quinta-feira, 31 de agosto de 2017

N@ Capa: Cinephile


Nossa capa do mês de agosto contou com as obras do ilustrador e designer gráfico Yehuda Devir que ficou famoso na internet por seus quadrinhos bem humorados sobre o cotidiano de sua vida a dois. Yehuda é graduado em Comunicação Visual pela Academia de Arte de Jerusalém e seu trabalho batizado de Cinephile foi feito para a conclusão de sua graduação - na verdade, dois murais contendo 300 personagens icônicos da história do cinema. Quem se interessar pela obra do artista pode visitar o site dele e ver os detalhes das obras que ilustraram este mês no blog. 

Cinephile 1

Cinephile 2

Yehuda Devir

Os personagens de suas famosas ilustrações da internet...

Ele e a musa inspiradora....


HIGH FI✌E: Agosto

Cinco filmes assistidos no mês de agosto que merecem destaque

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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Pódio: Adrien Brody

Bronze: o artista surrealista
Eu sei, você deve estar pensando "mas o papel dele é tão pequeno!" - e você tem razão, mas eu não resisto como Adrien consegue convencer na pele de Salvador Dali com os poucos minutos que tem em cena. Ele consegue ser ao mesmo tempo simpático, divertido, encantador e genial toda vez que diz ver "rinocerontes". Um papel que tem um grande efeito quando pensamos que o ator pode fazer mais papéis cômicos do que lhe oferecem (Wes Anderson já percebeu isso faz tempo e o inclui em sua patota desde Viagem à Darjeeling/2007). Dali quase perdeu espaço para o punk de O Verão de Sam/1999, mas... como resistir a este bigodinho surrealista?

Prata: o amigo imprevisível
2º A Vila (2004)
Se pensarmos bem, veremos que A Vila é o melhor trabalho de M. Night Shyamalan na condução de seus atores (e acho que o roteiro bem construído também ajuda muito). Adrien estava com o Oscar de ator fresquinho em sua estante quando aceitou o papel de Noah Percy, o melhor amigo dos protagonistas (Bryce Dallas Howard e Joaquin Phoenix). Noah sofre de transtornos mentais no vilarejo que é assombrado por seres misteriosos e que parou no tempo. Adrien constrói um personagem que oscila entre o inofensivo e o assustador, além de ter papel fundamental no desfecho da história. 

Ouro: o pianista sobrevivente
Aos 29 anos, Adrien se tornou o ator mais jovem a levar o Oscar de ator para casa como o pianista Wladyslaw Szpilman que viu toda a destruição provocada pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Baseado numa história real, Szpilman passou por tantos horrores se escondendo pelos escombros de Varsóvia que sua sobrevivência beira o inacreditável. Não bastasse a história impressionante, o diretor Roman Polanski exorciza aqui os fantasmas da história de sua própria família e, de quebra, ainda revelou um jovem ator capaz de trabalhos surpreendentes. A atuação de Adrien é magnífica! 

PL►Y: Visões do Passado

Adrien: entre mortos e vivos.  

Adrien Brody entrou para a história como o mais jovem ator a levar para casa o Oscar de Melhor Ator pela excepcional performance em O Pianista/2002 - e ele nem era o favorito, já que estava na disputa com outros quatro mais conhecidos e oscarizados (Nicolas Cage, Jack Nicholson, Michael Caine e Daniel Day Lewis). Brody realmente merecia o prêmio, mas ainda lembro do comentário do crítico Rubens Ewald Filho quando o ator levantou para pegar a estatueta: "Agora, o que se faz com um ator com essa cara?". A maldade era irritante, mas o tempo revelou que tinha o seu fundo de verdade em Hollywood. Brody tem traços que não se encaixam no perfil do galã tradicional (especialmente se levarmos em consideração o seu famoso nariz), mas tem talento suficiente para garantir espaço em qualquer tipo de filme - pena que ele nunca mais conseguiu chamar igual atenção de público ou crítica. Hoje ele se dedica a filmes de pequeno orçamento que nem sempre funcionam e quase sempre termina fazendo o mesmo personagem surpreso com os acontecimentos que lhe cerca. Isso acontece em Visões do Passado/2015 de Michael Petroni, filme que começa interessante carregando no suspense psicológico, mas que não demora para se enrolar nas reviravoltas sucessivas do roteiro. Aqui ele vive o psicólogo Peter Bower, que tenta se recuperar da morte da filha pequena e começa a ser procurado por uma menina misteriosa. Este é só o ponto de partida para que ele descubra que todos os seus clientes possuem algo em comum: um segredo sombrio que tem relação com seu próprio passado. Se no início o filme era intrigante, aos poucos ele se torna cada vez mais um genérico de O Sexto Sentido/1999 e aponta tantos caminhos para seguir pelo acaba se enrolando cada vez mais nos devaneios que apresenta, até que Peter precisa ajustar contas o que preferiu deixar para trás, ou melhor, esquecer - especialmente no que se refere ao seu pai (Bruce Spence). A narrativa do filme é meio engasgada, parece mais preocupada em dar o mesmo susto na plateia várias vezes, só que esquece do mais importante: desenvolver personagens. O melhor amigo de Peter, a policial que cruza o caminho do protagonista e a esposa de Peter são quase  sombras no roteiro e não acrescentam nada à história. Valorizando mais os mortos do que os vivos, no fim das contas você fica com a sensação de que já viu este filme uma dezena de vezes, fica com pena de Adrien tentando dar credibilidade a uma história tão sem graça, sorte que a sensação não dura muito tempo já que o filme fica na sua memória por pouco tempo. Melhor sorte da próxima vez, Adrien. 

Visões do Passado (Backtrack / Austrália - Reino Unido - Emirados Árabes / 2015) de Michael Petroni com Adrien Brody, Sam Neil, Robin McLeavy e Bruce Spence. 

domingo, 27 de agosto de 2017

Na Tela: Onde Está Segunda?

Noomi vezes sete: Orphan Black II? 

Sete personagens vividas pela mesma atriz são perseguidas e, por vezes assassinadas, para evitar que um segredo seja descoberto. Não, eu não estou falando da recém terminada série canadense Orphan Black e as dezenas de personagens interpretadas pela excepcional Tatiana Maslany, eu estou me referindo à Onde Está Segunda? ficção científica produzida pela Netflix e que rendeu comparações inevitáveis à mencionada série. Embora existam algumas diferenças entre as histórias, as semelhanças podem tirar o gosto de novidade de um filme que busca ser criativo. O filme de Tommy Wirkola (do cult Zumbis na Neve/2009) se passa num futuro próximo onde o crescente número de habitantes em nosso planeta gerou a necessidade de produzir mais alimentos com o uso de diferentes processos. No entanto, esses processos fizeram crescer exponencialmente o número de gêmeos, trigêmeos, quadrigêmeos.... com este efeito colateral a medida encontrada pelo governo, através do projeto da senadora Nicolette Gayman (Glenn Close), foi estabelecer  que cada família pode viver somente com um filho. Enquanto um bebê cresce junto à família, os outros são mantidos em criogenia até que o futuro ofereça melhores condições de vida. Obviamente que a solução é bastante obscura e, por isso mesmo, o avô Terrence Settman (Willem Dafoe) resolve manter escondidas as sete netas que vieram ao mundo enquanto a filha falecia no parto. Batizadas com os nomes dos dias da semana, as sete crescem podendo sair de casa somente no dia correspondente ao nome. Após o dia fora do apartamento, elas trocam informações de forma que construam uma única identidade para o mundo exterior, a de Karen Settman. Embora precisem de um plano engenhoso para fazer com que tudo funcione, elas ficam preocupadas quando Segunda está prestes a ser promovida no emprego e não retorna para a casa. As seis irmãs começam a buscar o paradeiro da irmã desaparecida e descobrem que estão em risco ao serem perseguidas pelo grupo responsável por controlar o crescimento populacional. No entanto outras perguntas se juntam a do título: Quem denunciou as sete irmãs? Por que é tão importante exterminá-las? Se por vezes Wircola em troca de cenas de ação perde o fio da meada de suas melhores ideias (a identidade de cada personagem, os sacrifícios que precisaram fazer para ficarem isoladas a maior parte de suas vidas, a perda da individualidade na vida em sociedade...), grande parte do mérito de Onde Está Segunda? está na escolha de sua atriz principal, a sueca Noomi Rapace. Rapace ficou famosa na versão original da trilogia Millenium (2009) e ensaiou virar estrela de Hollywood com Prometheus/2012, mas faz tempo que ela não conseguia um papel de destaque. Seu estilo vigoroso lhe rende cada vez mais convites para filmes de ação (como o inédito Unlocked de Michael Apted), mas aqui ela dá conta se criar sete personagens com características próprias. Trata-se de um desafio que ela cumpre sem problemas, mesmo quando alguns segredos são revelados e ela tem que dar conta de alguns conflitos bem complicados. Embora não deixe de ser curioso que a Netflix tenha lançado o filme no mesmo em mês que Orphan Black (que também tem suas cinco temporadas em cartaz no site) se despediu do público, Onde Está Segunda? tem elementos suficientes para satisfazer os fãs de filmes de ação ambientados num futuro distópico. 

Onde Está Segunda? (What Happened to Monday?/ Reino Unido - França - Bélgica - EUA/2017) de Tommy Wirkola com Noomi Rapace, Willem Dafoe, Glenn Close, Marwan Kenzari, Christian Rubeck, Clara Read e Pal Sverre Hagen. 

Na Tela: Death Note

Wolff e Ryuk: do japão para a Netflix. 

A Netflix se meteu em uma grande polêmica quando resolveu fazer a versão americana do cultuado Death Note. Afinal, existe um verdadeiro culto em torno da obra de Tsugumi Oba e Takeshi Obata, que deu origem a um mangá com 12 volumes lançados entre 2003 e 2006. A obra se tornou tão popular que rendeu uma anime de 37 episódios para a TV japonesa - que alavancou ainda mais o sucesso da história. Se você levar em consideração que os mangás venderam mais de 30 milhões de exemplares ao redor do mundo inspirando games e filmes no Japão, você entenderá porque os estúdios estavam de olho na marca. No entanto, adaptar a obra para Hollywood levantou tanta discussão que a Warner acabou desistindo da empreitada - deixando espaço para que a empresa de streaming comprasse os direitos e começasse a produção. Tão logo fosse escalado Nat Wolff para protagonista os protestos sobre whitewashing começaram. Acho um verdadeiro vespeiro embarcar nessas causas do século XXI, mas vamos ao filme. Como sou um espectador novato no que se refere a Death Note vou analisar o filme com seus méritos e defeitos sem fazer comparações com as outras mídias em que já apareceu. A trama é sobre Light (Wolff), um adolescente fracote que recebe um caderno incomum de presente. Existe uma série de regras para usar o caderno, mas a que mais chama atenção é que ao escrever o nome de alguém ali, a pessoa morre - e você pode até escolher a forma como a morte ocorrerá. O livro é guardado por Ryuk (voz e expressões de Willem Dafoe) uma espécie de demônio, responsável por zelar pelo caderno, escolher seus donos e cometer os assassinatos ali estipulados. Embora Light tente fazer justiça através do livro, sob o nome de Kira, ele mata todo tipo de pessoa que se enquadre no papel de vilão nos noticiários. No entanto, acaba chamando atenção de um detetive misterioso (Lakeith Stanfield), que tenta juntar as peças sobre o justiceiro misterioso que ninguém faz ideia de quem seja. Ajudam a complicar a busca o fato do pai de Light ser um policial (Shea Whigham) e a namorada de Light (Margaret Qualley) adorar a ideia de possuir aquele poder nas mãos. Esse ponto de partida de inúmeras possibilidades se encaixaria perfeitamente para criar um suspense de horror envolvente se... o diretor Adam Wingard (do recente O Hóspede/2014) não fosse tão irregular em suas travessuras. Ele adora inserir um tom cômico que jorra feito os miolos das vítimas de Kira, se a ideia era aliviar a tensão ele exagera na dose, fazendo com que tudo seja tão exagerado que dificilmente alguém levará um susto ao ver o filme - e isso fica bem claro na primeira aparição de Ryuk, onde Natt Wolff está afetadamente descontrolado.  Apesar de ser um ator em ascensão, Wolff ainda não me disse a que veio, ora me parece sempre com a mesma cara ora ensaiado demais. O que consegue segurar as pontas é o talento de Willem Dafoe que emana a cada risada ou frase de seu demônio incorporado com muita diversão. Como filme da Netflix Death Note é eficiente como passatempo, mas não justifica uma série de filmes como era aguardado. Irregular, o filme deixa um gostinho de decepção até para quem não conhecia o mangá. 

Death Note (EUA-2017) de Adam Wingard com Nat Wolff, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Lakeith Stanfield e Shea Whigham. 

sábado, 26 de agosto de 2017

Combo: Quero Ser Michael Haneke

Há quem ame e há que odeie a obra do cineasta austríaco Michael Haneke (foto), o fato é que torna-se impossível ficar indiferente ao seu estilo único de contar histórias. Seu estilo sem concessões, com longos silêncios, atuações contidas, câmera imóvel e tanto faz se o filme é em cores ou preto e branco, ele gosta mesmo é de explorar sentimentos complexos como poucos são capazes de fazer perante a plateia. Ganhador de dez prêmios no Festival de Cannes (sendo duas Palmas de Ouro: uma por A Fita Branca/2009, outra por Amor/2012 - que também lhe rendeu o Oscar de filme estrangeiro), Haneke tem não apenas fãs como também discípulos no meio cinematográfico, diretores que compartilham com ele o gosto por testar os nervos da plateia com seu pessimismo perante a humanidade. Este combo destaca cinco filmes que sempre deixam aquela impressão de que seus diretores queriam ser Michael Haneke atrás das câmeras:  

05 Depois de Lucia (2012)
Premiado no Festival de Cannes na mostra Un Certain Regard não foram poucos os que perceberam as semelhanças entre a narrativa do mexicano Michel Franco com a obra do cineasta austríaco. Ao contar a história da jovem Alejandra que se muda com o pai para outra cidade e começa a sofrer bullying na escola, Franco utiliza os silêncios, a câmera fixa e deixa o espectador completamente desconfortável com a espiral de acontecimentos que se segue na tela. Trata-se de uma obra que exige bastante da plateia diante de uma violência que nem Alejandra ou seus agressores sabe de onde emerge. Mais Haneke, impossível...

04 Elefante (2003)
Até diretores experientes podem flertar com o cinema de Haneke de vez em quando (especialmente quando querem ganhar prêmios no Festival de Cannes). A versão fictícia de Gus van Sant para o massacre na escola em Columbine nos Estados Unidos é puro estilo do austríaco. Das longas tomadas nos intermináveis corredores, passando pelas reveladoras sutilezas dos personagens, silêncios e diálogos que dizem menos do que deveriam, Elefante se revela uma espécie de filme teen verídico com a marca hanekiana. O resultado levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e permanece inédito nos cinemas americanos até hoje. 

Alexandros Avranas é um diretor grego que em seu segundo filme saiu com quatro prêmios no Festival de Veneza (incluindo melhor diretor). O motivo para tanto é seu olhar um tanto frio e indiferente sobre uma família grega que para driblar a crise financeira realiza algumas negociações bastante estranhas. O drama apresenta seus personagens compondo uma família comum, só que ela esconde um desconfortável segredo que se descobre aos poucos após o suicídio da filha adolescente. O filme gerou polêmica e fez alguns críticos questionarem que tipo de prazer um filme tão cruel poderia gerar na plateia?

O grego Yargos Lanthimos ganhou o prêmio em Cannes na mostra Un Certain Regard com este filme e foi parar entre os indicados ao prêmio de Filme Estrangeiro no Oscar. O longa é sobre um casal que cria seus filhos sem contato algum com a vida em sociedade e o resultado foge ao controle lentamente. Estranhíssimo o diferencial de Yargos é o seu humor negro que torna tudo ainda mais bizarro (e que ele aprofundou em O Lagosta/2015 que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Roteiro Original). Com fãs cada vez mais numerosos, Lanthimos tem seu terceiro filme entre os mais aguardados do ano. The Killing of a Sacred Deer (prêmio de roteiro em... Cannes) traz Nicole Kidman e Colin Farrell num drama psicológico pesadão. 

Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, Michael é um drama que se constrói como um suspense na relação entre Michael (Michael Fuith) e um menino de dez anos (David Rauchenberger). Se no início você imagina que se trata de pai e filho, as coisas ficam mais estranhas quando descobrimos que o menino vive trancado no porão e... você começa a imaginar do que se trata. A abordagem discreta de um tema tão delicado beira o inacreditável graças ao diretor e roteirista Markus Schleinzer. Markus é o que consegue reproduzir de forma mais precisa o estilo cruelmente sutil de Haneke, o motivo é simples: ele foi assistente do diretor no celebrado A Professora de Piano/2001. 

CATÁLOGO: Violência Gratuita

Funny Games: suspense e horror em 1997. 

Funny Games é um filme que sempre tive um certo medo de assistir. Nem sei bem o motivo, já que outros que me  despertavam o mesmo sentimento (Réquiem Para um Sonho/2000 e Irreversível/2002 , por exemplo) foram vistos assim que estiveram ao meu alcance. Talvez o fato do filme ser lançado quando eu era adolescente - e ouvi todo tipo de coisa sobre ele - tenha colaborado para que eu nunca considerasse que era o dia ideal para assisti-lo. O mesmo aconteceu quando o diretor Michael Haneke resolveu refilmá-lo em 2007 (com uma de minhas atrizes favoritas, Naomi Watts, no elenco) e eu ainda resisti. A desculpa da adolescência não existia mais, eu já estava formado e lecionando numa turma do Ensino Médio quando o vi numa prateleira da locadora (lembra dela?). Funny Games sempre era deixado para escanteio. Eis que em uma noite chuvosa deste inverno me deparei com ele e resolvi acabar com a pendenga que existia entre nós dois. O interessante é que nosso encontro definitivo aconteceu vinte anos depois do filme original e dez anos após o remake. Talvez eu precisasse deste tempo para ver outros filmes do cineasta e apreciar seu jeito metódico de contar histórias sobre o lado sombrio do ser humano. Se meu favorito é A Professora de Piano/2001 e Amor/2012 ainda está empatado com A Fita Branca/2009 e Caché/2005 se tornou aquele tipo de filme que até hoje filosofo junto aos amigos, posso dizer que Haneke é um diretor metódico ao extremo, gerando uma rigidez cênica que se torna numa assinatura autoral um tanto incômoda, mas necessária ao provocar o expectador a pensar sobre coisas que costuma evitar. Essa minha relação amadurecida com sua obra me ajudou a enfrentar Violência Gratuita (o nome pouco atrativo do irônico Funny Games/Jogos Divertidos no Brasil) debaixo das cobertas em uma noite fria. Em 1997 a famosa história do casal que resolve passar alguns dias de sossego com o filho no litoral gera arrepios com  a visita de dois rapazes que irão fazer todo tipo de joguinhos sádicos com a família. Entre torturas físicas e psicológicas, a plateia tenta entender de onde veio tanta crueldade - e o horror desta índole desconhecida tempera o filme e sua câmera que quase sempre desvia quando algo mais macabro acontece. Lembro de ter visto várias resenhas sobre o filme que especulavam sobre um conflito de classes ou geracional na história, mas o fato é que sabemos tanto sobre a família quanto os dois rapazes. Todos os personagens surgem quase aleatoriamente na história sem muito detalhamento, portanto, pode ser considerado que se trata de uma obra sobre a maldade humana, a satisfação de ter o poder sobre o outro ao ponto de decidir se ele vive ou não. Obviamente que os dois rapazes demonstram claros sinais de psicopatia, mas Haneke não está interessado em estudar seus comportamentos ou pensamentos, a ideia é manter a câmera ligada (às vezes fixa em cenas arrastadas) e testar os nervos do espectador que se identifica com aquela família que deu o azar de estar na casa errada na hora errada . O aspecto mais interessante do filme é que faz questão de lembrar que nada daquilo é real, seja quando Paul (Arno Frisch, o jovem ator fetiche de Haneke na época, com quem também fizera O Vídeo de Benny/1992) olha para a câmera e comenta as cenas com espectador ou quando subitamente, quando algo muda a dinâmica junto às vítimas e o personagem utiliza um controle remoto para retroceder e mudar o que lhe desagrada. Também não é gratuito o fato do filme ser austríaco e batizado em inglês, Haneke já percebia que a violência era cada vez mais tratada como entretenimento e a plateia é um tanto cúmplice neste cenário escabroso - já que assiste e aceita o horror como espetáculo - esta ironia também aparece, só que infinitamente mais refinada, em Caché ao inserir o espectador como personagem da narrativa (sendo talvez o maior segredo da história). Diante disso, fica ainda mais coerente que Funny Games tenha sido refilmado dez anos depois em língua inglesa e com atores hollywoodianos (o que ajuda a espantar a sensação inevitável de Déjà vu, já que interpretam o mesmo roteiro com interpretações diferentes dos personagens). Chega a ser arrepiante como o diretor refilma o original com o máximo de fidelidade possível uma década depois e suscita as mesmas discussões sobre o que mostra na tela. Violência Gratuita tem méritos narrativos inegáveis, mas, visto em, perspectiva, demonstra como o cinema de Haneke evoluiu consideravelmente ao buscar caminhos mais sutis para abordar suas inquietações sobre a pouca fé na humanidade.

Funny Games: horror e suspense em 2007

Violência Gratuita (Funny Games/Áustria/1997) de Michael Haneke com Arno Frisch, Susanne Lothar, Ulrich Mühe e Frank Giering. ☻☻

Violência Gratuita (Funny Games/EUA-França-Reino Unido-Áustria-Alemanha-Itália/2007) de Michael Haneke com Naomi Watts, Michael Pitt, Tim Roth e Brady Corbet. ☻☻

FILMED+: O Experimento de Milgram

Peter Sarsgaard: sensacional olhar sobre Stanley Milgram e sua obra. 

Lançado em 2015, desprezado por nossos distribuidores e atualmente disponível no Netflix, O Experimento de Milgram resgata o polêmico trabalho do psicólogo social norte-americano Stanley Milgram. O experimento foi realizado no ano de 1961 na Universidade de Yale e consistia em dois voluntários em papéis específicos em lados diferentes de uma sala. De um lado o chamado "professor" citava palavras para o outro, chamado aluno. Se o aluno errasse a resposta da atividade, ele tomava choques elétricos que aumentavam gradativamente conforme os erros aconteciam. A experiência era supervisionada por um instrutor e, mesmo com o "aluno" reclamando dos choques, o "professor" permanecia obedecendo as regras. O filme revela aos poucos os meandros desta experiência ao espectador, se por um lado poderia se pensar que a ideia era o aumento da concentração para evitar os choques elétricos, por outro, os choques elétricos eram inexistentes e as reclamações do aluno eram apenas gravações. A pesquisa de Milgram levantou debates controversos sobre a ética na pesquisa científica, já que era considerado que o voluntário no papel do"professor" deveria saber que o que estava sendo testado não era a memória do "aluno" (que na verdade era outro cientista interpretando o papel de voluntário), mas a obediência à autoridade, mesmo diante do desconfortável visível na execução da tarefa. Milgram veio de uma família judaica e seus estudos tentavam compreender a origem do sentimento que faz pessoas aderirem à processos destrutivos por obediência, mesmo que signifique passar por cima de padrões de moralidade - o que pode motivar  a torturar e executar pessoas sob o argumento de que apenas executavam ordens. Obviamente que o holocausto e a figura de Adolf Eichman, assim como o conceito de banalidade do mal construída pela filósofa Hannah Harendt motivaram Eichman em sua pesquisa e aparecem no roteiro, o que explicíta o que a obra de Milgram possui de controversa e contundente. O melhor de tudo é que o diretor Michael Almereyda (conhecido por sua versão moderninha de Hamlet/2000 com Ethan Hawke) não se contenta com todo este conteúdo e constrói um filme de narrativa bastante instigante, tornando o próprio Milgram num personagem curioso. Vivido de forma inspirada por Peter Sarsgaard, o personagem conversa com o expectador olhando a câmera, narrando o filme de corpo presente (tendo consciência inclusive do que o futuro lhe reserva), esta opção não apenas o aproxima do expectador mas também injeta um humor inusitado no personagem. Além disso, o roteiro apresenta outras ideias do pesquisador (e sim, você conhece várias...), sua vida familiar com a esposa e os filhos e até a repercussão de seus estudos na vida acadêmica sempre com uma estética interessante (cenários projetados deliciosamente fakes, o elefante andando pelo corredor, o menino de rosto verde e outros detalhes que deixam o espectador com a sensação de que ele mesmo está sendo testado pelo personagem). Com roteiro bem amarrado, bons atores e narrativa inspirada, O Experimento de Milgram lembra como seus estudos ainda falam mais sobre a humanidade do que gostaríamos. 

O Experimento de Milgram (Experimenter/EUA-2015) de Michael Almereyda com Peter Sarsgaard, Winona Ryder, Anthony Edwards, Jim Gaffigan, John Palladino, Harley Ware, Harley Ware, Anton Yelchin, John Leguizamo e Taryn Manning. ☻☻☻☻

domingo, 20 de agosto de 2017

4EVER: Jerry Lewis

16 de março de 1926 ✰ 20 de agosto de 2017

Nascido Joseph Levitch no estado americano de Nova Jersey, Jerry Lewis veio ao mundo numa família de judeus russos. O pai era mestre de cerimônias e ator. A mãe era pianista. Desde os cinco anos Jerry atuava, mas foi na década de 1940 que se tornou famoso ao lado do cantor Dean Martin, com quem formava a dupla Martin & Lewis. A dupla realizava espetáculos teatrais e as participações em programas de rádio e televisão ajudaram na popularidade crescente nos EUA. Quando começaram a fazer filmes colecionaram um sucesso após o outro. No entanto,  a dupla se desfez na década seguinte. Filmes como Bancando a Ama-Seca/1959, O Mansageiro Trapalhão/1960 e  O Professor Aloprado/1963  ajudaram a transformar Jerry num ícone da comédia. Mas Jerry foi reconhecido não apenas como comediante, mas também como ator, diretor, produtor e roteirista. Jerry também era um ótimo ator dramático, como podemos ver em O Rei da Comédia/1982 de Martin Scorsese. Lewis participou de mais de setenta produções, uma delas foi na comédia brasileira Até que a Morte nos Separe 2 (2013) ao lado de seu discípulo Leandro Hassum. O filme foi o penúltimo de sua carreira. O ator faleceu em Las Vegas aos 91 anos de causas naturais.  

sábado, 19 de agosto de 2017

NªTV: Os Defensores

Jessica, Punho, Demolidor e Luke: aguardado encontro. 

Quando a série do Demolidor (2015) estreou na Netflix muita gente ficou surpresa ao investir num tom mais sombrio do que a Marvel oferecia aos fãs de seus heróis no cinema. Era o mundo do entretenimento pós-Vingadores (2011) e a Warner/DC Comics começava a repensar a abordagem de seus filmes, buscando uma unificação na telona enquanto as séries de TV da DC ainda investiam num tom visivelmente adolescente. Demolidor trouxe um clima mais pesado, dark e conquistou adultos e adolescentes com uma abordagem que deixava o filme protagonizado por Ben Affleck comendo poeira. Tão logo a série começou a fazer sucesso surgiram os rumores de que em breve o herói se reuniria a outros três para compor Os Defensores. Se Jessica Jones (2015) também conquistou público e crítica ao apresentar uma ex-heroína que ganhava a vida como uma detetive particular, Luke Cage (2016) começou a dividir opiniões sobre o fôlego dos heróis na internet. Algumas decisões equivocadas comprometeram a série e a situação só piorou quando Punho de Ferro (2017) se tornou o primeiro fracasso da série. Os fãs já estavam tensos quando Os Defensores fora anunciado para este ano, afinal, será que conseguiriam resgatar a enercia das primeiras séries? Pelo que se pode ver na Netflix desde ontem a resposta é sim. Defensores é um grande acerto e promete colocar nos trilhos um universo que antes parecia desgastado.  É verdade que os dois primeiros episódios penam para amarrar as pontas dos personagens, mas, tão logo os primeiros heróis se encontram a coisa começa a empolgar quando a série se torna uma consequência natural do que vimos nos outros programas. Sendo assim, o encontro de Demolidor (Charlie Cox), Jessica (Krysten Ritter), Luke (Mike Colter) e Punho de Ferro (Finn Jones) supera nossas melhores expectativas. Claro que existem os  manjados estranhamentos iniciais, já que a maioria deles estão acostumados a trabalhar por conta própria, na clandestinidade, ficando na mira da justiça e dos bandidos. No entanto, quando a ameaça do Tentáculo fica cada vez mais presente, o quarteto percebe que precisa juntar forças para derrotar o inimigo em comum. Assim, o advogado Matt Murdock está  hesitante em voltar a vestir o traje do Demolidor, assim como Cage e Jessica se reencontram depois de um tempo afastados e Danny Rand se torna alvo Tentáculo por ser o lendário Punho de Ferro. Além  dos heróis, outro destaque da série é o bom elenco de coadjuvantes, todos tem momentos estratégicos na trama e ajudam a costurar a trajetória de cada um dos protagonistas. As cenas de luta são bem coreografadas, os vilões realmente funcionam - contando com o retorno de Elektra (Elodie Yung) discutindo a relação na pancada com Demolidor e até Sigourney Weaver incrementando o time do mal. Outro fator que ajuda muito no ritmo da série é o fato de ter apenas oito episódios, o que cria um arco mais enxuto e aumenta a dinâmica dos episódios (algo que ficou claramente faltando ao longo dos 15 episódios de Luke Cage e intermináveis 13 capítulos de Punho de Ferro). Os Defensores funciona tão bem que consegue encerrar o que vimos no universo Marvel da Netflix até aqui ao mesmo tempo que injeta novo fôlego nos personagens. Animada, a Netflix já anunciou a terceira de Demolidor  e a segunda temporada de Jessica Jones e Luke Cage para o ano que vem, além da repaginada de Punho de Ferro para 2019 e a série solo do justiceiro que deve estrear até o fim deste ano.

Os Defensores (The Defenders/EUA-2017) de Douglas Petrie e Marco Ramirez com Charie Cox, Krysten Ritter, Mike Colter, Finn Jones, Sigourney Weaver, Elden Henson, Elodie Yung, Scott Glenn e Rosario Dawson. ☻☻☻☻

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

CICLO PIPOCA: A Lenda de Tarzan

Alexander: cavalheiro descamisado. 

Estranhei bastante quando soube que estavam preparando mais uma versão de Tarzan para os cinemas  tendo como astro o sueco Alexander Skarsgaard. Nada contra o ator filho do grande ator Stelan Skarsgaard, mas ainda que ele tenha trabalhado em papéis impactantes na TV (True Blood e o recente Big Little Lies), ou mesmo no cinema (Melancolia/2011 e Diário de Uma Adolescente/2015), Alexander sempre me parece um ator muito comportado e controlado, o que não significa que seja ruim,  pelo contrário, é bastante esforçado, mas nunca parece sair da zona de conforto. No entanto, quando vi a concepção do novo filme eu entendi a escolha. Alexander tem um jeito que cai muito bem para encarnar um verdadeiro cavalheiro e ao começar mostrando a vida de Tarzan como um lorde, depois que está plenamente ajustado na vida em sociedade, a minha desconfiança se dissipou. O cineasta David Yates (que ficou famoso fazendo os episódios finais da série Harry Potter) ainda não demonstrou muita personalidade atrás das câmeras, mas parece ser uma escolha segura para que os estúdios invistam em uma produção de orçamento elevado e ganhando a atenção do público sem muita ousadia. Na trama, Tarzan já deixou a vida na selva africana e vive com a bela esposa Jane (Margot Robbie) em Londres. Agora ele é reconhecido pelo nome de batismo, John Clayton. O herói parece feliz em sua nova vida e não faz questão de visitar a terra onde ele cresceu... até que o Rei da Bélgica solicita sua ajuda para resolver alguns problemas diplomáticos no Congo. No início Clayton recusa a tarefa, mas é convencido por um americano, George Washington Williams (Samuel L. Jackson) e a esposa que está com saudade de suas origens. Chegando lá eles vão se deparar com um vilão (Christoph Waltz fazendo o de sempre) que instiga as disputas entre dois grupos de habitantes locais enquanto tenta atingir Tarzan em seu ponto mais fraco. A Lenda de Tarzan está longe de ser um filme surpreendente, mas prende a atenção por ser uma aventura bem realizada, que utiliza flashbacks  para contar a origem do seu protagonista e inova ao mostrar uma Jane bem mais esperta do que poderia ser "uma donzela em perigo". Os efeitos especiais que dão vida aos animais são convincentes e a própria pendenga entre Tarzan e sua família selvagem também me parece bem explorada durante a história. É um filme de aventura tradicional que tenta fazer diferente do que já foi visto dezenas de vezes - afinal, é um dos personagens mais tradicionais das histórias em quadrinhos (foi lançado em 1912). O melhor é que o filme não compromete a essência do personagem e conta com um elenco competente para dar conta do seu recado com frágil verniz anti-colonialista. 

A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan/Reino Unido - Canadá - EUA) de David Yates com Alexander Skarsgaard, Margot Robbie, Samuel L. Jackson e Christoph Waltz. ☻☻☻

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

CICLO PIPOCA: Rei Arthur

Hunnam (ao centro): outro Rei Arthur?

Lembro que cresci assistindo a um desenho na TV sobre o Rei Arthur, era um anime que passava na finada TV Corcovado (eu sei, você agora se deu conta de como sou velho) e aqueles episódios serviram de referência sobre o herói para toda uma geração de meninos. Parece que realmente existiu em líder nomeado Arthur na Grã-Bretanha no final do século V e início do Século VI, mas muito do que sabemos sobre ele foi composto pelo folclore construído em torno de seus feitos. A popularidade do Rei Arthur cresceu muito na Literatura Medieval graças ao escritor francês Chrétien de Troyes, ja que foi ele que tornou ainda mais conhecido o amigo Lancelot, o romance com Lady Guinevere, os fieis Cavaleiros da Távola Redonda, além de Merlin e a bruxa Morgana. O personagem é tão marcante para a literatura europeia que já rendeu além de animações para a TV várias produções cinematográficas. Destas, três habitam minha memória, a melhor é Excalibur (1981) de John Boorman, mas existe também uma (des)animação da Disney (A Espada Era a Lei/1963) e uma versão com Clive Owen, Rei Arthur (2004) de Antoine Fuqua que pretendia contar a história real por trás da lenda. Curiosamente a versão mais recente não tem pretensão de seguir os contos clássicos, a realidade ou até o bom senso. Rei Arthur - A Lenda da Espada com a bilheteria fraca, o filme levantou debates sobre o desgaste do personagem, mas trata-se de um debate que não contempla o maior problema aqui: a qualidade do filme. Dirigido por Guy Ritchie, ele faz para o estúdio o mesmo que já fizera com outro personagem britânico clássico, Sherlock Holmes (2009), aqui ele também reinventa o personagem para o público do século XXI, no entanto, a repaginada deixa a Távola Redonda um tanto quadrada. Se no início o filme parece promissor ao destacar a tirania do tio Vertigern (Jude Law que parece estar adorando envelhecer) e a magia daquele universo, basta o Rei Arthur crescer para a história começar a desandar. Nada contra Charlie Hunnam, pelo contrário, eu até considero uma boa escolha para o papel, o problema é que o roteiro ingrato reserva ao personagem mais uma história de herói que precisa amadurecer com perseguições, treino e ajustes com o passado. A trama segue sem inovar na cartilha do super-herói, reservando a criatividade somente para alterações descabidas na história clássica. Merlin nem aparece, Morgana também não. Tire do filme também sua amada Guinevere e o leal Lancelot, acrescente um mestre de Kung-Fu e a mágica Excalibur num misto de espada do He-Man e dos Thundercats. O filme investe pesado nas cenas de ação, mas o desenvolvimento da história é confuso ao investir na atração e repulsa de Arthur com sua espada - e o estilo de Ritchie não ajuda. Aqui sua marca de idas e vindas temporais durante os diálogos são utilizadas em momentos cruciais da história, investindo num ritmo frenético desnecessário que só prejudica o desenvolvimento da história. Ao final a sensação é que não vimos o Rei Arthur, poderiam ter inventado qualquer outro nome para o personagem, seria algo mais digno do que esta propaganda um tanto enganosa. As cenas de ação mirabolantes podem até prender atenção, mas não custava ter um roteiro melhor - sugiro que da próxima vez assistam ao desenho animado de minha infância e percebam todos os bons elementos que as histórias do Rei Arthur tem a oferecer. 

Rei Arthur - A Lenda da Espada (King Arthur - Legend of Sword/EUA-2017) de Guy Ritchie com Cahrlie Hunnam, Jude Law, Adam Gillen, Eric Bana, Djimon Hounson e Neil Maskell. ☻☻

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

CICLO PIPOCA: O Agente da U.N.C.L.E.

Armie e Henry: não, eles não são modelos...

Sou daqueles fãs que já perceberam que aquele Guy Ritchie esperto que dirigiu Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch (2000) não existe mais. Hoje sei que ele foi totalmente absorvido pelo mainstream, uma espécie de efeito colateral de seu casamento e divórcio com Madonna, enfim, Freud explica. O fato é que desde que alcançou bilheterias milionárias com Sherlock Holmes (2009), o diretor se tornou um nome à frente de criar novos formatos para personagens famosos. Com Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras (2011) ocupando o posto de meu filme menos favorito de sua carreira (isso mesmo, atrás até mesmo de Destino Insólito/2002) eu não tive nenhuma empolgação de assistir sua versão cinematográfica para O Agente da U.N.C.L.E. até recentemente. O fato de algumas fotos promocionais do filme parecerem saídas de um catálogo de moda (incluindo a que ilustra essa singela postagem) também despertavam a minha desconfiança.  Na verdade eu tentei assistir ao filme outras três vezes, mas eu sempre dormia logo no início, só que ontem eu me obriguei a ver tudo até o final e depois que me acostumei com a atmosfera do filme o assisti sem problemas. O fato é que ele demora um pouco para engrenar entre as brincadeirinhas com o mundo da espionagem e a edição não ajuda muito ao repetir cacoetes de Ritchie em meio às várias reviravoltas da história. Baseado na famosa série dos anos 1960 sobre o período da Guerra Fria, o filme conta uma missão de Napoleon Solo (Henry Cavill um britânico sofrendo para disfarçar o sotaque na pele de um americano) onde ele tem que resgatar Gaby (Alicia Vikander), a filha de um cientista que vive disfarçada na Alemanha Oriental, só que ele é perseguido por um agente russo durante a missão. Solo não faz ideia que na segunda parte da missão ele terá que trabalhar ao lado do próprio agente russo, o temperamental Illya Kuriakin (Armie Hammer), para ajudar Gaby a encontrar o seu pai (que também desperta o interesse de espiões nazistas). Aos poucos o trio de personagens se afinam e a narrativa flui melhor quando descobrimos um pouco mais sobre a personalidade dos três - e o trio de atores charmosos conseguem dar conta de suas identidades escorregadias. No entanto, nem sempre alguma cenas alcançam suas intenções com a edição "estilosa" que nem sempre faz muito sentido, a sorte de Ritchie é contar com um elenco que consegue fazer algumas gracinhas com um roteiro não muito divertido (incluindo Hugh Grant em um papel que não lhe exige muito e Elizabeth Debicki que tem presença marcante). Curiosamente, embora tenha surpresas a cada quinze minutos e várias cenas de ação O Agente da UNCLE não chega a ser um filme empolgante, mas tenta manter alguma elegância enquanto se equilibra entre a seriedade e a gaiatice (mas eu só consigo imaginar o resultado se Ritchie não estivesse sob a coleira de um estúdio doido por uma franquia milionária). 

O Agente da U.N.C.L.E. (The Man From U.N.C.L.E./ Reino Unido-EUA/2015) de Guy Ritchie com Henry Cavill, Armie Hammer, Alicia Vikander, Hufh Grant, Elizabeth Debicki e Jared Harris. ☻☻☻

terça-feira, 15 de agosto de 2017

CICLO PIPOCA: Planeta dos Macacos - A Guerra

César (ao centro) e seus seguidores: jornada de respeito. 

Foi a primeira vez que vi a nova saga de Planeta dos Macacos no cinema e fiquei realmente impressionado com a quantidade de crianças de dez, onze anos no cinema. Lembrei do meu sobrinho, que era uma criança ao ver Planeta dos Macacos - A Origem (2011) e ficou fascinado com a figura de César, o chimpanzé que foi alvo de experiências e se torna super inteligente ao conviver com os humanos (e ajudou muito que estes fossem a família formada por James Franco e John Lithgow). Depois ele passou por maus bocados, a se ver novamente em um laboratório para depois liderar uma rebelião para libertar sua espécie. A cruzada do personagem prosseguiu em Planeta dos Macacos - O Confronto (2014) onde a tensão entre homens e macacos crescia, assim como havia divergências dentro do próprio grupo de César sobre a forma como seria a convivência entre os símios e a humanidade. Agora com Planeta dos Macacos - A Guerra acompanhamos apreensivos o desfecho da jornada do personagem. Durante os três filmes nós vimos a construção de um verdadeiro líder, da construção de seus ideais, de seus conflitos, conquistas e derrotas, por isso mesmo torcer para César nos parece tão natural, afinal, ainda que seja uma chipanzé, ele agrega uma humanidade irresistível. Obviamente que a atuação por captura de movimento de Andy Serkis foi definitiva para o sucesso do personagem (e se o Oscar lhe render uma estatueta especial pelo conjunto do seu trabalho estaria mais do que justificado). Outro destaque do filme é a direção de Matt Reeves, que pegou o bastão do diretor Rupert Wyatt (responsável pelo primeiro filme) no segundo filme e não hesitou em aprofundar ainda mais as possibilidades de mudar totalmente a perspectiva de um clássico do cinema. Não podemos esquecer que este terceiro filme termina tento ligação com o primeiro de toda a série, o antológico O Planeta dos Macacos (1968) onde o olhar de toda a narrativa era do astronauta vivido por Charlton Heston. Depois que Tim Burton se perdeu em seu confuso remake com Mark Wahlberg em 2001, foi preciso dez anos para colocar as ideias nos eixos e colocar a perspectiva na gênese daquele mundo, afinal, como os macacos dominaram nosso mundo. Entre as duas pontas que se ligam agora, o que salta aos olhos é a relação entre opressor e oprimido, como quem chega ao poder faz de tudo para permanecer ali, mesmo que isso signifique o genocídio de quem ameaça sua posição de comando. Por isso mesmo, Reeves investe numa narrativa clássica dos filmes de guerra - e o ato inicial é arrebatador ao conjugar ação e drama como os melhores do gênero para depois mostrar os prisioneiros vivendo em condições precárias após perderem tudo o que tinham, tudo comandado por um coronel militar (Woody Harrelson) que está tão certo de suas convicções que não consegue perceber o quão absurdas são suas ideias. É louvável que um filme desta magnitude consiga contar sua história, fazer sucesso de bilheteria e ainda fazer uma analogia tão vigorosa com o mundo em que vivemos. Planeta dos Macacos - A Guerra é o desfecho de uma repaginada que deu certo, justamente por se inspirar em uma obra clássica para criar algo novo e surpreendente. O segredo talvez esteja em algo que alguns filmes direcionados ao grande público tem deixado de lado em nome do espetáculo: construir um personagem realmente interessante em um conflito bem desenvolvido. Ave, César!

Planeta dos Macacos - A Guerra (War for the Planet of the Apes/EUA-2017) de Matt Reeves com Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn, Toby Kebbel, Amiah Miller e Aleks Paunovic. ☻☻☻☻

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

CICLO PIPOCA: O Lar das Crianças Peculiares

Crianças Peculiares: belo livro em adaptação decepcionante. 

Não foram poucos os leram O Orfanato para Crianças Peculiares da Senhorita Peregrine do escritor Ransom Riggs e imaginaram que Tim Burton faria um filme perfeito com aquele material. Afinal, elementos que consagraram o cineasta já estavam todos presentes ali: fantasia, melancolia, personagens estranhos gerando um clima de conto de fadas gótico estranhamente ilustrado com fotografias esquisitas. Portanto, antes que estreasse, o filme já estava com a expectativa nas alturas com o trailer divulgado onde tudo parecia ser uma mistura de X-Men com Harry Potter. Mas o livro tão interessante resultou num filme insosso. A obra de Ranson consegue se sustentar belamente (no que acabou virando uma coleção de livros infanto-juvenis) por haver ali uma analogia sobre o holocausto. Em vários momentos fica claro que o tal orfanato era um refúgio para crianças que seriam procuradas e mortas por serem diferentes durante o período da Segunda Guerra Mundial., uma clara analogia ao extermínio de quem não se enquadrava nos padrões "arianos". Embora o mundo acredite que o orfanato foi destruído num bombardeio, ele sempre se reconstrói numa espécie de mundo paralelo graças a um loop temporal que a Srta. Peregrine realiza justamente no momento em tudo explodiria. Trata-se de uma fantasia que mexe com um dos momentos mais tristes da história da humanidade, mas que Riggs faz de forma bastante lúdica. Afinal, quem não gostaria de voltar no tempo e evitar todo o sofrimento provocado naquele período? Infelizmente o filme mal toca nessa questão e prefere gastar seu tempo sendo mais uma aventura de fantasia com personagens excêntricos.  O orfanato e seus habitantes são descobertos graças à curiosidade de Jake (Asa Butterfield), que pretende investigar um pouco mais as estranhas histórias de infância que seu avô (Terence Stamp) sempre lhe contava. Quando ele encontra a casa mantida pela Srta Peregrine (Eva Green, a atual musa de Burton) só nos resta acompanhar a apresentação dos personagens diante da ameaça de um vilão (Samuel L. Jackson) que precisa se alimentar dos peculiares para se tornar ainda mais poderoso. De alguma forma, Burton não consegue costurar os momentos presentes no roteiro e o resultado soa tão episódico quanto Sombras da Noite/2012 - outra adaptação que lhe cairia como uma luva, só que também não funcionou. Embora o visual siga a cartilha Burton de qualidade, a narrativa não empolga e segue irregular até o desfecho. Quanto aos atores, Eva Green (cada vez mais bruxesca) e Samuel L. Jackson tem bons momentos. Judi Dench entra muda e sai calada e as crianças fazem o que podem com o pouco que o roteiro lhes oferece no desenvolvimento de personagens tão interessantes. Vale destacar que o protagonista Asa Butterfield segue em sua dura peregrinação de ser um ex-ator infantil em crescimento diante da câmera. O rapaz (que completou vinte anos em abril) parece cada vez mais inseguro, bem diferente de suas atuações  (lembre dele em A Invenção de Hugo Cabret/ e você terá uma ideia do que digo) - como parâmetro basta ver o que o desconhecido Finlay MacMillan faz ao colocar muito mais substância no sisudo Enoch com menor tempo em cena. O Lar das Crianças Peculiares não foi o sucesso esperado e dificilmente irá render continuações, mas o pior de tudo é ver a criatividade de Tim Burton ficar estagnada mais uma vez com um material tão interessante para trabalhar.

Eva Green: (novamente) deliciosamente bruxesca.

O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children/Reino Unido - Bélgica - EUA) de Tim Burton com Asa Butterfield, Eva Green, Samuel L. Jackson, Allison Janney, Finlay MacMillan, Chris O'Dowd, Judi Dench e Terence Stamp. ☻☻

CATÁLOGO: Os Sonhadores

Pitt, Eva e Louis: o triângulo amoroso de Bertolucci. 

Fazia tempo que um filme do diretor italiano Bernardo Bertolucci não chamava tanta atenção da mídia. Desde que O Pequeno Buda (1993) encerrou sua grandiloquente trilogia oriental com críticas mornas, o diretor voltou para a Europa em busca de produções mais modestas e intimistas. Beleza Roubada (1996) e O Assédio (1998) mostrava que ele voltava às suas origens na busca de personagens que buscavam a si mesmos - tendo o desejo como um poderoso verniz de suas narrativas. Em Os Sonhadores (2003) ele vai mais longe no erotismo e deixa a impressão de que sua intenção era revisitar o seu clássico O Último Tango em Paris (1972) com um elenco jovem e, não por acaso, as tramas de ambos os filmes se passa isolada num apartamento em um período bastante libertário. Ambientado em 1968, Os Sonhadores é baseado no livro de Gilbert Adair e conta a história de dois irmãos e um amigo que se conhecem em meio às manifestações estudantis de Paris. Os protestos ficaram famosos por motivarem debates sobre reformas educacionais na França e instigarem trabalhadores a realizarem uma greve geral que marcou a história política da França. Em meio aos protestos havia também um discurso de liberação sexual que era considerado bastante avançado para época. Os protestos tem papel importante no filme de Bertolucci, já que são eles que aparecem no início fazendo com que o estudante americano Matthew (Michael Pitt) conheça os irmãos franceses Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrell). O amigo é acolhido pela família dos irmãos e sua presença se torna constante na casa, especialmente quando os pais do casal (vividos por Anna Chancellor e Robin Reuncci) viajam e os três constroem um mundo a parte. Bertolucci cria então um triângulo amoroso incomum, afinal, existe uma atração sexual explícita entre os três personagens, tornando Matthew cada vez mais um objeto do desejo de ambos. Em alguns momentos o filme deseja ser uma homenagem aos clássicos do cinema (sob o pretexto de uma brincadeira estabelecida pelos três personagens vários trechos de obras consagradas aparecem durante o filme), assim, parece que Bertolucci glamourizar essa atração no início para depois a envolver num cenário cada vez mais caótico - repare como o apartamento se deteriora aos poucos, tornando-se mais sujo e desorganizado. No entanto, tudo parece um tanto frouxo na história, tornando a narrativa irregular enquanto esgarça aquela relação ao limite - e, ironicamente, o que os salva é justamente quando a realidade invade o ambiente em que se isolaram. O que mais impressiona durante o filme é a desenvoltura do elenco em ficar sem roupa diante de câmera - o que foi suficiente para transformar Eva Green em símbolo sexual instantâneo, o que não foi suficiente para que aparecessem papeis marcantes em sua carreira (ela apareceu como a melhor Bondgirl de todas em Cassino Royale/2006 para depois ter o papel de sua vida na série Penny Dreadful/2014-2016). Michael Pitt também se destaca e mostrou que deixava de ser um adolescente estranho para se tornar um ator de verdade, já Garrell tem o mesmo ar blasé de sempre (seja com ou sem cueca). No fim das contas, Os Sonhadores é um filme sobre perda da inocência ambientado numa época em que ocorreu exatamente isso ao redor do mundo.

Os Sonhadores (The Dreamers / Reino Unido-França-Itália / 2003) de Bernardo Bertolucci com Eva Green, Michael Pitt, Louis Garrell e Anna Chancellor. ☻☻

10+ Orphan Black

Tatiana Maslany: talento aclamado. 

E chegou ao fim a saga das clones de Orphan Black (o último capítulo da série está disponível na Netflix desde o último domingo) e embora não tivesse um roteiro brilhante (que às vezes se embolava ou ridicularizava com vícios da ficção científica) ou tivesse se tornado um grande sucesso de audiência, a série canadense serviu para colocar a atriz Tatiana Maslany na história da TV. A atriz foi responsável por dar vida a mais de uma dezena de personagens que compartilhavam o mesmo DNA devido a experiências de uma sombria corporação. Embora tenha sido indicada ao Globo de Ouro somente uma vez pela série (em 2013), Tatiana fez bonito no Emmy duas vezes (perdendo em 2015 e ganhando em 2016) e levou o Critic's Choice Awards para casa por dois anos seguidos (em 2013 e 2014, sendo indicada também em 2016). Estes foram apenas alguns dos prêmios recebidos por dar vida à Sarah, Rachel, Cosima, Alison, Helena, MK... e várias outras personagens durante os cinco anos da série. Maslany compensou qualquer deslize das cinco temporadas (sendo a primeira e a quarta as melhores). Curiosamente, o clímax da trama foi na penúltima, deixando a quinta somente para amarrar algumas pontas, ressuscitar personagens, matar outros e exagerar na sanguinolência. Agora os órfãos somos nós e para celebrar a despedida da série, preparei esta  singela lista das minhas favoritas do clone club

#10 Tony/Antoinette
Tony ficou famoso como a clone transexual do programa, apareceu somente em um capítulo e não estava nem um pouco preocupado com suas origens. Ele serviu para testar a versatilidade da protagonista, mas pecou pelo visual  (com direito a cabelão e questionável cavanhaque). A abordagem esquisita da atração que ele provocou no irmão gay de Sarah, Felix (Jordan Gavaris) também ficou meio desengonçada, mas pelo menos sua aparição está entre os momentos mais marcantes do programa - embora merecesse ser mais explorada durante a série.

#09 Katja Obinger
Katja dava a impressão que seria uma exterminadora das clones quando apareceu logo no início, mas , para a surpresa do público, ela logo se despediu no segundo episódio - e percebemos que a saga das personagens seria bem mais complicada. Pelo menos Katja serviu para mostrar que existiam várias possibilidades para o programa seguir e que Tatiana Maslany não brincaria em serviço quando o assunto era inventar sotaques e expressões específicas para cada personagem.

#08 MK
Hacker inteligentíssima e de passado obscuro, MK revelou boa parte dos segredos sobre a corporação responsável pela sua criação. Fazendo vídeos protegida pela máscara de ovelha (homenagem à Dolly) e aparecendo de vez em quando sem revelar muito de si, MK sempre foi uma personagem que preferiu à penumbra e talvez por isso, tenha se tornado uma das criações mais melancólicas do programa. A sua última cena no programa deve ser uma das mais violentas da série. 

#07 Beth Childs
A policial Beth Childs foi nosso primeiro grande incentivo para acompanhar a série, afinal, foi a identidade dela que a problemática Sarah Manning roubou naquela estação de trem. Beth é a porta de entrada para o universo da série e aos poucos os autores revelaram um pouco mais de sua vida e o uso do flashbacks serviram para demonstrar sua complexidade, especialmente por ela nunca ter digerido bem o fato de ser um experimento científico. Seu complicado relacionamento com o bonitão Paul (Dylan Bruce) só conferiu ainda mais profundidade à personagem  (e confusão para Sarah) e tristeza ao seu desfecho. 

06 Sarah Manning 
Sarah era a grande protagonista da série. No primeiro ano ela brilhou ao ter que se esforçar para encaixar na vida complicada de Beth Childs, se envolveu com o marido dela (Dylan Bruce), teve que ganhar a confiança do parceiro dela (Kevin Hanchard) e depois se envolveu numa espiral de descobertas e situações malucas onde ela era o alvo, especialmente por ter um defeito de "fabricação": fertilidade.  Aos poucos Sarah perdeu em desenvolvimento em comparação às outras clones, tornando-se o arquétipo da heroína que faria de tudo para proteger a filha e suas irmãs (e sofreu um bocado). 

05 Cosima Niehaus
Cientista brilhante interessada em saber tudo o que estava por trás de sua origem, Cosima ganhou facilmente os nossos corações para logo depois demonstrar que um mal congênito de todas as clones poderia lhe custar a própria vida. Cosima ainda foi responsável por explicar todos os conceitos mirabolantes que a trama envolvia e ainda tinha tempo para ter um relacionamento conturbado com Delphine (Eveline Brochu). Sorte que seu melhor amigo, Scott (Josh Vokey) sempre estava por perto para dar uma ajudinha em suas descobertas.

04 Helena 
Por algum tempo, pensamos que Helena seria a vilã da série. Sua função inicial era caçar as clones como se fossem aberrações. No entanto, bastou entendermos que a personagem era fruto de uma rígida educação opressora para percebemos que debaixo de toda aquela cabeleira, não havia apenas uma mente desmiolada, mas uma alma torturada. A complexidade da irmã gêmea perdida de Sarah a transformou na sestra mais surpreendente do programa. Helena era capaz de ser cômica, assustadora, sinistra e muito violenta numa mesma cena e, para complicar, ainda se envolveu com devotos de uma comunidade bem esquisita. 

#03 Krystal Goderitch
Quando as clones estavam mergulhadas em tramas sérias ou sombrias demais, os roteiristas inventaram a esteticista Krystal na terceira temporada. Embora nunca tenha entrado para o grupo de personagens principais do programa, ela tinha um jeito especial de ser alheia a tudo que a cercava, criando suas próprias teorias sobre os acontecimentos estranhos que surgiam ao seu redor - e de vez em quando até acertava. A personagem serviu como excelente forma de Tatiana Maslany mostrar que podia ser leve e engraçada - sem fazer muito esforço. Pena que a loura aparecia pouco na série. 

02 Rachel Duncan 
A gêmea clone má quase conseguiu dominar a lista. O fato é que Rachel Duncan foi a vilã ardilosa que a série sempre prometeu para os fãs. Rachel foi criada pelos cientistas responsáveis pelas experiências com clonagem humana do programa e nunca aceitou muito bem que fosse apenas uma cópia. Sua vontade de ser especial era tão forte que não só infernizou a vida das sestras como de todos os outros personagens. Herdeira do sinistro Instituto DYΛD, ela faria de tudo para aprimorar seus experimentos e ter ainda mais poder. Uma vilã de respeito!

#01 Alison Hendrix 
Alison era casada, feliz e tinha dois lindos filhos adotivos. Sua obsessão por perfeição e levar uma vida certinha fazia com que parecesse uma personagem que saiu de Desperate Housewives - especialmente quando tudo virou do avesso. Alison poderia ser a personagem mais normal da série, mas aos poucos demonstrou que debaixo de sua casca de dona de casa perfeita, existia uma pessoa capaz de cometer os maiores absurdos no conforto do subúrbio canadense. Ela se tornou um dos tipos mais complexos do programa e a mais divertida com suas desventuras com o fofucho esposo Donnie (o adorável Kristian Bruun), mesmo que eu não tenha curtido sua guinada nos últimos episódios, ela ainda é minha criação favorita do programa! Só espero que o cinema reserve personagens deste quilate para o talento de Tatiana Maslany em breve!