero favorito. Para além dos bons trabalhos com Boyle (Extermínio/2002 e Sunshine/2007) e Mark Romanek (Não me Abandone Jamais/2010), Garland queria mais, tanto que estreou na direção com o ótimo Ex-Machina (2015), que levou para casa o Oscar de melhores efeitos especiais e rendeu a  Alex sua primeira indicação ao Oscar de roteiro original. Quando vemos seu novo trabalho, Aniquilação, percebemos que ele queria ainda mais. Pena que o estúdio resolveu vender o filme para a Netflix por considerar que ele não teria grande apelo nas bilheterias (provavelmente com medo do que houve com o elaborado Blade Runner 2049 , que foi amado pela crítica e um fracasso nas bilheterias). O diretor detestou a ideia, mas o estrago já estava feito. Ao vermos o filme sempre fica a impressão de como aqueles planos abertos e os efeitos especiais ficariam na telona, além da trilha sonora esquisita que parece ter sido composta em outro planeta. O filme é baseado na obra de Jeff VanderMeer e conta a história de uma bióloga, ex-militar chamada Lena (Natalie Portman) que se envolve na exploração de um estranho fenômeno chamado de O Brilho que ocorre na designada Área X. Ela se oferece para participar do grupo após conhecer a psicóloga e líder do projeto, a Drª Ventress (Jennifer Jason Leigh) e suas parceiras, a paramédica Anya (Gina Rodriguez), a física (uma melancólica Tessa Thompson) e a geologista Cass (Tuva Novotny).  A área se tornou um grande enigma não apenas pela ausência de comunicação naquele local, mas também pela incompreensão dos fenômenos e transformações que acontecem por ali. Existe um mistério constante no ar, já que Garland emoldura com uma narrativa lenta de tensão crescente, além de um visual que provoca estranhamento pelo uso do horror e das cores. A direção de arte utiliza tons e formas florais de uma forma que nunca foi vista antes neste tipo de filme, mesclando podridão e beleza. Existe uma aura de infecção durante todo filme - e se você não entende, não se preocupe, a ideia é essa mesmo, provocar, instigar, estranhar. É verdade que a montagem que embaralha a temporalidade de Lena não ajuda muito, pelo contrário, até desmonta o que poderia ser um dos mistérios do filme, mas não vou contar aqui. Existe também um certo contraste pelo fato dela precisar lidar com o desaparecimento do marido e a revelação que acontece no final, aspectos que dão à personagem uma complexidade que funciona bem, mas que coloca as coadjuvantes em desvantagem de um desenvolvimento menos elaborado. Existe também o desfecho totalmente viajante e me lembrou os devaneios visuais de Kubrick  ao final de 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1964) - e se você achou que no final existe algum furo, vale a pena rever o filme e ver que ele está redondinho. Aniquilação mistura ficção científica, com suspense cósmico e existencialismo, desenvolvendo uma ideia bastante cerebral sob o verniz de fantasia. 

Aniquilação (Annihilation/Reino Unido - EUA/2018) de Alex Garland com Natalie Portman, Tessa Thompson, Oscar Isaac, Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez e Tuva Novotny. ☻☻☻☻

quarta-feira, 14 de março de 2018

4EVER: Stephen Hawking

08 de janeiro de 1942  14 de março de 2018

Considerado por muitos o homem mais inteligente do mundo, o inglês Stephen William Hawking se tornou um dos cientistas mais famosos da história da humanidade. Físico, doutor em cosmologia e professor lucasiano emérito na Universidade de Cambridge, Stephen nasceu exatamante no aniversário de 300 anos da morte de Galileu. Além de suas famosas teorias e livros que foram sucesso de vendas ao redor do mundo,  ele também se tornou famoso por aos 21 anos se tornar um dos raros portadores de esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa que prejudicava sua locomoção e verbalização. No entanto, ao longo de sua vida, ele deixou claro que sua inteligência permanecia intacta. A história do cientista deu origem a um documentário (Uma Breve História do Tempo/1991), um filme para a TV  (Hawking/2004 estrelado por Benedict Cumberbatch) e uma cinebiografia (o sucesso A Teoria de Tudo/2014 que rendeu o Oscar de melhor ator para Eddie Redmayne. A popularidade de Hawking o levou a participar de algumas séries para a TV como Star Trek: Nova Geração e Big Bang Theory, além de animações como Os Simpsons, Futurama, O Laboratório de Dexter e Family Guy. A carreira brilhante de Hawking chegou ao fim devido a complicações em sua saúde. 

segunda-feira, 12 de março de 2018

PL►Y: Proibido Homens

Patrick Gilmore: o último homem da Terra. 

Ao longo das décadas percebe-se que o aumento de mulheres que engravidam sem prática sexual. As autoridades não acreditam nos depoimentos delas e consideram que existe uma espécie de histeria sobre o assunto. Até mesmo uma freira engravida sem a necessidade de um homem por perto. Seu bebê poderia ser até considerado um novo messias, mas como nasce do século feminino, não seria possível. O bebê segue uma regra que chama atenção neste tipo de gravidez que não necessita de prática sexual: todos os bebês são do sexo feminino. Pesquisas revelam que o sexo entre homens e mulheres também para de funcionar, uma vez que os espermatozoides morrem antes de conseguir fecundar o óvulo e, diante da necessidade da humanidade continuar, a mãe natureza inventou uma nova estratégia... só que com o efeito colateral da extinção masculina. Já faz 37 anos que não nasce um bebê do sexo masculino e o último deles é o simpático Andrew Myers (o fofo Patrick Gilmore), que trabalha na casa de duas mulheres que precisavam de ajuda para cuidar de suas filhas. Existem tantos detalhes neste mundo paralelo que torna o falso documentário Probido Homens um programa interessantíssimo, principalmente por não dar bola para o politicamente correto e alfinetar ao mesmo tempo exageros da relação entre os sexos ao longo dos séculos. Se por uma lado as mulheres percebem que está na hora da virada sobre uma longa história do patriarcado, por outro, elas não dão a mínima para o fim dos homens e criam novas formas de organização social para que a vida prossiga numa boa. Com elas no poder, o mundo se torna um lugar mais pacífico e de grandes avanços tecnológicos, mas também, os poucos homens que existem são vítimas de discriminação, passando a ser segregados em lugares próprios, onde não representam ameaça para as mulheres e, suspeita-se, que são alimentados secretamente com hormônios femininos. Proibido Homens é de fato uma grande provocação, mas diverte por revelar os efeitos que posturas extremadas podem trazer para o relacionamento entre mulheres e homens, quando na verdade o ideal é não haver a subjugação de um sexo pelo outro. Aqui o discurso da igualdade entre os sexos é sabotado mais uma vez através de um olhar inusitado. Feito através de entrevistas falsas e análises deliciosamente elaboradas pelo diretor e roteirista canadense Mark Sawers. Alguns vão dizer que ele tropeça num certo conservadorismo na condução deste mundo paralelo, especialmente quando se esquiva ao abordar o lesbianismo neste universo ou quando uma nova mudança se aproxima... ainda assim, o filme diverte (e tem alguns momentos hilariantes, incluindo a última cena) e faz pensar com muito bom humor. 

Proibido Homens (No Men Beyond This Point/Canadá-2015) Mark Sawers com Patrick Gilmore, Bronwen Smith, Tara Pratt, Dakota Guppy e Stanley Burton. ☻☻☻☻

PL►Y: A Lei da Noite

Affleck: tropeço no quarto filme. 

Tentei assistir o quarto filme de Ben Affleck na direção três vezes. Sempre que eu tentava vê-lo eu dormia. Imaginei que o filme dava azar por sempre cruzar o meu caminho quando estava mais cansado que de costume, mas... não é bem assim. Admiro muito o trabalho de Ben atrás das câmeras. Discuti horas com meus amigos quando eles não curtiram a versão que o livro de Dennis Lehanne rendeu em Medo da Verdade (2007), defendi os méritos de Atração Perigosa (2010) emular o clima do cinema policial dos anos 1970 (especialmente da atmosfera de Sidney Lumet) e achei uma sacanagem o Oscar não indica-lo ao prêmio de direção por Argo (2012). A Lei da Noite é o filme feito por Ben após Argo concorrer a sete Oscars e ganhar três (filme, roteiro adaptado e edição). Talvez por isso o filme Lei da Noite seja tão decepcionante. Um dos méritos de Affleck como cineasta era pegar um gênero que Hollywood já havia se acostumado e dar-lhes uma energia nova, seja na criação de tensão, nas atuações bem costuradas ou até em sua ambientação. Aqui ele parece seguir a cartilha dos filmes de gangster à risca. A fotografia (escura demais), os figurinos, os tipos que passam diante da câmera, tudo parece já ter sido visto antes em vários outros filmes. A história também é um tanto truncada ao contar a vida de Joe Coughlin (Affleck), um filho de policial que passou por más experiências na Primeira Guerra Mundial e volta para Boston. Não bastasse agir como gângster, ele segue passando mafiosos para trás até que quase perde a vida. É então que começa o segundo ato, onde ele vai para Flórida e começa uma nova fase no submundo da Lei Seca dos anos 1920. Ele se envolve com uma imigrante cubana (Zoe Saldana), tropeça em fanatismo religioso e até confusões envolvendo a Ku Kux Klan. São pontas demais para amarrar sem ter um roteiro bem lapidado (baseado em outro livro de Lehanne). O resultado é uma confusão narrativa desengonçada que não casa com a primeira parte do filme - e nem adianta gerar uma cena final para comover a plateia. Embora a câmera de Ben ainda tenha bons momentos (especialmente nas cenas de ação), A Lei da Noite resulta tão pretensioso quanto desengonçado e parte disso se deve ao próprio Ben - não cineasta, mas o ator (que não confere o carisma necessário para envolver a plateia como Joe) e o roteirista (que se enrola em temas que não domina). Fracasso nas bilheterias e rejeitado nas premiações, A Lei da Noite fracassou justamente quando a Warner havia concordado a dar para Ben a direção de The Batman. Decepcionada a Warner voltou atrás - sem falar que no mesmo ano, o irmão de Ben, Casey Affleck, levou o Oscar de melhor ator por Manchester à Beira Mar (2016) e a comparação entre a atuação de ambos entrou em debate novamente. Tropeço artístico e pessoal, A Lei da Noite serve ao cineasta para lembrar que ele não deve brincar de reproduzir o que outros diretores já fizeram. Siga sua própria voz, Ben. Ela é mais forte do que você imagina. 

A Lei da Noite (Live by Night/EUA-2016) de Ben Affleck com Ben Affleck, Sienna Miller, Brendan Gleeson, Chris Messina, Zoe Saldana, Chris Cooper, Elle Fanning e Matthew Maher. ☻☻

domingo, 11 de março de 2018

PL►Y: Logan Lucky

Tatum, Riley e Adam: irmãos azarados?

Desde que fracassaram na realização de um assalto, os irmãos Jimmy (Channing Tatum) e Clyde (Adam Driver) levam fama de azarados. Depois do plano desastroso a vida de ambos seguiu aos trancos e barrancos. Clyde foi para a guerra e acabou perdendo a mão numa explosão de mina, Jimmy teve uma filha com Bobbie Jo (Katie Holmes) - que logo percebeu que aquela união não daria em grande coisa e casou-se novamente com um vendedor de carros bem sucedido. Jimmy trabalha em uma empresa que presta serviços para uma pista de corrida, mas acaba perdendo o emprego quando implicam com um problema que possui na perna. Um tanto revoltado ele planeja um assalto elaborado naquele lugar, só que para isso ele precisa da ajuda do experiente assaltante Joe Bang (Daniel Craig). A parceria gera um outro plano, já que Joe está preso e prestes a terminar sua pena e não quer se arriscar numa fuga. Sendo assim, ele precisa sair da prisão e voltar sem que ninguém perceba a sua ausência. Simples, só que não.  São dois planos complicados que se misturam, mas se torna pura diversão pelas mãos do experiente Steven Soderbergh. O cineasta andava meio desanimado em fazer filmes e não dirigia para o cinema há cinco anos. Fazia tempo que o ganhador do Oscar de direção por Traffic (2000) não dirigia um longa com tanta energia. Boa parte da graça talvez venha das associações inevitáveis de Logan Lucky com o sucesso da série 11 Homens e Um Segredo (iniciada em 2001, que rendeu duas continuações e agora gera um spin-off com 8 Mulheres e um Segredo/2018), em que um grupo de personagens se juntava para executar assaltos cada vez mais arriscados (e deliciosamente fantasiosos). LL é a versão "gente comum" daquele filme. Assim como a série anterior, você acompanha cada passo do plano sem fazer a mínima ideia do que acontecerá a seguir - e em alguns momentos é normal até que algum detalhe se perca, mas você nem se importa já que quando você mal percebe já está torcendo pelos irmãos Logan. Colabora muito nesta jornada o elenco que transborda carisma em cada cena. Em sua quarta parceria com o diretor, Channing Tatum está a vontade em cena, muito distante daquele protótipo de brucutu que Hollywood queria que ele se tornasse. Ele está muito bem acompanhado de Adam Driver, que consegue ser o contraponto mal-humorado ideal para seu personagem e, sorte que na família ainda há espaço para o toque feminino de Millie (Riley Keough - que é neta de Elvis Presley! Você sabia?) - a irmã caçula que não tem medo de cara feia e que ajuda a costurar o plano em seus detalhes que não podem passar desapercebidos.  Também não posso esquecer de Daniel Craig em um raro papel cômico que lhe cai muito bem. Soderbergh em momento algum perde o ritmo e o olhar carinhoso sobre seus personagens, o que mantem a plateia atenta do início ao fim. Colorido, cheio de (arriscadas) digressões e com excelente trilha sonora o filme funciona muito bem! No entanto, há quem considere o último ato desnecessário. Realmente, ele não faria muita falta se fosse cortado, mas não chega a estragar um filme que bem que poderia render novos trabalhos para os irmãos Logan e sua gang. 

Logan Lucky: Roubo em Família (Logan Lucky/ EUA - 2017) de Steve Soderbergh com Channing Tatum, Adam Driver, Daniel Craig, Riley Keough, Katie Holmes, Farrah Mackenzie, Seth MacFarlane e Sebastian Stan. ☻☻☻☻

sábado, 10 de março de 2018

10+ Diretoras Q Vc Precisa Conhecer

Para fechar o nosso Ciclo Diretoras de 2018, preparei uma continuação de nossa lista no ano passado com outras diretoras que merecem atenção. Escolhi alguma que já apareceram aqui no blog e que pouca gente conhece (apresentadas em ordem alfabética):

Em tempos em que as pessoas acham 50 Tons de Cinza a coisa mais ousada que o cinema já produziu [sic], vale a pena conferir O Livro das Revelações em que a diretora australiana aborda a estranha história de um homem raptado por misteriosas mulheres - dispostas a usa-lo para para satisfazer seus desejos mais secretos. Suspense e erotismo se misturam com perfeição. Ana tem quatro filmes no currículo e também é conhecida por seus trabalhos como documentarista e por séries de TV em sua terra natal. 

Courtney nasceu em Memphis e chamou atenção de todo mundo quando Rio Congelado foi premiado no Festival de Sundance. A história dramática de uma mulher que transporta imigrantes ilegais sobre um rio congelado foi um dos mais aclamados daquele ano e rendeu à diretora uma indicação ao Oscar de roteiro original. A diretora tem realizado vários trabalhos para TV em séries renomadas como Law & Order, Em Terapia e Fear the Walking Dead. Ela lançou seu segundo filme em 2016 (Versões de um Crime com Keannu Reeves e Renée Zellwegger). 

Filha de mãe iraniana e pai francês, Emily nasceu na Alemanha ainda dividida pelo muro de Berlim. Ela chamava atenção com seu primeiro filme (o denso Molly's Way/2005). Para mostrar que seu interesse estava em histórias fortes tendo mulheres como protagonista, ela filmou O Estranho Sobre Mim, um filme sobre as dores da depressão pós-parto. O filme fez sucesso desde a exibição em Cannes e se tornou um marco sobre o tema no cinema, especialmente pelo tom de angústia.

Jennifer era um rosto conhecido em séries de TV e comédias indies no século XXI, mas ficou mais conhecida como a esposa do ator Jon Hamm nos últimos anos. Sentindo que estava na hora de algo mais, ela estreou na direção com a comédia Solteiros com Filhos. Além de dirigir ela escreveu e produziu o filme onde demonstrou bom humor e talento para conduzir uma história cheia de personagens. Além disso, entre uma piada e outra, tem segurança para abordar assuntos sérios. 

A australiana Kim Farrant dirige documentários desde os anos 1990 e planejou por dez anos sua história num longa de ficção. O resultado colheu elogios ao ser exibido no Festival de Cannes ao contar a história de uma família que tenta encontrar dois filhos desaparecidos em meio ao deserto australiano. O filme mistura suspense, drama e um pouco do folclore da região, além de contar com um trabalho marcante de Nicole Kidman na pele da mãe que revela seus segredos e temores aos poucos. 

Nascida em Toronto, a diretora canadense tem apenas um filme no currículo e ele conta a história real de Kathryn Bolkovac, mulher que serviu como agente pacificadora no pós-guerra da Bósnia e se deparou com uma rede de tráfico de mulheres envolvendo sequestros, prostituição e poderosos. O filme é tenso e assustador pelo seu tom de denúncia. Desde então Kondracki coleciona trabalhos nas melhores séries da TV americana (Walking Dead, The Americans, Gotham, Legion, Halt And Catch Fire...), resta torcer para que ela volte a fazer filmes. 

Filha do renomado diretor Luis Puenzo (do oscarizado A História Oficial/1985), Lucía estreou no cinema com este drama sobre um jovem intersexual (o antigo hermafroditismo) que na puberdade começa a se interessar por outros meninos, mas... não do jeito que você imagina. Lucía tem sensibilidade e firmeza de sobra na condução do filme que foi escolhido pela Argentina para concorrer ao Oscar. Depois ela dirigiu o ótimo O Médico Alemão (2013) e continua merecendo atenção especial dentro do renomado cinema argentino.

Nicole é conhecida no cinema independente americano desde os anos 1990. Ela já dirigiu seis filmes, geralmente centrado em mulheres em situações cotidianas que podem ganhar contornos surpreendentes. Sentimento de Culpa é meu filme favorito da diretora. É o mais cheio de nuances ao contar uma história que mistura interesses mesquinhos, solidariedade e envelhecimento de forma bastante natural e envolvente. O tempo só tornou o estilo da diretora ainda melhor. 

Recentemente  a francesa Sophie filmou o clássico Madame Bovary. Foi um passo curioso para uma cineasta que criou um dos filmes mais originais da década anterior. O excepcional Almas à Venda conta a história de um ator que queria extrair sua alma e ter outra - no caso a de um russo que lhe ajudasse a incorporar um personagem. Depois... melhor você assistir ao filme (que surpreende ainda mais quando descobrimos que ela mora em Manhattan com o esposo, o descendente de ucranianos Andrij Parech). 

Faz dez anos que a cineasta alemã dirigiu seu primeiro longa-metragem de ficção e... ainda aguardo seu passo seguinte. Cores no Escuro rendeu para ela algumas indicações a prêmios na Alemanha e foi bastante merecido. O filme é bastante sutil ao abordar um casal maduro que viveu quase a vida inteira juntos e temem a chegada de uma inevitável separação. Espécie de ensaio do momento da despedida, o filme capricha nos silêncios e no ritmo desacelerado, mas a atuação de Bruno Ganz e Santa Berger fazem do filme um verdadeiro deleite. Um trabalho tão difícil quanto belo. 

CICLO DIRETORAS: Visages Villages (FILMED+)

Agnès e JR: deliciosa viagem 

Um dos meus erros nas apostas do Oscar deste ano foi ter considerado que Visages Villages levasse o prêmio de melhor documentário. Bem, ele não levou, mas isto não quer dizer muita coisa, já que ele ainda é um dos filmes mais interessantes que assisti nos últimos meses. O longa parte da ideia da cultuada diretora francesa Agnès Varda - responsável por clássicos imortais como As Duas Faces da Felicidade (1965), Os Renegados (1985) e o recente As Praias de Agnès (2008), que assim como este aqui envolve suas memórias e a paixão pela fotografia - em ter uma parceria com o artista JR, famoso pelas fotografias gigantes de anônimos em preto e branco coladas em lugares públicos. Embora sejam de gerações diferentes (ela tem 90 anos e ele deve ter uns quarenta) os dois deixam claro que seus trabalhos tem afinidades bem marcantes. O encontro é irresistível desde o início, quando os dois contam de forma muito simpática como eles não se conheceram. Logo depois eles entregaram que se conheceram através da arte um do outro. Ele lembra do cinema de Varda e ela se impressionou com algumas fotografias que ele espalhou por aí. Assim, fica fácil entender como ela teve a ideia de convidá-lo para uma viagem criativa pelo interior da França em busca de anônimos prestes a se tornarem obras de arte. Sorte que o filme consegue ser mais do que apenas uma sucessão de sessões de fotografia, uma vez que dá voz para as pessoas comuns, suas histórias e reações diante das imagens gigantes. As fotografias rendem encontros, resgates históricos, apresentações e momentos um tanto surreais guiados pela imaginação da dupla. São momentos deliciosamente lúdicos (o caminhão ilustrado como uma máquina fotográfica - e que revela as fotos como uma enorme Polaroid sobre rodas  é um verdadeiro achado). Visages Villages é uma verdadeira ode às pessoas comuns e o que podem ter de mais interessante: suas histórias de vida. Para além da proposta em si, o filme explora um pouco a relação entre os  dois artistas (especialmente o incômodo de Agnès em sempre ver seu parceiro de óculos escuros) e ver a cineasta comentar um pouco sobre o envelhecimento, a visão (que se torna cada vez mais turva - como ela já relatou no documentário brasileiro Janela da Alma/2001) e até a solidão após a morte do esposo, o também diretor Jacques Demy. Criativo, sensível e engraçado, o filme poderia ser o primeiro de uma série de filmes com a dupla e, o melhor de tudo, demonstra como uma mulher genial permanece uma mulher genial, mesmo sob os efeitos do tempo. Vale lembrar que o Oscar de documentário não foi para o filme, mas Varda foi a homenageada do ano pela Academia, recebendo um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra no cinema. 

Agnès Varda

Visages Villages (França/2017) de Agnès Varda e JR com Agnès Varda, JR, Marie Douvet, Claude Flaert e Vincent Gills. ☻☻☻☻☻