domingo, 30 de abril de 2017

N@ CAPA: Trainspotting2

T2: revendo os amigos. 

Para quem curtiu o cinema dos anos 1990, é inevitável colocar o reencontro com Mark Renton e seu bando entre os filmes mais aguardados de 2017! Fazia tempo que o diretor Danny Boyle anunciou sua vontade de fazer a sequência de seu cultuado longa-metragem, mas por problemas de agenda ele demorou demais para se concretizar (e isso traz um sabor ainda mais especial). Vinte e um anos separam Trainspotting de sua continuação. Baseado no livro de Irvine Welsh, a saga junkie com toques de humor negro, edição frenética e trilha sonora espetacular se tornou um dos filmes mais cultuados no final o século XX desde a sua exibição no Festival de Cannes. O filme revelou Ewan McGregor para o mundo, tornou-se o filme mais lucrativo de 1996 (custou 3,5 milhões e rendeu dezenas de vezes este valor) e ainda concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Duas décadas depois, Boyle retoma a os personagens e apresenta o que aconteceu com cada um deles. Para os fãs o resultado carrega um elemento nostálgico inevitável, mas deixa a sensação de que não foi apenas nós que envelhecemos desde o primeiro filme. Rever Spud (Ewen Brenner), Renton (McGregor), Sick Boy (Johnny Lee Miller) e Begbie (Robert Carlyle) se tornou obrigatório para quem ouviu Born Sleepy até se tornar hit  e viu o lema "choose life" ganhar um mar de significados. Por estes motivos singelos, T2 Trainspotting2 foi a capa do mês de abril. 

HIGH FI✌E: Abril

Cinco filmes assistidos no mês de abril que merecem destaque:

☻☻☻☻☻

☻☻☻☻

☻☻☻☻☻ 

☻☻☻☻☻ 

☻☻☻☻

CATÁLOGO: Caiu do Céu

Alex e Lewis: milionários por alguns dias. 

Pode se dizer que Caiu do Céu é o filme infantil da carreira de Danny Boyle, obviamente que não se trata de um filme convencional para a criançada, mas tem lá seu apelo entre o público infanto-juvenil (tanto que foi classificado com censura livre aqui no Brasil, algo raro para a carreira do cineasta). Lançado em 2004 o roteiro de Frank Cottrell Boyce - roteirista pouco conhecido, mas com textos interessantes no currículo, como Código 46 (2003), A Festa nunca Termina (2002) e Uma Longa Viagem (2013) -  utilizou um tema bastante atual na história de duas crianças que se viam milionárias do dia para a noite,  no entanto, tamanha riqueza vinha com prazo de validade. Afinal, os garotos acham uma bolsa repleta de dinheiro às vésperas da mudança de moeda na Inglaterra - que estava prestes a adotar o Euro. Por boa parte da sessão o que vemos são Damian (o fofo Alex Etel) e o irmão Anthony (Lewis McGibbon) banhados na fantasia de comprarem tudo o que querem... até que um grupo de ladrões resolvem querer a fortuna de volta. Embora o filme tenha a difícil tarefa de inserir bandidos violentos na história, Boyle consegue equilibrar-se graças à habilidade com que insere doses consideráveis de fantasia na história, especialmente por conta de Damian conversar com diversos santos  que aparecem para ele (São Nicolau, Santa Clara, São Francisco, São Pedro...) sempre com um humor inocente e inofensivo que torna ainda mais fácil simpatizar com o filme.  Além disso, traz um pai que se torna herói (James Nesbitt) e aqueles encontros do protagonista com uma pessoa amada que faleceu cedo demais. O mais interessante é ver crianças dentro da estética do diretor com seus cortes modernos e trilha sonora espetacular (a cena do assalto ao som de Blackout do Muse é sensacional e o final ao som do hit Nirvana de El Bosco não poderia ser mais otimista e iluminado e só ressalta a habilidade de Boyle em construir suas trilhas emblemáticas). Misturando realismo e fantasia, Caiu do Céu é o filme menos conhecido de Boyle, mas pode ser uma grata surpresa para os fãs que podem perceber nele semelhanças com o antológico Cova Rasa (1994) e o posterior, Quem Quer Ser um Milionário (2008), sendo o filme mais família de um diretor que ficou famoso pela violência estilizada e humor negro - o que lhe rendeu comparações com Tarantino (mas fazer um filme como este só comprova que Boyle sempre buscou um caminho próprio em sua cinematografia). 

Caiu do Céu (Millions/Reino Unido-2004) de Danny Boyle com Alex Etel, Lewis McGibbon, James Nesbitt, Daisy Donovan e Chrisotpher Fulford. ☻☻ 

4EVER: Belchior

26/10/1946  30/04/2017

Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes costumava brincar que era um dos maiores nomes da MPB - e a brincadeira tinha fundo de verdade. Nascido na cidade de Sobral no estado do Ceará, foi um dos primeiros cantores nordestinos a ter sucesso nacional, fazendo parte de uma geração que revelou nomes como Edinardo e Fagner. Formado em Filosofia, ele tentou cursar medicina, mas acabou abandonando o curso em 1971 - mesmo ano em que venceu o IV Festival Universitário de MPB. Seu destino era a música. Belchior lançou seu primeiro álbum em 1974 e ficou famoso por canções importantes como Medo de Avião, a lendária Como Nossos Pais (que recentemente virou nome de filme pelas mãos de Laís Bodanzky) e Apena um Rapaz Latino Americano. Sobre esta música meu amigo Alex Bittencourt lembrou numa rede social que o cantor foi o artista que mais percebia a necessidade de sincronizar o brasileiro com seus irmãos latinos - e que nossa formação ainda carece deste pertencimento latino americano até os dias de hoje. Afastado da mídia, Belchior faleceu aos 70 anos por conta do rompimento da artéria aorta. 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

FILMED+: O que Terá Acontecido a Baby Jane?


Bette e Joan: duelo irresitível. 

Lembro de ter assistido O que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962) numa noite de sábado quando tinha uns quinze anos ao lado de minha irmãzinha de dez. Até hoje temos arrepios quando lembramos a história sobre o ódio entre as duas personagens, que confinadas na mesma casa discutiam suas angústias frente à fama, o isolamento e toda sorte (ou seria azar?) de ressentimentos que duas irmãs famosas poderiam guardar. Ainda que fosse um filme em preto e branco lançado na década em 1960, ele impressiona pelo seu tom moderno, o abuso dos planos fechados, os closes que não se preocupam em deixar as atrizes bonitas, os cortes precisos e o espetacular jogo de luz e sombra durante todo o filme. Para além de todo o capricho estético, havia um excelente trabalho na direção de atores, que deixava visível ao espectador todo ódio que que latejava no subterrâneo daquela relação (pouco) fraterna. Havia tantas camadas, sugestões e entrelinhas que só os melhores roteiros do cinema são capazes de gerar. Não deixa de ser curioso que o filme foi produzido pela Warner Bross como um autêntico filme B, afinal, ao basear-se no livro de Henry Farrell (e com a intenção de faturar sobre o sucesso de Psicose/1960 de Alfred Hitchcock), o filme surpreendeu ao estrear e se tornar um sucesso por ter personalidade própria ancorada no talento de duas estrelas renomadas: Joan Crawford e Bette Davis. Ambas andavam um tanto esquecidas em suas carreiras, as propostas de trabalhos interessantes não chegavam tanto quanto antes e o empenho de ambas para provarem o valor que ainda tinham perante o público é palpável em cada cena. É verdade que muito também se deve ao diretor Robert Aldrich, que percebeu no livro apresentado por Joan a oportunidade de deixar de ser apenas um operário da indústria para finalmente ser um autor. Embora nunca tenha sido reconhecido pelo Oscar, Aldrich é considerado por muitos um dos diretores mais inovadores da história de Hollywood, principalmente pelo que faz neste filme. Aldrich constrói uma tensão absurda e nos coloca nas entranhas da complicada relação entre Blanche Hudson (Joan Crawford) e Baby Jane Hudson (Bette Davis). Blanche era uma atriz famosa que por conta de um acidente tornar-se paraplégica e fica aos cuidados da irmã emocionalmente instável, Jane. Desde a primeira cena percebemos que existe algo de errado com Baby Jane, uma ex-atriz mirim que fico esquecida perante o talento da irmã. O que era um lar se torna um cativeiro e o que era cuidado se torna tortura psicológica. Crawford e Davis estão excepcionais em cada cena, mas Davis (indicada ao Oscar por sua atuação) consegue ainda mais atenção por criar uma personagem mentalmente perturbada (ou seria apenas cruel?) de visual simples, melancólico e muito assustador. Baby Jane fez tanto sucesso (e conseguiu cinco indicações ao Oscar) que é digno de culto até os dias atuais. Já gerou peças de teatro, uma refilmagem para a TV (com as irmãs Lynn e Vanessa Redgrave em 1991) e até uma série que revisita a conflituosa relação de suas estrelas (a excelente Feud/2017 com Jessica Lange e Susan Sarandon). O que Terá Acontecido a Baby Jane? é um clássico do cinema, que tem seu impacto sobre o expectador até hoje, basta ver e rever sua eficiência.

O que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane/EUA-1962) de Robert Aldrich com Joan Crawford, Bette Davis, Victor Buono e Anne Barton. ☻☻☻☻

NªTV: Feud - Bette and Joan

Susan e Jessica: atuações espetaculares. 

O que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962) se tornou um clássico do cinema não apenas pelo que se via na tela, mas também pelo aconteceu nos bastidores, transformado em um verdadeiro ringue por duas divas da era de ouro de Hollywood. De um lado estava a texana Joan Crawford (1966-1971), atriz de ficou famosa por ser uma das mulheres mais belas da história do cinema. Joan foi indicada ao Oscar três vezes, sendo premiada como melhor atriz na terceira Almas em Suplício/1945 (mais conhecido como a versão original de Mildred Pierce). Do outro lado estava Bette Davis. Nascida em Massachussets, Bette estava longe de ser um ícone da beleza e não estava nem aí. Antes de Baby Jane ela havia concorrido dez vezes aos Oscar, levando dois para casa (Jezebel/1938 e Perigosa/1935) sendo lembrada como uma das atrizes mais cultuadas de todos os tempos. Embora prestigiadas, com o passar do tempo as propostas de trabalho foram rareando e isso explica porque as duas resolveram trabalhar juntas nesta produção da Warner Brothers. No entanto, os conflitos entre as duas renderam muitas fofocas e manchetes nas colunas voltadas para o showbizz. Eis que o diretor Ryan Murphy resolveu contar essa história de altos e baixos nos bastidores da fama com a ajuda de um elenco primoroso e produção espetaculosa da FOX. Jessica Lange, a atual musa de Murphy encarna Joan Crawford com todo o brilho que se pode esperar e, por pouco, não termina ofuscada pela espetacular atuação de Susan Sarandon como Bette Davis. O melhor é que a série, que acabou de ter seu último episódio exibido, não se contenta a reproduzir as pendengas entre as duas estrelas, mas amplia nossa percepção das duas estrelas num universo bastante complexo. Do estúdio que percebia que a rivalidade entre as duas poderia ser produtiva para uma produção que nasceu B (afinal, era em sua essência um filme de terror), passando pela vaidade ferida das duas que temiam ser esquecidas, Feud é um primor ao atingir suas intenções - que não são poucas. Do ambiente machista que é Hollywood, às mesquinharias que culminariam no Oscar de 1963, a série é um verdadeiro banquete! Se Lange sempre imprime um eterno desespero na composição de Crawford, que enfrentou muitos preconceitos por sua beleza (que via um projeto pessoal escorrer pelas suas mãos), Sarandon  cria uma Bette Davis que é o total oposto de sua colega de trabalho: forte, irredutível e segura de seu talento (tanto que surpreende a todos ao criar a aparência fantasmagórica de Baby Jane que culminou em sua décima primeira indicação ao Oscar), não é por acaso que ela parece uma ameaça para o brilho de Joan (que torna-se cada vez mais insegura durante a produção).  Para além da trama interessante, Feud traz o belíssimo trabalho de duas atrizes de primeira grandeza que sofrem na pele o mesmo que as suas personagens. Lange tem seis indicações ao Oscar (duas convertidas em estatuetas) e ficou esquecida até ser resgatada por Murphy na série American Horror Story. Sarandon tem cinco indicações ao prêmio da Academia (uma convertida em estatueta) e nos últimos anos esteve presa a papéis abaixo do seu talento (com uma pequena exceção ano passado com o divertido A Intrometida/2016) e aqui ambas comprovam que tem fôlego para muitos outros trabalhos interessantes. Ao lado delas, outras duas atrizes oscarizadas que andam esquecidas pelos produtores: Catherine Zeta Jones (vivendo Olivia de Havilland) e Kathy Bates (na pele de Joan Blondell), encarnando personagens que testemunharam o conflito das musas também merecem destaque. Mas existem outros atores impecáveis no elenco - Alfred Molina (como Robert Aldrich, diretor do clássico filme), Judy Davis (uma atriz que amo de paixão faz a colunista rancorosa Hedda Hopper), Alison Wright (excelente como a assistente de Aldrich), Jackie Hoffman (a fiel escudeira de Crawford), Stanley Tucci (o dono da Warner) e Kiernan Shipka (a menina de Mad Men, que cresce e aparece mais ainda como a filha de Bette) - que compõem verdadeiros trunfos para esta jornada profundamente emocional sobre a história de dois ícones do cinema. Misturando dramas, comentários sobre estrelas da era de ouro e doses certeiras de humor cortante, Feud será facilmente lembrado como um dos melhores programas do ano.

Bette Davis e Joan Crawford: famosa rivalidade. 

Feud - Bette and Joan de Ryan Murphy, Jaffe Cohen e Michael Zam, com Jessica Lange, Susan Sarandon, Alfred Molina, Judy Davis, Alison Wright, Kiernan Shipka, Catherine Zeta-jones, Kathy Bates e Stanley Tucci.  ☻☻☻☻☻

quarta-feira, 26 de abril de 2017

4EVER: Jonathan Demme

22 / 02 / 1944  26 / 04 /2017

Nascido na cidade de Baldwin em nova York no ano de 1944, Robert Jonathan Demme começou a carreira como diretor em 1974, mas chamou atenção por seus trabalhos com astros da música pop como Talkinheads, New  Order e UB40 nos anos 1980. Depois ele se consagrou com comédias divertidas - como De Caso Com a Máfia (1988) estrelado por Michelle Pfeiffer - até se reinventar com O Silêncio dos Inocentes (1991), clássico suspense policial que se tornou um dos poucos filmes que ganharam os cinco principais prêmios do Oscar (Filme, diretor, ator, atriz e roteiro). O poder sugestivo da relação entre o canibal Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) e aspirante à detetive do FBI Clarice Starling (Jodie Foster) marcou toda uma geração e inspirou diversos trabalhos no cinema (Se7en/1995) e na TV (a série Arquivo X). Demme ainda dirigiu Filadélfia (1993) que deu a Tom Hanks o Oscar de melhor ator, conduziu a melhor atuação de Anne Hathaway em O Casamento de Rachel (2008) e fez Meryl Streep ser roqueira em Ricki and The Flash (2015). Demme faleceu aos 73 anos em consequência de um câncer no esôfago e fará muita falta. 

Na Tela: Negação

Spall, Rachel e Wilkinson: a teoria revisionista em foco. 

As teorias revisionistas sobre o Holocausto devem estar entre as coisas mais estranhas da humanidade. Presentes na Academia entre pesquisadores das mais variadas áreas - e crescente em divulgação com o avanço da internet - as teorias caem como uma luva para amparar discursos antissemitas e neonazistas, afinal, tentam provar através de várias pesquisas que não houve o extermínio sistemático de judeus na Segunda Guerra Mundial a mando do governo nazista de Hitler. Com o século XXI apresentando uma parcela considerável da população que conhece pouco (ou nada) sobre  a história dos direitos humanos, um filme como Negação ganha ainda mais importância. Indicado ao BAFTA de melhor filme britânico do ano passado, o longa é baseado numa história real que conta o embate entre o historiador David Irving e a professora universitária Deborah Lipstadt. Irving (vivido por Timothy Spall) ganhou fama com pesquisas e discurso jocoso sobre o holocausto, defendendo a tese de que Hitler nunca ordenou o extermínio de judeus e que as câmaras de gás nunca existiram. O embate entre os dois quase chega às vias de fato após a discussão durante uma palestra, mas Irving prefere mover uma ação judicial contra Deborah. Assim, ela terá que se retratar nos tribunais sobre em que se baseias para que ela acuse o trabalho do historiador de uma grande mentira. Ou seja, Irving exigiu que a professora provasse junto à corte do Reino Unido que o Holocausto realmente aconteceu. Deste ponto de partida, o diretor Mick Jackson (que não fazia um longa para o cinema desde 1994) mostra como foi construída a argumentação dos advogados de Lipstadt para provar algo que a maioria das pessoas considera uma verdade incontestável. No tribunal, o que vemos é uma aula de como desconstruir o discurso revisionista, como fatos são distorcidos e confundidos para que o que aconteceu de fato fique numa espécie de penumbra que favoreça interesses bastante específicos. Como era de se esperar, existem diálogos ótimos entre os atores, o que não impede que o texto do renomado David Hare tenha alguns tropeços. Para começar, ele tem uma enorme dificuldade em explicar como funciona o sistema judicial no Reino Unido e acaba largando o assunto pelo meio do caminho para não se complicar ainda mais. Mas isso não se compara à argumentação pífia de Irving no tribunal, talvez para não ser criticado, o filme cedeu pouco espaço para que o personagem defendesse suas ideias, o que faz parecer que seus trabalhos sejam menos ameaçadores do que realmente são. Essa abordagem simplista torna tudo ainda previsível - e um tanto tolo quando Lipstadt ainda tem dúvidas de qual será o veredicto. Se Irving tivesse mais espaço para  argumentar, seu embate com  Tom Wilkinson (que interpreta o astuto advogado de defesa da professora) seria ainda mais rico e interessante para o filme ao proporcionar o duelo entre dois grandes atores. Ainda que seja só metade do que promete, Negação é um dos poucos filmes que abordam um tema tão delicado na telona - e reforça ainda mais a necessidade de lembrar as atrocidades de que a humanidade é capaz de cometer (o que para os tempos atuais, não é pouco).  

Negação (Denial / Reino Unido - EUA / 2016) de Mick Jackson com Rachel Weisz, Timothy Spall, Tom Wilkinson, Andrew Scott e Alex Jennings. ☻☻☻

terça-feira, 25 de abril de 2017

MOMENTO ROB GORDON: Palme Dog

Nellie: prêmio por Paterson
Sem dúvida um dos prêmios mais simpáticos do cinema é o Palme Dog, o prêmio do Festival de Cannes para a melhor atuação canina que acontece desde 2001 (o prêmio é um trocadilho com o maior prêmio do evento: Palme D'or, a cobiçada Palma de Ouro). Ano passado os críticos internacionais do Festival escolheram o simpático bulldog inglês Nellie pelo trabalho como Marvin, o pet de Adam Driver em Paterson (o novo filme de Jim Jarmusch que está em cartaz no Brasil). Infelizmente, Nellie não pôde comparecer para receber o prêmio, já que falecera dois meses antes do Festival. Para homenagear o seu e outros talentos caninos, lembramos de alguns premiados nesta cobiçada categoria do Festival de cinema mais influente do mundo: 

Em 2006 o prêmio foi para o pug que além de bicho de estimação funcionava como uma espécie de acessório para a jovem rainha francesa vivida por Kirsten Dunst neste controverso filme de Sofia Coppola. Vivendo no bem bom, pode se dizer que o cãozinho era o melhor amigo de vossa majestade.

Bem menos simpático, Moses é um ser quase metafísico no longa de Lars Von Trier. Ainda que sua presença seja destacada durante todo o filme, por boa parte da sessão ele é apenas um risco de giz no chão - até se materializar raivoso na última cena. Sua presença é tão marcante que o cão derrotou até o favorito do ano: Bruno, o cachorro da animação As Bicicletas de Belleville.

#03 Dug (Up - Altas Aventuras/2009)
Pois é, cachorros de animação também concorrem ao prêmio e em 2009 foi o simpático cão (quase) falante do filme da Pixar que foi agraciado com o prêmio. O páreo estava acirradíssimo naquele ano! Dug derrotou o Poodle de Bastardos Inglórios e a Raposa de Anticristo

Antes de ganhar cinco Oscars (filme, diretor, ator, figurino e trilha sonora), esta brincadeira com o cinema mudo ganhou dois prêmios em Cannes: melhor ator (Jean Dujardin) e o Palme Dog para o fofo Uggie - e não são poucos os que consideram que o cãozinho também merecia um Oscar pelo seu carismático trabalho! Infelizmente o adorável Jack Russell faleceu em 2015 aos 13 anos de idade.

Quem viu este filme húngaro ficou impressionado com o trabalho de direção com vários cães em cenas impressionantes. Todos o elenco canino foi lembrado no Palme Dog e  especialmente os cães Luke e Body (excepcionais como o protagonista Hagen) - e não podemos esquecer a graciosa Marlene, que faz a melhor amiga canina do cão protagonista. 

domingo, 23 de abril de 2017

FILMED+: Sunshine - Alerta Solar

Murphy: tentando acender o Sol. 

Pode ser por conta de minha carência de um ficção científica interessante na época, mas sempre achei o terceiro filme do casamento criativo entre Danny Boyle e o diretor Alex Garland o melhor da parceria.  A ficção científica Sunshine pode ser vista como apenas mais um filme de astronauta com uma missão absurda (no caso, reacender o Sol com bomba atômica), mas fica muito mais interessante quando percebemos a concepção de futuro que aparece no filme. Dentro da nave Icarus II (só o nome já revela bastante do que se verá), um grupo de tripulantes criam um microcosmo social bastante interessante, não apenas por cada um ter a sua tarefa e ter seu poder de acordo com a tarefa que executam (basta perceber o que acontece com o especialista em comunicações numa nave que enfrenta problemas nessa área). Conforme os personagens avançam na jornada inevitáveis problemas aparecem, ainda mais diante do fracasso misterioso da missão anterior (com a malfadada Icarus I). Questões como o isolamento, a depressão e a pressão psicológica começam a interferir diretamente na relação dos personagens e, obviamente, na missão a ser cumprida. A tripulação é formada pelo físico Robert Capa (Cillian Murphy) - o responsável pela bomba e desde o início parece ter consciência de que sacrifícios serão necessários para a conclusão da missão -, o  temperamental engenheiro Mace (Chris Evans, bem antes de ser o Capitão América), a piloto Cassie (Rose Byrne antes de se aventurar por comédias), a bióloga Corazon (Michelle Yeoh) responsável pelo "jardim de oxigênio da nave", Harvey (Troy Garritt) que é o responsável pela comunicação e segundo no comando, o psicólogo Searle (Cliff Curtis), o prodígio em informática Trey (Benedict Wong) e o capitão Kaneda (Hiroyushi Sanada). O elo entre os personagens se fragiliza cada vez mais após receberem o pedido de socorro da Icarus I, o que renderá uma série de problemas com a nave e a suspeita de que alguém está sabotando a missão. Além do viés científico e psicológico, Garland insere algumas questões religiosas no texto e ainda apela para o terror nos minutos finais (o que gerou algumas críticas ao filme), mas não perde de vista sua intenção de explorar as reações da humanidade diante do fim. Sunshine não perde tempo com piadinhas, possui uma estética que impressiona (especialmente pelo uso nos tons dourados), efeitos especiais competentes (que custaram uma ninharia) e ótimo elenco com a tarefa de contemplar o fim - seja diante do apocalipse, do suicídio, da loucura, do sacrifício ou da "necessidade". Com seu elenco globalizado (que às vezes parece ter nomes propositalmente trocados) e subtextos infinitos, Sunshine mostra-se uma ficção científica mais interessante a cada vez que se assiste. 
  
Sunshine - Alerta Solar (Sunshine / Reino Unido - Estados Unidos / 2007) de Danny Boyle com Cillian Murphy, Cliff Curtis, Chris Evans, Michelle Yeoh, Rose Byrne, Hiroyushi Sanada, Mark Strong e  Mark Strong. ☻☻☻☻

Na Tela: Paterson

Driver: a poesia do cotidiano segundo Jim Jarmusch

O americano Jim Jarmusch nasceu em Ohio no ano de 1953 e desde que resolveu ser cineasta nos anos 1980, ele ajudou a moldar a estética do cinema independente dos Estados Unidos. Com Estranhos no Paraíso (1984) e Daunbailó (1986) ele se tornou um diretor cult com filmes ansiosamente aguardados pelo seu público - que no Brasil sempre garante que seus filmes entrem em cartaz. Seus fãs são tão entusiasmados que sempre que um de seus filmes estreia no Festival de Cannes ele fica entre os favoritos na corrida pelo Oscar - e sempre acaba esquecido na reta final. Ano passado foi a vez de Paterson ser acolhido pelos fãs e ser exaltado pela crítica -  mas também foi totalmente ignorado nas premiações mais importantes. Basta ver os minutos iniciais do filme para entender o motivo. O longa acompanha o cotidiano de um motorista de ônibus chamado Paterson (Adam Driver) que dirige pelas ruas da cidade chamada... Paterson. O motorista escreve poesias como hobby e para passar o tempo ainda passeia com o cachorro chamado Marvin (que ganhou o sempre simpático Palma Dog em Cannes), joga conversa fora num bar e incentiva a esposa (Golshifteh Farahani) a investir na venda de cupcakes. A maioria das pessoas não irá perceber nada de extraordinário no filme, mas o desafio proposto pelo diretor é capturar o que existe de especial no dia-a-dia de personagens comuns. Para isso, não poupa o espectador de acompanhar o despertar matinal de seu protagonista, suas caminhadas até o trabalho ou a forma como escreve suas poesias sobre caixas de fósforos ou uma canção que ouvia na infância. Assim, mesmo quando parece que haverá algo espetacular no filme (quando o ônibus quebra na rua ou um homem aparece armado no bar), Jarmusch faz questão de contornar as situações da forma como a maioria das pessoas faria. Embora o cineasta tenha o mérito de conduzir o filme como se fosse um poema visual às pessoas comuns, a alma do filme é a atuação de Adam Driver (que ironicamente tem o sobrenome que em inglês significa motorista). O ator revelado na série Girls é bastante sutil, mas evidencia a sensibilidade do personagem a cada sorriso tímido, seja quando está ao lado da esposa ou presta atenção nos diálogos dos passageiros de seu ônibus (e os fãs de Moonrise Kingdom/2012 de Wes Anderson terão uma bela surpresa) e mesmo quando um colega de trabalho sempre reclama da vida. Graças ao ator que as intenções do diretor ganham corpo e cada fato cotidiano ganha cores especiais, seja o encontro com uma jovem poetisa ou quando uma "tragédia" acontece perto do final do filme. Paterson não pretende explorar os artistas incompreendidos,  crises no casamento, a violência urbana ou temas da moda, ao contrário, o humor sutil e os diálogos sempre recaem na poesia, algo que torna o cotidiano do personagem dotado de leveza e algum encantamento. 

Paterson (EUA/2016) de Jim Jarmusch com Adam Driver, Golshifteh Farahani, Jaden Michael, Barry Shabaka Henley, Frank Harts, Brian McCarthy e Nellie (o cachorro). ☻☻☻☻

PL►Y: Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo

Elijah e Melanie: mistura das boas. 

Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo chegou no Netflix algumas semanas após ser premiado no Festival de Sundance deste ano e gerou várias discussões (que irei explorar depois). O filme do estreante Macon Blair é uma verdadeira montanha russa de emoções ao contar a história de Ruth (Melanie Linskey), uma mulher deprimida que trabalha num hospital e não bastasse seu estanhamento diante da hostilidade do mundo, ela ainda tem a casa assaltada. Se a vida de Ruth já era vivida sem muito entusiasmo, ela poderia piorar sem o notebook, a coleção de talheres de prata herdade da avó e a sensação constante de insegurança dos dias atuais. No entanto, ao conhecer o vizinho Tony (Elijah Wood, bem divertido), um baixinho amante de artes marciais e rock pesado, ela tenta recuperar seus pertences. Primeiro colabora com a polícia, depois ela resolve fazer o serviço por conta própria e se envolve em uma série de eventos estranhos (com personagens mais esquisitos ainda). Quanto mais a narrativa avança, mais o filme se torna diferente daquele início lento e carregado do estilo que tornou o cinema indie americano conhecido mundialmente. Macon Blair tempera o filme equilibrando violência com bastante humor negro. O resultado surpreende com uma inquietação cheia de frescor que é muito bem vinda aos filmes de pequeno orçamento dos EUA. Além da dupla protagonista afiada, o filme conta ainda com uma hilária participação de Christine Woods como uma dona de casa entediada. É um filme que se torna gradativamente mais interessante, misturando drama, comédia, suspense e até um pouco de romance, mas que talvez caísse no limbo dos distribuidores brasileiros que demoram séculos para lançar esse tipo de filme por aqui (e às vezes saem direto em DVD, se saírem...). A compra de Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo pelo Netflix gerou debates sobre o impacto negativo da empresa na distribuição de filmes. O debate cresceu ainda mais com a aproximação do Festival de Cannes - principalmente por ter selecionado a produção "Original Netflix" Okja com Tilda Swinton para disputar a Palma de Ouro,  o prêmio máximo do Festival. A oferta de filmes inéditos no catálogo pelo serviço de streaming gera cada vez mais insatisfação entre os empresários, já que o Netflix está atento nos festivais independentes, comprando os direitos de exibição dos filmes  pela internet e inflamando discussões sobre o enfraquecimento da experiência cinematográfica através do serviço - e, principalmente, do lucro nas bilheterias. Se por um lado a discussão tem lá sua razão, por outro, os distribuidores também tem sua parcela de culpa ao privilegiarem as grandes produções em detrimento das menores. No Brasil apenas (as poucas) salas voltadas para filmes de arte se dedicam a exibir filmes indies - isso quando eles conseguem espaço (e nessa queda de braço, os nomes menos famosos costumam sair perdendo). É uma ilusão imaginar que os shoppings irão ceder espaço para filmes pequenos em pé de igualdade com os blockbusters, afinal filmes pequenos costumam ter bilheterias mais modestas que as superproduções - mas outros dirão: "como alguém pode gostar de filmes de orçamento modesto se tem acesso somente aos produzidos pelos grandes estúdios?". Boa pergunta. Some isso ao espectador que curte a comodidade de ver o filme na comodidade de casa, sem os gastos com deslocamento, lanches e estacionamento, além de poder pausar o filme para ir ao banheiro e sem o empecilho do bando de espectadores conversando, fazendo graça e atendendo celulares dentro do cinema (eu mesmo já perdi a conta das vezes que pedi para ficarem em silêncio durante a sessão e, geralmente, ainda escuto ofensas). Pois é, a experiência cinematográfica também tem seus efeitos colaterais.  Enfim, engana-se quem pensa se tratar de uma discussão nova, já que volta e meia ela volta com nova roupagem (foi assim com o surgimento da televisão, do VHS, do DVD e agora com os serviços On Demand, de tal forma que até o Oscar já abriu precedentes para filmes assistidos em streaming). O fato é que ver um filme no cinema e seu telão é incomparável, mas, infelizmente, nem sempre você tem acesso ao filme que quer assistir na sala de cinema perto de você. Neste ponto, o Netflix se fortalece e será difícil vendê-lo como vilão da história. 

Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo (I don't Feel at Home in This World Anymore/EUA-2017) de Macon Blair com Melanie Linskey, Elijah Wood, Jane Levy, Christine Woods e Robert Longstreet. ☻☻☻☻

sábado, 22 de abril de 2017

Pódio: Leonardo Sbaraglia

Bronze: o motorista estressado

Eu sei que o filme de Damián Szifrón é bom demais para ficar em terceiro, mas o motivo disso é que a atuação de Leonardo está em apenas um dos episódios que compõem o criativamente agressivo filme do diretor. Como não lembrar o motorista, que por conta de uma briga de trânsito, se mete na trama mais insuportavelmente violenta do filme? A parte que representa o pesadelo de todo motorista serve de exemplo para as pessoas que encaram o trânsito como uma verdadeira guerra de egos motorizados - ou então para mostrar que dentro do homem mais civilizado pode haver uma verdadeira besta fera. 

Prata: o cara sortudo.
2 Intacto (2001) 

Juan Carlos Fresadillo tem uma indicação ao Oscar de melhor curta metragem por Esposados (1996) - e em sua estreia em longas demonstrou que sabe construir um suspense envolvente dentro de uma mitologia bastante particular. Neste universo Sbaraglia vive Tomás, um homem que tem sua sorte cobiçada por um estranho grupo de pessoas que compram a sorte das outras através de fotografias. Num mundo perigoso de apostas e crimes, Tomás precisa ajudar uma mulher que corre o risco de perder a vida após perder a sorte para um dos donos deste perigoso jogo. O filme traz um argumento bastante original e merece ser visto. 

Ouro: o assaltante sedutor.
1 Plata Quemada (2000) 

Nascido em Buenos Aires em 1970 e atuando desde os 16 anos, Sabaraglia sempre foi reconhecido por sua aparência de galã, pelo menos até virar a carreira do avesso com este filme policial baseado em fatos reais: um trio de assaltantes que desafiaram a polícia com ousados assaltos a banco no ano de 1965. Baseado no livro de Ricardo Piglia, o filme se tornou um sucesso mundial, especialmente pela química de Leonardo com outro galã, Eduardo Noriega. A dupla dá vida a El Nene (Sbaraglia) e Angel (Noriega) com uma intensidade que impressiona e deixa o filme ainda mais eletrizante! Simplesmente imperdível.  

PL►Y: No Fim do Túnel

Sbaraglia: reviravoltas infinitas. 

No Fim do Túnel é um suspense com toques de filme policial feito na argentina que prova mais uma vez que os hermanos dominam a técnica cinematográfica de forma invejável, especialmente no que diz respeito à construção do roteiro. Existem tantas reviravoltas durante a narrativa do roteirista e diretor Rodrigo Grande que mesmo em sua última cena você imagina que acontecerá alguma surpresa até o fim dos créditos. O ponto de partida parece de um filme de Hitchcock. Um homem preso a uma cadeira de rodas, Joaquin (Leonardo Sbaraglia) vive isolado do mundo junto ao seu cachorro envelhecido. Ele ganha a vida consertando equipamentos eletrônicos no porão e resolve alugar um quarto de seu casarão para ajudar nas despesas. Por conta desta oferta que aparecem em seu caminho a bela Berta (Clara Lago) e a calada filha pequena. Embora evite intimidades no início, é visível como a presença das duas transforma o cotidiano na casa e tudo muda mais ainda quando Joaquin descobre que um grupo de assaltantes estão cavando um túnel por baixo da casa. A partir daí, o protagonista tomará uma série de decisões que colocarão em risco a sua vida e de suas inquilinas, além de descobrir uma série de segredos que tornaram a sessão ainda mais envolvente. O texto de Grande não se preocupa com rumos politicamente corretos, o seu herói hesita em chamar a polícia a todo instante, amarra uma mulher na cama durante boa parte do filme e até cogita ganhar alguma coisa com o roubo que está prestes a acontecer. Por jogar as regras para o espaço, o filme torna-se imprevisível e por isso mesmo, cada vez mais tenso - e um tanto desgovernado em sua proposta. Enquanto os bandidos são de uma violência impactante, o filme capricha no poder da sugestão para apresentar seu protagonista com pendores para o isolamento (considero um primor a cena em que descobrimos o motivo dele se tornar paraplégico e como isso nutre seu isolamento e desconfianças). Em duas horas de projeção, o diretor consegue manter a atenção da plateia do início ao fim, com a fotografia soturna e uma edição eficiente que serve para sustentar ainda mais a boa atuação de Sbaraglia, um dos melhores atores do cinema latino-americano. 

No Fim do Túnel (Al Final del Tunel / Argentina-Espanha / 2016) de Rodrigo Grande com Leonardo Sbaraglia, Pablo Echarri, Clara Lago, Frederico Luppi e Javier Godino. ☻☻☻

sexta-feira, 21 de abril de 2017

.Doc: Strike a Pose

Luis, Oliver, Jose, Carlon, Kevin e Slam: meninos crescidos. 

Em 1990 Madonna estava no topo da música pop e, para comemorar, ela lançou a turnê que revolucionaria os shows da música pop. Em Blonde Ambition Tour, calcado nas músicas dos álbuns Like a Prayer e I'm Breathless (que era a trilha do filme de sucesso Dick Tracy/1990), tudo era superlativo. Os figurinos de Jean Paul Gaultier, as coreografias estilizadas, os cenários grandiloquentes e, principalmente, as toneladas de sexualidade que exalava de cada detalhe. Não satisfeita com o que era feito nos palcos, Madonna fez questão de registrar a turnê num documentário que revelava na turnê. Entre polêmicas e muito marketing, o filme Na Cama com Madonna/1991 causou alvoroço desde a exibição no Festival de Cannes - e foi por muito tempo o documentário de documentário de maior sucesso comercial da história do cinema. O filme não apenas anabolizava o sucesso da cantora, como também tornou conhecida a sua trupe de dançarinos, que se tornaram celebridades da noite para o dia e serviam para enfatizar o discurso liberal do filme.  Quase três décadas depois Reijer Zwaan e Ester Gould resolveram procurar os dançarinos que se tornaram fundamentais para a repercussão do filme e saber o que aconteceu com eles depois de todo aquele sucesso. Para não parecer um daqueles programas de "Por onde anda...", os cineastas ineriram a ideia num contexto muito maior, não apenas associando o sucesso do filme de 1991 com os inevitáveis ressentimentos como também à trajetória do movimento GLSBTI desde então. Ainda lembro de todo o escândalo que Na Cama com Madonna provocou por apresentar cenas de uma parada gay e beijo na boca entre dois homens. Hoje tudo pode parecer trivial, mas há vinte e sete anos atrás isso era mais revolucionário do que você imagina. Se o tempo passou até para Madonna (que completa 60 anos em 2018), com seus ex-parceiros de palco não seria diferente. Durante pouco mais de oitenta minutos de filme, os rapazes revisitam as lembranças daquele período e confessam que a vida desde a fama não foi fácil. Se alguns sonhos e ambições ficaram pelo caminho, o fantasma do HIV também sempre se mostrou presente para aquele grupo de rapazes entusiasmados. Para quem é fã ou curte a história da música pop é interessante ver que toda a febre da coreografia de Vogue se deve aos talentos de Luis Camacho e Jose Xtravaganza que depois de tentarem a vida como cantores seguiram caminhos distintos. Por outro lado, Carlton Wilborn e Salim "Slam" Gauwloos tem seus próprios fantasmas para lidar desde os anos 1990, assim como Oliver Crumes que teve um passado complicado com as drogas e problemas de saúde. A serenidade e saudosismo de  Kevin serve para lembrar do processo movido por ele, Gabriel e Oliver contra a popstar. Strike a Pose resulta num trabalho que serve de contraponto para Na Cama com Madonna, que parecia acontecer numa realidade paralela, de homossexualidade "sem máscaras" e com glamour, já Strike a Pose revela que o choque do que o filme apresentava com o mundo real de três décadas atrás era inevitável. Entre acertos e tropeços próprios da vida, o  filme desmitifica os dançarinos mais badalados da década de 1990 e os apresenta para além das fantasia, já que eles precisaram encontrar um caminho para sobreviverem depois do auge da fama. Provando que nem tudo são flores, a participação da cantora ficou apenas restrito às cenas de arquivo, já que a pendenga jurídica comprometeu o relacionamento com o grupo. Temos que admitir que a exposição na mídia depois de tanto tempo exigiu boa dose de coragem dos rapazes, hoje mais maduros e calejados com suas respectivas carreiras. Por tudo isso, Strike a Pose não deixa de ser um retrato de como um grupo de homossexuais (com exceção de Oliver, que é hétero) precisou encarar a vida nas últimas décadas.

Madonna: a trupe nos anos 1990.

Strike a Pose (Noruega-Bélgica/2016) de Ester Gould e Reijer Zwaan com Salim Gawlos, Luis Camacho, Jose Xtravaganza, Kevin Alexander Stea, Carlton Wilborn e Oliver Crumes. ☻☻

quarta-feira, 19 de abril de 2017

PL►Y: Stonewall

Irvine (em destaque) e seus amigos: botando para quebrar. 

Chega a ser engraçado que o diretor alemão Roland Emmerich sempre tenta escapar dos filmes catástrofe buscando filmes sérios para ser mais respeitado, disputar prêmios e geralmente é massacrado pela crítica e volta a fazer um filme em que destrói o mundo mais uma vez. Parece não ter jeito, existe uma espécie de estigma sobre o diretor que será difícil superar. Ele fez O Patriota (2000) e após ser ignorado nas premiações fez o sucesso O Dia Depois de Amanhã (2004). Depois ele investiu no massacrado Anônimo (2011) para depois criar um atentado à Casa Branca em O Ataque (2013)! Como ele não desiste nunca, fez este filme sobre a Rebelião de Stonewall, um marco para o movimento GLSBT (na época a sigla era bem menos complicada) e, após ser espinafrado mais uma vez, fez a continuação de seu sucesso mais destruidor: Independence Day II (2016). Apesar das críticas negativas, Stonewall não é um desastre. Ainda que deixe a desejar na contextualização do período histórico, o filme de Emmerich tem seus méritos no emaranhado de clichês que tem em mãos. O episódio de Stonewall já rendeu vários filmes, documentais ou fictícios, e já serviu até de título para CD do Renato Russo (quem não lembra de The Stonewall Celebration Concert?), afinal a rebelião ocorrida numa madrugada do dia 28 de junho de 1969 diante de uma ação policial em Nova York estava inserida dentro de um tempo onde as manifestações eram muito presentes nos Estados Unidos. Havia a luta pelos direitos civis dos negros, o movimento de contracultura e ações de protesto contra a Guerra do  Vietnã. Vale lembrar que nesta época existiam várias ações de marginalização de homossexuais, seja a partir de programas educativos para inibir "a prática gay" e até ações truculentas da policia. Neste contexto,  o filme aborda o bar Stonewall Inn como o point para gays marginalizados. Frequentado por drag queens, transgêneros, lésbicas masculinizadas, homens efeminados e garotos de programa, a realidade deste microuniverso nova-iorquino era um reduto para jovens que foram expulsos de casa e viviam muitas vezes nas ruas, sendo frequentemente presos e vítimas de toda forma de violência. O roteiro gira em torno de Danny Winters (Jeremy Irvine), jovem que é expulso de casa após descobrirem que mantinha relações sexuais com um amigo (Karl Glusman). Prestes a entrar para a faculdade, ele vê suas oportunidades em risco  ao chegar em Nova York e viver nas ruas, até que encontra abrigo junto ao grupo de Ray (Jonny Beauchamp) que passa maus bocados perante a dura realidade que vivenciam. A jornada de Danny serve apenas para mostrar diferentes contextos destinados aos homossexuais (a marginalidade, a militância, uma vida gay heteronormativa...). É verdade que o início do filme é bastante artificial, que Danny e seus relacionamentos nunca se aprofundam como deveriam, mas o filme consegue ter alguns momentos que funcionam em pouco mais de duas horas de duração. Se o pouco conhecido Beauchamp exagera na caricatura, Jeremy Irvine segue o seu caminho na construção de personagens variados desde que ficou conhecido por sua atuação em Cavalo de Guerra/2011 de Spielberg, aqui ele já tinha vinte e cinco anos e ainda convence como adolescente. Dedicado aos anônimos que participaram da rebelião de Stonewall (e alguns dos personagens realmente existiram na vida real), o filme de Emmerich pode servir de ponto de partida para conhecer um pouco mais desta história verdadeira. 

Stonewall - Onde o Orgulho Começou (Stonewall/EUA-2015) de Roland Emmerich com Jeremy Irvine, Carl Glusman, Jonny Beauchamp, Ron Perlman, Ben Sullivan, Caleb Landry Jones, Matt Craven e Jonathan Rhys Meyers. ☻☻☻

terça-feira, 18 de abril de 2017

Na Tela: A Tartaruga Vermelha

O náufrago e sua companheira: poesia em imagens belíssimas. 

Recentemente a Academia que escolhe os indicados ao Oscar criou uma polêmica ao rever os seus critérios para indicações. Entre os pontos mais polêmicos estava a possibilidade de não apenas os votantes do departamento de animação escolher os indicados na categoria de Melhor Animação, agora o voto será aberto para todos os membros. Para quem entende do assunto, a medida realmente assusta, uma vez que compromete a visibilidade de filmes de distribuição restrita, que investem em uma estética diferenciada, mais próxima dos filmes de arte. Não deixa de ser curioso que a Academia crie essa resolução após deixar de fora animações americanas (de lobby poderoso) como Procurando Dory ou até A Festa da Salsicha para ceder espaço para os estrangeiros Minha Vida de Abobrinha e este A Tartaruga Vermelha. O filme de Michael Dudok de Wit, que já trabalhou no departamento de animação da Disney em Fantasia 2000 (1999), é de uma beleza ímpar ao trazer cenas que parecem verdadeiras pinturas para contar a saga de um náufrago que se vê isolado numa ilha após uma tempestade. Sem diálogos e com auxílio de uma bela trilha sonora, o filme segue os dias deste personagem, enfatizando suas tentativas frustradas de ir embora daquele lugar. Eis que uma tartaruga vermelha aparece em seu caminho e, por vezes, frustra seus planos.  A partir daí, o filme que investia no realismo cede espaço para uma fábula lírica, sobre amor, família, isolamento e morte.  O filme parece se inspirar na conhecida história das tartarugas sempre voltarem à mesma ilha para colocar seus ovos em segurança, ao mesmo tempo, ressalta a necessidade do convívio social para o ser humano. Ao longa da relação do homem com a tartaruga, temos além de surpresas, o deslumbramento com cada detalhe em cena. Os movimentos dos personagens são perfeitos a cada gesto, assim como as nuances da trilha sonora que envolvem o espectador a todo instante, promovendo uma experiência sensorial emocionante. Esta produção franco-belga-japonesa foi a única animação selecionada para a mostra oficial do Festival de Cannes no ano passado e chamou atenção pela forma singela com que conta sua história repleta de poesia e beleza. Um filme que nos faz lembrar o motivo do cinema ainda ser uma arte, uma pena que as novas medidas adotadas pela Academia podem afetar a indicação de produções semelhantes que recebem maior projeção justamente por ganharem espaço na maior premiação do cinema americano.  

A Tartaruga Vermelha (La Tortue Rouge / França-Bélgica-Japão/2016) de Michael Dudok de Wit. ☻☻☻

segunda-feira, 17 de abril de 2017

NªTV: Girls

Zosia, Allison, Lena e Jemima: rompendo paradigmas nas séries femininas. 

No ano passado obtive uma nova opção de trabalho, mais estável e bem distante de onde eu vivi pelos últimos onze anos. No entanto, essa mudança me possibilitou morar em uma cidade onde sempre desejei me estabelecer. Não foi fácil... diante da nova realidade, uma nova colega de trabalho perguntou o que eu pretendia fazer pelo resto da vida. Eu disse que para o resto da vida era tempo demais. Ela ponderou e reformulou a pergunta : "tudo bem, o que você pretende fazer nos próximos cinco anos?". Assim fica bem mais fácil de responder. A atriz, diretora, roteirista e produtora americana Lena Dunhan deve pensar do mesmo jeito, ao ponto de terminar com a série (a qual se dedicou nos últimos seis anos) quando ela ainda tinha pernas para pelo menos mais umas quatro temporadas. Enfim, nada é para sempre. Lena optou por fazer um dos últimos capítulos que devem entrar para lista dos mais odiados de todos os tempos, principalmente por subverter todas as expectativas que os fãs tinham sobre o capítulo que foi ao ar ontem pela HBO. Nele, Hannah (a protagonista vivida por Dunhan) havia mudado de Nova York para uma cidade menor, onde considera mais apropriado para cuidar de seu filho, o pequeno Grover. Das três amigas fieis de toda a série apenas Marnie (Allison Williams) apareceu para dar uma ajuda, assim como a mãe (Becky Ann Baker) que apareceu diante do desespero da filha diante da maternidade. Hannah discute com Marnie, discute com a mãe, aparece completamente nua, é chamada de Caça-Fantasma (no momento mais hilário do episódio), discute com uma vizinha que fugiu de casa e parece encontrar algum alento somente no final, onde dá a entender que deixou de ser uma garota preocupada com os rumos de sua vida para pensar agora no bem estar do filho também. Ainda que tenha sido muito criticado, o episódio é bastante coerente com um programa que sempre andou na contramão. Afinal, Hannah não estava nem aí que estava acima do peso (definitivamente não era uma variável de Bridget Jones que vivia paranoica com as calorias ingeridas e dietas mirabolantes). Hannah também nunca soube se vestir direito. Seu grande amor era um rapaz que está fora dos padrões de beleza (o ótimo Adam Driver) e o sonho de ser escritora parecia se realizar em doses homeopáticas. Se no início o programa foi criticado por não ter diversidade entre as personagens - brancas, de classe média e recém saídas da faculdade como inúmeras patotas de garotas americanas - logo o foco mudou de direção. Dunhan não estava nem aí em aparecer sem roupa ao longo das temporadas, as cenas de sexo estavam longe de ser glamourosas e os relacionamentos eram tão crus quanto as ambientações da série. Ao longo da sexta e última temporada, a série preferiu apenas apontar o que poderia acontecer com seus personagens  - incluindo o amigo gay da protagonista, Elijah (Andrew Rannells) que recebeu um capítulo solo saboroso - talvez isso tenha acontecido pela consciência de que nada é eterno, seja amizade, namoros, ambições, o que acaba ficando é o amadurecimento que se adquire ao longo do tempo. Assim, não havia motivo para Jessa (Jemima Kirk) ser a fiel escudeira de Hannah (até porque ficou com o ex-namorado da amiga), ao mesmo tempo Shoshanna (Zosia Mamet) já estava de saco cheio delas, conforme deixou bem claro no penúltimo episódio.  Devo admitir que retomei a série somente na terceira temporada, somente após ver o filme Mobília Mínima (2010) e entender o jogo que Lena estabelecia nas ideias por trás de Girls. A jovem atriz que foi considerada a voz de uma geração pode não estar com essa bola toda, mas sabia exatamente como romper com paradigmas de uma série para jovens mulheres na TV. Fugiu das fórmulas batidas, das piadas fáceis, não teve medo de fazer chorar, gargalhar, chocar e virou do avesso as comparações com Sex & the City (também sobre um quarteto de amigas em Nova York, mas de outra geração). Nunca vou esquecer de Joan Rivers classificando as personagens como "a gorda, a feia, a bonita e a inglesa" e o melhor é que elas não estavam nem aí para os rótulos - eram apenas quatro garotas procurando a si mesmas entre erros e acertos, humanas como todas as outras.  

Girls (2012-2017) de Lena Dunham com Lena Dunham, Allison Williams, Adam Driver, Jemima Kirke, Zosia Mamet e Alex Karpovsky. ☻☻☻☻

domingo, 16 de abril de 2017

CATÁLOGO: A Praia

DiCaprio: desastre no paraíso. 

O livro A Praia fez de Alex Garland um dos escritores mais celebrados do finalzinho do século XX. Lançado em 1999, público e crítica ficaram impressionados na forma como o escritor escrevia em ritmo de música eletrônica e citava a narrativa de games em seu estilo. Era algo considerado tão envolvente e inovador que os direitos para o cinema logo foram disputados. Ao ser anunciado que Danny Boyle seria o responsável por levar a história para o cinema houve uma festinha entre os fãs do escritor! Embora o diretor de Trainspotting (1996) houvesse tropeçado em seu filme anterior (Por Uma Vida Menos Ordinária/1997, que marcou sua estreia em Hollywood), A Praia era tudo o que ele precisava para se redimir perante os fãs. Ajudava muito o fato de Leonardo DiCaprio, o astro do primeiro sucesso bilionário do cinema, no caso Titanic/1997, ter topado entrar no projeto e ter rendido toneladas de publicidade para o filme - já que era o seu primeiro projeto após ter se tornado febre mundial. No entanto, as confusões começaram já nas filmagens, quando o filme foi criticado pelo impacto ambiental causado pela produção, especialmente com relação às mudanças na natureza local para ficar mais adequada ao que era citado no livro. Isso era só o começo. Bastaram sair as primeiras resenhas para se colocar em dúvida se os melhores dias de Boyle haviam ficado para trás. O filme começa bem, mas justamente quando o filme cresce em sua tensão, ele opta por caminhos que o tornam bastante irregular, some isso ao impacto de DiCaprio fazendo um papel bem diferente do galã cultuado pelas jovens fãs (que ficaram surpresas como o uso de drogas no filme... parece que elas não faziam a mínima ideia dos filmes que ele fez antes de se tornar astro mundial). O resultado foi uma bilheteria pouco empolgante e críticas mornas. No filme, DiCaprio vive Richard, um mochileiro que procurar novas experiências na Tailândia e, graças a um doido (Robert Carlyle) e um casal de franceses (Guillaume Canet e Virginie Ledoyen), descobre uma praia paradisíaca. A tal praia fica numa ilha, escondida da civilização que serve para um grupo de traficantes plantarem maconha. É fugindo dos traficantes que o protagonista e o casal de amigos descobrem a comunidade meio hippie que vive na tal praia. Dentro daqueles limites, tudo parece um paraíso, que depende muito da liderança de Sal (Tilda Swinton) - que com suas regras rígidas começará a enfrentar alguns problemas no grupo após a chegada dos novos membros. Aos poucos o que era um lugar idílico torna-se cada vez mais infernal para os personagens, gerando desentendimentos, violência e mortes. Se antes o diretor sabia exatamente o que fazer com esses ingredientes (basta ver sua estreia em Cova Rasa/1994), aqui ele erra a mão e cai no ridículo algumas vezes (a pior é a parte em que Richard parece um personagem de Video Game chapado), além disso, um Leonardo DiCaprio descontrolado não ajuda muito na tarefa de nos vender as ideias mais birutas do roteiro. Embora o livro seja interessantíssimo e renda um filme com cenários naturais deslumbrantes (valorizados pela belíssima fotografia), o resultado é apenas assistível, tanto que considero este o pior filme de Danny Boyle,. Porém, devo admitir, que mesmo quando Boyle erra o resultado consegue ser mais interessante que muita porcaria que chega aos nossos cinemas toda semana. O melhor é que o filme inaugurou uma parceria que renderia frutos mais suculentos entre Boyle e Alex Garland (Extermínio/2002 e Sunshine/2007), além disso, Garland se aproximou cada vez mais do cinema - já prepara seu segundo filme na direção (o aguardado Anihilation com Natalie Portman e Oscar Isaac)

A Praia (The Beach/EUA-Reino Unido) de Danny Boyle com Leonardo DiCaprio, Tilda Swinton, Virginie Ledoyen, Guillaume Canet e Robert Carlyle. ☻☻

sexta-feira, 14 de abril de 2017

10+ Filmes Suecos

Apesar de poucos filmes suecos aparecerem nos cinemas brasileiros tenho a minha cota de favoritos. Quando se fala dos filmes da Suécia logo vem à cabeça os filmes de Bergman, mas evitei fazer uma lista repleta dos filmes do mestre cineasta e destaquei outros filmes que considero bem interessantes - e a maioria acho que pouca gente conhece. Além disso, vocês verão que o cinema sueco é um dos campeões de remakes em Hollywood! 

O mundo ama a trilogia de Stieg Larsson e quando o filme chegou ao cinema não poderia ser diferente! Sucesso nas telonas, a saga da hacker Lisbeth Salander (vivida com gosto por Noomi Rapace) e do jornalista Michael Blomkvist (Michael Nyqvist) ganhou uma abordagem agressiva que lembrava muito o cinema de David Fincher. Não por acaso o livro  ganhou uma nova versão americana, assinada pelo próprio Fincher. A vantagem da versão sueca é que ela se mostra bem mais enxuta (e redonda, já que os três filmes foram lançados). 

Indicado ao Globo de Ouro de filme estrangeiro e escolhido pela Suécia para disputar uma vaga de filme estrangeiro no Oscar (e ficou de fora), o drama Força Maior se tornou um daqueles filmes que motivam debates entre os amigos, graças a história da família que precisa lidar com a atitude do pai durante uma avalanche. A lavagem de roupa entre marido e esposa toma conta da sessão que incomoda e produz risos nervosos até o final sutilmente irônico. 

08 Cabeça Fora D'água (1993) de Nils Gaup
Um casal vai passar alguns dias numa pequena ilha. Um belo dia, a esposa está sozinha e recebe a visita do amante completamente bêbado! Ele resolve dormir no sofá. Ela também tira uma soneca, mas quando acorda o rapaz está morto! Diante da morte involuntária, resta ao casal livrar-se do corpo, mas nada é tão simples! Esta comédia de humor negro fez muito sucesso na Europa e recebeu uma refilmagem menos engenhosa estrelada por Cameron Diaz chamada Amor Alucinante/1996

07 O Som do Ruído (2010) de Ola Simonsson 
Um grupo de músicos revoltados com as convenções musicais na indústria de entretenimento começa a invadir espaços públicos e explodir "bombas musicais". Não entendeu? Eu explico! Este grupo de músicos anarquistas realizam manifestos em agências bancárias, em fios de alta tensão ou em uma via pública, sempre utilizando instrumentos inusitados que servem na construção das melodias. O filme pode ser visto como uma comédia policial, mas eu prefiro perceber com um dos musicais mais inventivos de todos os tempos. 

06 Nightwatch (1994) de Ole Bornedal
Outro filme que ganhou refilmagem em Hollywood, só que feita pelo mesmo diretor (O Principal Suspeito/1997, estrelado por Ewan McGregor e Patricia Arquette) conta a história de um rapaz que vai trabalhar num necrotério durante a madrugada e percebe que uma série de coisas estranhas acontecem ali. Seria sua imaginação ou realmente existe um necrófilo rondando seu turno? O suspense de tirar o fôlego é temperado com humor e algum erotismo - e conta com Nikolaj Coster-Wandau (o Jaime Lannister de Game of Thrones) estrelando seu primeiro filme no cinema. 

05 Todas as Coisas são Belas (1995) de Bo Widerberg
Lembro que eu tinha uns quinze anos quando tive a impressão que eu era a única pessoa que assistiu este filme indicado ao Oscar na televisão. Uns vinte anos depois, descobri um amigo que também assistiu e que não conseguia lembrar o nome de jeito nenhum... bastou ele citar  que era um filme europeu sobre o romance entre um adolescente e uma professora para eu lembrar do nome do marcante último filme de Bo Widerberg. 

Sucesso na Europa e indicado ao Oscar de filme estrangeiro o filme conta a história de um senhor que não acha mais graça na vida e quer cometer suicídio de qualquer jeito. Como não consegue, aos poucos ele é um tanto forçado a se relacionar com as pessoas ao seu redor  enquanto relembra sua própria história de vida. Simpático, divertido e emocionante, esta comédia de humor negro é uma delícia de assistir!

Um filme de vampiros diferente, estrelado por crianças, foi o filme escolhido pela Suécia para disputar o Oscar de 2009, mas acabou ficando de fora! Apesar do sucesso e das críticas, nós sabemos que a Academia não é chegada a filmes de terror - por melhores que sejam. O filme conta a história de amizade entre a vampira Eli e o menino Oskar, a identificação entre os dois é imediata (especialmente pela sensação de inadequação vivida por ambos). O filme recebeu a melhor refilmagem dos citados aqui (Deixe me Entrar/2010 de Matt Reeves). 

Todo mundo se emocionou com a história do menino Ingemar (o fofo Anton Glanzelius) que por conta de problemas na família foi morar os tios no interior. Lá Ingemar terá muitas mudanças em sua vida e terá pequenas aventuras cotidianas tratadas com muita poesia pelo diretor. O filme foi indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro e de direção, abrindo as portas de Hollywood para o diretor Lasse Hallstöm (que filma por lá até hoje). 

Como não colocar um filme de Bergman em primeiro lugar? Impossível! Este é o meu favorito e, acredite, ele é muito mais do que a genial cena do cavaleiro jogando xadrez com a morte. Moderno, metafórico, bem-humorado, irônico, brilhante! O Sétimo Selo é considerado por muitos a maior obra-prima de um diretor que fez oitenta filmes de 1946 até 2007. Com nove indicações ao Oscar (e nenhuma vitória, como pode?), Bergman se tornou um dos deuses do cinema pela forma sutil e imaginativa de filmar - e influenciou muita gente boa (Woody Allen, Todd Field, Almodóvar, Haneke...). Se ver o nome dele nos créditos, pode assistir!