sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

INDICADOS AO OSCAR 2014: ATOR COADJUVANTE

Barkhad Abdi (Capitão Phillips) É engraçado como um filme bancado para revigorar a carreira de um astro pode revelar um talento até então desconhecido. Se Tom Hanks ficou de fora da lista de melhor ator, o estreante Barkhad Abdi obteve uma atuação tão expressiva como o líder dos piratas que invadem o barco de Phillips que a Academia não poderia esquecê-lo. Considerado a alma do filme, o somaliano de  28 anos  foi convidado para atuar quando trabalhava como motorista de limusine. Antes do sossego, seu passado era bastante conturbado, já que existem várias histórias sobre seus problemas com a polícia americana. Ele pode não levar o Oscar, mas os elogios devem lhe garantir um futuro promissor nas telas.  

Bradley Cooper (Trapaça) Conheço o trabalho de Cooper desde que ele apareceu no seriado Nip/Tuck (2003-2010) e me surpreende como as pessoas desconfiam do moço. A culpa pode ser do sucesso Se Beber Não Case (2009). Ano passado quando foi indicado pela primeira vez ao Oscar por sua ótima atuação em O Lado Bom da Vida (2012) ele mesmo disse ter ficado admirado nas reações à sua primeira indicação. O trabalho com o diretor David O. Russel parece estar dando certo, já que está no páreo novamente em 2014 - pelo papel de um agente do FBI neurótico que lidera uma armação policial para prender políticos corruptos. Se não ganhar o prêmio, a cena com rolinhos do cabelo já entrou para história do cinema...

Jared Leto (Clube de Compras Dallas) O problema com Jared é o mesmo de Cooper, considerado bonito demais para ser levado a sério, o ator gosta de transformações radicais para ganhar respeito. Foi assim em  Clube da Luta (1999), Réquiem Para Um Sonho (2000) e Capítulo 27 (2007) onde foi eleito o melhor ator no festival de Zurich. Ele concorre ao Oscar por sua atuação como a transexual soropositiva Rayon, que torna-se cúmplice na trama de contrabando de medicamentos na década de 1980. Jared estava longe das telas desde que se dedicou ao complexo Sr. Ninguém (2009), desde então se dedicou a banda 30 Seconds to Mars. Ele que está ganhando todos os prêmios de ator coadjuvante da temporada (Globo de Ouro, SAG...) 

Jonah Hill (O Lobo de Wall Street) Quem diria que o gordinho de Superbad (2007) seria indicado duas vezes ao Oscar? Depois de ser indicado como o matemático de O Homem que Mudou o Jogo (2011) ele volta à disputa como o melhor amigo e sócio de Jordan Belfort (Leonardo DiCpario). Há quem compare a química entre os Leo e Jonah com a que víamos nos antigos filmes de Scorsese estrelados por Robert DeNiro e Joe Pesci. Exagero? Não sei, mas os elogios garantem que os dois ajudam bastante no clima subversivo do filme. A verdade é que essa segunda indicação ao prêmio o ator eleva sua carreira a outro patamar, nada mal para quem acaba de completar 30 anos e vivia nos bastidores do showbizz com o pai que era holding dos Guns'n Roses. 

Michael Fassbender (Doze Anos de Escravidão) Apesar de estar muito bem na pele de um vilão sutil, sem caretas ou piadinhas, não há como não lembrar que o ator deveria ter sido indicado ao Oscar por sua excelente atuação como o viciado em sexo de Shame (2011) de Steve McQueen, que lhe rendeu prêmios em Veneza e indicações a vários prêmios (incluindo o Globo de Ouro). Fassbender poderia também ter sido lembrado pelo seu desempenho em Hunger (2008) também de McQueen. Em sua terceira parceria com o diretor ele vive um brutal proprietário de terras (e escravos) quer faz até o Magneto de X-Men Primeira Classe (2011) parecer um herói.


O ESQUECIDO:  Daniel Brühl (Rush) Famoso por suas participações em filmes alemães desde Adeus, Lenin (2002) - pérola do cinema alemão do século XXI. Conhecido por vários filmes alemães de sucesso - Edukators (2003), Feliz Natal (2005)... -  ele foi para Hollywood se meter na trilogia Bourne, em Bastardos Inglórios (2009) e The Fifth State (2013). O envolvimento nas polêmicas (e fracasso) deste último devem ter prejudicado sua indicação ao prêmio como o corredor de Fórmula 1 Nick Lauda. O mais curioso é que Brühl nasceu na terra de sua mãe (Espanha) e ficou famoso por personagens alemães - graças aos genes paternos (um descendente de alemães nascido em São Paulo!). 

CATÁLOGO: A Última Noite de Boris Gushenko

Gushenko e seu rival: sátira de época

Não sei se já comentei antes aqui no blog que a culpa de eu ser cinéfilo é por conta do meu pai que me levava ainda menino na Cinelândia quando (foi assim que o primeiro filme que assisti foi Peter Pan da Disney, depois ganhei o livro e você pode imaginar os efeitos disso na minha formação como ser humano). Hoje, quase não assisto filmes junto com meu pai. Faz mais de uma década que não vamos no cinema juntos (nem lembro da última vez) - mas a culpa desse jejum é minha porque não fui com ele e minha irmã ver Thor 2 (2013) num dia de folga. Todas essas confissões para dizer que, ver filmes com meu pai, ainda que seja em casa, é sempre interessante. Acho engraçado quando alguns artistas recebem rótulos com o padrão Manoel (nome do meu pai) que se repetem na minha cabeça. Meu pai por exemplo não é fã de Woody Allen, pelo contrário, o comentário destinado a todos os filmes do diretor quando assisto é "Você gosta mesmo desse baixinho?",  ou então quando se aventura a assistir alguns minutos comigo é algo do tipo "Essa gente fala demais" (como aconteceu em Maridos e Esposas/1992). Todas essas voltas só para dizer que (posso afirmar com certeza) que o filme favorito do meu pai é A Última Noite de Boris Gushenko (1975), o que revela que no fundo meu pai é um daqueles que prefere a fase em que Allen era mais engraçado que intelectual. Ironicamente, Bóris Gushenko é um dos filmes de Allen que menos ouvi falar durante a minha vida, mas devo confessar que o filme é bastante engraçado e deve figurar entre as melhores comédias do diretor. A produção é uma sátira, já que tem um tom de chacota com várias referências que temos sobre a Rússia. Boris (Woody) é um garoto que nasce diferente dos seus irmãos (que se tornam soldados importantes na luta pelo país). Boris é mais pacato, desastrado e tem aqueles famosos óculos... Talvez por ser tão diferente, nunca é correspondido em sua paixão pela prima Sonja (Diane Keaton) que é apaixonada por um dos irmãos guerreiros dele. O problema é que Sonja prefere casar com um velho decrépito do que com Boris. Enquanto Boris vai para a guerra e faz várias trapalhadas, Sonja trai o esposo com todo mundo (menos com Boris). Existem referências a vários personagens que inspiraram Dostoievski e Nabokov em suas obras, além de situações que viram do avesso a ideia de um filme de época ambientado na Rússia. É tão absurdo que rende boas gargalhadas, especialmente quando Sonja recita filosofices como se estivesse comentando com a naturalidade a novela das oito. O que me decepciona um pouco é que assim como em Bananas (1971) e O Dorminhoco (1973), o diretor coloca seu protagonista na missão de destruir algum poderoso local. Tirando essa ideia fixa, o filme merece ser visto pelo tom surreal (inclusive a visita da morte vestida de branco) e a ideia de Quentin Tarantino pegou o liquidificador de Allen emprestado em seus últimos filmes. Vale lembrar, que o filme foi o primeiro que o cineasta dirigiu fora dos EUA (foi rodado na França e Hungria), feito que ele repetiu somente vinte anos depois. 

A Última Noite de Boris Gushenko (Love and Death / EUA- 1975) com Woody Allen, Diane Keaton e Brian Coburn. ☻☻☻

DVD: Uma Varanda Para o Mar

Jean e Marie: amando o passado. 

Para quem curte cinema europeu, os créditos de Uma Varanda Para o Mar são de dar água na boca. A direção é da francesa Nicole Garcia, que começou a carreira como atriz e tornou-se diretora de filmes aclamados como O Filho Preferido (1994) e Place Vendôme (1998). No alto dos créditos está Jean Dujardin (que se tornou mundialmente famoso como o ator mudo de O Artista/2011) e a canadense Marie-Josée Croze (premiada em Cannes por As Invasões Bárbaras/2003),  com esse trio o filme já chama atenção. Além disso, a trama de romance e suspense começa promissora, pena que se perde quando tenta desviar demais do alvo principal. O filme conta a história do corretor certinho (como sempre) Marc Palestro (Dujardin), preso à rotina do trabalho e do casamento - uma rotina tediosa que é apresentada quase milimetricamente no início do filme. Trabalhando com o sogro e sem companhia nem para os banhos de piscina, Palestro precisa realizar uma venda milionária para um poderoso proprietário representado por uma bela mulher (Croze). Eis que aquela ela lhe parece familiar, não demora muito para que ela também o reconheça, Palestro percebe que ela era sua namorada de infância. Parece que contei demais? Esse é só o início. Os dois vivem uma paixão incontrolável, mas que aos poucos torna-se comprometida por alguns segredos... o roteiro trabalha muito bem a sensação nostálgica do que aquela mulher representa na vida de Palestro - a saudade de um tempo que não volta mais, que parece melhor e mais confortável do que a situação que vivencia atualmente - ainda que remeta às dolorosas lembranças da vida durante a ocupação francesa na Argélia. Enquanto o filme se concentra nas suspeitas de que o protagonista foi enganado (com aquela identificação que só o flashback estrelado por crianças é capaz de causar na plateia) o filme funciona que é uma beleza. O problema é quando o roteiro desvia sua rota para uma subtrama sobre trambiques imobiliários que não interessa a ninguém - deixando a narrativa longa e arrastada. Acho que os quatro roteiristas (que inclui a própria diretora) não perceberam que os personagens e suas cicatrizes do primeiro amor já tinham força suficiente para sustentar a narrativa. Em DVD ou Blu-Ray temos a vantagem de poder acelerar nas partes que não nos interessa e desfrutar de uma história de amor triste e quase platônica,  já que um está apaixonado por um fantasma do passado e o outro pela chance de finalmente ser feliz. Outro ponto interessante é ver Dujardin num desempenho competente, um ano antes de ser descoberto pelo mundo - e ser alvo de piadinhas na cerimônia do Oscar. 

Uma Varanda Para o Mar (Un Balcon Sur La Mer/França-2010) de Nicole Garcia com Jean Dujardin, Marie-Joseé Croze, Toni Servillo, Sandrine Kiberlain e Claudia Cardinale. ☻☻☻

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

DVD: Conspiração Shanghai

John e Li: o espião que queria ser um pouco mais. 

John Cusack é um dos atores mais simpáticos que Hollywood tem à disposição. Avesso às premiações, ele é um dos poucos atores que são capazes de se defender em qualquer gênero. Seja em dramas pesados (Os Imorais/1990), comédias românticas (Alta Fidelidade/2000) ou surreais (Quero Ser John Malkovich/1999), o ator aparece sempre digno de crédito. Ao mesmo tempo que isso lhe dá uma certa estabilidade no terreno movediço dos astros americanos, faz com que nem sempre embarque em filmes destinados ao sucesso. Conspiração Shanghai nem chegou nos cinemas brasileiros, sendo lançado em DVD por aqui somente dois anos depois de estrear no exterior. O curioso é que não se trata de um filme ruim, pelo contrário, bem cuidado e com uma história de ficção que se mistura com fatos reais, o filme prende a atenção numa atmosfera noir de alguma elegância e muitos mistérios. A elegância fica por conta de John e sua parceira de cena, a sempre bela Gong Li. Ambientado na década de 1940, John interpreta o espião Paul Soames, que finge ser jornalista simpatizante do nazismo numa Shanghai ocupada por japoneses.  Soames deseja descobrir o assassino do seu parceiro de missão (vivido por Jeffrey Dean Morgan) e acaba se envolvendo numa encruzilhada entre militares e membros de um movimento de resistência á ocupação japonesa. Em seu caminho está o influente Anthony Lan-Ting (Chow Yun Fat), sua atraente esposa Anna (Gong Li) e um militar (Ken Watanabe) que parece ter mais envolvimento com morte do tal amigo do que Soames desejaria. Como reza o manual de filmes de espionagem, o roteiro parece feito sob medida para confundir a plateia até que comece a desatar-se os nós. Girando entre informações, suspeitos e pistas, o filme apresenta bons personagens que são abandonados pelo meio do caminho pela direção sem sutileza de  Mikael Hafström. Assim, além do elenco principal, o filme tem aquele sabor de desperdiçar atores do porte de David Morse, Hugh Bonneville, Rinko Kikuchi e Franka Potente em papéis que parecem importantes mas que tem desenvolvimento decepcionante na trama. Pelo menos, o filme tem o mérito de prender a atenção (nem que seja pelos figurinos exuberantes de Li - que aos 45 anos continua belíssima) e ter um último ato previsível filmado de forma espetacular.  Trata-se de um bom passatempo, mas que deixa aquele sabor de que queria ser algo mais (assim como os outros filmes do diretor). É o segundo longa que Cusack realiza com o diretor sueco (revelado com a indicação ao Oscar por Evil em 2004), em 2007 os dois fizeram o terror num quarto de hotel nomeado 1408. Recentemente Mikael filmou o encontro de Stallone e Schwarzenegger em Rota de Fuga (2013), outra produção que parece ter ficado no meio do caminho de suas reais intenções. 

Conspiração Shanghai (EUA-China/2010) de Mikael Hafström com John Cusack, Gong Li, Chow Yun Fat, Ken Watanabe, Franka Potente, Hugh Bonnevill e David Morse. ☻☻☻

DVD: Lixo Extraordinário

Muso, autor e obra: universo remexido. 

Sempre quando começa o burburinho sobre Oscar eu vejo que existe um vício no Brasil de não investir em campanhas nos formatos de curta-metragem e documentários. Geralmente, o MinC tenta cravar uma indicação na categoria Filme Estrangeiro, mas faz tempo que o Brasil não consegue uma indicação. No campo dos documentários existiram obras recentes que poderiam facilmente ser indicadas na categoria, mas que acabaram ficando de fora por um certo desprezo ao gênero. Documentários como Janela da Alma (2001), Jogo de Cena (2007) e Dzi Croquettes (2009) são dotados de qualidades narrativas e criativas que poderiam facilmente cair no gosto da Academia, sendo infinitamente melhores do que alguns escolhidos para concorrer ao careca dourado nos últimos anos. Diante desse quadro, fiquei gratamente surpreso quando Lixo Extraordinário conquistou uma vaga entre os indicados a melhor documentário no ano de 2011. A produção foi realizada numa parceria entre Brasil e Reino Unido e aborda o trabalho do artista plástico Vik Muniz realizado junto aos catadores do aterro de Jardim Gramacho (localizado no município de Duque de Caxias no Rio de Janeiro). Com trilha sonora assinada por Moby e Celebrado em vários festivais, o filme consegue ser bastante envolvente ao abordar mais do que as diferentes histórias das pessoas que trabalham naquele lugar, convivendo com toneladas de lixo todos os dias e recebendo um valor modesto por catarem material reciclável nas montanhas de sujeira que se acumulam em Jardim Gramacho. A visão do aterro é impressionante, dando a impressão que aquelas pessoas estão soterradas por toda aquela sujeira e a proposta do filme é justamente mostrar mais do que as inevitáveis histórias de pobreza, mas as impressões dessas pessoas sobre o que fazem e a mudança que o trabalho de Vik Muniz produz na forma como veem o mundo. A ideia de Vik era contar com os catadores para juntar material e montar as imagens que iria fotografar. Ele escolhia pessoas para servirem de modelo e reproduzia suas fotografias em maior escala com os materiais encontrados. Depois as obras eram leiloadas e a arrecadação era revertida para a associação fundada para  defender os direitos dos catadores de Jardim Gramacho. Um trabalho de valor filantrópico e humano inegável, mas vamos falar do filme. Lixo Extraordinário tem alguns tropeços, especialmente quanto tenta transformar em palavras o que já estamos vendo, afinal, as imagens são fortes o suficiente para expressar o que vemos. Não precisava perguntar o que um catador sente ao ver a obra para qual posou ou o que um ou outro pensa de Maquiavel ou de Arte Moderna, isso atrapalha um pouco a fluência da narrativa perante a naturalidade que os envolvidos apresentam em cena. Teorizar sobre o próprio dilema de Vik e seus agregados perante o fim do projeto não era necessário, parece artificial, especialmente quando soluções rápidas aparecem e o assunto é esquecido. Quando faz isso o filme parece pesado. Lixo Extraordinário consegue ser instigante ao explorar as reflexões que a arte e o processo criativo provoca naquelas pessoas. Dirigido pela inglesa Lucy Walker em colaboração com o brasileiro João Jardim e Karen Harley, o filme tenta se equilibrar entre o realismo e a exploração da pobreza. Sorte que na maior parte do tempo, o filme deixa a câmera desvendar aquele universo remexido. Percebo que o filme triunfa ao mostrar que aquelas pessoas não estavam soterradas entre o lixo de ricos e pobres que se mistura cotidianamente diante dos olhos e do mau cheiro. Estavam ali, como qualquer pessoa, maiores e mais interessantes do que seus estereótipos poderiam supor, prontas para se revelarem diante de uma câmera. 

Lixo Extraordinário (Waste Land/ Brasil-Reino Unido/2010) de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, com Vik Muniz. ☻☻☻

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

INDICADOS AO OSCAR 2014: ATRIZ COADJUVANTE

Jennifer Lawrence (Trapaça) Ano passado a atriz levou para a casa o Oscar de Melhor Atriz por sua atuação em O Lado Bom da Vida de David O. Russell, agora ela está no páreo do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por um filme de David O Russell!  Dessa vez seu papel é completamente diferente dos outros que tem recebido. No papel de Rosalyn Rosenfeld, a esposa de um trambiqueiro, Jennifer convence na pele de uma mulher mais velha e ligeiramente desequilibrada. Mais cômica, Jennifer prova estar disposta a colecionar estatuetas em sua carreira. Nada mal para quem tem 23 aninhos! Essa é sua terceira indicação ao prêmio da Academia, a primeira foi por Inverno da Alma (2010) na categoria principal. 

Julia Roberts (Álbum de Família) Desde que recebeu o Oscar por Erin Brockovich (2000), Roberts passou a maior parte do tempo desconstruindo a imagem que construiu sobre si mesma. Fez papéis de vilã, mulheres traiçoeiras, bruxas, ou seja, garotas bem diferentes das que a transformaram na rainha namoradinha da América. Em Álbum de Família ela volta ao radar do Oscar como a amarga Barbara Weston, que tenta juntar os cacos de seu relacionamento com a mãe problemática vivida por Meryl Streep. Julia também já concorreu como atriz coadjuvante por Flores de Aço (1989) e como atriz principal por Uma Linda Mulher (1990).

June Squibb (Nebraska) Pouco conhecida do grande público, Squibb trabalha no cinema desde que estreou em 1990 em Simplesmente Alice de Woody Allen. Desde então fez vários filmes (inclindo As Confissões de Schmidt/2002 de Alexander Payne) e produções para a TV. Indicada para o Oscar por sua segunda parceria com Payne, Squibb rouba o coração de muita gente na pele de Kate Grant, esposa de um homem que acredita que ganhou uma fortuna e acaba reencontranda a família sob um prisma bastante diferente. Nascida em 1929, Squibb conseguiu uma guinada em sua carreira com sua indicação. 

Lupita Nyong'O (12 Anos de Escravidão) Antes de tornar-se conhecida na pele da escrava Patsey no filme de Alexander McQueen, Lupita tinha poucos trabalhos em seu currículo, um deles era no trabalho com documentários, o outro era sua atuação na minissérie Shuga (2009-2012) da MTV. Indicada a vários prêmios na temporada atual, sua força para o Oscar cresceu com o reconhecimento no Critic's Choice Awards  e o prêmio do sindicato (SAG Awards). Tecnicamente empatada com Jennifer Lawrence na categoria, Lupita tem conquistado admiradores importantes nas últimas semanas. 

Sally Hawkins (Blue Jasmine) Quando o Oscar resolveu não indicar a atriz ao Oscar por sua atuação em Simplesmente Feliz (2008) tive a impressão que havia uma certa desconfiança sobre o talento da atriz. Hawkins não parou de fazer filmes e nesse ano caiu nas graças da academia como a irmã totalmente diferente de Jasmine (Cate Blanchett) no filme de Woody Allen. A partir daí, a vida de sua otimista personagem entra em mundanças não muito agradáveis. Pouca gente lembra, mas essa é sua segunda parceria com o diretor, em 2007 ela atuou em O Sonho de Cassandra. As chances de Hawkins levar o prêmio não são grandes, mas aos 43 anos ela ainda terá muitas chances de futuras indicações. 

A ESQUECIDA: Scarlett Johansson (Ela) Eu já sabia que uma indicação para ela era quase impossível, talvez se o roteiro de Spike Jonze houvesse criado uma cena de poucos minutos em que a atriz aparecesse ela tivesse mais chances. Scarlett recebeu vários elogios pela sua estupenda interpretação vocal como a voz do sistema operacional pelo qual um homem solitário se apaixona (e quem viu o trailer sabe exatamente o motivo). Sorte que o Critic's Choice Awards existe e indicou a atriz por sua atuação, afinal, os estúdios e diretores precisam lembrar que Scarlett é mais do que aquela atriz que vive a personagem Viúva Negra em Os Vingadores (2011)

domingo, 19 de janeiro de 2014

DVD: Enquanto Você Dorme

Tosar: sentindo-se melhor com a infelicidade alheia. 

Jaume Balagueró nasceu na Espanha e aos poucos constrói uma sólida carreira em filmes de terror e suspense. Sua habilidade é tão conhecida que seu currículo possui filmes realizados em sua terra natal e nos EUA. Seu filme mais famoso ainda é REC (2007) que fez tanto sucesso que acabou rendendo uma refilmagem hollywoodiana dirigida por ele mesmo em 2009. No entanto, ele quer ser levado a sério pelo seu trabalho com atores e criação de atmosferas mais sutis do que pessoas sendo vitimadas por zumbis. Em 2011, Balagueró surpreendeu ao lançar Enquanto Você Dorme, filme de suspense que remete aos thrillers domiciliares tão comuns na década de 1990. Girando em torno do porteiro César (Luis Tosar), o filme constrói uma atmosfera claustrofóbica sobre um personagem que não consegue sentir alegria - e para resolver esse problema, resolve infernizar a vida dos moradores do prédio em que trabalha. Assim, o personagem alimenta cães com comida estragada, esquece de molhar plantas ou até molesta uma moradora durante a noite. César tem uma verdadeira obsessão por Clara (Marta Etura), tanto que durante a noite a deixa dopada o suficiente para que ela não saiba que ele lhe faz companhia. Apesar de suas loucuras, César é bastante metódico, seguindo uma rotina que inclui banhos matinais e visitas à mãe internada num hospital (e que torna-se prisioneira das confissões de suas fantasias mais doentias). As coisas complicam para ele quando a polícia começa a investigar as ligações e cartas recebidas por Clara, além de Marcos (Alberto San Juan), namorado de Clara tornar-se mais presente. Existe um bocado de absurdo nas situações criadas pelo roteiro de Alberto Marini, mas ele consegue driblar essa descrença da plateia com alguma habilidade - mesmo que para isso utilize um grande incômodo ao colocar uma adolescente que faz chantagem com o porteiro (por saber que ele invade o apartamento da vizinha todas as noites). Apesar de não ser perfeito, o filme prova que Jaume Balagueró sabe construir narrativas eficientes calcado exclusivamente em seus atores, sem gritarias, sangue jorrando a cada cinco minutos ou criaturas asquerosas. No entanto, muito do mérito do filme se deve à atuação de Luis Tosar, que econômico em suas expressões e gélido em seus diálogos consegue defender um personagem difícil, dando-lhe uma dimensão humana em meio às ações mais condenáveis. O mais interessante é que a ideia de alguém sem alegria, que para sentir-se melhor precisa fazer quem está ao seu redor sentir-se mais infeliz que ele, mostra-se um retrato bastante atual das relações humanas. 

Enquanto Você Dorme (Mientras Duermes/Espanha-2011) de Jaume Bagaleró, Marta Etura, Alberto e Alberto San Juan. ☻☻☻

PREMIADOS SCREEN ACTOR'S GUILD (SAG AWARDS) - 2014

O elenco de Trapaça: mais perto do Oscar

O que dizer nessa temporada pré-Oscar depois que o Sindicato dos Atores premiou ontem os seus favoritos? Que Trapaça ganhou ainda mais força depois que seu elenco foi considerado o melhor do ano, que Cate Blanchett anabolizou seu favoritismo para ganhar o careca dourado em março e que a desconhecida Lupita Nyong'O se tornou a maior pedra no sapato de Jennifer Lawrence para ganhar seu segundo Oscar. A seguir os premiados:

CINEMA

Ator em Filme
Matthew McConaughey – Dallas Buyers Club

Atriz em Filme
Cate Blanchett – Blue Jasmine 

Ator Coadjuvante em Filme
Jared Leto – Dallas Buyers Club

Atriz Coadjuvante em Filme
Lupita Nyong’O – 12 Years a Slave 

Elenco de Filme
American Hustle 

Equipe de Dublês em Filmes
Lone Survivor 

TELEVISÃO

Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme
Michael Douglas – Behind the Candelabra 

Melhor Atriz em Minissérie ou Telefilme
Helen Mirren – Phil Spector 

Ator de Série Dramática
Bryan Cranston – Breaking Bad – HBO

Atriz de Série Dramática
Maggie Smith – Downton Abbey

Ator de Série Cômica
Ty Burrell – Modern Family 

Atriz de Série Cômica
Julia Louis-Dreyfus – Veep 

Elenco de Série Dramática
Breaking Bad 

Elenco de Série Cômica
Modern Family

Equipe de Dublês
Game of Thrones 

sábado, 18 de janeiro de 2014

CATÁLOGO: Maridos e Esposas

Judy, Woody e Mia: divórcio nos olhos dos outros é refresco. 

O interessante Maridos e Esposas é um filme de Woody Allen que ficou ofuscado com o rompimento polêmico de seu relacionamento com Mia Farrow, afinal, foi entre as filmagens que ela descobriu que o diretor mantinha um caso com a filha adotiva Soon-Yi. A imprensa fez todo o sensacionalismo que podia em torno do sempre reservado cineasta e as filmagens ficaram paradas por semanas, já que Mia não via sentido em voltar a trabalhar nos sets com o esposo. No fim das contas o profissionalismo falou mais alto e ela filmou as últimas cenas de sua personagem. Levando em consideração a situação que o casamento de Woody e Mia atravessava, o filme merece atenção especial no cuidado com o desenho dos personagens e os diálogos cortantes em torno do relacionamento entre dois casais de amigos. Logo de início, Sally (Judy Davis, atriz que eu adoro, mas que anda meio esquecida pelos diretores) e Jack (o mais conhecido como diretor, Sydney Pollack) anunciam aos amigos Gabe (Allen) e Judy (Farrow) que irão se separar. Apesar da surpresa dos amigos de longa data, Sally e Jack parecem bastante tranquilos com a decisão  e acreditam que é o melhor para eles. Não vai demorar muito para que todas as neuroses de Sally apareçam quando descobre que o marido tem uma nova namorada. Jack a acusa de fria, calculista, cerebral e cansativa demais - o que justifica seu relacionamento com Sam (Lysette Anthony), uma mulher mais jovem que gosta de horóscopo, coisas místicas, astrologia... e Sally tenta reorganizar sua vida saindo com um colega de trabalho de Judy, o romântico Gates (Liam Neeson). Enquanto isso, Gabe e Judy se despem do estereótipo de casal perfeito demonstrando que já existem fissuras no relacionamento de longa data - especialmente com o interesse de Gabe por uma aluna de literatura (Juliette Lewis, com 19 anos) que tem uma espécie de fetiche por homens mais velhos. Dá para perceber o gosto com que Allen mistura seus personagens em situações tão dramáticas quanto cômicas sobre os dilemas do casamento. Além de realizar um curioso caleidoscópio com o desenho dos personagens (que aos poucos se afastas da obviedade), Allen opta ainda por um formato quase documental de contar sua história. Existe um narrador que parece conduzir um programa de TV, momentos de entrevistas individuais (incluindo o primeiro esposo de Judy que a acusa de ser passivo-agressiva) e uma câmera trêmula (ou "na mão" como as pessoas gostam de dizer com mais elegância) usada com mais sabedoria do que os que consideram "moderno" usar esse recurso atualmente. Em se tratando da história, o mais interessante, é que os personagens masculinos levam uma surra das mulheres criadas por Allen, uma com nuances mais ricas que a outra (não por acaso Judy Davis foi indicada ao Oscar de coadjuvante por sua personagem à beira do colapso, mas que é capaz de separar a humanidade entre "raposas e porcos espinhos" num dos momentos mais curiosos do filme). Apesar de quase sempre esquecido, Maridos e Esposas é um dos meus filmes favoritos de Woody Allen - especialmente pelo momento doloroso que o cineasta vivenciava seu processo de criação. Além do roteiro caprichado (indicado ao Oscar), Allen apresenta um trabalho irretocável com seu elenco que ainda conta com Blythe Danner e Nora Ephron no de apoio.

Maridos e Esposas (Husband and Wives/EUA-1992) de Woody Allen com Woody Allen, Mia Farrow, Judy Davis, Sydney Pollack, Liam Neeson e Juliette Lewis. ☻☻☻☻

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

DVD: Fim

Os amigos: enfrentando o apocalipse? 

Nos últimos anos virou moda fazer filmes sérios sobre o fim do mundo. a temática favorita de Roland Emmerich (Independence Day/1996, O Dia Depois de Amanhã/2004 e 2012 ) agora serve para filmes que abordam as relações humanas diante do apocalipse. Se Lars Von Trier teve seu Melancolia (2011) e Abel Ferrara criou o fraco 4:44 (2011), o espanhol Jorge Torregrossa fez este sugestivo Fim. No início parece aquela velha fórmula dos amigos de juventude que se reencontram para curtir, mas acabam lavando a roupa suja. O protagonista é Félix (Daniel Grao) que aceita o convite de um grupo de amigos para um encontro numa casa de campo bastante afastada da cidade. Ele leva como acompanhante uma mulher vários anos mais jovem, Eva (Clara Lago) que é acolhida pelo grupo sem maiores problemas. Os amigos de juventude agora estão bem crescidos e possuem características que garantirão os desentendimentos. Maribel (Maribel Verdú) é a ex-namorada de Félix, que agora é casada com Rafa (Antonio Garrido), também fazem parte do grupo o artista Sergio (Miguel Fernández) e o galanteador Hugo (Andres Velencoso) que leva a namorada Cova (Blanca Romero) a tiracolo. Completa o grupo a compreensiva Sara (Carmen Ruiz) que organiza o encontro a pedido do amigo mais misterioso do grupo, Angel (Eugenio Mira) - que não aparece. Os amigos tentam resgatar o entrosamento dos tempos idos, mas aos poucos a tensão teima em aparecer, principalmente depois que um clarão faz faltar energia nas redondezas e impossibilita que os carros funcionem. Além disso, segredos do passado envolvendo Angel teimam a aparecer. Depois de uma discussão os amigos começam a desaparecer um por um e desconfiam de que tudo é uma armação do amigo dissidente, mas conforme caminham pela região percebem que trata-se de algo muito mais complexo. Existem mistérios de sobra durante o filme (e não vou me admirar se o filme for transformado futuramente numa série nos moldes de Lost), mas debaixo de todo o clima de suspense, o roteiro quer ressaltar uma teoria interessante: de que existimos somente quando somos vistos ou somos importante para alguém, talvez por isso sempre que um personagem encontra-se sozinho os mistérios aconteçam. Entre os apuros envolvendo animais essa ideia poético-filosófica se perde várias vezes em nome do suspense, mas o roteiro deixa sempre em aberto as possibilidades para as explicações sobre o que está acontecendo. Nas entrelinhas existe até uma paixão platônica entre Félix e  Hugo que revela-se em diálogos sutis e olhares reveladores, mas que nunca se aprofunda durante a sessão. Trata-se de um filme simples, mas bem sucedido em suas intenções, mas não chega a ser genial. Bem editado e com boas atuações você nem liga para as pontas soltas do roteiro ou cenas que deveriam causar medo e podem causar risos na plateia (a dos cachorros por exemplo). Os "segredos" podem até ser rotulados como furos no roteiro, mas o resultado consegue prender o espectador, ainda que ele possa decepciona-se com o final nebulosamente pessimista. 

Fim (Fin/Espanha-2012) de Jorge Torregrossa com Daniel Grao, Maribel Verdú, Clara Lago, Andres Velencoso, Blanca Romero e Carmen Ruiz. ☻☻☻

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

INDICADOS AO OSCAR 2014


Os indicados ao Oscar 2014: poucas surpresas

Hoje foram divulgados os indicados ao Oscar 2014! Para quem acompanhou os Globos de Ouro não houve grandes surpresas. Gravidade e Trapaça lideram as indicações (10 para cada um) No entanto, alguns filmes surpreenderam por cravar indicações na categoria principal (que traz nove concorrentes mais uma vez), trata-se de grandes surpresas que demonstram que o Oscar não é mais tão convencional e que valoriza a qualidade das obras: Nebraska, Ela e Clube de Compras Dallas são produções arriscadas, mas que mereceram estar no topo da disputa. Outro fator que deixa o Oscar mais interessante são as indicações de quem merecia ter sido indicado antes e ficou de fora, nomes como Matthew McConaughey, Jared Leto, Michael Fassbender, Sally Hawkins, Alfonso Cuarón, Steve McQueen e Karen O. Se é para lamentar a ausência de alguém, senti falta de Daniel Brühl (Rush) e Oscar Issac (Inside Llewyn Davis). Falando nisso, Inside Llewyn Davis ficou de fora das categorias principais (se fossem dez os indicados, provavelmente os irmãos Coen estariam mais felizes agora). Em breve irei esmiuçar os indicados nas seis principais categorias e apontar meus favoritos até o dia em que conhecemos os ganhadores (02 de março)

MELHOR FILME
"Trapaça"
"Capitão Phillips"
"Clube de Compras Dallas"
"Gravidade"
"Ela"
"Nebraska"
"Philomena"
"12 Anos de Escravidão"
"O Lobo de Wall Street"

MELHOR ATOR
 Matthew McConaughey, por "Clube de Compras Dallas"
Bruce Dern, por "Nebraska"
Chiwetel Ejiofor, por "12 Anos de Escravidão"
Leonardo DiCaprio, por "O Lobo de Wall Street"
Christian Bale, por "Trapaça"

MELHOR ATRIZ
Cate Blanchett, por "Blue Jasmine"
Meryl Streep, por "Álbum de Família"
Judi Dench, por "Philomena"
Sandra Bullock, por "Gravidade"
Amy Adams, por "Trapaça"

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Barkhad Abdi, por "Capitão Phillips"
Bradley Cooper, por "Trapaça"
Jared Leto, por "Clube de Compras Dallas"
Michael Fassbender, por "12 Anos de Escravidão"
Jonah Hill, por "O Lobo de Wall Street"

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Lupita Nyong'o, por "12 Anos de Escravidão"
Jennifer Lawrence, por "Trapaça"
June Squibb, por "Nebraska"
Julia Roberts, por "Álbum de Família"
Sally Hawkins, por "Blue Jasmine"

MELHOR DIRETOR
David O. Russell, por "Trapaça"
Alfonso Cuarón, por "Gravidade"
Alexander Payne, por "Nebraska"
Steve McQueen, por "12 Anos de Escravidão"
Martin Scorsese, por "O Lobo de Wall Street"

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
"Trapaça", escrito por Eric Warren Singer e David O. Russell
"Blue Jasmine", escrito por Woody Allen
"Clube de Compras Dallas", escrito por Craig Borten e Melisa Wallack
"Ela", escrito por Spike Jonze
"Nebraska", escrito por Bob Nelson

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
"12 Anos de Escravidão"
"O Lobo de Wall Street"
"Antes da Meia-Noite"
"Capitão Phillips"
"Philomena"

MELHOR ANIMAÇÃO
"Os Croods"
"Meu Malvado Favorito 2"
"Ernest et Célestine"
"Frozen: Uma Aventura Congelante"
"Vidas ao Vento"

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
"Alabama Monroe" (Bélgica)
"A Grande Beleza" (Itália)
"A Caça" (Dinamarca)
"The Missing Picture" (Camboja)
"Omar" (Palestina)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
"O Ato de Matar"
"The Square"
"Cutie and the Boxer"
"Guerras Sujas"
"A Um Passo do Estrelato"

DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
"CaveDigger"
"Facing Fear"
"Karama Has No Walls"
"The Lady in Number 6: Music Saved My Life"
"Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall"

TRILHA SONORA
John Williams, por "A Menina que Roubava Livros"
Steven Price, por "Gravidade"
William Butler e Owen Pallett, por "Ela"
Alexandre Desplat, por "Philomena"
Thomas Newman, por "Walt nos Bastidores de Mary Poppins"

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Alone Yet Not Alone" de "Alone Yet Not Alone" 
 Música: Bruce Broughton; letra: Dennis Spiegel
"Happy" de "Meu Malvado Favorito 2"
Música e letra de Pharrell Williams
"Let it Go", de "Frozen"
Música e letra de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez
"The Moon Song", de "Ela" 
Música de Karen O; letra de Karen O e Spike Jonze
"Ordinary Love", de "Mandela: Long Walk to Freedom" 
 Música de Paul Hewson, Dave Evans, Adam Clayton e Larry Mullen; letra de Paul Hewson

FIGURINO
"Trapaça"
"O Grande Mestre"
"O Grande Gatsby"
"The Invisible Woman"
"12 Anos de Escravidão"

CABELO E MAQUIAGEM
"Clube de Compras Dallas"
"Jackass Apresenta: Vovô Sem Vergonha"
"O Grande Herói"

MELHOR CURTA
"Aquel No Era Yo" 
"Avant Que De Tout Perdre" 
"Helium"
"Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa?"
"The Voorman Problem"

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
 "Feral"
"É Hora de Viajar"
"Mr Hublot"
"Possessions"
"Room on the Broom"

MELHOR EDIÇÃO
 "Trapaça"
"Capitão Phillips"
"Clube de Compras Dallas"
"Gravidade"
"12 Anos de Escravidão"

EFEITOS VISUAIS
 "Gravidade"
"O Hobbit: A Desolação de Smaug"
"O Homem de Ferro 3"
"O Grande Herói"
"Além da Escuridão: Star Trek"

FOTOGRAFIA
"O Grande Mestre"
"Gravidade"
"Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum "
"Nebraska"
"Os Suspeitos"

DESENHO DE PRODUÇÃO
"Trapaça"
"Gravidade"
"O Grande Gatsby"
"Ela"
"12 Anos de Escravidão"

EDIÇÃO DE SOM
"Até o Fim"
"Capitão Phillips"
"Gravidade"
"O Hobbit: A Desolação de Smaug"
"O Grande Herói"

MIXAGEM de SOM
"Capitão Phillips"
"Gravidade"
"O Hobbit: A Desolação de Smaug"
"Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum"
"O Grande Herói"

DVD: TRILOGIA PUSHER

Mads e Kim: amigos até que a polícia os separe. 

Nicholas Windign Refn tornou-se mundialmente conhecido quando ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes/2009 pelo seu trabalho em Drive. O filme protagonizado por Ryan Gosling tornou-se um dos filmes mais cult dos últimos anos, sendo badalado em vários países e indicados a vários prêmios. Mas quem curtiu a violência física e psicológica de Drive pode saborear a trilogia que o tornou conhecido especialmente na Europa, a série de filmes Pusher. Enquanto seu novo filme - o controverso Só Deus Perdoa (2013) - não chega por aqui, a trilogia serve como passatempo. Pusher é o típico filme de macho europeu, com palavrões, homens mal encarados, mulheres que não tem medo de cara feia, drogas, bebida, prostitutas e explosões de violência que podem assustar os estômagos mais sensíveis. No entanto, o que vale é a angústia que transborda da tela quando seus personagens se veem numa espiral de situações que podem levá-los ao limite. Esse laço, tão abstrato quanto estilístico é o que une os três filmes da trilogia, mais do que o recurso de aprofundar personagens coadjuvantes do primeiro longa nos dois seguintes. Vendo o primeiro filme de 1996, tenho a impressão que o diretor procurava ainda uma assinatura. Os trinta primeiros minutos onde conhecemos o cotidiano dos amigos Frank (Kim Bodni) e Tonny (Mads Mikkelsen) são quase insuportáveis, os diálogos soam improvisados, as piadinhas não funcionam muito bem e tudo o que entendemos é que os dois tem envolvimento com o tráfico e a cobrança de viciados fiadores. As coisas seguem assim até Frank cair numa investigação policial e precisar se livrar da droga que deveria vender para o dono do tráfico da região, Milo (Zlatko Buric). No entanto, mesmo se livrando dela terá que pagar o que deve e começa a peregrinação atrás de quem deve dinheiro para ele de forma cada vez mais enérgica. A tensão compromete a amizade com Tonny e sua atração nunca assumida pela garota de programa Vic (Laura Drasbaec). Até o final da sessão, Frank terá que decidir os rumos de sua vida que está em risco. Contar mais do que isso estragaria a concepção cada vez mais agressiva que o filme oferece sobre o submundo das drogas. A câmera trêmula e a fotograifa escura aumenta menos a tensão do que a atmosfera impressa pelo diretor numa violência que cresce gradualmente, calcada especialmente nas emoções do personagme principal - e isso se revela como a grande força dos três filmes da trilogia. Apesar do sucesso, o segundo filme foi lançado somente em 2004 e retoma o personagem Tonny que é deixado para trás no meio do primeiro filme.

Tonny: relação Freudiana com o pai. 

Pusher II é o quarto filme de Refn (entre os dois ele dirigiu Bleeder/1999 - também protagonizado por Kim, Mads e Zlatko - e Fear X / 2003 com parte do elenco americano) e é notável seu desenvolvimento como diretor ao retomar esse universo violento. Ao invés de investir em cenas que parecem soltas, Refn aprofunda nas relações de Tonny com o pessoas do seu passado. Seja com o pai envolvido com desmonte de carros, amigos ou uma ex-namorada que afirma ter um filho dele. Como era de se esperar, a trama sobre Tonny começa utilizando as referências do personagem no filme anterior, ou seja, sua sexualidade aguçada (que pode chocar algumas pessoas pela naturalidade como a cena com as prostitutas é mostrada) e a autoconfiança que é descontruída aos poucos, conforme o diretor se afasta no bocado de tristeza que emana do personagem. Apesar de ter outra trama sobre drogas perdidas que devem ser pagas à Milo, Pusher II é especialmente sobre a relação de Tonny com o pai e toda a sensação de que Tonny é um inútil para quem está por perto. Tudo o que o protagonista faz não funciona como ele esperava e acaba gerando descontentamentos contínuos até a magnífica cena em que seu pai o humilha pela última vez. Mads está excelente em cena, especialmente nas mais dolorosas para Tonny. Vale lembrar que Pusher foi a estreia em longa metragem de Mads, desde sua estreia ele atuou em outros doze longas até reencontrar Tonny. Para ele, Refn cria um filme melhor que o anterior, num tom dramaticamente invejável para o gênero. Mesmo com a violência sempre presente de forma mais sútil (e por isso mesmo, mais forte em suas explosões), Pusher II é o meu favorito da série - mas não é para os fracos. Há cenas fortes e que refletem bem a referência de Refn nos longas (o escritor Hubert Selby Jr., autor das obras que deram origem aos americanos Noites Violentas no Brooklyn/1989 e Réquiem para um Sonho/2000).  Com a repercussão da retomada da franquia, um novo filme foi lançado no ano seguinte. Em Pusher 3 a câmera se fixa na vida particular do traficante Milo (mais uma vez vivido por Zlatko Buric) que agora frequenta os Narcóticos Anônimos enquanto tenta organiza a festa de 25 anos de sua filha. Talvez para mostrar que consegue elaborar outras atmosferas, Refn mostra lentamente como um dia tranquilo ruma para o abismo. 

Zlatko: a dura vida de traficante decadente. 

Existe um tom mais cômico nesse filme, seja pela comida ruim que atrapalha os planos do personagem, seja por receber um carregamento errado num dia em que tudo deveria dar certo ou por perceber como o sujeito mais ameaçador de toda a trilogia fica completamente inerte perante as vontades da filha (que, por acaso terá de se meter nos negócios do pai). Conforme o filme avança, Milo mostra-se um personagem mais complexo do que imaginávamos, uma espécie de Poderoso Chefão decadente perante os concorrentes mais jovens e destemidos que deve lidar. Refn mostra que o mundo não pertence mais ao personagem que ficava no encalço de Frank no primeiro longa. Ironicamente, dessa vez é ele que precisa se livrar do mesmo problema que o levava a atormentar os protagonistas anteriores. A violência explícita quase não aparece nessa terceira parte, mas quando aparece é mais devastadora que nos outros da trilogia.  Anda que exista sempre uma forte tensão na narrativa, existe uma explosão somente quando Milo tem que se confrontar com os interesses de outro traficante local. No entanto, quando Milo encontra personagens do filmes anteriores, lembramos que ele não é tão dócil como aparenta aqui. Pusher 3 soa mais irônico e maduro que os filmes anteriores, mas não me convence como longa que encerra os trabalhos de Refn nesse universo. A presença de personagens dos filmes anteriores (como Radovan vivido pelo grandalhão Slavko Labovic) deixa claro que a ideia de aprofundar a história de coadjuvantes em suas múltiplas dimensões pode ser uma ideia útil para futuras obras do diretor. Curiosamente, Milo voltou a aparecer em 2012 num longa chamado Pusher (2012) filmado na Inglaterra e dirigido pelo espanhol Luis Prieto e que tem a maior cara de remake do original de 1996. No entanto, o filme parece não ter agradado os apreciadores desse universo marginal criado por Nicholas Winding Refn. 

Pusher I (Dinamarca/1996) de Nicholas Winding Refn com Kim Bodni, Mads Mikkelsen, Zlatko Buric, Laura Drasbaec e Slavko Labovic. ☻☻☻

Pusher II (Dinamarca/2004) de Nicholas Winding Refn com Mads Mikkelsen, Zlatko Buric, Leif Sylvester, Kurt Nielsen e Karster Schroder. ☻☻☻☻

Pusehr 3 (Dinamarca/2005) de Nicholas Winding Refn com Zlatko Buric, Marinela Dekic e Slavko Labovic. ☻☻☻☻

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

GANHADORES GLOBO DE OURO 2014

O povo do sucesso Trapaça: cheiro de Oscar. 

Uma série de problemas cibernéticos impediram que eu escrevesse minhas apostas para o Globo de Ouro desse ano. No entanto, prometo ser honesto e marcar pontos ( = acertos) somente nos que eu realmente achava que seriam premiados. Em geral, curti bastante os ganhadores das categorias cinematográficas (na TV que houve alguns tropeços quase imperdoáveis). Abaixo dos ganhadores meus comentários para a temporada de ouro que começa a esquentar. 

CINEMA

FILME/DRAMA: 12 Anos de Escravidão
O filme era o mais indicado da noite (7 indicações) e levou somente este aqui. A favor está algumas das melhores resenhas do ano, mas o saldo no Globo pode refletir que ele não tem força para ser coroado no Oscar. 2013 foi um ano difícil e isso pode pesar contra o distanciamento que alguns criticam no filme. 

FILME/ COMÉDIA OU MUSICAL: Trapaça
O filme queridinho da temporada de ouro tem a direção de um sujeito badalado (David O. Russell), um elenco de estrelas cobiçadas e talentosas e tem tudo para ganhar força até o auge da temporada de ouro.

ATOR/DRAMA: Matthew McConaghey (Clube de Compras Dallas)
As pessoas deveriam aprender com Matthew, depois de ganhar dinheiro e fama com a cara (e o corpo) de galã, o rapaz resolveu se dedicar em produções pequenas e sérias desde 2011 e o resultado foram críticas positivas que restabeleceram seu status em Hollywood. Dizem que tem relação com a esposa brasileira (e o discurso dele reforça isso)! A jornada continua em 2014 com aguardado novo longa de Christopher Nolan (Interstellar).

ATOR/COMÉDIA OU MUSICAL: Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street)
Enquanto o Oscar indicou o ator três vezes, o Globo de Ouro o indicou NOVE VEZES!!! Ou seja, a crítica estrangeira adora o moço. Depois do prêmio por Aviador (2004), Leo levou dessa vez por mais uma parceria com Martin Scorsese na adaptação da polêmica biografia de Jordan Belfort. Apesar das drogas, sexo e palavrões inesgotáveis, o filme é um sucesso devido ao tom de deboche com que o mestre Scorsese joga o american way of life no triturador mais insano da temporada. O problema é saber se o Oscar verá isso com bons olhos e premiará o rapaz? Eu mesmo achava que eles iriam amarelar e prefer Joaquin Phoenix (Ela). 

ATRIZ/DRAMA: Cate Blanchett (Blue Jasmine)
Apesar de estar envolvida em 10 produções nos próximos anos, Cate andou sumida dos holofotes devido à sua dedicação ao teatro. Depois de anos fazendo participações especiais, aceitou o convite de Woody Allen e arrasa em Blue Jamine. O prêmio a coloca mais perto do Oscar, mas como ela já tem um na estante (e um segundo não teria grandes efeitos em seu prestígio ou talento) ela pode perder para...

ATRIZ/COMÉDIA OU MUSICAL: Amy Adams (Trapaça)
Indicada outras quatro vezes ao Globo de Ouro e quatro vezes ao Oscar (sempre como coadjuvante), Amy parece mais próxima de cravar um Oscar em sua estreia no páreo de atriz principal. Na sua segunda parceria com David O. Russell ela aparece mais sexy que nunca, bem diferente de seus papéis anteriores - o que só comprova sua versatilidade (acoplada ao sucesso de bilheteria de Trapaça e como uma ruiva Lois Lane em Homem de Aço).

ATOR COADJUVANTE: Jared Leto (Clube de Compras Dallas)
Desde que vi Jared magérrimo e travestido eu senti cheiro de prêmios (acho que o único que poderia derrotá-lo era Bradley Cooper, mas ele já foi premiado ano passado). Desde o subestimado Sr. Ninguém/2009 (que eu adoro e revi dia desses) o rapaz de 41 anos não atuava e se dedicada a berrar com sua banda de rock. Leto é um ator que só fica bem em grandes desafios  - Réquiem Para Um Sonho (2000), Capítulo 27 (2007) e Sr. Ninguém (2009) - e o papel da transexual Rayon, viciada em drogas e diagnosticada com AIDS, lhe caiu como uma luva. 

ATRIZ COADJUVANTE: Jennifer Lawrence (Trapaça)
Alguém tinha dúvida que ela cravaria esse prêmio num papel mais cômico que de costume? Bastava ver o trailer para se apaixonar por ela em cena! No papel de uma mulher mais velha e trapaceira, a premiação de Jennifer parecia uma obviedade entre as indicadas (afinal é a que está no auge - aos 23 anos de idade!), chega a ser irônico que eu tenha ouvido alguém falar que "ela é a nova namoradinha da América e muito mais esperta do que Julia Roberts", a namorada anterior. Haja dor de cotovelo. 

DIRETOR: Alfonso Cuarón (Gravidade)
Precisa falar alguma coisa? Quem viu Gravidade no cinema e em 3D sabe o motivo de Cuarón levar o prêmio para casa. Estava em suas mãos um dos trabalhos de direção mais desafiadores dos últimos anos. 

ROTEIRO: Spike Jonze (Ela)
Achei que 12 anos de Escravidão levaria, mas fiquei tão feliz com a premiação de Jonze! Depois de suas parcerias com Charlie Kauffman (e de Kauffman ter se perdido no espaço hollywoodiano) ver um texto de Jonze com uma premissa tão interessante é sem dúvida reconfortante. Acredito que Ela possa fazer ainda mais bonito no Oscar (pelo menos entre as indicações), sem falar depois de sua generosidade em agradecer aos seus amigos pelas dicas acatadas com tanta humildade. 

FILME ESTRANGEIRO: A Grande Beleza (Itália)
Achei que os moderninhos iriam garantir o prêmio para Azul é a Cor mais Quente, mas as discussões das atrizes sobre o assédio moral do diretor durante as várias cenas de sexo lésbico deve ter pesado contra ( o que me parece marketing mal direcionado já que o filme começava a carreira internacional quando as pendengas começaram). No entanto, Paolo Sorrentino comprova ser um nome que merece atenção entre os cineastas europeus. Considerado uma releitura contemporânea das obras de Fellini, o filme se fortaleceu para o Oscar (seu único oponente que ainda está no páreo da Academia é o dinamarquês A Caça). 

CANÇÃO ORIGINAL: Ordinary Love - U2 (Mandela)
Coldplay está em baixo mesmo, até quando cria uma canção boa como Atlas (Jogos Vorazes: Em Chamas) não consegue agradar. No fim das contas, se é para ficar com mais do mesmo, preferiram escolher Bono e sua turma mais uma vez. 

TRILHA ORIGINAL: All is Lost
Acho que a opção pela trilha minimalista de um filme feito esse foi a maior surpresa da noite. Robert Redford, quase sem falas, tentando sobreviver a uma tempestade embalado por poucos momentos de trilha parece mais um manifesto do que outra coisa. Eu achava que ganharia  o trabalho de Steven Price em Gravidade

ANIMAÇÃO: Frozen
Nada contra os oponentes, mas eu não duvidava que esse sucesso da Disney ganharia. Além de ser lançado mais recentemente nos cinemas mundiais é o que tem o visual mais bonito e as ideias mais caprichadas. Pixar? Nem sinal... congelaram no tempo?

Total de acertos: 9 acertos de 14 categorias! Um a menos do que no ano passado...

TV

Geralmente nos premiados da televisão eu não costumo apostar porque não acompanho muitas produções televisivas (não por preconceito, mas por questão de tempo disponível). No entanto, gostei muito de ver Elizabeth Moss premiado por Top of The Lake, um dos programas mais bacanas a que assisti em 2013. Houve a obviedade de Breaking Bad (todo mundo parecia só falar do último ano da série) e Behind the Candelabra (afinal quantos filmes para TV concorrem à Palma de Ouro em Cannes?). Tropeço mesmo pareceu a consagração de Brooklyn 9-9, uma série cômica que não enche os olhos de ninguém. Vamos aos premiados:

SÉRIE/DRAMA: Breaking Bad
ATOR/DRAMA: Bryan Cranston
ATRIZ/DRAMA: Robin Wright (House of Cards)
SÉRIE/COMÉDIA: Brooklyn 9-9
ATOR SÉRIE/COMÉDIA: Andy Samberg (Brooklyn 9-9)
ATRIZ SÉRIE/COMÉDIA: Amy Poehler (Parks and Recreation)
MINISSÉRIE OU FILME: Behind the Candelabra
ATOR EM MINISSÉRIE OU FILME: Michael Douglas (Behind the Candelabra)
ATRIZ EM MINISSÉRIE OU FILME: Elizabeth Moss (Top of the Lake)
ATOR COADJUVANTE : John Voight (Ray Donovan)
ATRIZ COADJUVANTE: Jacqueline Bisset (Dancing on the Edge)

PRÊMIO CECIL B. DeMILLE: Woody Allen (que mandou a amiga Diane Keaton buscar)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

DVD: Habemus Papam

Moretti e Picolli: Papa em crise existencial. 

Desde que foi exibido no Festival de Cannes em 2011, o filme Habemus Papam recebeu a minha simpatia de graça. É verdade que muitos jornalistas queriam cercar o filme de polêmicas desnecessárias diante da visão humana que o diretor Nani Moretti apresentava sobre um homem  que recebe a grande responsabilidade de ser Papa. O filme inicia com a eleição para o pontífice, já que o último faleceu. Na contagem dos votos, o escolhido é o cardeal Melville (Michel Picolli, excelente). Desde o início, Melville mostra-se receoso da responsabilidade que recebeu diante dos fiéis da Igreja Católica e pede um tempo para se acostumar com a ideia. Diante do desconforto da situação, o porta-voz do Vaticano (Jerzy Stuhr) contrata o melhor psicanalista do país (o próprio Moretti) para auxiliar vossa santidade em seus dilemas pessoais. O interessante é que Moretti consegue separar a função do homem que irá desempenhá-la, não resta dúvidas de que Melville é um sujeito encantador, carismático e responsável o suficiente para ser escolhido pelos seus pares, mas percebe-se que ele nunca pensou que seria o eleito. Outro ponto interessante do filme é a relação da psicanálise com toda a estrutura que cerca o Papa, afinal as sessões devem acontecer diante de todos os outros cardeais, além de ter alguns temas cujo a abordagem é vetada: família, mãe, sonhos... percebe-se aí, vários aspectos que podem ter influenciado na crise que se instaurou em Melville. Outra fonte de situações interessante é que como o nome ainda não foi revelado, o psicanalista deverá ficar em recolhimento junto aos outros cardeais até o primeiro pronunciamento do Papa, sendo assim, para passar o tempo, ele inventa campeonatos com os religiosos para passar o tempo. Paralelo a isso, o Porta Voz precisa lidar com o grande problema de Melville ter fugido para conhecer um pouco melhor suas ambições. Apesar de explorar o interesse de Melville em ser ator (assim como João Paulo II), Moretti sempre ressaltou que seu filme era uma obra de ficção e que não havia se inspirado em nenhuma trajetória de um Papa em particular. O diretor só peca por abandonar os coadjuvantes pela história, até os mais interessantes. Ainda que o final seja um bocado sombrio para os fiéis, Moretti conseguiu fazer um filme divertido e respeitoso à responsabilidade que a Igreja e seus fiéis depositam sobre seu líder. Curioso mesmo é que, de certa forma, Moretti concebeu a história antes que Bento XVI abdicasse do título em fevereiro do ano passado. 

Habemus Papam (Itália/2011) de Nanni Moretti com Michel Picolli, Nanni Moretti, Jerzy Stuhr, Renato Scarpa, Roberto Nobile. ☻☻☻