terça-feira, 26 de outubro de 2010

4EVER: Paul

(2005-2010)

Paul, O polvo faleceu de causas naturais sendo lembrado como a grande estrela da Copa da África do Sul ocorrida nesse ano. O polvo nascido na Alemanha acertou todas as suas previsões para a Copa 2010 se tornando uma celebridade mundial - mesmo que deixasse muitas torcidas preocupadas. Por suas previsões acabou sendo promovido à mascote da seleção espanhola e receberá uma estátua em sua homenagem na Alemanha. Paul nos faz lembrar que existe mais mistérios entre o céu e a terra do que podemos imaginar...

MOMENTO ROB GORDON: Diretoras na mira do Oscar

Depois que Kathryn Bigelow ganhou o Oscar no ano passado - quebrando um jejum histórico na história da Academia - começaram as especulações sobre a próxima mulher a receber um Oscar. Ao que parece o feito pode se repetir no ano que vem... vejamos quem são as próximas que podem aparecer com uma estatueta na mão em breve!

5 Julie Taymor  A diretora da celebrada montagem teatral de O Rei Leão ainda não me convenceu na telona. apesar de conseguir transpor sua plasticidade para o cinema a coisa acaba engasga pelo meio do caminho na maioria das vezes. No entanto, ela tem ousadia de sobra, estreou na telona com uma versão anacrônica de Titvs de Shakespeare com Anthony Hopkins e Jessica Lange no elenco. Apesar de pretensioso em demasia, o filme permitiu que fizesse anos depois a cinebiografia de Frida Kahlo que deu uma indicação ao Oscar para Salma Hayek. Até agora seu filme mais simpático foi Across the Universe, o musical com música dos Beatles e visual lisérgico protagonizado por Evan Rachel Wood e Jim Sturgess. Agora ela volta às origens Shakesperianas na adaptação tragicômica de The Tempest com Helen Mirren, que pode figurar nas premiações desse fim de ano.

4  Lone Scherfig  A dinamarquesa é reponsável pelo filme mais simpático do movimento Dogma 95 (Italiano para principiantes). Ano passado ela chamou muita atenção por contar uma história aparentemente comum com muita personalidade em Educação, que rendeu indicações ao Oscar de atriz para Carey Mulligan e de roteiro para Nick Hornby. Atualmente está lapidando seu novo filme: One Day - baseado no livro de David Nicholls e tem no elenco Anne Hathaway, Jim Sturgess Patricia Clarkson. Créditos de fazer encher os olhos de qualquer cinéfilo e ainda mais da Academia de Hollywood. Com doze filmes no currículo a diretora começa a chamar cada vez mais atenção.


3   Isabel Coixet A espanhola Isabel Coixet é apadrinhada por Pedro Almodóvar, mas nem precisava já que mostrou em filmes como Minha vida sem mim e A vida secreta das palavras talento suficiente para ter luz própria. Mas foi em 2008 que as coisas mudaram difinitivamente para a diretora, ao dirigir Penelope Cruz e Ben Kingsley no drama romântico (e belíssimo) Fatal ela provou que pode transmitir sentimentos difíceis sem perder a leveza. Fatal ajudou Penelope a ganhar força para o Oscar de coadjuvante  por Vicky Cristina Barcelona e transformou a diretora numa queridinha da crítica. embora seu Mapa Sonoro de Tokyo não tenha encantado em Cannes no ano passado é bom ficar de olho nessa diretora de óculos coloridos.

2  Jane Campion É cria do Festival de Cannes, Campion foi reconhecida em seus méritos quando foi indicada ao Oscar de direção por O Piano. Se ela perdeu para Steven Spielberg (o que nem vou discutir aqui) pelo menos saiu de lá com o Oscar de roteiro e vendo suas atrizes Holly Hunter e Anna Paquin premiadas. Excelente diretora de atrizes ela consegue arrancar atuações marcantes de toda atriz que trabalha com ela (de Kate Winslet e Nicole Kidman até... Meg Ryan!!). Ano passado ela realizou Brilho de uma Paixão e viu Abbie Cornish ser alvo de uma das esnobadas mais maldosas que a Academia já deu à uma atriz. Sem medo de lapidar o erotismo para o público cabeça e para a mulherada, a diretora tem fortes chances de ter um careca dourado em sua estante em breve. 
  
1  Sofia Coppola Além de talentosa a diretora tem outras características ao seu favor: pra começar é americana e para terminar tem o sangue do lendário Francis Ford Coppola - apesar de ter um estilo completamente diferente do pai. Sofia conta histórias a partir do interior de seus personagens e chama atenção desde que estreou na direção com As Virgens Suicidas. As premiações se renderam a ela com Encontros e Desencontros e dividiram opiniões sobre sua ambiciosa cinebiografia Maria Antonieta. Todos os seus filmes são mais interessantes do que a maioria dos que vemos todos os anos e seu mais recente, Somewhere, foi premiado em Veneza e está cotadíssimo para a temporada de ouro. Quem diria que a rejeitada atriz de O Poderoso Chefão 3 era uma diretora de mão cheia? 

CATÁLOGO: Guerra ao Terror

Renner: o vício pela guerra sob as lentes de uma mulher.

Levando em consideração que a época de ouro está chegando não custa nada fazer uma resenha sobre o grande premiado do ano passado, Guerra ao Terror (nomezinho cretino que arranjaram em português). O filme de Kathryn Bigelow - a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção - tem uma das trajetórias mais interessantes de um oscarizado dos últimos anos, mais interessante até do que o roteiro do filme. Lançado em março de 2009 nos EUA o filme chamou atenção somente da crítica e de alguns gatos pingados, o filme chegou a concorrer ao Independent Spirit na época, mas passou em branco. Com essa repercussão modesta acabou sendo lançado por aqui direto em DVD em abril do ano passado sendo encontrado em poucas locadoras. O curioso foi que o filme foi ganhando força com a chegada do fim do ano e acabou concorrendo de frente com o maior blockbuster de todos os tempos: Avatar de James Cameron (ex-marido de Bigelow). No fim das contas tratava-se de uma disputa em Hollywood: os filmes de ação, cheio de efeitos especiais e atores quase virtuais X os filmes de roteiro ancorado em atores nos lugares certos. Como a maioria de votantes da Academia é formada por atores que não querem se limitar a ter seus movimentos captados por um computador o resto da história você já conhece. Considerado o Platoon do século XXI o filme acompanha três desarmadores de bombas no Iraque na mais recente empreitada dos EUA por aquelas bandas. O roteiro não se preocupa em ter uma historinha bem amarradinha, prefere enfileiras situações que mostram o clima caótico vivido pela região, a tensão do cotidiano dos soldados e a adrenalina que sustenta a carreira do protagonista (Jeremy Renner, indicado exageradamente ao Oscar de ator). Se há algo que merece ser ressaltado no filme é a competência de Bigelow, acho que a única mulher que tem estômago para fazer "filmes para machos" com um tom irônico tão sutil que poucos percebem sua crítica ao mundo de joguinhos que os homens constroem para disfarçar suas fraquezas. Prova de que o material é interessante foi a adesão de atores conhecidos em particiapações especiais (Evangeline Lilly, Ralph Fienes, Guy Pearce...). Com tensão na medida a diretora precisou de coragem de rodar o mundo atrás de financiamento para fazer história em Hollywood. O filme convenceu nas premiações por funcionar como um um espelho para o Tio Sam.

Guerra ao Terror (The Hurt Locker/EUA-2009) de Kathryn Bigelow com Jeremy Renner, Anthony Mackie, Bryan Geraghty, David Morse, Ralph Fienes e Guy Pearce.☻☻☻

FILMED+: A ESTRADA

 
A Estrada: O pós-apocalipse em película.

Fazia tempo que não via algo tão genuinamente triste quanto A Estrada do novato John Hillcoat e a coisa fica ainda pior quando lembro que enquanto foi desprezado nas premiações num ano onde a disputa ficou entre Avatar e Guerra ao Terror, me desculpem os fãs de ambos, mas A Estrada é infinitamente superior aos dois. A estrada é a adaptação do romance homônimo de Cormac McCarthy – levado às telas pelos irmãos Coen recentemente com Onde Os Fracos Não tem Vez. Só que ao invés da trama acompanhar as façanhas de um psicopata, o filme se concentra em acompanhar pai e filho rumo ao sul num mundo pós-apocalíptico. O filme não se preocupa em dizer o que houve, mas o mundo se resume agora há um céu cinzento, um chão de cinzas e árvores secas tombando pelo caminho. A impressão é que o mundo sofreu um grande incêndio e as pessoas que sobreviveram tiveram que resistir aos recursos precários que fizeram com que muitos aderissem ao canibalismo. O pai é vivido por Viggo Mortensen vários quilos mais magro e competente como sempre e seu filho é encarnado de forma coerente pelo pequeno Kodi Smit-McPhee, a mãe (Charlize Theron) só aparece nas memórias (a parte mais coloridamente nostálgica do filme). Para quem acredita que o fim do mundo é um espetáculo como prega Roland Emerich (2012) ou uma aventura broxante como O Livro de Eli é bom manter distância de A Estrada, mas quem busca um pouco mais do que uma produção para fazer hora até comer uma pizza estará no caminho certo. O filme de Hillcoat possui um tom filosófico-humanista muito superior a outras obras do gênero, ao concentrar-se nos dilemas de pai e filho diante das pessoas que encontram pelo caminho o filme ganho contornos de reflexão sobre os rumos que os seres humanos tomaram até que tudo acabasse daquele jeito (perceber o outro como ameaça, o individualismo, a violência...). O filme foi um fracasso nos EUA (o que não quer dizer absolutamente nada), mas se pagou em sua arrecadação mundial, agora em DVD ele merece atenção – nem que seja pela já clássica cena onde pai e filho encontram um mar desolador em meio às ruínas. Não há espaço para azul nesse mundo, mas o final nos faz pensar que a esperança ainda existe.


A Estrada (The Road/ EUA – 2009) de John Hillcoat com Viggo Mortensen, Kodi Smit McPhee, Robert Duvall, Charlize Theron e Guy Pearce. ☻☻☻

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CATÁLOGO: Anticristo

Anticristo: Casal comendo o pão que Von Trier amassou...

Lars von Trier é um dos diretores mais provocadores dos últimos anos e por isso mesmo coleciona desafetos (seja em Hollywood ou na crítica mundial). Depois de criar o magistral Dogville (2003) ele teve que engolir as críticas negativas à sequência Manderlay (2005) e sua primeira comédia O Grande Chefe (2007). O dinamarquês ficou arrasado. Mergulhado em uma depressão ficou afastado dos sets por alguns anos e pensou em abandonar a carreira. Sorte que ele mudou de idéia. O renascimento de Von Trier veio em Cannes no ano passado, onde exibiu seu primeiro filme de terror. Bem, se fazendo dramas pesadões o cara já assusta imagina o que ele pode fazer num gênero desses! Coitado de quem imaginou que veria um filme de horror tradicional. Para amenizar (ou precaver) os mais animados, o diretor avizou que se tratava de um terror erótico - eu continuei preocupado. A exibição em Cannes lotou, mas ele esqueceu de dizer que era uma jornada perturbadora pelo sofrimento humano - ou seja, mais um filme de Lars Von Trier. Anticristo é uma experiência radical, tão radical que até seus fãs mais fiéis o estranharam. Sem ter um roteiro bem costurado (afinal, Trier disse que o escreveu utilizando somente uma parte de suas capacidades intelectuais) o filme atira para todos os lados para dizer que a humanidade não faz a mínima idéia de para onde vai. Um casal (Willem Dafoe e Charlotte Gainsburg, premiada em Cannes) perdeu o filho de três anos enquanto faziam amor, as consequências desse fato trágico (ainda que lindamente filmado por Trier) será um teste de resistência para a afinidade que existe entre os dois. O marido não confia no tratamento psiquiátrico que a esposa vem recebendo e a leva para uma casa no campo, o qual chama de Eden, com objetivo de que ela filtre a dor. Quando a esposa parece melhorar as coisas começam a piorar até o desfecho trágico. Mais interessante do que assistir os conflitos do casal é apreciar como Trier constrói ao redor de seus protagonistas um clima ameaçador em meio à natureza que parece expulsá-los (sementes que caem no teto, raposas falantes, corvos visitantes, pássaros mortos, vento...). Trier investe pesado em dicotomias (homem-mulher, prazer-dor, amor-ódio...) e exagera nas sequências mais violentas. De resto, pouco importa os segredos que a trama guarda, bom mesmo é passear pela criatividade no auge da perturbação de um cineasta em crise em belíssima fotografia. Só para esclarecer, apesar das simbologias religiosas da trama o título é inspirado em Nietzche e não na Bíblia (além de ser uma brincadeirinha com Willem Dafoe que já foi Jesus em A Última Tentação de Cristo). Longe de ser perfeito o filme é uma experiência única.

Anticristo (Antichrist - 2009/Dinamarca; Alemanha, França; Suécia; Itália; Polônia) de Lars Von Trier com Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe. ☻☻☻☻

Apostas para o Oscar 2011! - Parte I

Pois é meus amigos, o fim do ano está chegando é com isso as apostas para a época de ouro - que culmina no Oscar - está chegando. A seguir alguns dos favoritos para as premiações desse ano de vacas magras. Eu já  comentei anteriormente alguns filmes que podem se beneficiar desse ano fraco para o cinema americano (A Origem, Toy Story 3, Ilha do Medo, Como Treinar o seu Dragão e Escritor Fantasma), agora eu listo mais cinco que tem chances de ficar no páreo:

Winter's Bone
A revelação Jennifer Lawrence está cotada para a categoria de Melhor Atriz no papel de uma adolescente que carrega uma família nas costas em meio há muitos dramas familiares. Elogiado em festivais o filme ainda tem chances a concorrer nas categorias de roteiro e melhor filme. Trata-se do drama indie do ano...

Black Swan
Uma pedra no sapato de Jennifer é Natalie Portman, que estava cotada em Veneza e perdeu o prêmio de atriz, enquanto sua coadjuvante Mila Kunis foi premiada. O filme de Darren Aronofsky sobre as obsessões de uma bailarina a beira da loucura deve ter indicações nas categorias principais e ainda converter em estatueta para Portman.

Rabbit Hole
John Cameron Michel (dos celebrados e polêmicos Hedwig e Shortbus) resolveu encaretar com essa adaptação de uma peça premiada sobre um casal que tenta lidar com a morte do filho. Não pensem em nada tão pesado quanto O Anticristo de Lars Von Trier, exibido em festivais o filme está cotado para dar outro Oscar para Nicole Kidman e o primeiro para Aaron Eckhardt.

The Kids are Allright!
Sucesso de público e crítica o filme sobre os filhos de um casal de lésbicas que descobrem seu pai biológico tem sido elogiado pela simpatia que lida com os conflitos que se instalam nessa família moderna. Sem falar que para apimentar ainda mais a disputa de melhor atriz o filme tem as sempre indicadas (três indicações cada uma e nenhuma premiação) Julianne Moore e Annete Benning! Dá para imaginar que as duas não tem Oscar em casa e Sandra Bullock tem? A Academia deverá lembrar disso no ano que vem...

The Social Network
Como falei muito de meninas vou dar um apoio moral para os garotos agora. David Fincher não deve ter entendido muito bem como seu "cara de Oscar" Benjamin Button perdeu para Quem quer ser um Milionário? (nem eu entendi muito bem...). Esse ano o arrojado diretor volta ao páreo com a história da criação do Facebook, ou melhor uma trama sobre vingança e traição de apelo universal. No elenco Jesse Eisenberg, Andrew Garfield e Justin Timberlake - disputando a atenção da Academia. O Oscar promete! 

DVD: O Preço da Traição


Seyfried e Moore: Boas atrizes nas mãos de Atom Egoyan

O diretor canadense Atom Egoyan é alvo de críticas ao seu estilo que muitas vezes valoriza mais a forma do que propriamente o conteúdo do roteiro que tem em mãos. Geralmente eu não concordo muito com esse ponto de vista, já que o diretor tem um estilo muito cool e que desagrada a muita gente que o percebe apenas como frieza e não elegância. Mas tenho que concordar que seu Chloe é um exercício pífio de sua filmografia interessante. O diretor desde que foi indicado ao Oscar por sua obra-prima (O Doce Amanhã) vem perdendo prestígio perante seus fãs e tentar resolver o problema com uma refilmagem de um filme francês (Natalie X) não ajuda muito. Seu último filme é de uma pretensão vazia que não consegue aproveitar as boas idéias que tem na mão e ao final sucumbe a um exercício de suspense de fazer corar qualquer fã de Instinto Selvagem. O filme gira em torno de uma ginecologista (Julianne Moore, que excelente atriz tenta fazer milagre com o personagem) que desconfia que seu marido (Liam Neeson, no piloto automático) a esta traindo com uma aluna. A esposa então decide contratar uma jovem garota de programa chamada Chloe para tentar seu esposo e lhe relatar (de forma cada vez mais picante) os encontros. Quando vemos o diretor explorando o vazio da relação familiar (bem simbolizado pela mansão do casal) em constraste com a excitação da esposa diante dos relatos da jovem meretriz, a coisa até que funciona, mas Egoyan não consegue enganar ninguém no que seria a grande surpresa do filme - e não estou me referindo às cenas de lesbianismo que tem feito a fama do filme nas locadoras. Egoyan ainda erra feio no desenvolvimento do filho do casal, o moleque é de uma fraqueza lamentável, tanto na construção do personagem no roteiro como na atuação (se é que pode ser chamada assim) concebida por Max Thieriot. Se existe uma grata surpresa no filme é Amanda Seyfried, como não a acho bonita (aqueles olhos grandes e afastados até me assustam) ela sempre deixava a desejar em filmes bobos como MAMMA MIA! ou Querido John, mas aqui a lourinha mostra o que é capaz de fazer com um personagem de verdade nas mãos. Apesar de sucumbir a um suspense mequetrefe em seu ato final, sua Chloe sugere bem mais do que explica e isso a torna a personagem mais interessante desse tropeço na carreira de um cineastas ambicioso e que precisa reencontrar seu caminho.

O Preço da Traição (Chloe/EUA - 2010) de Atom Egoyan com Julianne Moore, Liam Nesson e Amanda Seyfried.

domingo, 17 de outubro de 2010

DVD: A Verdade Nua e Crua


Gerard e Katherine: Não se iluda, isso não é uma comédia romântica!

Existem roteiristas que me dão medo, alguns deles estão presentes nos créditos da série Jogos Mortais (como alguém pode pensar aquelas sandices?), nesse clube restrito acabo de incluir três garotas: Nicole Eastman, Karen McCullah Lutz, Kirsten Smith. Claro que você não deve lembra de seus nomes, mas é bom ficar atento já que elas juntas conseguiram escrever a ruindade A Verdade Nua e Crua. O filme é de uma vulgaridade sem tamanho - o que as moçoilas devem considerar a parte original de um filme que chafurda em clichês. A premissa é mais ou menos essa daqui: uma produtora de TV ainda solteira por sua chatice (Katherine Heigl, que não me convence nem na série Grey's Anatomy) recebe a incubência de dar um trato no programa de um recém contratado, um brucutu grosseirão (Gerard Butler em sua enésima comédia romântica) que tem um programa de baixaria na TV. Se ela permanecesse chata e ele permanecesse grosso o filme poderia até valer a pena pelo conflito que geraria, mas o filme resolve fazê-los ficar amigos e o pior, ela começa a aceitar as dicas dele para conseguir o homem que deseja. Ou seja, ela passa da chatice para a burrice. Ela começa a se comportar como uma mulher machista e bobalhona. O problema maior do filme é esse, ninguém parece pensar direito, todo mundo é meio bobo e juvenil e no fim das contas descobrimos que o brucutu esconde um coração partido - e que será partido de novo quando ele se descobre apaixonado pela produtora. Para fazer o público rir o filme faz de tudo, de colocar Heigl seminua pendurada numa árvore arrancando a toalha amarrada na cintura do vizinho ou inventar uma calcinha vibratória num restaurante (um plágio mal disfarçado de Harry & Sally). Eu realmente tento entender porque as comédias românticas são cada vez menos românticas e engraçadas, talvez seja porque tem sido escritas por pessoas que não tem senso de humor e que não sabem o que é se apaixonar de verdade. Será que elas pensam que amar é isso? Implicar com o parceiro, discutir, terminar, falar abobrinhas e terminar na cama fingindo orgasmos. É melhor avisar a Robert Luketic (dos engraçados Legalmente LoiraA Sogra) ficar longe dessas meninas... 

A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth/EUA - 2009) de Robert Luketic com Katherine Heigl e Gerard Butler. #

DVD: COMO TREINAR O SEU DRAGÃO


Como Treinar: Soluço e seu dragão (que parce um gatinho)

Não precisava ser um gênio cinéfilo para notar que em sua terceira aventura o ogro Shrek perdeu fôlego. O estúdio do ogro, que não é bobo, providenciou logo um novo sucesso capaz de iniciar uma nova franquia para o estúdio. Como Treinar o seu Dragão promete dar novo fôlego ao estúdio de Steven Spielberg, que há tempos andava plageando seu próprio estilo de forma exaustiva. O filme já havia ganho minha simpatia antes mesmo de ser lançado naquele trailer bem bolado em que Soluço fazia pipoca utilizando o fogo cuspido de um dragão, mas em sua nova animação o roteiro deixa a malandragem de lado e investe na criação de um universo próprio cheio de possibilidades - no caso uma terra habitada por vikings constantemente ameaçados por dragões que roubam seus mantimentos além de vitimar moradores. Nem mesmo o fato do filho do líder viking ser um magricelo desajeitado que deseja ser reconhecimento prejudica sua narrativa. Soluço (os habitantes tem nomes estranhos para espantar criaturas malignas) é um adolescente que enfrenta problemas para explorar sua "vikindade" nada aparente, o fato dele estar prestes a ir para a escola de abater dragões só aumenta a pressão de ser filho do chefe do vilarejo, o Imenso (dublado por Gerard Butler). Mas aos poucos Soluço começa a ser admirado por seus dotes em domar dragões, que até o momento ninguém sabe muito bem quais são. O rapazinho começa a descobrir seus métodos fora dos livros ao capturar o temido dragão Fúria da Noite, assim conquista não só um amigo valioso como descobre alguns segredos que até então ninguém ousou descobrir sobre esses temidos seres alados. Não é difícil imaginar como as coisas vão terminar, mas nada prejudica nosso prazer em ver uma trama que bebe na fonte dos animais de estimação (foi só eu ou mais alguém percebeu que o dragão de Soluço tem os trejeitos de um gato?) com muito respeito ao público infantil e adulto, que (espero) que permaneça nas possíveis continuações.  O ritmo de aventura, o visual caprichado (que ajudou os efeitos 3D conferido nos cinemas) e o senso de humor pueril completam a sessão dessa animação que deve concorrer a prêmios na temporada de ouro que se aproxima. O filme é baseado na série de livros de Cressida Cowell e recebe tratamento adequado da dupla de diretores Dean DeBlois e Chris Sanders (os mesmos de "Lilo & Stitch").

Como Treinar o Seu Dragão (How to train your Dragon/EUA-2010) de  Dean DeBlois e Chris Sanders com vozes de Jay Baruchel, Gerard Butler e America Ferrera. ☻☻☻

FILMED+: Ligações Perigosas

Close e Malkovich: entre o amor e a orgia. 

Antes da Revolução Francesa enquanto os intelectuais cuidavam de minar os preceitos da nobreza um outro grupo de pessoas, os escritores, cuidavam de minar a vida íntima dos nobres. Afinal de contas, consideravam que o povo precisava saber o que seus duques, condes, barões, reis e rainhas faziam enquanto a população se matava para pagar os impostos cada vez mais altos. Esse movimento literário ficou conhecido como Literatura Libertina (afinal, o que você pensa que os nobres faziam em seus castelos com dezenas de quartos?) e tem como símbolo máximo o Marques de Sade. No entanto, a obra que ficou mais famosa desse período é de Chordelos de Laclos, no caso o autor de As Ligações Perigosas que já recebeu umas cinco versões para o cinema e tem na versão de Stephen Frears a sua mais famosa transposição. O filme leva para as telas as tramóias de Marquesa de Merteuil e seu amigo Conde Valmont, mais do que amantes os dois são cúmplices em suas conspirações de alcova para macular mocinhas inocentes ou desvirtuar senhoras de respeito. Merteuil (Glenn Close, magnífica no papel de sua vida) para se vingar de um desafeto pede para que Valmont (John Malkovich) leve sua noiva virginal (Uma Thurman) para a cama, em troca Merteuil cederia aos apelos de Valmont. como seduzir uma mocinha é fácil, Merteuil pede algo mais para cumprir sua parte do acordo, que desvirtue a exemplar Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer, indicada ao Oscar de coadjuvante) que já foi avisada sobre a má fama do conde. O problema é que Valmont começa a se sentir atraído por todas as qualidades de sua presa. Essa paixão que o coloca no impasse de escolher entre a orgia e a devoção à uma única mulher pode ser sua salvação ou a sua ruína. É difícil dizer todos os acertos de Frears nessa produção exuberante, o roteiro é uma jóia (ganhou o Oscar de roteiro adaptado, merecidamente), as atrizes estão espetaculares, os figurinos, direção de arte (outro Oscar...), a fotografia tudo é perfeito. Não por acaso o filme foi o mais comentado de 1988, mesmo tendo uma outra adaptação da mesma obra no páreo (Valmont de Milos Forman), mas beira o impossível outra produção de época saber construir um clima de sedução com tanta maestria e ao mesmo tempo sufocar o romantismo com tanta crueldade (nem Frears conseguiu acertar novamente com o recente Chéri). É como se amor e sexo travassem uma guerra. Frears segura nosso fôlego até a antológica cena final em que Glenn Close tem uma das melhores cenas do cinema sem dizer uma palavra. Simplesmente um clássico.

Ligações Perigosas (Laisons Dangerous/EUA-Inglaterra, 1988) de Stephen Frears, com Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman e Keannu Reeves. ☻☻☻☻☻

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ladies & Gentlemen: MICHELLE PFEIFFER

Acho que todo mundo que curtia cinema nos anos 1980/1990 era apaixonado por Michelle Pfeiffer. A atriz nasceu em Santa Ana nos EUA em 29 de abril de 1958 e começou sua carreira em 1979 em séries de TV. Sua chance no cinema veio na inusitada continuação de Nos Tempos da Brilhantina (1982), sorte que em meio às críticas pouco animadas ao filme o diretor Brian de Palma a chamou para atuar em seu Scarface (1983), sua presença no filme era um belo contraste à sordidez da trama protagonizada por Al Pacino. Seu primeiro grande sucesso foi no romance de fantasia O Feitiço de Áquila (1985) onde ao lado de seu par (Hutger Hauer) enfrentava uma maldição que os impedia de ficar juntos. O filme se tornou um desses clássicos dos anos 1980 e lhe deu a projeção necessária para atuar ao lado de Cher, Susan Sarandon e Jack Nicholson na comédia de terror As Bruxas de Eastwick (1987), como a bruxa mais fértil da história do cinema. Dali em diante engatou um filme no outro, tendo o ano de 1988 como o mais marcante de sua carreira - já que mostrou de sabia fazer graça em De Caso com a Máfia  de Johnatan Demme, posar de sex symbol em Conspiração Tequila e ainda ser indicada ao Oscar de Coadjuvante por sua apaixonante personagem de Ligações Perigosas de Stephen Frears. No ano seguinte foi lembrada pela Academia na categoria Melhor Atriz por Susie e os Baker Boys, que lhe rendeu o Globo de Ouro de atriz de comédia ou musical. A sua presença nas premiações lhe garantiram papéis cobiçados em produções como A Casa da Rússia (1990) e Frankie & Johny (1991), que apesar das expectativas fracassaram nas bilheterias, mas nada que o estrondoso sucesso de sua personagem em Batman - O Retorno (1992) não resolvesse. A vilã Mulher-Gato se transformou numa espécie de ícone de Michelle para o cinema. Não bastasse esse sucesso foi premiada em Berlim como melhor atriz pelo drama Love Field (1992) que lhe rendeu outra indicação ao Oscar. Ela ainda poderia ter sido lembrada no ano seguinte por sua personagem em A Época da Inocência de Martin Scorsese, onde se apaixona pelo noivo de sua prima enquanto lida com o escândalo de seu divórcio no século XIX. Depois parece que alguma coisa desandou e Michelle ficou presa a filmes como Lobo (1994), Mentes Perigosas (1995) e Íntimo e Pessoal (1996) que estão longe da qualidade de seus antigos sucessos. Depois de alguns filmes que passaram em branco nas bilheterias (apesar de pretensões oscarizáveis como o drama Terras Perdidas de 1997) ela resolveu tirar férias em 2003, retornando às telas em 2007 em personagens que de um jeito ou outro evidenciava que o tempo havia passado para ela, mas sua beleza e talento permaneciam no mesmo lugar. São desse ano as vilãs de Hairspray e Stardust. Mas só recentemente com Chéri, Pfeiffer mostrou que ainda está disposta a ter um Oscar para chamar de seu.

Pfeiffer: o amor entre uma gata e um morcego.

DVD: Chéri

Pfeiffer e Friend: A atriz certa no filme errado.

Se me dissessem anos atrás que Sandra Bullock ganharia um Oscar num ano em que Michelle Pfeiffer seria esnobada eu não acreditaria. Depois que um longo período de férias Pfeiffer voltou a fazer filmes e sua maior aposta desde o retorno foi o filme de época Chéri, baseado num livro de Collete sobre uma cortesã aposentada que acaba se aposentando pelo filho de uma amiga. O filme é assinado por Stephen Frears, que já dirigiu Michelle no clássico Ligações Perigosas. Pena que apesar do empenho da protagonista o filme por pouco não sai da monotonia. Pfeiffer interpreta Lea, uma bela cortesã aposentada que cultua sua solidão e amantes com as economias que conseguiu juntar na Belle Époque, período onde as adeptas da profissão eram tratadas feito divas. Ela acaba descobrindo novos sentimentos quando recebe a incubência de colocar juízo na cabecinha boêmia de seu afilhado - o qual chama carinhoramente de Chéri (o fraco Rupert Friend). Nesse período... digamos... educativo, Lea e Chéri acabam se apaixoanando e vivendo um romance de seis anos, até que a mãe dele resolve casá-lo com a filha de outra cortesã aposentada. Assim, Lea mergulha em uma angústia inédita em seu currículo e o rapaz vai pelo mesmo caminho. O maior problema do filme é que Frears trata um romance como se fosse uma comédia de costumes e o resultado é um tanto desengonçado. Apesar das atuações afiadas de Michelle e Kathy Bates, o ritmo não consegue ser sustentado com a apatia que Friend imprime ao seu personagem irritante perdido em nuances sub-aproveitadas (como seu jeito andrógino e gosto por pérolas...), quando chega na metade do filme pouco importa o desfecho, já que temos a impressão que o casal não se importa muito um com o outro, deixando tudo no nível de uma guerra de egos. O filme foi exibido no festival de Berlim no ano passado e alguns apostavam que Michelle seria lembrada nas premiações, não foi, menos por culpa dela e mais pela apatia que Frears deixou transparecer em seu filme. Mesmo assim, vale a pena conferir a atuação da atriz que já passou dos cinquenta anos e continua bela e talentosa - além de explorar mais uma vez a passagem do tempo em sua personagem.

Chéri (2009/EUA-Inglaterra) com Michelle Pfeiffer, Rupert Friend, Kathy Bates e Iben Hjejle. ☻☻

CATÁLOGO: Confidencial

Bullock e Jones: Capote ofuscado por... Capote.

O cinema é mesmo uma caixinha de surpresas. Vez por outra dois filmes com temática muito parecida são rodados e se são filmes de grande apelo popular podem até ser lançados com alguns meses de diferença (Lembra de Volcano e O Inferno de Dante? Vida de Inseto e Formiguinhaz? Impacto Profundo e Armaggedon?), mas se as obras são mais sérias e ambiciosas uma escolha dolorida é feita para que um não canibalize o apelo do outro ao mesmo tempo - e geralmente o que é lançado depois passa em branco. Esse post é para reparar uma covardia recente causada por esse acaso criativo de Hollywood e ainda lembrar que Sandra Bullock poderia ter ganho o Oscar anos atrás sem causar tantas críticas. Bullock já havia tentado uma atuação digna de Oscar antes, mas resultou em fracasso (o pífio No Amor e Na Guerra/1996) ou em simples artigo de luxo do elenco (Crash - No Limite/2004). Em Confidencial tudo conspirava a seu favor: um diretor competente (Douglas McGrath de Emma/1996), um elenco de estrelas coadjuvantes para chamar atenção (Sigourney Weaver, Gwyneth Paltrow, Hope Davis, Daniel Craig...) e uma história de chamar a atenção da nata da Academia - no caso a trajetória de Truman Capote para escrever sua obra-prima: A Sangue Frio. O problema foi que outra produção muito semelhante estava a caminho, o Capote estrelado por Phillip Seymour Hoffman. Os estúdios acabaram adiando a estréia de Confidencial e ele teve que se contentar com as sobras, o que é uma grande injustiça. Enquanto Capote é sombrio e fúnebre ao concentrar-se no processo criativo do escritor, Confidencial se beneficia do humor sem nunca perder o foco de seu fascinante protagonista (aqui vivido por Toby Jones, numa atuação tão digna de Oscar quanto a de Hoffman), especialmente com relação ao alvoroço causado por sua figura afetada numa cidadezinha interiorana. Confidencial ainda explora nuances que o outro filme apenas arranha (como a relação de Truman com as dondocas da alta roda novaiorquina) e ainda apresenta de forma mais do que sincera a relação com sua amiga de infância Harper Lee (Sandra Bullock, que bem que poderia ter sido indicada ao Oscar de Coadjuvante se a Academia não houvesse indicado Catherine Keener pelo mesmo papel). Confidencial ainda ousa explorar ainda mais a estranha identificação/atração que o escritor sentia pelo assassino que inspirou sua obra mais famosa (no caso encarnado por Daniel Craig, indicado ao prêmio de coadjuvante no Independent Spirit). Pela habilidade com que Confidencial conta sua história resulta num filme tão bom quanto Capote, só que por um caminho completamente diferente.

Confidencial (Infamous/EUA-2006) de Douglas McGrath com Toby Jones, Sandra Bullock, Daniel Craig e Jeff Daniels. ☻☻☻☻

terça-feira, 12 de outubro de 2010

DVD: Um Sonho Possível


Bullock e seus filhos: apenas um "feel good movie".

Sabe quando você chega no McDonald's e vê aquele cartaz com o funcionário do mês? Pois é, às vezes a Academia de Hollywood resolve premiar seu funcionário do ano. Ano passado foi um ano de alardeada crise nas bilheterias. A crise econômica mundial (aquela da marolinha do Lula, lembra?) prometia massacrar vários filmes candidatos a campeões de bilheteria. No meio do verão americano entre os fracassos uma atriz ressurgia após um período de fracassos pessoais. Sandra Bullock com a comédia A Proposta mostrava ser uma comediante de mão cheia interpretando uma megera que pedia seu assistente em casamento para que não fosse mandada de volta ao Canadá. Nada muito original, mas o custo modesto de produção acoplado à uma graça mais cool do que Bullock estava acostumada conquistou o público,  o filme se tornou um sucesso sem efeitos especiais ou sanguinolência. Não bastasse esse sucesso, Bullock teria outro ao chegar o final de 2009, The Blind Side ficou entre os filmes mais vistos nos EUA por meses e lhe deu uma vaga na indicação ao prêmio de Melhor Atriz Dramática no Globo de Ouro (ela ainda foi indicada como Atriz de Comédia por A Proposta). No início ela era considerada o azarão da categoria, mas quando derrotou suas concorrentes na categoria ela era apontada como a favorita ao Oscar - o qual acabou ganhando também. Foi merecido? Bem, se analisarmos que Bullock se tornou um símbolo de sintonia entre uma estrela e seu público, convertendo tudo isso em ingressos vendidos, ela mereceu mesmo. Dois sucessos num ano de recessão não é para qualquer um, especialmente uma atriz - já que por mais que finjam, Hollywood ainda é uma terrinha machista. Nessa semana eu vi The Blind Side, por aqui chamado de Um Sonho Possível, propositalmente esperei toda a poeira baixar e as possíveis críticas à Bullock se dissiparem em meu inconsciente e... posso dizer que o filme é confortável como um chinelo velho. A trama do garoto negro e pobre (Quinton Aaron) que é adotado por uma família de classe média já foi contada dezenas de vezes (talvez centenas), mas o truque da produção é ter seu foco na mulher que decide adotá-lo. Bullock interpreta Leigh Anne Touhy, uma mulher cristã (o filme apela para esse elemento diversas vezes), casada e com um casal de filhos (o menino caçula recebe com dotes esmpresariais recebe mais destaque do que a mocinha que faz sua filha). A mãe adotiva tem uma forma muito especial de dominar o que está ao seu redor, inclusive o treinador de seu filho adotivo, já que o rapagão está prestes a se tornar um grande jogador de futebol americano, como sabemos ao descobrir que o filme é baseado numa história real. O filme não traz novidades a um gênero desgastado e sem sua estrela provavelmente teria passado em branco nos cinemas, não chegando nunca a uma das dez vagas do Oscar de Melhor Filme (um exagero), mas é o tipo de filme que fará o maior sucesso na sessão da tarde. Mesmo que arranhe temas sociais espinhosos (preconceito, violência...) tudo está bem longe de incomodar. No fim das contas, Bullock se aproveita dos momentos cômicos de sua personagem para aproximar o público e deixar o filme bem longe do tom pezaroso de Preciosa (outro indicado ao Oscar cujo a atriz principal, Gabourey Sidibe, merecia mais prêmios do que ela, mas era negra, obesa e desconhecida demais para a Acadmia). Seria maldade dizer que Sandra não está correta no filme, assim como seria cruel lembrar que ela ganhou o framboesa de ouro de pior atriz no mesmo ano que ela levou o Oscar para a casa. Vamos ver o que ela fará daqui para frente quando ver sua estatueta na estante.

Um Sonho Possível (The Blind Side/EUA-2009) de John Lee Hancock com Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron e Kathy Bates. ☻☻

domingo, 10 de outubro de 2010

CATÁLOGO: Tropa de Elite

Moura: o nascimento de um ícone do cinema nacional

Tendo em vista a estréia de Tropa de Elite 2 cinemas resolvi fazer esse comentário sobre um dos filmes nacionais mais apreciados pelo público brasileiro nos últimos anos. Mas vou logo dizendo que não sou um dos maiores fãs do longa de José Padilha. Tropa de Elite ganhou um marketing involuntário ao chegar aos camelôs em cópias piratas antes de sua edição final, o segundo filme não teve esse "problema" já que tudo foi vigiado com segurança redobrada. O que mais chamou o público foi a linguagem crua com que Capitão Nascimento (Wagner Moura numa atuação movida a torturas psicológicas) perseguia traficantes e policiais fanfarrões. Violento, agressivo e visualmente opressor o filme foi sucesso em todos os formatos em que o público podia apreciá-lo. Não bastasse o sucesso de bilheteria o filme ainda foi exibido envolto a polêmicas no Festival de Berlim onde foi chamado de fascista, mas o júri não estava nem aí e lhe deu o Urso de Ouro de melhor filme do festival. Foi justo? Provavelmente. Pra começar o filme de Padilha tenta se equilibrar numa linha muito fina, pois ao escolher não julgar os personagens, apenas apresentar os fatos, o filme ganha combustível para polêmicas ao mesmo tempo que proporciona ao público tirar suas próprias conclusões. A maior delas é que Capitão Nascimento é o herói de filme de ação que o cinema brasileiro precisava, capaz de criar identificação no seu conflito entre ser marido atencioso e um policial feroz do BOPE. Padilha ainda consegue imprimir um ritmo frenético ao roteiro do filme,  o que em se tratando de filme de ação no Brasil não é fácil - acha fácil, então veja a ridiculariação que virou o recente Segurança Nacional com Thiago Lacerda. O filme é baseado no livro A Elite da Tropa e narra a visita do Papa João Paulo II ao Brasil na década de 1990 e as operações para que tudo ocorresse na mais santa paz. Apesar de arranhar algumas críticas sociais (o que é a "consciência social" de um traficante, a corrupção na policia, a classe média sustentando o tráfico...) elas perdem força na lei de olho por olho e dente por dente na história dos policiais que disputam a escolha de Nascimento para ser a Elite do BOPE. No fim das contas são pessoas de classe sociais muito próximas se matando por um sistema que não lhes dá a mínima.  Vejo que Tropa de Elite faz parte de uma trindade sobre a situação da criminalidade no Brasil - os outros filmes são Cidade de Deus de Fernando Meirelles e Quase Dois Irmãos de Lúcia Murat - que independente da continuação de Tropa de Elite, tentam dar conta das atrocidades que o brasileiro se acostumou a ver nos telejornais

Tropa de Elite (Brasil/2007) de José Padilha com Wagner Moura, Milhem Cortaz, Maria Ribeiro e Caio Junqueira. ☻☻☻

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Combo: Os cinco piores de Julianne Moore

Quem me conhece sabe o quanto eu adoro essa atriz, mas acho que seria muito óbvio fazer uma lista com seus cinco melhores filmes. Sendo assim, para realçar que errar é humano - mas perdoar é divino - resolvi lembrar os micos que Julianne já pagou numa telona após tornar-se mundialmente conhecida:
 
5 Hannibal (2000) É fácil entender como Moore se meteu no filme, afinal se trata da continuação de O Silêncio dos Inocentes e apesar de Johnatan Demme ter pulado fora da sequência, Ridley Scott (diante do sucesso de Gladiador) era tentador. O pior mesmo foram as condições do serviço, já que Julianne foi escalada para substituir a premiada atuação de Jodie Foster como a agente Clarice Starling. Se assim a comparação já era inevitável, imagine quando todo mundo sabia que o livro em que o livro era baseado não chegava aos pés do original em densidade psicológica que movia o jogo de atração e repulsa entre o bem (Clarice) e o mal (Hannibal, mais uma vez vivido por Anthony Hopkins). Sendo assim, o filme resolveu incorporar a nojeira do livro com tripas e miolos expostos. O filme foi sucesso de bilheteria, mas Julianne acabou indo parar no analista com as comparações pouco elogiosas com Jodie. Mas convenhamos que sua clarice lhe dava poucas possibilidades de atuação, caindo no velho clichê de mulher endurecida pela vida e em decadência na carreira. Melhor ser comida de canibal...

4 Leis da Atração (2004) Talvez o maior problema do filme seja ter sido lançado próximo de uma comédia dos Irmãos Coen. Era inevitável (e ainda é) não lembrar de O Amor Custa Caro (2003), estrelado por George Clooney e Catherine Zeta-Jones trocando farpas e tensões sexuais nos tribunais quando vemos Moore e Pierce Brosnan trocando farpas e tensões sexuais nos tribunais. A trama é tão convencional e previsível que nos primeiros vinte minutos já sabemos como vai acabar.   O casal forma uma dupla de adovogados rivais e que acabam se casando e descobrindo que se amam! Bobinho, bobinho... fica até difícil de comentar mais sobre o filme porque minha mente simplesmente o bloqueou da memória. Melhor procurar a parceria de Moore com um autêntico filme dos Coen: O Grande Lebowski (1998), milhões de vezes mais original, engraçado e inusitado.

3 Amores de Picasso (1996) Esse aqui também é fácil de entender o motivo de Julianne ter participado: Iria atuar pela primeira vez com Anthony Hopkins e para o diretor James Ivory. Julianne ficou tão empolgada que nem se preocupou que era mera coadjuvante como uma das esposas do pintor cubista. O problema é que o roteiro é de uma chatice elevada ao cubo que não ajuda em nada a narrativa arrastada que o diretor imprime durante a sessão. Tipo de filme pretensioso que quando não dá certo dá muito errado. O filme foi esquecido nas premiações e nas prateleiras das locadoras, mas deve ser lembrado por ter marcado a estréia de uma boa atriz que atualmente anda sumida das telonas: Natascha McElhone (a esposa olhuda do pervertido seriado Californication).

2 O Vidente (2007) O filme só não fica em primeiro lugar porque Julianne nem tem muito o que fazer em cena, se seu personagem fosse substituído por uma pedaço de papelão daria no mesmo. A trama gira em torno de Nicolas Cage (que começava a ficar esquisito com suas plásticas e implantes capilares) que é um sujeito capaz de ter premonições e passa a ser solicitado pela polícia. Moore faz uma policial que fica andando atrás do vidente feito uma barata tonta e... só. Como par do protagonista escolheram Jéssica Biehl, que também tem outra personagem que não decola, que, no caso, poderia ser trocada por outro pedaço de papelão. O filme é um verdadeiro sonífero, nem os efeitos especiais salvam.  

1 Evolução (2001)   Se O Vidente é um sonífero, esse aqui é uma afronta ao cérebro humano. Dizem que era uma tentativa de fazer um novo Homens de Preto (o que eu já acho péssimo), outros apostam que era para ser um pastiche do cultuado seriado Arquivo-X (e a presença de David Duchovny ressalta isso), mas a verdade é que se trata de uns filmes mais vergonhosos já produzidos por Hollywood. Tudo é tão cretino que me recuso até em comentar muito o fiapo de trama: um grupo de cientistas descobre formas de vida alienígena que começam a se desenvolver na terra, gerando confusões e escatologia. A pergunta é como Julinne Moore foi parar num troço desses? Eu acho que a conta do cartão de crédito dela estrapolou! Ou ofereceram o papel para Gillian Anderson (a parceira de Duchovny em Arquivo X), mas como ela não torra seus tostões assim,  percebeu a presepada que era. Assim, apelaram para outra ruiva. Moore, querida, nunca mais aceite um papel de segunda mão, ok!

Na Estante: Morango Sardento

Para salvar a semana desse blogueiro caiu em minhas mãos um livrinho ainda pouco divulgado no Brasil, mas que merece atenção. Chamo de livrinho não querendo diminuí-lo, mas porque é um livro infanto-juvenil e de leitura rápida e agradável. Trata-se do livro escrito por Julianne Moore e o melhor de tudo é a surpresa de saber que Julianne além de bonita, inteligente, atriz de cinco entre meus dez filmes favoritos ainda escreve muito bem. Morango Sardento é um livro com forte tom biográfico onde a atriz aborda a história de uma criança e sua difícil relação com as sardas - algo que qualquer um que acompanhe a carreira da atriz já percebeu que ela possui em sua vasta superfície corpórea. Julianne conta a história com uma simplicidade sincera e bem humorada que deve agradar a criançada em cheio. No fundo tudo o que ela quer dizer é que no mundo todos são diferentes - e são essas diferenças que nos constituem enquanto indivíduos. Belamente ilustrado e traduzido (pela brasileira Fernanda Torres com direito a comentário da sardenta Debora Bloch) o livro é uma boa pedida para o dia das crianças e ainda serve de introdução para que entrem em contato com uma das mais fascinantes atrizes do cinema americano. O suficiente para começar minha semana mais bem humorado.

Julianne: interessante como atriz, escritora ou personagem

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Catálogo: Correndo com Tesouras


Cross e Benning: O caos interno administrado com pílulas

Sempre que eu escuto falar de Ryan Murphy (o diretor de Comer, Rezar, Amar) a primeira coisa que me vem à cabeça é seu envolvimento com a criação do seriado Nip/Tuck, onde as entranhas da cirurgia plástica eram expostas em seu envolvimento mais sombrio e irônico com o sexo e a auto-estima (entre outras coisas do mundo adulto). Em 2006 Murphy chegou aos cinemas dirigindo a adaptação do best seller "Correndo com Tesouras", que foi tido como um dos favoritos às premiações daquele ano, mas o fracasso de bilheteria acoplado ao estranhamento que o filme causava não ajudou. Mas não se assuste, Correndo com Tesouras é um filme mais interessante do que o protagonizado por Julia Roberts. Assim como Comer, Rezar, Amar, também é baseado numa auto-biografia, no caso a de Augusten Burroughs (no filme vivido por um inspirado e pouco conhecido Joseph Cross) um adolescente que cresceu entre o distanciamento do pai (Alec Baldwin) e as loucuras de sua mãe aspirante à poetiza (Annete Benning, digna de Oscar). Por uma dessas loucuras que só aconteceriam na década de 1970, sua mãe se entope de anti-depressivos e o jovem acaba ficando sob a tutela do psiquiatra dela (Bryan Cox). Esse momento promete ser um rito de passagem doloroso para o protagonista, uma vez Burroughs adora a mãe - o que a transforma em um referencial importante na construção de sua identidade, incluindo a homossexualidade do rapazinho, desde sempre evidente. A casa do psiquiatra parece uma versão de Família Adams Sanatorial. A esposa (Jill Clayburgh) parece catatônica e deixa a árvore de natal montada o ano inteiro, a filha adotiva caçula (Evan Rachel Wood) gosta de brincar com o aparelho de dar choques na cabeça dos pacientes, a filha mais velha  (Gwyneth Paltrow numa ponta divertida) cria um gato numa gaiola e o filho mais velho (Joseph Fiennes) é um psicopata que planeja matar seu pai adotivo (além de ser homossexual, mas isso não é um problema para Augusten, que logo se interessa pelo sujeito). Com personagens estranhos em situações que beiram o limite o filme merece atenção pela trajetória de Augusten que aos dezesseis anos precisa fazer suas próprias escolhas para não sucumbir ao ambiente ao seu redor.Além disso, Murphy se mostra um bom diretor de atores e arranca atuações memoráveis de Benning, Cross e Fiennes, pena que nem todo tipo de público curte um filme com escrita forte e vigor ao mergulhar na loucura de seus personagens - num período onde começaram a disfarçar nossas dores psicológicas com pílulas.

Correndo com Tesouras (Running with scissors/EUA-2006) de Ryan Murphy com Joseph Cross, Annette Benning, Bryan Cox, Evan Rachel Wood, Joseph Fiennes e Alec Baldwin. ☻☻☻☻


Eu queria ser o brasileiro Javier.


Julia e um brasileiro: em quem ele deve ter votado nessas eleições?

As coisas não andam fáceis para o cinéfilo que vos escreve, entre muito trabalho, leituras para concluir minha dissertação de mestrado e essa confusão das eleições pouca coisa tem me chamado atenção nos cinemas. Talvez nem tanta atenção assim, já que ando com medo de conferir a continuação de Wall Street dirigida por Oliver Stone - convenhamos que nada mais ameaçador para um filme clássico do que uma sequência dirigida por seu criador fora de forma. O pessoal também anda falando muito do novo filme de Julia Roberts, "Comer, rezar, amar" mas não bastasse esse nome ameaçador eu ainda descobri que Javier Barden interpreta um brasileiro no filme. Nada contra o Javier (ele é até um dos meus atores favoritos) mas não bastasse o cara namorar a Penelope Cruz ele ainda tem que fingir serMade in Brazil. Para Hollywood não sendo americano todo mundo passa a ser a mesma coisa: não-americano. Essa forma estadounidense de ver a vida me incomoda um bocado, o suficiente para não ver nem um filme e nem outro nesse fim de semana.