sexta-feira, 31 de agosto de 2018

N@ Capa: Missões Impossíveis

A capa de agosto: os agentes da IMF. 

Grande sucesso nos cinemas ao redor do mundo, Missão Impossível - Efeito Fallout é o sexto longa da franquia inspirada na famosa série de televisão dos anos 1960. Quando assisti ao filme no cinema tive a impressão que Christopher McQuarrie se tornou finalmente um diretor interessante, sabendo exatamente onde colocar a câmera e criar a sensação de que está fazendo mágica numa telona! Além disso, teve um efeito nostálgico sobre mim, já que dos seis filmes protagonizados pelo agente Ethan Hunt (Tom Cruise), apenas este e o primeiro eu assisti no cinema. O segundo foi dirigido por Jon Woo e não me empolgou a sair de casa para ver (e não me arrependi, já que é o que eu menos curti). O terceiro feito por JJ Abrams ainda é o meu favorito, o quarto foi mais do mesmo e o quinto, tirando aquela cena centrífuga eu esqueci tudo. No meio de tantas aventuras com cenas de ação mirabolantes, fiquei imaginando a quantidade de agentes que já apareceram em parceria com Cruise Desde o terceiro filme, começou a ser criada uma cronologia mais nítida entre as tramas, o que tem mantido um certo grupo ao redor de Hunt e uma carga dramática mais interessante. No entanto, alguns personagens muito legais ficaram de fora ao longo do tempo. Em 1996, no primeiro filme, muitos agentes foram dizimados em menos de dez minutos (Kristin Scott-Thomas, Emilio Estevez, Jon Voight,  Ingeborga Dapkunaite, Valentina Yakunina e Marek Vasut), deixando Emanuelle Beárt ao lado do agente, que depois recebeu ajuda dos renegados vividos por Jean Reno e Ving Rhames (que aparece até hoje nas sequências) enquanto Henry Czerny pegava no pé de Hunt. No segundo filme, foi adicionada a personagem de Thandie Newton como escorregadio par do protagonista. Naquele tempo, era Billy Crudup que começou a dar ordens para o agente mais rebelde do IMF. No terceiro filme tivemos uma das equipes mais legais da franquia, com Kerri Russell precisando ser resgatada por um grupo que contava com Jonathan Rhys Meyers, a linda Maggie Q, Simon Pegg demonstrando que vinha para ficar após sua participação no filme anterior e Laurence Fishburne marcando presença. No filme seguinte, também conhecido como Protocolo Fantasma, Cruise incluiu outra beldade no elenco: Paula Patton (já imagino um filme que poderia juntar todas estas agentes em um spin-off), contando ainda com Josh Holloway, Tom Wilkinson (em uma participação especial) e Jeremy Renner se juntando à equipe. Renner também apareceu no filme seguinte, Nação Secreta dirigida por Christopher McQuarrie e incluiu Alec Baldwin no grupo de agentes, mas quem chamou atenção mesmo foi Rebecca Fergusson como uma misteriosa agente da CIA que abala o coração do protagonista. Fergusson voltou ao time em Efeito Fallout, que também trouxe Angela Bassett e Henry Cavill mostrando que o Superman fica ainda melhor quando faz cara de malvado.  

HIGH FI✌E: Agosto

Cinco filmes assistidos no mês de agosto que merecem destaque:

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PL►Y: Para Todos os Garotos que já Amei

Lana, Anna e Noah: sabor dos anos 1980. 

Lançado recentemente pela Netflix, o filme Para Todos os Garotos que já Amei da diretora Susan Johnson virou um sucesso entre o público adolescente. O melhor de tudo é que o filme consegue ser realmente divertido e, melhor ainda, traz ecos dos filmes adolescentes dirigidos por John Hughes nos anos 1980 (ao ponto do hit Gatinhas e Gatões/1984 ser citado várias vezes). O filme gira em torno de Lara Jean (Lana Condor), irmã do meio em uma família capitaneada pelo pai (John Corbett), viúvo que cuida das três filhas há algum tempo. O filme apresenta Lara como uma adolescente americana de classe média, sem grandes problemas e, como passatempo, ela gosta de escrever cartas para os garotos pelos quais se apaixonou. As cartas sinceras ficam dentro de um envelope, com nome e endereço de cada rapaz, mas guardadas dentro de uma caixa que ela considera segura. Na primeira parte a protagonista, que também é a narradora da história, apresenta os meninos pelos quais já teve algum interesse. Assim conhecemos Peter (Noah Centineo), Lucas (Trezzo Mahoro) e Josh (Israel Broussard) - este último é amigo de longa data de Lara, mas que namora a irmã mais velha da mocinha (que está prestes a ir para uma faculdade no exterior), é sobre o menino que aparecem os maiores impasses da menina. Depois que conhecemos um pouco da vida de Lara, sua rotina muda quando as carta são enviadas aos remetentes e ela precisa lidar com as paixões platônicas que são reveladas - e geram alguns pretendentes. O envio das cartas geram alguns desdobramentos interessantes e outros nem tanto, mas funciona principalmente pela simpatia do elenco e a maneira esperta com que a diretora conduz a trama. O elenco do filme é bastante carismático e funciona dentro, neste ponto, vale destacar a química da nipo-americana Lana Condor (que estreou como a Jubileu de X-Men: Apocalipse/2016) e seus parceiros de cena. O resultado é fácil de assistir, sem grandes surpresas e de uma doçura juvenil inofensiva - mesmo quando alguma situação mais polêmica se instaura, a resolução sempre devolve nossa fé nos personagens. Feito na medida para o público adolescente - e adultos saudosistas que ficaram órfãos dos filmes juvenis oitentistas, Para Todos os Garotos que Já Amei é um filme teen à moda antiga.

Para Todos os Garotos que Já Amei (To All the Boys I Loved Before/EUA-2018) de Susan Johnson com Lana Condor, Noah Centineo, Janel Parrish, Anna Cathcart, Andrew Bachelor, Trezzo Mahoro, Madeleine Arthur e Israel Broussard. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

§8^) Fac Simile: Amy Adams

Amy Lou Adams
Filha de americanos, ela nasceu na Itália por conta do pai que, a trabalho, levou a família para lá. Com cinco indicações ao Oscar e dois Globos de Ouro na estante, Amy é uma das atrizes mais respeitadas em Hollywood e muitos apostam que receberá um Oscar em breve. O repórter imaginário encontrou a atriz que aceitou responder cinco perguntas nesta entrevista que nunca aconteceu:

§8^) Desde 2006 que você não realizada um trabalho para a televisão, como foi este retorno com Sharp Objects da HBO?
Amy Foi algo bem diferente, principalmente por Jean Marc (Vallée, o diretor) não filmar como se fosse algo para a televisão. Havia uma atmosfera muito cinematográfica, muitas nuances que ficavam nas entrelinhas e que se revelavam aos poucos, mas posso dizer que foi exaustivo viver uma personagem tão densa por tanto tempo. Fora isso, o alcance da TV é muito maior do que de qualquer filme que já fiz, apesar de alguns amigos terem dormido assistindo. 

§8^) Mesmo em seus filmes como Lois Lane? Falando nisso, você acha que viverá a namorada do Superman novamente?
Amy Bem, os filmes da DC realmente chamam muita atenção do público e da mídia, mas em Sharp Objects eu tinha mais destaque na história e tal. Sobre voltar a interpretar a Lois, eu adoraria, mas está acontecendo muita coisa nos projetos sobre os heróis na Warner e eu não posso responder. Posso apenas dizer que gostaria que as coisas se ajeitassem da melhor forma possível, tenho certeza que ainda temos muita história interessante para contar sobre os personagens. Adoraria ver o desenvolvimento da relação dos dois personagens! São verdadeiros ícones da cultura pop.  

§8^) Marvel ou DC?
Amy Eu gosto de bons filmes! Se for interessante e divertido eu assisto qualquer um deles. Acho um tanto doentio toda briga que existe em torno destes personagens. Estamos falando de entretenimento, diversão, não consigo entender como a internet faz qualquer coisa virar uma disputa de quem odeia mais. Estas disputas tolas não me interessam e eu vejo o que me der vontade. Seria algo como dividir os filmes em Paramount, Universal, Focus Features... o que interessa são os filmes, as histórias...

§8^) E o Oscar, vem quando?
Amy Não faço a mínima ideia. Depois que não fui indicada por A Chegada (2016) eu fiquei sem entender muita coisa. Sei que prêmios nem sempre correspondem aos méritos do meu trabalho, mas por vezes não entendo muito bem o que está acontecendo. Sou uma atriz e me cabe somente atuar, o resto é consequência. Não fico no meio de uma produção dentro de uma banheira com água fria descabelada imaginando "este filme vai me valer um Oscar", as coisas simplesmente acontecem ou não.No entanto... faz um tempo que Michelle Williams, Julianne Moore e eu apostamos em quem seria mais indicada ao Oscar e não ganharia nenhum. A Juli ganhou na quarta vez, Michelle já tem quatro indicações e eu já tenho cinco! Entre as perdedoras eu estou ganhando! 

§8^) Existe uma pergunta que sempre fazem e que te aborrece?
Amy Sim... "E o Oscar, vem quando?" 

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

NªTV: Sharp Objects

Perkins, Amy e Patricia: bom elenco e sabor de pastel de vento. 

A minissérie Sharp Objects estreou com todo o peso que um dos programas mais esperados do ano poderia ter. Não bastasse ser uma produção da HBO, ainda era baseado em um cultuado livro de Gillian Flynn (autora das obras que deram origem ao sucesso Garota Exemplar/2014 e o mediano Lugares Escuros/2015) e contava com um elenco de respeito - começando por Amy Ryan na pele marcada da protagonista perturbada pelo passado e Patricia Clarkson como a mãe sufocante. A direção ficou por conta do canadense Jean Marc-Vallée, que além de seus filmes interessantes, tem no currículo o festejado Big Little Lies, produção da mesma HBO que foi o papa-prêmio lançado do ano passado e que, devido ao sucesso, ganhará mais uma temporada no ano que vem. No entanto, Sharp Objects estava longe de ter o mesmo clima do projeto anterior de seu diretor. Ao longo de oito episódios o que se viu foi uma trama lenta e arrastada, que muitas vezes se repetia numa espiral de referências sobre o passado da jornalista Camille (Ryan) e os crimes que a levam de volta para a sua cidade natal. A própria Camille carrega o peso da morte de sua irmã caçula por causas desconhecidas que abalou de vez o seu relacionamento com a mãe, Adora (Clarkson), e ambas não fazem muito esforço para se entenderem, pelo contrário, os diálogos entre as duas sempre se repetiam entre alfinetadas e farpas cheias de rancores e incompreensões. Esta tensão entre mãe e filha se repete em todos os episódios - e ganhou até mais destaque do que as evidências encontradas sobre o assassino das jovens locais. Completa ainda este delicado núcleo familiar, a irmão caçula de Camille, Amma (Eliza Scanlen) e o padrasto passivo, Alan (Henry Czerny). Tudo exalou mistério durante o programa. Cada olhar, cada comentário sobre o que se esconde debaixo da aparente tranquilidade da região, ninguém inspirou muita confiança, nem a tia falastrona (Elizabeth Perkins) ou o xerife (Matt Craven). A única ponta de sensatez que existia era o investigador Richard Willis (Chris Messina), que se envolve com Camille  enquanto tenta entender um pouco mais sobre o que está por trás dos crimes. Embora tenha um ponto de partida interessante, o último capítulo exibido ontem só consolidou a ideia de que o programa estava mais interessado nas relações doentias entre os personagens do que propriamente com o crime em si. As resoluções vieram sem clímax e de forma um tanto apressada, utilizando até mesmo o recurso de cena pós-crédito de menos de trinta segundos para explicar o que os oito capítulos não davam muita importância. Quem conhece a obra de Gillian Flynn já devia ter matado a charada desde o início (e as falas de Richard acusando de que a culpa é sempre da família só reforçaram a sensação de previsibilidade), mas os admiradores do programa ressaltavam que o importante eram os detalhes... bem, desde o primeiro episódio eu já sabia como a coisa terminaria. Acredito que Sharp Objects seria mais interessante se fosse um filme, mas esticado em oito episódios tudo me pareceu uma repetição cansativa. A atmosfera fúnebre criada por Vallée canibalizava a si mesma a cada episódio, mas amparada pelas boas atuações, fazia até o programa parecer envolvente. A sensação de que se assistia sempre a uma reprise era constante e me fez por vezes questionar o motivo de continuar acompanhando a trama. Vale ressaltar que ninguém questiona a qualidade dos programas da HBO, mas neste ano está difícil da emissora acertar. Now and Them estrelada por Tim Robbins e Holly Hunter foi cancelada antes mesmo da primeira temporada terminar (e eu a abandonei do terceiro episódio), a segunda temporada de Westworld também me pareceu bastante perdida em sua condução. A nova série Succession começou promissora, mas logo se perdeu em uma história que girava em círculos com personagens sem personalidades distintas no jogo de ambição de uma família milionária. O que todos estes programas tem em comum é a dificuldade em se desenvolver sem enrolar o espectador por uma temporada inteira, a sorte é que Sharp Objects acabou ontem e não tem chance de enrolar por mais uma temporada. 

Sharp Objects (EUA-2018) criada por Marti Noxon e dirigida por Jean Marc-Vallée, com Amy Adams, Patricia Clarkson, Chris Messina, Henry Czerny, Eliza Scanlen, Elizabeth Perkins, Matt Craven e Taylor John Smith. 

domingo, 26 de agosto de 2018

PL►Y: A Morte te dá Parabéns

Jessica: morrendo no dia do aniversário. 

Houve um tempo nos anos 1990 em que os filmes de terror se renderam aos serial-killers num tom bem humorado, quem demonstrou que a coisa funcionava foi o maior clássico deste subgênero: Pânico (1996) de Wes Craven, que misturava as regras dos filmes de terror doses cavalares de ironia e adolescentes um tanto atrapalhados. A ideia rendeu quatro filmes, uma série de TV e  uma várias produções que tentavam repetir a receita, mas que nunca alcançaram o mesmo sucesso. Algum tempo passou e chegou aos cinemas este A Morte te dá Parabéns, que nas devidas proporções, faz lembrar um pouco o tom das agruras vividas por Sidney Prescott, que se revelava um verdadeiro ímã para psicopatas. No entanto, existe uma novidade neste filme de terror voltado para adolescentes: sua personagem está presa no dia do aniversário em que é perseguida por um assassino mascarado que sempre a mata e a faz retornar ao início do dia mais uma vez. Fazer um personagem ficar preso a um loop temporal não chega a ser uma novidade (aqui no blog já teve até um Combo sobre este tema), mas não lembro de um filme de terror ter se apropriado da ideia. Outro fator que faz a diferença no filme é que a protagonista não é uma donzela indefesa, mas uma universitária americana egocêntrica e superficial que não precisa se esforçar muito para ser insuportável. Ela se chama Tree Gelbman (Jessica Rothe) e começa o filme sem saber muito bem o que aconteceu na noite anterior, mas sabe que está no quarto do personagem mais simpático do filme, Carter (Israel Broussard) - e mesmo assim ela não consegue expressar mais do que desprezo por ele. Durante o dia, ela dispensa um pretendente, lida com suas colegas de fraternidade igualmente insuportáveis e à noite se depara com seu algoz com máscara de bebê. Ela morre. Ela acorda faz tudo de novo e morre. Acorda e morre. Acorda e morre. Acorda e morre. O que não nos faz perder o interesse pelo filme são os detalhes que o roteiro começa a inserir para mostrar outros detalhes sobre aquele dia e os personagens que o habitam, o que insere mais humor na história e trabalha um pouco mais o misterioso assassino da história - e neste ponto vale tudo, os pretendentes desprezados, as colegas antipáticas, um assassino que fugiu da prisão... todos se tornam suspeitos. Curiosamente, o filme fica mais interessante da metade para o final, justamente quando poderia se tornar tediosamente repetitivo. Ele começa a fazer graça de sua estrutura e dos dilemas da personagem diante do dia mais longo de sua vida. A edição tem alguns momentos bem legais e o diretor Christopher Landon (do mais esperto Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi/2015) capricha em algumas cenas (aquela vertiginosa corrida pelo hospital, por exemplo), mas o resultado não consegue ser mais que um passatempo. 

A Morte te dá Parabéns (Happy Death Day/EUA-2017) de Christopher Landon com Jessica Rothe, Israel Broussard, Ruby Modine, Charles Aitken, Laura Clifton e Rachel Matthews. 

PL►Y: Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas

Rebecca, Luke e Bella: casal de três. 

Conheci a história de William Moulton Marston no livro Homens do Amanhã de Gerard Jones sobre a história dos comic books e seus autores. Achei bastante curioso que entre um bando de rapazes que escreviam sobre homens musculosos que combatiam a criminalidade houvesse um acadêmico de prestígio que inventou a super-heroína mais famosa de todos os tempos: a Mulher-Maravilha. Pesquisador no campo da psicologia, Marston foi um dos idealizadores do polígrafo e também ficou famoso por ser chegado a práticas sadomasoquistas, além de manter um relacionamento estável com duas mulheres ao mesmo tempo (com as quais teve quatro filhos). William e sua esposa, a também acadêmica Ellizabeth Holloway, admiravam estudos sobre mitologia e dizem que partiu dela a ideia de criar a famosa personagem. O casal viveu uma história de amor e poligamia quando conheceu a estudante Olivie Byrne, foi desta relação que nasceu a Mulher-Maravilha - na verdade, uma síntese da personalidade das duas mulheres pelas quais este homem era apaixonado. Embora bastante romanceado, o filme Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas conta a história destes personagens de forma bastante convencional, especialmente no que diz respeito aos preconceitos que enfrentaram perante a conservadora sociedade americana dos anos 1940. A narrativa da diretora Angela Robinson costura a história a partir de um interrogatório de Marston perante a comissão instaurada para avaliar a influência nociva que os quadrinhos provocavam nas crianças (e esta comissão realmente existiu). Os gibis da Mulher-Maravilha se tornaram um alvo perfeito para promover esta censura, não apenas pelos trajes da personagem, mas pelos seus métodos (amarrar homens e mulheres para que lhe dissessem a verdade) e alusões ao lesbianismo (uma ilha habitada somente por mulheres em que homens não eram bem vindos), misture isto ao estilo de vida de seu criador e você terá uma ideia de como os censores viam as histórias da personagem nascida na ilha Paraíso. É verdade que o filme pega leve ao contar a história de Marston e suas esposas (reza a lenda que o trio era bem mais hardcore do que aparece por aqui), mas o filme se beneficia do bom trabalho do elenco. Luke Evans faz um trabalho bastante convincente na pele de um homem inteligente e dotado de charme capaz de seduzir todas as mulheres que cruzarem o seu caminho, Rebecca Hall (que interpreta Elizabeth) também consegue transparecer inteligência e elegância na personagem e até a pouco conhecida Bella Heathcobe (que interpreta Olivie Byrne) está bem em cena, embora sua personagem seja apresentada de forma bem menos interessante. Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas é bem mais leve do que eu imaginava, tem um trabalho de reconstituição de época bem feito e uma fotografia que poderia ser mais exuberante, não é de encher os olhos, mas serve para resgatar um ilustre desconhecido que fez história no mundo das HQs. 

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (EUA-2017) de Angela Robinson com Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcobe, Connie Britton e Oliver Platt. ☻☻☻ 

PL►Y: O Autor

Javier: personagens da vida real. 

Álvaro (Javier Gutiérrez) trabalha em uma repartição pública há tempos, mas tem vontade mesmo é de se tornar um escritor reconhecido. Não se trata de escrever um livro que venda milhões de cópias e  que se torne um best-seller, trata-se de algo muito mais ambicioso e complicado: ele quer ser reconhecido por sua qualidade literária. Para alcançar este objetivo ele frequenta um curso de escritores há três anos, mas nunca chama atenção do professor, Juan (Antoino de La Torre), que considera suas histórias desinteressantes e sem alma (e desculpe se houver alguma redundância nisto). Para piorar, a esposa de Álvaro acaba de ser reconhecida como escritora ao escrever um verdadeiro sucesso editorial - cuja história ele despreza profundamente. Diante de uma guinada involuntária em sua vida, Álvaro irá investir em sua carreira de escritor, irá se mudar para outro lugar e se dedicar à uma obra capaz de trazê-lo reconhecimento mundial! O problema é que lhe falta inspiração para tanto, ou, pelo menos, faltava até que ele comece a perceber em seus novos vizinhos o material necessário para construir uma história envolvente. Assim, ele começa a ter mais contato com a síndica do prédio (Adelfa Calvo), com o casal de vizinhos estrangeiros (Adriana Paz e Tenoch Huerta) e um senhor que precisa de um novo parceiro para jogar xadrez (Alfonso González), o problema é que fazendo uma descoberta aqui, xeretando um pouco ali, Álvaro começa a manipular seus vizinhos para que diante das ações deles ele construa o seu livro. É pela imprevisibilidade dos personagens que o roteiro se move de forma interessante, criando suspense, romance, humor e um certo drama numa verdadeira brincadeira sobre o processo criativo. O diretor Manuel Martín Cuenca filma bem e tem ideias visuais que torna o filme interessante visualmente, seja utilizando as sombras de um casal na parede (que pode parecer uma alusão à Caverna de Platão ou uma inspiração cinematográfica em Janela Indiscreta/1954 de Hitchcock) ou até mesmo inventando cenas de nudez pouco glamourosas. Quanto ao trabalho com atores, todos estão bem em cena, especialmente Javier Gutiérrez que constrói um protagonista bastante interessante, que transita pelos personagens como uma espécie de fantasma alimentado por suas histórias - mas que não faz a mínima ideia dos caminhos pelos quais seus personagens seguirão. Pelo bom trabalho, o ator ganhou o prêmio Goya (o Oscar espanhol) de melhor ator - e sua parceira Adelfa Calvo, levou para a casa o de atriz coadjuvante pela outra atuação que se destaca no filme. É verdade que em alguns momentos o filme derrapa ao insistir em usar o rancor do protagonista por sua esposa de forma superficial, mas a forma envolvente como a história é construída faz do filme uma obra bastante interessante. 

O Autor (El Autor/ Espanha-México) de Manuel Martín Cuenca com Javier Gutiérrez, Adelfa Calvo, Adriana Paz, Antonio de La Torre e Tenoch Huerta. ☻☻☻

domingo, 19 de agosto de 2018

MOMENTO ROB GORDON: Laura Dern na TV

Filha dos atores Bruce Dern e Diane Ladd, Laura Dern é uma das atrizes mais queridas de Hollywood. Presente em várias produções, ela está entre as favoritas de David Lynch e Steven Spielberg - o que só demonstra a versatilidade da atriz. Com duas indicações ao Oscar (As Noites de Rose/1991 e Livre/2014), Laura também faz bonitos em produções para a televisão - que já lhe renderam 7 indicações ao Emmy (ela ganhou um) e cinco ao Globo de Ouro (ela ganhou três, ou quatro se contarmos o Miss Golden Globe de 1982). Seu novo sucesso na telinha é O Conto (2018), pelo qual foi indicada ao Emmy e deve aparecer no Globo de Ouro também, este Momento Rob Gordon é para lembrar os trabalhos mais importantes desta grande atriz na televisão

05"Twin Peaks - A 3ª Temporada" (2017)
David Lynch andava quieto no canto dele fazia muito tempo e quando decidiu retomar suas ideias de Twin Peaks vinte e seis anos depois da segunda temporada, ele não poderia deixar uma de suas musas de fora. Com o papel da secretária e confidente do agente Cooper, Laura brilhou na pele de Diane Evans, sua quarta parceria com um dos diretores mais imprevisíveis de todos os tempos. 

04"Recontagem" (2008)
O cinema não estava dando muita bola para Laura quando ela interpretou a secretária do Estado da Flórida, Katherine Harris. A republicana ficou famosa por ser a responsável por solicitar a recontagem dos votos nas eleições americanas para certificar a vitória de George W. Bush sobre Al Gore na eleições do ano 2000. O filme de Jay Roach produzido pela HBO foi indicado a quatro Globos de Ouro e levou o de melhor atriz pelo ótimo trabalho da atriz. Laura também foi indicada ao SAG pela atuação. 

03"Enlightned" (2011-2013)
Dern voltou a trabalhar em uma produção da HBO nesta série criada por ela mesma e Mike White. Ela vive Amy Jellicoe, uma mulher autodestrutiva que promete a si mesmo que terá uma vida mais zen em casa e no trabalho - só que isto não é tão simples como ela imagina. A série lhe rendeu outro Globo de Ouro e uma indicação ao Emmy. Um dos destaques da série é que mamãe Diane Ladd atua mais uma vez como mãe de Laura (o que aconteceu inúmeras vezes até hoje). 

Tudo indica que Laura estará nas premiações televisivas mais uma vez por seu ótimo trabalho em O Conto, onde ela vive a diretora Jennifer Fox relembrando de um relacionamento abusivo vivenciado quando ela tinha apenas treze anos de idade. Pelo trabalho Laura já foi indicada ao Emmy e deve aparecer no Globo de Ouro mais uma vez. Este é seu terceiro trabalho para a HBO. 

Dá para perceber que a atriz é uma das que mais gostam de projetos junto à HBO, ano passado ela recebeu vários prêmios e elogios por viver Renata Klein, forte candidata à megera da vizinhança nesta minissérie que fez tanto sucesso que ganhará uma segunda temporada no ano que vem. Na pele de Renata, Laura consegue ser glamourosa, sexy e ameaçadora em medidas exatas, construindo uma personagem complexa e irresistível. Pelo trabalho ela levou para casa mais um Globo de Ouro e seu primeiro Emmy para casa! 

NªTV: O Conto

 
Laura e Isabelle: o passado revisitado. 

O Conto foi produzido pela HBO e lançado ontem pelo canal aqui no Brasil  no entanto, o filme já era bem falado em vários sites de cinema pela coragem e interpretação de Laura Dern num papel complicado. O filme tem traços autobiográficos sobre a vida da própria diretora, Jennifer Fox, que também assina o roteiro com momentos bastante desagradáveis. O filme conta a jornada pessoal de Jenny Fox (Laura Dern), documentarista renomada que um dia recebe um conto escrito por ela mesma quando tinha treze anos de idade. O texto foi enviado por sua mãe (Ellen Burstyn) que ficou tão preocupada quanto irritada com o que leu. Madura e bem resolvida, aos 48 anos a personagem mantem um relacionamento sério com o noivo, Martin (o rapper Common que já provou ser um ator convincente faz tempo), mas fraqueja diante das lembranças que o tal conto a faz reviver. Ele trata de sua relação com a instrutora de hipismo, Senhora G (Elizabeth Debicki quando jovem) e seu professor de corrida, Bill (Jason Ritter). G e Bill eram amantes e Jenny tinha apenas treze anos quando se tornou mais do que cúmplice daquele relacionamento. Sua escrita apaixonada revela muito mais do que amizade e admiração pelos dois, de forma que a professora escreve em seu parecer que se aquela história realmente aconteceu, significa que ela sofreu abusos por parte do casal. Jenny começa então a revisitar a própria história, percebe como tudo aquilo aconteceu quando ela era bem mais jovem do que lembrava (e com um belo trabalho de Isabelle Nélisse que vive a personagem aos treze anos). Jenny procura cartas e pessoas de seu passado e relembra que realmente aquelas pessoas lembradas com tanto carinho eram bem diferentes do que ela imaginava. Enquanto diretora, Jennifer Fox mostra-se bastante corajosa ao contar este resgate da própria história e o faz com um equilíbrio impressionante entre o carinho que sentia por aquelas pessoas e os conflitos que vive ao perceber que ela era apenas uma menina quando se envolveu em um jogo de sedução com um casal várias décadas mais velho - o que afetou definitivamente sua vida amorosa desde então. Fox utiliza alguns recursos narrativos que funcionam muito bem, como o confronto entre a personagem na juventude com a da vida adulta, há momentos em que os personagens olham para a câmera  e respondem perguntas como se estivessem em uma entrevista, além de contar com um trabalho de edição que mescla passado e presente com grande eficiência. Se Laura Dern está mais do que convincente em cena (guardando sua catarse para o final), ela está muito bem acompanhada por Elizabeth Debicki que confere um charme tão sedutor quanto enigmático à Srª G do imaginário de Jenny (e que poderia ter aquela imagem somente em suas memória, já que quando mais idosa, G é vivida por Frances Conroy que investe em uma versão bem menos elegante - e muito mais entediada - da mesma personagem). Jason Ritter também funciona como Bill, com sua imagem de homem adulto com mente de adolescente inconsequente e aparência tão gentil quanto atraente. Estas ambiguidades são muito bem trabalhadas pela diretora, que emoldura o passado em uma cor dourada que aos poucos se torna mais sombria especialmente quando aborda a vida sexual entre a pequena Jenny e Bill (em cenas bastante incômodas, mesmo se notando a substituição da atriz mirim por uma dublê maior de idade). O Conto é um filme que surpreende pela ousadia e pela coragem, mas também pela forma como a diretora aborda sua história optando por um caminho não amargo, mas doloroso de autoconhecimento, sem perder de vista quem é a vítima nesta história. 

O Conto (The Tale/EUA-2018) de Jennifer Fox, com Laura Dern, Elizabeth Debicki, Isabelle Nélisse,  Jason Ritter, Ellen Burstyn, Common e John Heard. ☻☻☻☻

PL►Y: Upgrade

Logan: o segundo cérebro em um chip. 

O diretor Leigh Whannel faz parte da galera que fez de Jogos Mortais (2004) um sucesso ao redor do mundo. Assinando a produção da série sanguinolenta, o rapaz (que antes era ator) fez muito dinheiro e embarcou até em outra franquia de horror cinematográfica: Sobrenatural (2010). Curiosamente, Whannel dirigiu apenas um filme (Sobrenatural: A Origem/2015) antes desta ficção científica chamada Upgrade. Filmado na Austrália, a história é ambientada em um futuro próximo, em que a tecnologia toma recebe cada vez mais espaço na vida da humanidade. É neste cenário que conhecemos Grey (Logan Marshall Green, sempre parecido com Tom Hardy), um homem comum que gosta de passar o tempo fazendo reparos em seu carro não eletrônico. Ele vive feliz ao lado da esposa, Asha (Melanie Vallejo) que trabalha em uma grande corporação tecnológica. Em uma noite eles vão visitar um velho amigo de Grey, Eron Keen (Harrison Gilbertson), recluso visionário de apetrechos futuristas. Na ocasião, Keen apresenta ao amigo uma espécie de chip que funciona como uma inteligência artificial capaz de ser acoplada ao corpo humano, uma espécie de segundo cérebro  (ou seria um sistema operacional "orgânico"?) capaz de fazer o corpo humano explorar todas as suas possibilidades. Grey considera a ideia absurda e um tanto assustadora, mas o encontro com um grupo de bandidos assassinos o fará mudar de ideia. Grey aceita instalar o chip em seu próprio corpo e segue em busca dos malfeitores, o que faz o filme soar como um Desejo de Matar (1974) hi- tech misturado com filme de origem de super-herói. Na concepção do filme o que chama mais atenção é a forma diferenciada como Whannel trabalha a edição, dando ao personagem movimentos quase robóticos - com efeito ainda mais interessante nas cenas de luta. Obviamente que existem alguns segredos na história (que os mais espertos irão captar desde o início), momentos em que o diretor mata a saudade de filmes de terror (há um bocado de sangue por aqui) e ainda mistura referências de vários filmes do gênero, mas funciona graças à interação de Grey com Stem, a tal I.A. que acoplada ao seu corpo (com belo trabalho vocal de Simon Maiden, que faz lembrar o antológico HAL de 2001 - Uma Odisseia no Espaço/1968). Visualmente o filme poderia ser um pouco mais caprichado (a direção de arte tem o maior jeitão de filme B - e aquele carro eletrônico parece feito de papelão - e a afetação do provável vilão do filme cria o maior jeitão de trash em alguns momentos), sorte que o herói vivido por Logan e a detetive de Betty Gabriel (que depois de Corra!/2017 merece a nossa atenção) sempre conseguem injetar credibilidade. Apesar dos tropeços, Upgrade tem um bom ritmo e ideias interessantes, mas chama atenção mesmo é por demonstrar que seu diretor está disposto a não ficar preso somente a um gênero cinematográfico. 

Upgrade (Australia/2018) de Leigh Whannel com Logan Marshall Green, Betty Gabriel, Harrison Gilbertson, Melanie Vallejo e Benedict Hardie. ☻☻☻

sábado, 18 de agosto de 2018

PL►Y: O Aviso

Raúl: enigma temporal. 

Lançado por aqui pela Netflix, o filme espanhol O Aviso investe em um suspense que relaciona assassinato com uma espécie de fórmula temporal que se decifrada pode salvar vidas. A trama começa com dois amigos que vão a um mercado e um dele fica gravemente ferido por uma tentativa de assalto. Para aumentar o drama, o personagem estava prestes a pedir a namorada em casamento quando o fato aconteceu. Visivelmente abalado com o acontecimento, o amigo tenta descobrir quem foi o autor do crime, mas descobre mais do que isso, que aquele local é marcado por situações semelhantes dentro de um determinado intervalo de tempo e envolvendo um grupo de pessoas com características bastante específicas. Fatores como idade, dia e ano se mostram entre as variáveis e deixam o pacato Jon (Raúl Arévalo) cada vez mais obcecado em descobrir o que está por trás desta situação. Obviamente que ninguém leva muito a sério a sua teoria e prejudica muito o fato de que a a tensão afete ainda mais alguns problemas psiquiátricos que o personagem possui. Paralelo a isso conhecemos a história do pequeno Nico (Hugo Arbues) que é perseguido na escola e amparado pela mãe (Belén Cuesta) sempre que necessário, só que ela nem imagina que a história de Nico irá se cruzar com a de Jon no meio da trama. O diretor catalão Daniel Calparsoro demonstra grande empenho na construção do suspense e o tempo inteiro dá algumas dicas para o espectador do que está acontecendo (uso de filtros diferenciados, alguns efeitos de maquiagem e figurino), no entanto, o filme perde um pouco de fôlego quando se preocupa mais em desvendar o mistério do que aprofundar as relações entre os personagens - que em alguns momentos escorregam no melodrama. A sorte é que a engenhosidade da história e a forma como ela é contada prende a atenção, explorando um pouco a dualidade de algumas ações. O Aviso não se tornará um clássico do gênero, mas poderá ser lembrado pelo enigma que constrói, porém, o problema maior do filme acaba sendo o desfecho, que pode até ser otimista, mas coloca em dúvida o segredo que demorou tanto tempo para construir. Afinal, seria coisa da cabeça de Nico ou ele estava realmente certo? 

O Aviso (El Aviso / Espanha - 2008) de Daniel Calparsoro com Raúl Arévalo, Belén Cuesta, Hugo Arbues, Aura Garrido e Aitor Luna.
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PL►Y: Almas Secas

Julia e Juno: amigas em busca de problemas. 

A inglesa Juno Temple (29 anos) e Julia Garner (24 anos) são duas  atrizes talentosas de Hollywood. Juno atua desde os onze anos e já tem um currículo respeitável entre filmes sucesso de bilheteria e produções independentes, em ambos costuma aparecer como uma jovem rebelde e um tanto perdida. Julia Garner atua desde os dezesseis e aos poucos se torna um rosto conhecido em filmes indies. No entanto, falta às duas encontrar personagens que consigam explorar mais o potencial que possuem. Este Almas Secas traz as duas como duas garotas que são traumatizadas pela morte de uma amiga e a partir daí o mundo das duas sai do eixo - e elas se envolvem em situações que complicam ainda mais suas vidas, assim, a história de Iris (Temple) e Catherine (Garner) perde o rumo sem muito esforço. Usando drogas lícitas e ilícitas, Iris planeja se tornar escritora e exorcizar seus fantasmas com o uso da literatura, mas no meio do caminho ela começa a ter um caso com um professor casado, Gerald (Alessandro Nivola, um bom ator sempre desperdiçado). O relacionamento entre os dois parece pretexto para o filme começar a investir ainda em cenas e nudez e sexo, colocando algum tempero picante em uma história bastante insossa. Já Catherine se envolve com um rapaz mais agressivo, que também precisa aprender a lidar com o acidente que vitimou a tal amiga. O sexo passa a ter grande importância na vida das personagens, mas faltou lapidar o roteiro para que as situações não ficassem um tanto gratuitas na tela. Fica evidente que a diretora Liz Garcia optou por um distanciamento das personagens para evitar qualquer julgamento das ações da dupla, só que no meio do caminho, ela também distanciou as personagens do espectador, passando a impressão que as duas estão sempre procurando complicar ainda mais as vidas e só para reclamar de suas angústias depois. É uma pena que Almas Secas se perca numa narrativa pouco envolvente sobre personagens que interessam cada vez menos. Quando o filme termina fica aquela sensação que, assim como as personagens, ele não fazia a mínima ideia de qual caminho seguir. 

Almas Secar (One Percent More Humid/EUA-2017) de Liz W. Garcia com Juno Temple, Julia Garner, Alessandro Nivola, Olivia Luccardi, Maggie Siff, Phillip Ettinger e Jack DiFalco.

Combo: Autismo

5 - O Nome dela é Sabine (2007) Entre os anos 1980 e 1990 a atriz Sandrine Bonnaire era uma das estrelas mais famosas do cinema francês. Ela ganhou dois prêmios César e foi indicada outras seis vezes ao longo da carreira, o que pouca gente sabia era que Sandrine tinha uma irmã mais nova, Sabine, que foi diagnosticada com autismo. Foi justamente a história da irmã que a motivou a estrear como diretora neste documentário que mistura 25 anos de vídeos de família, comentários da atriz e uma crítica ao tratamento que os pacientes com este distúrbio neurológico podem sofrer em tratamentos com profissionais despreparados. 

4 - Mary & Max: Uma Amizade Diferente (2009) Esta animação australiana conquistou vários fãs pela forma sensível como apresenta a amizade de uma garota australiana com um americano de 44 anos que possui Síndrome de Asperger. Vivendo em continentes diferentes, os dois se correspondem através de cartas e ajudam um ao outro a lidar com a solidão. Entre momentos cômicos, comoventes e sombrios, o filme apresenta uma abordagem bastante madura sobre as dificuldades dos personagens. Com vozes de Phillip Seymour Hoffman e Toni Collette, a animação do oscarizado Adam Elliott é um grande acerto. 

03 Gilbert Grape (1993) Leonardo DiCaprio foi indicado ao Oscar pela primeira vez como coadjuvante por seu excelente trabalho como o jovem Earnie, o irmão autista do Gilbert Grape (Johnny Depp). Leo está perfeito, nos gestos, no olhar, na forma de falar, ele consegue criar um personagem realmente cativante em uma família que tem lá sua cota de problemas de relacionamentos para lidar. O filme de Lasse Hallström é uma delícia de assistir e muitos consideram até hoje que traz a melhor interpretação do ator em toda sua carreira. 

02 Temple Grandin (2010)
Produzido pela HBO este telefilme ficou muito famoso pela atuação de Claire Danes que ganhou todos os prêmios daquele ano pelo papel real de Temple Grandin, uma mulher que driblou as dificuldades e se tornou uma das maiores pesquisadoras dos Estados Unidos. Seus trabalhos foram revolucionários para os trabalho no alívio do estresse de crianças autistas, além de ter realizado contribuições relevantes na criação de gado. Com o apoio da família e dos professores,  a trajetória de Temple é um exemplo não apenas de superação, mas também na construção de práticas inclusivas. 

01 Rain Man (1988) Ganhador do Oscar de Melhor Filme, diretor (Barry Levinson), ator (Dustin Hoffman) e roteiro, o filme concorreu ainda a outras quatro estatuetas ao contar a história da relação entre dois irmãos. Um é o ambicioso Charlie (Tom Cruise), que descobre ter um irmão, Raymond (Hoffman) que passou anos afastado da família em uma instituição de tratamento. Com uma herança em jogo, os dois irão passar bastante tempo juntos e Charlie aprenderá a ter outro olhar sobre a vida na companhia de Ray. O filme tornou-se um marco na abordagem do tema em Hollywood. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

PL►Y: Sei que Vou te Amar

Luke e Rhys: irmãos em conflito. 

Foi com grande surpresa que me deparei com este filme na televisão durante o final de semana. Realizado na Austrália e com participação da estrela Toni Collette, o filme não foi lançado nos cinemas brasileiros e nunca foi muito divulgado, ou seja, apenas descobri sua existência dez anos após seu lançamento. Embora o título possa ser confundido com o clássico do cinema brasileiro dirigido por Arnaldo Jabor (lançado em 1986), o filme não aborda o relacionamento entre um casal, mas entre dois irmãos. Thomas (Rhys Wakefield) e Charlie (Luke Ford) são os filhos de Simon (Erik Thomson) e Maggie (Toni Collette) que são novos na cidade por conta do trabalho do patricarca que é militar. Charlie é o primogênito e foi diagnosticado com autismo severo, ao ponto de ter parado de falar quando ainda era muito pequeno, já Thomas está atravessando as inseguranças dos dezesseis anos e considera que o comportamento do irmão é um fator que pode prejudicar a popularidade entre os colegas. Embora Charlie sempre esteja disposto a colaborar nos cuidados com o irmão, existem momentos em que Thomas está visivelmente insatisfeito em ter que tomar conta dele. A situação tende a se agravar com a gravidez da mãe, que sendo considerada de risco, deixará os três homens da casa ainda mais ocupados em manter a rotina da casa. A relação entre os irmãos tende a ficar mais tensa quando Charlie se aproxima de Jackie (Gemma Ward), que surpreende ao tenta fazer com que o rapaz tenha um olhar mais carinhoso e compreensivo com o irmão. Sei que Vou Te Amar tem o maior jeito de comédia adolescente, mas passa longe disso, embora o diretor opte sempre pela leveza em tratar as situações preparadas pelo roteiro. O tom é muito semelhante a de vários filmes australianos, o que só confirma que o cinemão de lá tem um estilo bastante identificável e que se adapta bem entre momentos divertidos, tensos e emocionais. O filme é praticamente um longo ajuste no relacionamento entre os dois irmãos e não deixa de apontar um olhar inclusivo sobre as relações, especialmente pela forma com que Charlie é capaz de perder a razão ao lidar com as particularidade do irmão e reconhecer as  semelhanças entre os dois. É um filme que passaria fácil na Sessão da Tarde e que chamaria atenção principalmente pelo trabalho de Luke Ford que recebeu alguns prêmios de coadjuvante em sua terra natal pelo trabalho como o irmão autista. O papel de Toni Collette é pequeno, mas tem alguns momentos de destaque em meio aos conflitos dos filhos. Vale destacar que o protagonista, Rhys Wakefield (embora aqui não faça nada demais) já atua em Hollywood e apareceu no remake sem sal de Amor sem Fim (2014) e estará na aguardada terceira temporada de True Detective prevista para o ano que vem na HBO 

Sei Que Vou Te Amar (The Black Balloon / Australia - 2008) de Elissa Down com Rhys Wakefield, Toni Collette, Luke Ford, Gemma Ward e Erik Thomson. ☻☻☻

Na Tela: Você Nunca Esteve Realmente Aqui

Phoenix: mais um esquisito para a coleção. 

A escocesa Lynne Ramsay começou a fazer curtas em 1996 e desde o seu longa de estreia (Ratcatcher/1999) deixou claro que não estava com vontade de realizar filmes amenos. Foi por conta desta característica que ficou famosa com seu terceiro longa metragem, Precisamos Falar Sobre Kevin (2011) - um dos filmes mais impressionantes da década. Nos seis anos que separam a obra sobre a relação de uma mãe com o filho psicopata e este seu novo filme, o fã clube de Ramsey cresceu consideravelmente. Você Nunca Esteve Realmente Aqui foi exibido no Festival de Cannes no ano passado e saiu de lá com o prêmio de melhor ator para Joaquin Phoenix - que provavelmente terá chances no Oscar se o filme for bem trabalhado depois de sua pífia distribuição nos Estados Unidos. Joaquin está realmente bem no filme em mais um personagem sombrio. O filme nunca conta direito a sua história, restando ao espectador juntar "pedaços" do seu passado em flashes que perpassam a narrativa. Tudo indica que ele tem alguns traumas de infância e do período em que combateu em alguma guerra. Some a isto seu instinto suicida, o corpo marcado, o rosto que parece uma máscara entre barba e cabelo, além do corpo truculento que já não tem o mesmo vigor da juventude. Ele se chama Joe, um homem que faz o serviço sujo para quem não quer sujar as mãos. Seus princípios nunca ficam muito claros, ao contrário, suas ações costumam ser camufladas por uma certa indiferença que por vezes cede lugar para uma catarse pessoal perante um mundo desacreditado. O único ele de Joe com sua humanidade  é o fato dele morar com a mãe idosa (mas isto não impede que exista uma brincadeira com a famosa cena de Psicose/1960, mas que também emula as ambiguidades do relacionamento entre mãe e filho presentes no clássico de Hitchcock). Tudo desanda quando Joe recebe mais uma tarefa e seu mundo desaba - e a parte mais interessante da narrativa são os minutos em que a diretora apresenta este desmoronamento. Baseado no livro de Jonathan Ames, Lynne Ramsey sempre busca o complicado equilíbrio entre o brutal e o tom intimista, em alguns momentos constrói cenas belíssimas, em outro se perde no exercício estilístico que mantem um ritmo oscilante em toda duração do filme. Por tentar apresentar o protagonista por meio de sugestões, o espectador sempre busca referências que possam dar sentido à história por trás do que se vê na tela, mas fica a sensação de que faltam alguns pedaços. Tudo poderia ser amarrado no desfecho, mas ele prefere apresentar uma alucinação em que o mundo só demonstra sua indiferença diante da vida ou da morte. Você Nunca Esteve Realmente Aqui é um exercício narrativo interessante com um bom ator, mas não chega a empolgar.

Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here/Reino Unido/França/EUA - 2018) de Lynne Ramsay com  Joaquin Phoenix, Judith Roberts, Elaterina Samsonov e Alessandro Nivola. ☻☻☻

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

4EVER: Aretha Franklin

25 de março de 1942 ✰ 16 de agosto de 2018

Nascida em Memphis nos Estados Unidos, Aretha Louise Franklin se tornou um ícone da música. Cantora e compositora de canções que transitavam entre o gospel, R&B, soul,  pop, rock, jazz e blues, a voz da diva sempre impressionava. Aretha era filha de um pastor itinerante da Igreja Batista e começou a cantar na igreja de seu pai aos dez anos de idade. A menina cresceu, sendo reconhecida como uma das maiores vozes da história da música! Ela é a personalidade mais premiada na história do Grammy, com dezoito prêmios ao longa da carreira (incluindo um especial pelo conjunto da obra). Aretha também foi a primeira mulher a entrar para o cobiçado Rock'n Roll Hall of Fame em 1986. Com várias canções que se tornaram hits, o maior sucesso de sua carreira talvez seja Respect (lançada em 1967), que se tornou um hino feminista na busca por direitos iguais e respeito - e ela tinha apenas 24 anos quando lançou a canção, o que foi considerado por muitos algo revolucionário. A cantora  faleceu em decorrência de um câncer no pâncreas diagnosticado em 2010.

sábado, 11 de agosto de 2018

BREVE: Thoroughbreds

Olivia e Anya: amigas do mal. 

Quando chegou aos cinemas americanos em março deste ano, Thoroughbreds já havia conquistado a crítica em sua passagem por vários festivais, realmente o trabalho do estrante de Cory Finley impressiona pela segurança em construir uma atmosfera bastante particular, que mistura suspense, drama, filme teen e verniz de humor sinistro. A história parte do reencontro entre duas amigas, Lily (a ótima Anya Taylor-Joy) e Amanda (a também ótima Olivia Cooke) que depois de um tempo sem se encontrarem, tem um encontro armado pela mãe de uma das duas. Desde o início, Amanda percebe que Lily está diferente, um pouco distante e indiferente - e ela está realmente certa já que a amiga lhe confessa que cansou de fingir emoções. Amanda deixa a amiga assustada ao afirmar nunca sentiu culpa, alegria, remorso ou empatia por ninguém. Aumenta o estranhamento a capacidade de Amanda perceber que algo incomoda Lily, ou, para ser mais específico, a presença do padrasto Mark (Paul Sparks). Não demora muito para que as duas organizem um plano para se livrar dele - o problema é colocar em prática (com a ajuda de um traficante vivido pelo falecido Anton Yelchin). Na execução deste plano, o diretor demonstra bastante firmeza e sempre soa irônico quando priva o espectador de ver toda a violência que a história possui. Existem cenas com sangue, ferimentos e fotos brutais que são mencionadas (e nunca mostradas), toda esta discrição ressalta ainda mais como por trás de todo aquele universo esconde algo bastante desagradável. Lily e Amanda são de famílias com alto poder aquisitivo, estudaram em escolas caras (não por acaso, a tradução do título original é "puro-sangue", uma alusão ao cavalo da história e ao prestígio familiar das meninas), mas a todo instante existem pontos que só ressaltam como tudo aquilo é postiço (exemplo mor é a mãe de Lily, Cynthia vivida por Francie Swift - ela sorri o tempo inteiro, mas em tempo algum consegue parece sincera). Bem escrito, o roteiro é repleto de diálogos cortantes que são embalados por uma trilha sonora com base em ruídos e sons dissonantes (que por vezes parecem gritos, suspiros ou gemidos). Tão interessante quanto ácido, o resultado parece um filme adolescente imaginado pelo grego Yorgos Lanthimos que depois dos estranhos (Dente Canino/2009 e O Lagosta/2015 nos apresentou um adolescente diabólico em O Sacrifício do Cervo Sagrado/2017), no entanto, o humor do novato Cory Finley consegue ser bem menos sisudo. Finley é um nome para se ficar de olho nos próximos anos - assim como Anya e Olivia, que estão cada vez melhores! 

Thoroughbreds (EUA/2018) de Cory Finley com Anya Taylor-Joy, Olivia Cooke, Anton Yelchin, Paul Sparks e Francie Swift. ☻☻

PL►Y: Verão 1993

Laia: presença magnética. 

O candidato espanhol para uma vaga no Oscar de filmes estrangeiro em 2018 foi exibido em poucas salas no Brasil no final do ano passado e, para quem conhece a fama do cinema espanhol, o singelo Verão 1993 pode surpreender com a história da menina órfã que sai da cidade para morar com os tios no campo. A narrativa não chega a ser exuberante e investe em poucos diálogos, preferindo uma abordagem quase documental do que está acontecendo naquela família que se forma pelos desvios do destino. A diretora Carla Símon opta por uma direção quase invisível, onde a câmera é uma intrusa naquele universo captado pelos olhos da pequena Frida (a impressionante Laia Artigas), uma garota de seis anos que passa a ser cuidada pelo tio (David Verdaguer) e pela esposa dele (Bruna Cusí) após uma perde significativa. Em sua nova casa, Frida ainda ganha a companhia de Anna (a fofa Paula Robles) sua prima de quatro anos. Depois que somos apresentados aos personagens, o roteiro e a direção encontram sustentação principalmente nas entrelinhas desta história de adaptação da protagonista à nova família - o que lhe promove uma verdadeira avalanche de sentimentos que não chegam a ser traduzidos por palavras, mas por gestos e olhares sempre ambíguos diante da situação. De momentos de alegria, passando por outros de fúria, ciúme, desprezo e desentendimento, Verão 1993 joga o tempo inteiro com o que está por trás das emoções desta nova filha que chega na casa. Neste período complicado, situações simples como uma brincadeira no quintal, a visita de parentes e o relacionamento entre Frida e Anna recebem camadas que só o tempo será capaz de trabalhar e cicatrizar. Existem alguns segredos na história que são tratados de forma bastante discreta, como a causa da morte da mãe da personagem ou as suspeitas que pairam sobre a menina. Com bela fotografia, edição correta e momentos realmente encantadores, o que faz o filme brilhar de verdade é a presença magnética de Laia Ortigas, que é a alma do filme e torna fácil a tarefa do espectador projetar nela as emoções que sente.  Verão 1993 tem ainda o aspecto interessante de demonstrar como as posturas e papéis se ajeitam dentro de uma família diante de uma situação delicada - neste ponto, a participação do casal formado por Bruna e David, somado à doce Paula tem papéis importantíssimos, ao ponto de nos fazer acreditar que assistimos a um recorte temporal de uma família de verdade (pelo menos até que a última cena nos faça lembrar que era tudo um filme). 

Verão 1993 (Estiu 1993 / Espanha-2017) de Carla Simóns com Laia Artigas, Paula Robles, David Verdaguer, Bruna Cusí e Isabel Rocatti.
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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

PL►Y: Conflitos em Família

Abby, Edie e Jenny: a infidelidade sob análise. 

A cineasta americana Gillian Robespierre caiu nas graças da crítica com seu longa de estreia, Entre Risos e Lágrimas (2014), que lhe rendeu várias indicações a premiações voltadas para o cinema independente. O filme era uma adaptação do curta Obvious Child (2009) também protagonizado por Jenny Slate (que só ficou famosa depois do filme de 2014). Quando Gillian começou a preparar seu segundo filme, ela garantiu um lugar para sua musa e ainda percebeu ter prestígio para ter Edie Falco e John Turturro no elenco. O resultado é Conflitos em Família, filme que agradou o público e a crítica, pelo bom humor como lida com um tema complicado: o adultério (tema compatível com a diretora que fez uma comédia em torno de uma gravidez indesejada). Desta vez a história gira em torno das irmãs Dana (Jenny Slate) e Ali (Abby Quinn) que descobrem que o pai (Turturro) está traindo a esposa (Edie Falco), no entanto, a própria Dana tem telhado de vidro no assunto, já que está traindo o noivo (Jay Duplass) com um velho conhecido (Finn Wittrock). Assim, a própria Dana está repensando na proposta de casamento, monogamia e existir um casal feliz (e fiel) para sempre. Existe um  leve contraponto entre estas traições com o relacionamento de Ali, que ainda é uma adolescente e vivência o que parece ser o seu primeiro relacionamento sério. Gillian demonstra mais uma vez o seu humor agudo, muitas vezes desconfortável e que algumas pessoas poderiam achar humilhante até, mas que conta com o carisma de Jenny Slate para disfarçar esta sensação (seja na cena de abertura em que  Dana e o noivo tentam fazer sexo num bosque ou a consequência disto sendo descoberta durante o banho). Existem vários bons momentos na história (todo trecho da Uva Passa Californiana é o meu favorito) que tentam conviver com algumas piadinhas muito bobas que poderiam ter ficado de fora na edição. No entanto, é notável como a qualidade do texto e da narrativa é muito superior a do filme de estreia de Gillian. Aqui se percebe com clareza o arco de cada personagem, a forma como suas ideias entram em conflito e se transformam ao longo da história, além de ter um acabamento visual mais caprichado (provavelmente pelo orçamento mais generoso que a diretora conseguiu após o sucesso do seu filme anterior), além disso, tem o charme de ser um filme ambientado  em 1995 - com roupas, trilha sonora (P.J Harvey, Crystal Waters...) e referências às celebridades da época (uma capa da Rolling Stone com o Hole e outra com Winona Ryder). Por tudo isto, Conflitos em Família resulta numa obra simpática que demonstra como Gillian é uma cineasta mais madura e de identidade bem demarcada numa tela de cinema. 

Conflitos em Família (Landline/EUA-2017) de Gillian Robespierre com Jenny Slate, Abby Quinn, Edie Falco, John Turturro, Jay Duplass e Finn Wittrock . ☻☻

PL►Y: Ella e John

Donald e Helen: carisma irresistível. 

Exibido no Festival de Veneza e lançado nos Estados Unidos de olho nas premiações do final de 2017, Ella e John conseguiu uma indicação para Helen Mirren na categoria de melhor atriz de comédia no Globo de Ouro - e seu parceiro Donald Sutherland bem que poderia ter sido lembrado também. O filme mistura drama e comédia na estrutura de road movie, tendo como protagonista um casal de idosos, os Spencer. Ao que tudo indicada, quando Ella Spencer (Mirren) deveria começar um tratamento médico, ela decide pegar a estrada a bordo do trailer dirigido pelo esposo, John Spencer (Sutherland) - que tem a memória cada vez mais comprometida pelo Alzheimer. A forma como o filme aborda a situação de John gerou alguma controvérsia por considerarem um tanto debochada a forma como seu esquecimento é tratado na história, no entanto, a atuação de Sutherland não me parece em momento algum ofensiva ou caricata, pelo contrário, consegue ser bastante humana e sensível diante do personagem que tem em mãos. Parte disso se deve à construção de uma identidade espirituosa por parte do ator - o personagem parece sempre bem mais leve do que Ella (o que também é compreensível, já que a esposa está cada vez mais desgastada com os cuidados que o marido precisa a todo instante). Quando os dois estão na estrada, lembram dos tempos em que ainda viajavam com os filhos (agora crescidos e chatos demais), das aventuras da juventude e ainda encontram tempo para se meterem em algumas confusões - muitas por conta da memória de John. A direção do italiano Paolo Virzì opta pela leveza no decorrer da narrativa, mas tempera toda a história com sensibilidade, pesando de vez somente no final. Se a história e a direção não possuem nada demais, o casal de protagonistas se torna o grande destaque do filme. A inglesa Helen Mirren (dona de um Oscar e outras três indicações) está ótima como a mulher americana, madura e sulista (com sotaque e tudo) que é muito mais esperta do que imaginam, o que proporciona à atriz lidar com uma gama de emoções bastante variada em uma mesma cena. O americano Donald Sutherland (que nunca recebeu uma indicação ao Oscar, tendo recebido um pedido de desculpas neste ano com um Oscar honorário da Academia) corresponde à altura, com um personagem de carisma irresistível - que funciona até quando um desconfortável segredo do passado aparece. Ella e John não é um filme inesquecível (sem trocadilho), mas deve agradar boa parte do público. 

Ella e John (The Leisure Seeker/EUA-2017) de Paolo Virzì com Helen Mirren, Donald Sutherland, Christian McKay, Janel Moloney e Dana Ivey. ☻☻

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

10+ : Robin Williams

Robin Williams nos deixou em 2014, mas seus vários trabalhos permanecem. Sua filmografia tem trabalhos e atuações para todos os gostos - e aqui eu destaco as dez interpretações favoritas deste ator americano que marcou época:

#10 "Gênio Indomável" de Gus Van Sant (1997)
Eu confesso, o filme que deu o Oscar de coadjuvante a Willians não é o meu trabalho favorito do ator. Aqui ele interpreta mais uma vez o mentor que ajuda o protagonista a superar os seus problemas - algo que já fez várias vezes, mas desta vez a Academia notou que ele realmente nasceu para este tipo de papel. 

#09 "Uma Babá Quase Perfeita" de Chris Columbus (1993)
Esqueça que o filme não convence de que um Robin disfarçado conseguiria enganar a esposa e os filhos que era uma babá exemplar.... mas o filme é divertido e Robin até que se saiu muito bem ao bancar uma senhora diante da câmera (uma boa mostra de sua habilidade corporal). 

#08 "Desconstruindo Harry" de Woody Allen (1997)
Robin foi responsável por um dos personagens mais geniais da filmografia de Allen: um ator que nunca consegue ter foco numa filmagem. A situação inusitada parece uma maldição e Robin consegue transparecer esta angústia  com maestria em um dos seus trabalhos mais interessantes. 

#07 "A Gaiola das Loucas" de Mike Nichols (1996)
É preciso ter coragem para aceitar embarcar na refilmagem de um clássico cultuado da comédia europeia. Sorte que além de coragem, Robin tem talento suficiente para fazer a versão americana de Armand um dos seus personagens mais carismáticos (e muito bem acompanhado por Nathan Lane). 

#06 "Sociedade dos Poetas Mortos" de Peter Weir (1989)
Sei que este é o filme favorito de Robin para muita gente. Com ele o ator conseguiu sua segunda indicação ao Oscar e satisfez muita gente que ainda duvidava de sua habilidade de fazer um papel sério. Ele era de fato o melhor ator para interpretar um professor fonte de inspiração. Carpe Diem! 

#05 "Bom Dia, Vietnã" de Barry Levinson (1987)
Pela história verídica de um radialista que procurava entreter as tropas americanas em meio à Guerra do Vietnã, Williams conquistou sua primeira indicação ao Oscar. Foi o trabalho ideal para utilizar seu carisma misturando drama e comédia - e a constroversa história de Adrian Cronauer comove até hoje. 

#04 "Moscou em Nova York" de Paul Mazursky (1984)
Robin foi indicado pela primeira vez ao Globo de Ouro por um papel no cinema pelo papel do russo Vladimir Ivanoff - que se muda para os Estados Unidos e percebe que se adaptar à Terra do Tio Sam será mais difícil do que imagina. Um ótimo filme que vale a pena ser redescoberto. 

#03 "Retratos de Uma Obsessão" de Mark Romanek (2002)
Na ótima estreia de Romanek nos cinemas, Robin interpreta um personagem sombrio: um atendente que desenvolve uma obsessão por uma família - o que revela cada vez mais sua estranha personalidade. A atuação intimista valeu uma indicação ao Critic's Choice Awards de melhor ator. 

# 02 "O Mundo Segundo Garp" de George Roy Hill (1982)
Ótimo filme baseado na obra de John Irving,! Foi o segundo longa de Robin nos cinemas (o primeiro foi o fiasco Popeye/1980) e lhe rendeu elogios por viver um personagem da adolescência até a vida adulta. Destaque para o elenco de apoio - com Glenn Close e John Lithgow (ambos indicados ao Oscar). 

#01 "Tempo de Despertar" de Penny Marshall (1990)
Desculpem quem curte Patch Adams/1998, mas o meu médico favorito interpretado pelo ator é o doutor Malcolm Sayer que ajuda um grupo de pessoas catatônicas a recuperarem os movimentos e o gosto pela vida. Filme emocionante que foi indicado a 3 Oscars (mas Robin ficou de fora). Filmão!