quarta-feira, 24 de abril de 2013

KLÁSSIQO: Marnie - Confissões de uma Ladra

Tippi e Sean: Freud explica...

Ano passado foi o ano em que os diretores voltaram sua atenção para a relação de Alfred Hitchcock com suas musas. O cinema tentou desvendar os bastidores de Psicose e a relação do diretor com as mulheres que estavam ao seu redor durante a produção, mas o resultado acabou ofuscado pela produção da HBO A Garota estrelado por Sienna Miller e Toby Jones - encarnando respectivamente Tippi Hedren e Hitchcock. Os filmes podem deixar claro que o cineasta tem méritos incontestáveis em suas obras, no entanto, deixa claro que a forma como o diretor  tratava suas estrelas beirava a obsessão. A relação do diretor com as atrizes que trabalhavam com ele é explorada no livro "Fascinado pela Beleza: Alfred Hitchcock e suas atrizes" de Stephen Rebello que já pode ser encontrado no Brasil. O livro ressalta que havia algo em comum com as atrizes que trabalharam com ele. Kim Novak, Grace Kelly e Hedren sempre aparentavam vulnerabilidade proporcional à beleza e elegância que exibiam na tela, mas foi Hedren quem mais sofreu com o sadismo do diretor (ao que ele creditava uma espécie de motivação para as atuações). Descoberta por sua carreira em comerciais, Hedren já comera o alpiste que o diabo amassou em Os Pássaros (1963) ao ser atacada por penosos de verdade! A experiência poderia ter evitado que continuasse trabalhando com o diretor, mas um contrato para filmar outros filmes do cineasta a obrigou a encarnar a heroína deste Marnie, o qual muitos consideram o último grande filme do diretor. O roteiro, apesar de baseado no livro de Winston Graham, era uma provocação explícita com Hedren, menos por ser uma ladra e mais pelo caráter frígido da personagem (que não se empolga nem com um dos maiores galãs da época, Sean Connery). No entanto, os fãs acostumados ao suspense sufocante do diretor irão perceber que o mistério cede lugar a um drama romântico que tem espaço para o horror somente em seus momentos finais. Marnie Edgar é uma bela mulher que trabalha em empresas somente para roubar. Parte do dinheiro ela dá para a mãe, que acredita que a filha é secretária de um renomado empresário, com a outra parte ela se mantém até encontrar a próxima presa. O problema é que sua próxima presa (a família Rutland) tem um herdeiro que conhece sua trajetória de ladra: Mark Rutland (Sean Connery). Mark mostra-se mais atraído por Marnie do que propriamente preocupado com os prejuízos que ela pode lhe causar. Mesmo depois que o roubo é consumado, a atração de Mark por aquela bela mulher não diminui, pelo contrário, parece aumentar já que ele estabelece um relacionamento onde não consegue disfarçar seu interesse por analisá-la. A resposta para os transtornos de Marnie (não apenas a dificuldade de se relacionar com um homem, como as crises nervosas ao se deparar com a cor vermelha) parece brotar da estranha relação que a personagem possui com a mãe. Particularmente, me interessa menos os segredos de Marnie do que se ela fica ou não com Mark! Até o final explicativo, o filme é tão elegante como qualquer outro de Hitchcock e a química de Connery com Hedren garante o clima no final de tom "o amor triunfará".  Sabendo hoje de todos os problemas da relação de Alfred com Tippi é inevitável destacar o profissionalismo do casal durante a execução do filme, mesmo sabendo que este foi o último longa em que trabalharam juntos, já que a atriz rompeu o contrato para fazer os filmes posteriores do diretor. 

Marnie - Confissões de Uma Ladra (Marnie/EUA-1964) de Alfred Hitchcock com Tippi Hedren, Sean Connery, Diane Baker e Bruce Dern. ☻☻☻ 

terça-feira, 23 de abril de 2013

DVD: A Família Flynn

Dano e De Niro: perdição de pai para filho. 

Já perdi a conta de quantos dramas foram feitos em torno dos dramas de escritores, sejam eles reais (As Horas/2002, Capote/2005, Íris/2001) ou fictícios (As Palavras/2012, Ruby Sparks/2012, Tempo de Crescer/2009), o mais engraçado é que quando eles costumam errar eles caminham sempre para o mesmo caminho. A Família Flynn ilustra bem os tropeços desse subgênero cinematográfico. Existe tantos dramas para o roteiro administrar que o resultado é tão exagerado que fica difícil estabelecer uma conexão com aqueles personagens. Suicídio, drogas e mendigos são alguns dos ingredientes utilizados pelo roteiro de Paul Weitz para o livro de Nick Flynn (com o sugestivo nome de Another Bullshit Night in Suck City). O resultado poderia ser denso, mas soa apenas artificial quando o diretor opta por sempre manter a emoção na rédea curta até que transborde em melodrama algumas cenas depois. Nick Flynn (Paul Dano) é um aspirante a escritor que não consegue escrever. Vive remoendo o fato de ter sido abandonado pelo pai escritor, Johnatan (Robert DeNiro) e da morte da mãe carinhosa Jody (Julianne Moore). No entanto, não espere um coração de ouro no rapaz, ele é capaz de trair a namorada enquanto ela está no trabalho e reencontrar o pai depois de vários anos e, mesmo sabendo que ele não tem para onde ir, não lhe oferece um lugar para ficar. Chega um momento em que Nick procura um novo rumo para a vida: acaba dividindo um lugar (na verdade um galpão) com outros dois caras e arranjando emprego num abrigo para sem tetos por influência de uma quase namorada (Olivia Thirlby). Diante dos dramas daqueles que precisam do abrigo, o olhar de Nick sobre o mundo parece ficar mais sensível, até o momento em que se reencontra com o pai que agora é um sem teto. É como se aproveitasse a oportunidade para dar o troco ao pai pelos anos de abandono. Paul Weitz não faz muitas concessões para que o público se envolva com as aspereza da relação entre pai e filho. Existem um bocado de cobranças e culpas que não são ditas em cena, mas que perpassam a relação da dupla. Se o filme ficasse centrado nos delírios de grandeza de Johnatan e na inabilidade de Nick resolver suas pendengas emocionais com o pai, provavelmente o filme seria melhor, mas o diretor prefere colocar vários penduricalhos pelo caminho sem que o filme tenha tempo suficiente para resolver as situações que apresenta. O vício de Nick é mal explorado, assim como o pesar sobre o suicídio da amorosa mãe é tão corrido que mal nos damos conta do que houve. A impressão é que as coisas simplesmente acontecem, numa sucessão de acontecimentos autodestrutivos sob personagens que parecem estar alheios a si mesmos. Podem pensar que é uma estratégia narrativa, mas é abordagem superficial mesmo. De Niro e Dano fazem o possível, mas seus personagens parecem nunca se encaixar no desenvolver na trama, sempre há um abismo entre eles. Pode parece implicância, mas percebo muito de Paul Weitz e Chris Weitz nessa relação mostrada na Família Flynn. Os Weitz assinaram juntos o excelente Um Grande Garoto (2002) e desde que se separaram fazem filmes que parecem render só a metade do que deveriam. Está na hora de perceberem que o olhar de um complementa o do outro e voltar a trabalhar juntos. 

A Família Flynn (Being Flynn/EUA-2012) de Paul Weitz com Paul Dano, Robert De Niro, Julianne Moore, Olivia Thirlby e Lily Taylor. ☻☻

DVD: A Escolha Perfeita

As Bellas: melhor do que os últimos 40 capítulos de Glee. 

Já perdi o hábito de assistir filmes como A Escolha Perfeita, aquele tipo de filme adolescente inofensivo cujo o único objetivo é fazer rir. Eles eram mais comuns na década de 1980 com a obra de John Hughes (que é até citado no longa com um dos seus maiores clássicos: O Clube dos Cinco/1985), mas se tornaram cada vez mais raros com o padrão American Pie (1999) de filmes adolescentes. Apesar de beber na fonte de Hughes, outra referência clara de A Escolha Perfeita é o sucesso da série Glee, com a vantagem de se resolver em menos de duas horas e não fingir que tem assunto para várias temporadas. A ideia do filme é bem simples: mostrar uma competição de grupos universitários de a capela. A protagonista é Beca (Anna Kendrick, cada vez mais conhecida como único membro do elenco de Crepúsculo que terá uma carreira promissora depois de sua indicação ao Oscar por Amor sem Escalas/2009), uma menina com ambições de se tornar DJ e com dificuldades de se enturmar. Ela nem sabe muito bem o motivo de se meter num grupo universitário de cantores a capela, mas consegue uma vaga no grupo As Bellas de Barden, que tem algumas regras bastante rígidas para suas integrantes - a mais estranha é não poder se envolver com os membros do grupo rival pertencente à mesma universidade, os Tremblemakers. Aliás, esse é o maior problema de Beca, que flerta cada vez mais com um dos novos membros da concorrência, Jesse (Skylar Astin). Apresentados os personagens (com destaque para a autoritária líder das Bellas vivida por Anna Camp), o filme de Jason Moore investe em vários momentos musicais que conseguem empolgar o público pela interação (ou seria competição) entre seus personagens. Para dar um tom mais cômico ao filme fizeram o favor de escalar a australiana Rebel Wilson para injetar seu humor peculiar na personagem Amy Gorda. Wilson chegou a concorrer a alguns prêmios pelo papel (incluindo Critic's Choice Award de melhor atriz de comédia) e levou para a casa o prêmio de revelação no MTV Movie Awards deste ano, mas dizer que a loura rouba a cena é um exagero. Pode se dizer que ela cumpre seu papel de fazer graça quando o filme corre o risco de ficar piegas demais. Conta pontos ainda a escolha admiravelmente pop do repertório dos grupos (ainda que The Sign do Ace of Base possa causar urticária ao fim da sessão) e a química entre Astin e Kendrick. A Escolha Perfeita foi um sucesso surpresa nos cinemas do ano passado e deve receber uma sequência no ano que vem. Resta saber se a premissa terá fôlego para tanto. 

A Escolha Perfeita (The Pitch Perfect/EUA-2012) de Jason Moore com Anna Kendrick, Rebel Wilson, Skylar Astin, Britany Snow e Elizabeth Banks. ☻☻☻

segunda-feira, 22 de abril de 2013

CATÁLOGO: Auto Focus

Kinnear e Bello: até que a pornografia nos separe. 

É inegável que Paul Shrader tem atração por personagens do submundo que sempre pendem para o lado mais sombrio do ser humano. Seu maior clássico ainda é o texto de Taxi Driver (1976), que lhe abriu caminho para a carreira de diretor com a comédia Vivendo na Corda Bamba (1978) para depois mergulhar no mundo da pornografia com Hardcore (1979) e no universo michê em Gigolô Americano (1980) que lançou Richard Gere ao estrelato. Apesar de já ter assinado a direção de 18 filmes, Schrader tem um fã clube bastante restrito que não garante que seus filmes se tornem sucessos de bilheteria ou que recebam um espaço nos cinemas brasileiros. Auto Focus foi seu filme de 2002 e, apesar dos elogios prestados à atuação de Greg Kinnear, o filme foi mal nas bilheterias e foi assistido por meia dúzia de gatos pingados quando passou em uma ou outra sala por aqui. O elenco é de fato o maior atrativo do filme sobre o comediante Bob Crane que se tornou famoso por um seriado de TV que satirizava o nazismo - Hogan's Heroes (batizado por aqui de Guerra, Sombra e Água Fresca) que foi ao ar de 1965 até 1971. A fama na TV durou até que descobriram seu vício em sexo e pornografia. Apesar de contar boa parte da vida de comediante, o filme padece (estranhamente) de falta de assunto. Crane começou a carreira em programas de rádio e vivia aparentemente feliz com a esposa (Rita Wilson, a esposa de Tom Hanks) e seus filhos. Quando começou a se tornar famoso tornou-se amigo de John Henry Carpenter (Willem Dafoe), um funcionário da Sony Eletronics (que caiu em desgraça com o advento da TV a cores e  descobriram que ele era daltônico). Carpenter o apresentou um mundo de orgias e demais aventuras sexuais. O filme mostra o hábito de Carpenter e Crane gravarem suas aventuras sexuais com prostitutas, strippers, fãs e aspirantes ao estrelato e como essa prática sacrificou sua relação com a primeira e a segunda esposa (vivida por Maria Bello) - esta até se considerava sexualmente liberada até que ele foi longe demais até para os padrões dela. O filme começa em tom de comédia e depois se torna cada vez mais sombrio, até o ponto em que a carreira de Crane chega ao fundo do poço e culmina num misterioso assassinato. Kinnear carrega o filme nas costas mostrando a ascensão e queda de um sujeito simpático que se perde em fantasias, até se tornar um sujeito desagradável e totalmente alienado do mundo ao seu redor. Ou seja, tudo que Schrader adora! Pena que apesar de alguns bons momentos o filme seja repetitivo demais até que as coisas comecem a desmoronar. Uns quinze minutos a menos teriam feito milagres evalorizaria ainda mais as atuações precisas de Dafoe e Crane como uma dupla de amigos bem íntimos. 

Auto Focus (EUA/2002) de Paul Schrader com Gregg Kinnear, Willem Dafoer, Maria Bello e Rita Wilson. ☻☻ 

sábado, 20 de abril de 2013

DVD: Bastidores de Um Casamento

Ezra e Kate: momento de lucidez. 

O drama familiar é um dos gêneros mais complicados de se fazer, principalmente quando costuma misturar vários personagens e a tendência de cair no exagero beira o inevitável - especialmente quando o roteiro inventa de mergulhar nos dramas de cada parente. Esse é o mal de Bastidores de um Casamento, filme de estreia de Sam Levinson, que chegou a ser premiado em Sundance pelo roteiro. Ainda que não seja um filme ruim, ele é construído em exageros em torno de um casamento e as relações familiares que se esgarçam quando um bando de parentes se reúne. O problema é que os personagens quase nunca conseguem se afastar da caricatura e o humor negro que brota das situações nasce justamente do excesso de drama, especialmente da protagonista Lynn (Ellen Barkin em atuação esforçada) que tenta colocar a vida em ordem depois que seu primeiro casamento foi um desastre para todos os envolvidos. O problema é que já se passou quase duas décadas desse fracasso emocional! O noivo, que remete ao título em português (que é péssimo), é filho do primeiro casamento de Lynn. Dylan (Michael Nardelli) foi criado pelo pai (Thomas Haden Church) e pela madrasta (Demi Moore, que tem uma das piadas mais bem sacadas do filme ao ser acusada de ser stripper no passado). Dylan é o único filho não problemático de Lynn.  Ainda que seja atualmente casada com um marido boa praça (Jeffrey DeMunn), Lynn lida com vários problemas entre seus filhos. Alice (Kate Bosworth), fruto do primeiro casamento, enfrenta problemas psiquiátricos que a leva a se cortar com navalhas e estiletes (e a evita falar com o pai desde o divórcio). Seus meio-irmãos também tem problemas psicológicos, se o caçula (Daniel Yelski) aparenta ter um diagnóstico precoce de autismo, Elliot (Ezra Miller) acaba de sair de uma clínica de desintoxicação após enfrentar problemas com as drogas (mas continua consumindo drogas e álcool escondido da mãe). Embora nunca tenha sido reconhecida como uma grande atriz, a loura Ellen Barkin dá conta do que o roteiro lhe pede: ser uma mulher que está no limite - quando percebe que todos os comentários de sua família gira em torno de sua inabilidade de reconstruir a vida as expressões estranhas de um rosto cheio de plásticas colabora ainda mais para a sensação que um colapso é iminente! Os dramas exagerados ainda ganham espaço com o patriarca da família (George Kennedy) que está prestes a morrer e sua esposa (Ellen Burstyn) que tem medo da solidão que está por vir. O que não falta são lágrimas e  alfinetadas de parentes (que tornam a família Baker numa das mais insuportáveis insensíveis do cinema), mas pior que isso são os comentários cheios de psicologismos que nem sempre funcionam, deixando o filme cansativo depois de uma hora de projeção. Enquanto percebemos que a festa de casamento servirá para lavar muita roupa suja, fica evidente que  Levinson abraça o olhar cínico de Elliot sobre a família em questão - isso deve explicar porque falta carinho no olhar do diretor perante seus personagens. Presos em caricaturas, poucos são os momentos em que os Baker não são mostrados como seres unidimensionais. No fim das contas, o filme não deixa de ser melancólico ao provar que a tese de Elliot (que momentos tristes unem mais os membros de uma família do que momentos felizes) está certa, ao mesmo tempo que coloca Alice e Elliot acordados  guiando a família na volta para o lar (que apesar de tantos problemas parece ser mais confortável do que a casa da vovó). 

Bastidores de Um Casamento (Another Happy Day/EUA-2011) de Sam Levinson com Ellen Barkin, Ellen Burstyn, Kate Bosworth, Ezra Miller e Demi Moore. ☻☻

quinta-feira, 18 de abril de 2013

DVD: A Origem dos Guardiões

Sandman, Coelho da Páscoa, Papai Noel, Fada do Dente e Jack Frost: boa aventura. 

Tenho uma tia que proíbe até hoje que contemos aos seus netos que Papai Noel e Coelhinho da Páscoa não existem. Lembro que quando era adolescente e não podíamos destruir as fantasias de minha prima caçula - eu achava que colaborar para essa bobagem uma das coisas mais irritantes de conviver. Ainda bem que a adolescência passou! Desde os primórdios de sua existência o homem buscava explicações para as coisas que não conseguia entender. Foi assim que surgiram as mitologias e seus deuses (sejam os gregas, africanas, indígenas...). Seria correto dizer que existem alguns mitos que pertencem à outra categoria: os mitos infantis? Explicações para o presente que aparece na manhã de natal ou para os ovos pintados que aparecem no jardim no domingo de páscoa? Ou então para os sonhos que nos visitam durante à noite? Segundo essa animação da Dreamworks, os responsáveis por esses mimos são os chamados Guardiões, criaturas escolhidas para zelar pela proteção das crianças através de um pouco de fantasia em seus dias. Claro que se existe um grupo de personagens tão conhecidos o único vilão à altura seria p Bicho Papão! A Origem dos Guardiões é sobretudo uma aventura construída com base em personagens bem conhecidos das crianças, especialmente as americanas. Papai Noel, chamado de North é uma espécie de líder do grupo selecionado pelo que chamam Homem na Lua. É ele que percebe que o Breu (o nome do Papão) está preparando um grande plano para acabar com os sonhos e fantasias das crianças. Com a ajuda do Coelho da Páscoa, Sandman (conhecido por aqui como João Pestana) e a Fada do Dente eles tentarão impedí-lo com a ajuda de um novo guardião, o jovem Jack Frost. Famoso por sua inconsequência, Frost reluta a se juntar ao grupo, mas aos poucos irá perceber que suas habilidades serão fundamentais para vencer o mal. É interessante como o filme é uma ode à fantasia, à necessidade de existir quase um mundo paralelo habitado por seres mágicos capazes de dar graça aos dias mais comuns. Mesmo sem ter a intenção de ser inovador, o roteiro consegue trabalhar muito bem os conflitos dos personagens (especialmente de Frost, o qual não pode ser visto por ninguém acreditar que ele existe). Além de bem produzido e ter ritmo eficiente impresso pelo diretor Peter Ramsay (que já fez até os storyboards de Clube da Luta/1999 de David Fincher!), um dos grandes trunfos do filme é a concepção visual dos protagonistas. Quem pensaria em fazer uma Fada do Dente com características de Beija Flor? Ou um Coelho da Páscoa marrento? E até um Papai Noel com tatuagens? Transformando personagens tão populares em heróis o filme fez merecido sucesso e agora tem a chance de ser revisto em DVD. 

A Origem dos Guardiões (Rise of the Guardians/EUA-2012) de Peter Ramsay com vozes de Alec Baldwin, Chris Pine, Hugh Jackman, Jude Law e Isla Fisher. ☻☻☻

DVD: Beleza Adormecida

Browning (no centro): zzzzzzzzzzzzzzzzz

Virou moda fazer filmes obscuros que remetem aos contos de fadas. Transformados em superproduções nem sempre as obras funcionam, mas esse longa de Julia Leigh optou por um tom mais intimista, só que muito mais estranho. Beleza Adormecida nem chega a ter uma história, mas uma espécie de espiadela nas fantasias da diretora. O roteiro conta a história de uma universitária que topa qualquer serviço para resolver os problemas com o aluguel. Cansada de ficar sem dinheiro e prestes a ser despejada ela vê no jornal uma oferta de emprego misteriosa e aceita a empreitada. Nem ela sabe direito o que deve fazer, sabe apenas que servirá alguns homens endinheirados, hora como garçonete, ora como outra coisa e por poucas horas de serviço ganhará $250,oo. Eu não sei se é para ser reconfortante ou apenas estranho quando desde o início a sua nova patroa deixa claro que não haverá "penetração" por parte dos clientes. O fato é que ela será dopada para ficar num quarto com algum cliente, sujeita à companhia e carícias deles sem se dar conta do que está acontecendo. O filme foi cultuado em alguns festivais (como Cannes/2011 que o indicou à Palma de Ouro), mas o filme não tem nada demais. É arrastado, confuso e tão apático quando sua protagonista. Ainda não digeri muito bem que aquela garotinha promissora de Desventuras em Série (2004) tenha se tornado uma atriz tão inexpressiva e que escolhe filmes pautados na exploração mais gratuita de sua sexualidade. Emily Browning já fez isso em Sucker Punch (2011) - o pior filme de Zack Snyder - e agora aprofunda ainda mais essa pose de objeto neste aqui. Sua personagem, Lucy, só consegue causar irritação pela forma superficial como lida com a própria sexualidade. Diante de tudo que acontece ela consegue apenas ser superficial e sua personagem termina da mesma forma que começa. Durante o lançamento internacional do filme, Leigh dizia ter se inspirado mais no livro Memórias de Minhas Putas Tristes de Gabriel Garcia Marques do que na história da Bela Adormecida. Além disso ajudou a complexificar sua história vendida como um olhar sobre o "desejo masculino", sobre a "superficialidade das relações carnais" e que "o foco era sobre a velhice".   Sinceramente, ela deveria estar falando de outro filme (e de outros livros). Beleza Adormecida é no máximo decepcionante. Podem me acusar que sou ignorante demais para entender suas simbologias, que o verdadeiro filme se constrói na cabeça do espectador, mas a verdade é que o filme padece de uma preguiça fora do comum ao imaginar que a fetichização de uma garota basta para prender a atenção. Apesar de ter concorrido a 25 prêmios internacionais, se ele também cansar a sua beleza você pode até cochilar assistindo, talvez aí você descubra a origem do título.

Beleza Adormecida (Sleeping Beauty/Australia-2011) de Julia Leigh com Emily Browning, Les Chantery, Eden Falk, Rachael Blake e Michael Dorman.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

COMBO: Momento Dramático

Deve ser muito estranho para um ator ser rotulado a somente um gênero, por isso é perfeitamente compreensível quando os comediantes se aventuram por dramas. Além de todo o preconceito que insiste em fazer a comédia ser vista como um gênero menor, ainda existe um bocado de tentativas de superação nessas tentativas. Sempre lembro de uma entrevista de Marco Nanini dizendo que quando ele começou no teatro ele fazia dramas e nos momentos mais dramáticos as pessoas começavam a rir,. Chego a ver o professor de teatro olhar para ele e dizer: "Filho, você é um comediante". Apenas eu ou mais alguém vê nisso uma espécie de maldição? Este combo é dedicado aos que tentam se livrar dela...

5 Embriagado de Amor (2001) Todo mundo estranhou quando Adam Sandler foi escalado para trabalhar com o cultuado diretor Paul Thomas Anderson. Bastou o filme ser exibido em Cannes para os elogios começarem a rarear e o filme ser considerado o pior longa do diretor. Com traços de cinema experimental, o filme acompanha um personagem excêntrico com inúmeras irmãs e que sonha em colecionar milhas aéreas para dar a volta ao mundo. Além disso ele se apaixona (por Emily Watson), mas é perseguido por um serviço de disk-sexo. Depois de fazer filmes centrados em vários personagens, Anderson se concentra em um personagem complexo (Sanlder foi indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas o resultado está longe de ser memorável. 

4 Jeff e as Armações do Destino (2011) Jason Segel chegou ao estrelato a pouco tempo e seu tipo grandalhão desengonçado já parece dramático por si só. Apesar de fazer comediotas, Segel costuma estar mais presente em filmes onde seu personagem tem uma leve pegada mais dramática. Foi assim que ficou famoso com Ressaca de Amor (2008) e amplia em produções como neste Jeff e as Armações do Destino onde vive um rapaz solitário que prefere viver num porão a enfrentar o mundo, ele nem imagina que pode se tornar um herói! Segel recentemente investiu em outro papel mais sério em Cinco Anos de Noivado e, por enquanto, a estratégia está funcionando. 

3 Mais Estranho que a Ficção (2006) Sempre acho o humor de Will Ferrell mais ridículo do engraçado, portanto, ele me agrada muito mais quando pensa menos em fazer rir do que envolver a plateia no desenvolvimento de seus personagens. Mais Estranho que a Ficção de Marc Foster mostrou que o ator sabe fazer mais do que palhaçadas. A história surreal do homem que descobre ser um personagem saiu da cabeça do roteirista Zach Helm (que foi indicado a vários prêmios pelo texto, menos para o Oscar). Sob a direção astuta de Foster, Ferrell foi indicado ao Globo de Ouro, mas foi esnobado pelo público que rejeita seus dotes dramáticos. 

2 Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (2007) Steve Carell é um comediante que sempre tempera seus personagens com alguma tristeza. Foi assim desde que o público caiu de amores por ele em O Virgem de 40 Anos (2005). No entanto, o filme em que exercita mais sua musculatura dramática é este longa independente de Peter Hedge - onde vive um escritor de livros de auto-ajuda que não consegue conduzir direito a própria vida. A coisa complica ainda mais quando ele se apaixona pela namorada (Juliette Binoche) do irmão (Dane Cook). Apesar das premiações ignorá-lo, ele também deu uma roupagem bastante emotiva aos seus personagens em Amor A Toda Prova (2011) e Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (2012)

1 Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças (2004) Acho que Jim Carrey foi o mais frustrado dos comediantes recentes que se aventuraram pelo drama. Desprezado pelo Oscar ele teve atuações premiáveis em O Show de Truman (1998), O Mundo de Andy (1999), Cine Majestic (2001) e foi desprezado pela Academia até quando estrelou este excepcional filme de Michel Gondry onde vive um homem que pretende apagar a namorada (Kate Winslet, indicada ao Oscar). Carrey entrega um personagem pungente e merecia esse reconhecimento. O motivo para tanto desprezo? Brincar de ventríloquo com as próprias nádegas ao se apresentar no Oscar de 1995. Depois que chutou o pau da barraca em O Golpista do Ano (2009) o ator desanimou e se entrega a comédias inofensivas e papéis de coadjuvante. 

DVD: Pronto para Recomeçar

Ferrell: personagem em maré de azar. 

Will Ferrel é um comediante, que como todos os outros, gosta de fazer um personagem mais dramático de vez em quando. No entanto, ele tem uma vantagem sobre os demais que é a crítica elogiando suas atuações mais contidas e, a habilidade de saber escolher as produções mais sentimentais que aparecem em seu caminho. Ele só precisa tomar cuidado para não fazer sempre o mesmo personagem nesse tipo de filme. Em Pronto para Recomeçar ele é Nick Halsey, um homem que irá enfrentar a pior semana de sua vida. Devido à sua instabilidade ele acaba sendo demitido da empresa em que trabalhou por anos. Não bastasse esse problema, ao chegar em casa ele encontra sua coisas no jardim e a casa, de fechaduras novas, trancada. A esposa se mandou e deixou uma carta de despedida dizendo que estava cansada da vida que levavam juntos. Nick passa então a viver no jardim, esperando que a esposa volte. Se a atitude traz um bocado de melancolia, por outro lado, demonstra que o personagem tem dificuldades de seguir em frente. Sua atitude é invariavelmente tomar uma latinha de cerveja e esperar que os efeitos do álcool o faça esquecer o que está acontecendo. Tudo no roteiro dá a entender que o personagem tem sérios problemas com a bebida, mas não existe cena alguma que demonstre o efeito da bebida sobre o comportamento inconsequente. Senti falta de um momento explosivo do personagem, ele sempre parece passivo e manso demais para um sujeito desagradável que ninguém quer ficar perto. Ou melhor, ele até tem momentos agressivos, mas esses são com a vizinha grávida (Rebecca Hall) que espera o esposo chegar  e um menino solitário que quer aprender a jogar beisebol (Christopher Jordan Wallace), mas não são nada demais. Nick ainda tem uma amigo policial (Michael Peña) que aparece de vez em quando para ver como andam as coisas e... no final das contas, Nick irá perceber que na sua vida ele tem pouco mais do que os dois novos amigos e um monte de objetos que, no fundo, não significam muita coisa. Embora a premissa seja interessante, o diretor estreante Dan Rush não consegue imprimir ritmo à narrativa, resultando numa obra arrastada e que não engrena nem na reta final - o que sufoca totalmente a atuação de Ferrell. O roteiro também tem os seus tropeços, por exemplo, eu não entendi muito bem o propósito da mulher deixar tudo do lado de fora da casa e mudar a fechadura se ela nem aparece por ali - me pareceu um exercício sádico demais para quem deveria ser a mocinha incompreendida da história. Esses aspectos fazem com que um filme que poderia ser interessante se torne apenas mediano em sua frieza apática. Mas Will não tem do que reclamar, já que consegue dar conta de um personagem diferente do que o grande público gosta de vê-lo. Apesar disso, ele me lembrou outros caras frustrados em que já deu vida no cinema, o tom do protagonista é o mesmo que já vimos no surreal Mais Estranho que a Ficção (2006) ou Estranha Família (2005). Ou seja, se existe a disposição para viver personagens que não vivem de palhaçada, ao mesmo tempo, ele precisa sair de sua zona de conforto para que consiga se impor em dramas mais ambiciosos do que este. No fundo, todos querem ser uma espécie de Tom Hanks, que ganhou respeito depois de ganhar a vida em comédias até se aventurar em dramas pesados como Filadélfia (1993). 

Pronto para Recomeçar (Everything Must Go/EUA-2010) de Dan Rush com Will Ferrell, Rebecca Hall, Christopher Jordan Wallace, Michael Peña e Laura Dern. ☻☻

segunda-feira, 15 de abril de 2013

DVD: Os Infratores

Os Bondurant reunidos: bom uísque produzido no fundo do quintal. 

John Hillcoat prova cada vez mais que é um ótimo diretor, no entanto, ainda encontra dificuldade para encontrar o seu público. Se A Estrada (2009) foi vítima das próprias expectativas geradas, com Os Infratores não foi diferente. Se no primeiro o diretor se contentava em centrar sua narrativa em dois personagens (defendidos com maestria por Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee), aqui ele lida com quase uma dezena de personagens sem muita dificuldade. Reserva destaque para Tom Hardy e Shia Labeouf, mas sabe por que vale a pena ter Jessica Chastain, Gary Oldman e Mia Wasikowska por perto. O cinema de Hillcoat não deve ter encontrado o seu público ainda pela atração que o diretor tem por universos onde a lei não serve para muita coisa, as instituições são falidas e resta a tentativa de se guiar no caos onde mocinhos e bandidos tem suas linhas divisórias borradas. O gosto cinéfilo do diretor ainda fica mais evidente quando lida com a violência de uma forma livremente inspirada em faroestes clássicos. Embora seja ambientado durante a lei seca nos EUA na década de 1920, em vários momentos me senti diante de um legítimo bang bang. O filme é baseado em uma história real e conta a história dos irmãos Bondurant. Jack (Shia LaBeouf, se esforçando num papel sério) é o caçula da família, menos troglodita que seus irmãos, ele vive se dando mal (e a cena de abertura onde hesita em matar um porco com um tiro mostra bastante de sua personalidade). As coisas pioram bastante quando  quando chega à cidade um agente cheio de pose (Guy Pearce, mais afetado do que em Priscila, A Rainha do Deserto) que pretende fazer valer a famigerada lei seca quando os Bondurant se recusam a compartilhar os lucros com as autoridades locais. Vale lembrar que esse período fez a glória dos gangsters que contrabandeavam bebidas destiladas de produtores clandestinos que driblavam as leis para ganhar a vida. Mais do que um herói juvenil, Jack reflete muito da atração que o cinema tem pelo gangster, seu estilo bem alinhado, os carros velozes, a pose de encrenqueiro - embora nutrindo um amor puro pela filha do pastor da região (Mia Wasikowska). Embora Jack receba bastante atenção, quem chefia o clã Bondurant é Forrest (Tom Hardy), que fala pouco e gosta de incrementar os boatos de que é invencível (o que só aumenta a raiva do tal agente por sua família), ainda que sofra todo tipo de golpe mortal de seus rivais. Hardy já provou várias vezes que é capaz de mostrar que os brutos também tem coração, mas não lembro dele ter uma química tão boa entre um troglodita e uma dama como vemos em seu personagem ao lado da personagem de Jessica Chastain. Na trama sobrou pouco espaço para Howard Bondurant (Jason Clarke), que fica restrito a alguns momentos de surto durante o filme. Muita gente deve se incomodar com a violência impressa por Hillcoat na trama, especialmente pelos requintes com que são mostradas. De homens castrados passando por pescoços quebrados (ou cortados), o filme é um verdadeiro desafio ao estômago do público. No entanto, vale a pena desviar o olhar quando o diretor exagerar e acompanhar a força da narrativa impressa por ele e por seu elenco (destaque ainda para Dane DeHaan, que me lembra cada vez mais o jovem DiCaprio). O mais interessante e que com todo o cuidado estético da produção o que mais me chamou a atenção foi o nome do roqueiro Nick Cave como responsável pela adaptação do livro de Matt Bondurant (neto de Jack), em alguns momentos eu parecia estar ouvindo algumas de suas músicas enquanto via e ouvia as cenas. 

Os Infratores (Lawless/EUA-2012) de John Hillcoat com Shia LaBeouf, Tom Hardy, Guy Pearce, Dane DeHaan, Jason Clarke, Jessica Chastain e Mia Wasikowska. ☻☻☻

MTV MOVIE AWARDS 2013

Whedon, Capitão América, Nick e Loki: super-heróis premiados. 

A MTV está cada vez mais no meu seleto grupo de vergonha alheia. Ontem foi a entrega do MTV Movie Awards 2013 e o que era para ser mais uma edição do que já foi um dos prêmios mais descolados do cinema causou apenas bocejos. O caminho da bobagem mais rasteira e gratuita até que tentava ser disfarçado com uma piada ou outra da sempre-a-mesma-coisa Rebel Wilson, mas aqueles comentários da MTV brasileira são imperdoáveis e ainda reclamam do José Wilker e do Rubens Ewald Filho! Será que dá tanto trabalho mandar calarem a boca da próxima vez? Pelo menos a vitória de Os Vingadores e a presença de nomes que apareceram em outras premiações como Jennifer Lawrence (que ganha pela segunda vez consecutiva),  Bradley Cooper, Javier Barden e Ben Affleck ao lado de promessas como Ezra Miller, Suraj Sharma e Tom Hiddleston compensam baboseiras sem noção como "Melhor Performance sem Camisa". O engraçado é que Crepúsculo ficou de fora de quase todas as categorias depois de esmagar a concorrência por um bom tempo. Enfim, ainda há esperança na premiação. A seguir todos os indicados e o nome dos premiados em destaque. 

FILME DO ANO
Django Livre
O Lado Bom da Vida
Ted
Os Vingadores
Batman – O Cavalheiro das Trevas Ressurge

MELHOR ATRIZ
Anne Hathaway, Les Miserables
Mila Kunis, Ted
Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida
Emma Watson, As Vantagens de Ser Invisível
Rebel Wilson, Pitch Perfect

MELHOR ATOR
Ben Affleck, Argo
Bradley Cooper, O Lado Bom da Vida
Daniel Day-Lewis, Lincoln
Jamie Foxx, Django Livre
Channing Tatum, Magic Mike

REVELAÇÃO
Ezra Miller, As Vantagens de Ser Invisível
Eddie Redmayne, Les Miserables
Suraj Sharma, As Aventuras de Pi
Quvenzhané Wallis, Indomável Sonhadora
Rebel Wilson, A Escolha Perfeita

MELHOR PERFORMANCE ASSUSTADA
Jessica Chastain, A Hora Mais Escura
Alexandra Daddario, Texas Chainsaw 3D
Martin Freeman, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Jennifer Lawrence, A Casa do Final da Rua
Suraj Sharma, As Aventuras de Pi

MELHOR DUPLA
Leonardo DiCaprio & Samuel L. Jackson, Django Livre
Bradley Cooper & Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida
Mark Wahlberg & Seth MacFarlane, Ted
Robert Downey Jr. & Mark Ruffalo, Os Vingadores
Will Ferrell & Zach Galifianakis, Os Candidatos

MELHOR PERFORMANCE SEM CAMISA
Christian Bale, Batman: O Cavalheiro das Trevas Ressurge
Daniel Craig, Skyfall
Taylor Lautner, A Saga Crepúsculo: Amanhecer Parte 2
Seth MacFarlane as Ted, Ted
Channing Tatum, Magic Mike

MELHOR LUTA
Jamie Foxx vs. Candieland Henchmen, Django Livre
Daniel Craig vs. Ola Rapace, Skyfall
Mark Wahlberg vs. Seth MacFarlane as Ted, Ted
Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson and Jeremy Renner vs. Tom Hiddleston, Os Vingadores
Christian Bale vs. Tom Hardy, Batman – O Cavalheiro das Trevas Ressurge

MELHOR BEIJO
Kerry Washington and Jamie Foxx, Django Livre
Kara Hayward and Jared Gilman, Moonrise Kingdom
Jennifer Lawrence and Bradley Cooper, O Lado Bom da Vida
Mila Kunis and Mark Wahlberg, Ted
Emma Watson and Logan Lerman, As Vantagens de Ser Invisível

MELHOR MOMENTO WTF (OU 'QUE #$%*@ É ESSA')
Jamie Foxx and Samuel L. Jackson, “Candieland Gets Smoked” em Django Livre
Denzel Washington, “Final Descent” em O Vôo 
Anna Camp, “Hack-Appella” em A Escolha Perfeita
Javier Bardem, “Oops… There Goes His Face” em Skyfall
Seth MacFarlane as Ted, “Ted Gets Saucy” em Ted

MELHOR VILÃO
Javier Bardem, Skyfall
Leonardo DiCaprio, Django Livre
Marion Cotillard, Batman – O Cavalheiro das Trevas Ressurge
Tom Hardy, Batman – O Cavalheiro das Trevas Ressurge
Tom Hiddleston, Os Vingadores

MELHOR MOMENTO MUSICAL
Anne Hathaway, Les Miserables
Channing Tatum, Matt Bomer, Joe Manganiello, Kevin Nash and Adam Rodriguez, Magic Mike
Anna Kendrick, Rebel Wilson, Anna Camp, Brittany Snow, Alexis Knapp, Ester Dean and Hana Mae Lee, A Escolha Perfeita
Bradley Cooper and Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida
Emma Watson, Logan Lerman and Ezra Miller, As Vantagens de Ser Invisível

domingo, 14 de abril de 2013

DVD: O Segredo da Cabana

Três amigos: Big Brother melhor que o original?

Acreditam que eu demorei muito tempo para reconhecer Chris Hemsworth neste filme? Estou tão acostumado a vê-lo como Thor (você não faz ideia de quantas vezes meu pai já viu o filme do super-herói da Marvel) que não o reconheci sem a cabeleira e a barba (e convenhamos que o visual não era tão diferente em Branca de Neve e o Caçador). Some isso ao fato dele estar mais "adolescente" neste filme e acho que Odin vai até me perdoar! O Segredo da Cabana começou a chamar minha atenção quando me deparei com seu pôster que entrou na minha lista de favoritos do ano passado. Depois li algumas resenhas bastante favoráveis ao jeito como o filme busca surpreender o público com reviravoltas malucamente coerentes. A cereja do bolo foi quando a Associação de Críticos Americanos indicou o filme como um dos melhores filmes de ficção-científica e terror do ano passado. De fato, o filme consegue surpreender, ainda que com aquele clima de brincadeira que fez a graça de Scream no final do século XX. No início temos aquela sensação de que tudo será uma grande farsa e as atuações (propositalmente?) artificiais do elenco fazem tudo parecer meio trash (inclusive os letreiros que surgem quando o longa ainda  parece um filme sério de ficção científica). A premissa é bastante simples: um grupo de cinco amigos vão passar uns dias numa cabana no meio do mato enquanto temos a impressão que serão cobaias de um experimento. No início parece um programa de televisão com câmeras escondidas e estímulos variados para que se comportem conforme um grupo de jaleco misterioso esperam. Enquanto a plateia tenta entender o que está acontecendo o filme começa a ser invadido por zumbis e... se contar mais estraga! O Segredo da Cabana faz uma homenagem a vários filmes de terror e o faz com bastante graça, construindo um universo onde tudo se mistura: sacrifícios, virgens destemidas, monstros variados a espera de suas vítimas, clichês, deuses e o escambau! O incrível é os três atos do filme são desenvolvidos com uma coerência imaginativa rara neste tipo de produção. Existem tantos argumentos no liquidificador do roteiro que não dá para ficar indiferente ao banho de sangue promovido na hora da vingança - onde o feitiço vira contra o feiticeiro. Trata-se de um momento tão espetacular que está a léguas de distância de quase tudo o que foi produzido no gênero no ano passado. O segredo para esse tom certo de aventura, sci-fi e horror vem das referências que poucas pessoas saberiam manipular tão bem quanto o produtor e roteirista Joss Whedon (diretor de Os Vingadores) que encontrou no estreante Drew Goddard (Jean Luc deve estar com urticária) a habilidade compatível com a velocidade de sua mente delirante. O Segredo da Cabana, com seu humor obscuro, jorros hemorrágicos e tom profano consegue oferecer aos fãs do terror (e aqueles que nem curtem muito o gênero), noventa e cinco minutos de um engenhoso quebra-cabeça de imagens que traz bastante ironia sobre o público de um dos gêneros mais marginalizados da história do cinema. 

O Segredo da Cabana (Cabin in the Woods/EUA-2012) de Drew Goddard com Chris Hemsworth, Kristen Connolly, Anna Hutchinson, Fran Franz, Richard Jenkins e Jesse Williams. ☻☻☻

DVD: Livro de Escotismo para Meninos

Turgoose: do amor platônico à tortura. 

Livro de Escotismo para Meninos é um filme pequeno, modesto e por isso mesmo surpreendente.  Mas vale ressaltar, que no meio do caminho, ele fica longe de ser movido pela nobreza que esperamos de um guia para escoteiros.  Acho notável a habilidade do diretor Tom Harper (neste que é seu primeiro e único trabalho no cinema como diretor até agora) de mudar o clima da narrativa quando ele alcança aquele ponto cômodo em que a plateia pensa que está diante de mais um romance juvenil de veraneio. Desde o início o cenário já soa diferente, já que somos apresentados a uma geografia diferente do Reino Unido. Um ambiente praiano, cheio de sol, mar, piscinas, veranistas e moradores que vivem em trailers. É saltando pelos trailers que conhecemos David (Thomas Turgoose) e sua melhor amiga, Emily (Holliday Grainger). Não precisa mais do que a cumplicidade existente entre a dupla para perceber que existe um amor platônico ali, assim como, pouco depois, somos apresentados a um possível obstáculo: Steve (Rafe Spall que é um dos queridinhos ingleses da atualidade, anda em tudo quanto é filme). Steve é o típico cara mais velho que aparece para atrapalhar. Tem moto, topete e sorriso largo, além de todo o estilo que deixa as mães com a pulga atrás da orelha. Enquanto David e Emily seguem o manual da inconsequência juvenil nesse tipo de produção, o filme fica parecendo uma penca de outros filmes que você já assistiu. É quando a menina recebe o recado que terá que morar com o pai que as coisas complicam. Ela some sem deixar vestígio na cidade - e o desespero de sua mãe (Susan Lynch que parece se inspirar em Amy Winehouse) é menos comovente do que as aparições desnorteadas de David pedindo à população que encontrem sua amiga. Percebermos que tudo é uma farsa e que a garota se esconde por conta de alguns segredos que prefere que ninguém saiba. Neste momento a atmosfera de filme juvenil vai para o espaço e começa a utilizar ingredientes mais próximos do  suspense. Nisso, o que poderia ser uma libertadora declaração de amor se torna cada vez mais o combustível para uma espécie de obsessão, onde o poder de ter o controle sobre alguém é mais forte do que qualquer coisa. David acaba se tornando um paradoxo ambulante, enquanto todos o reconhecem como o pobre garoto preocupado com sua amiga ele se torna numa espécie de aprendiz de vilão. David torna-se capaz de prejudicar pessoas que confiam nele para que as coisas saiam do jeito que ele quer, pena que tudo sai do controle. Há de se ressaltar o talento de Thomas Turgoose de equilibrar inocência  e apatia nos momentos mais complicados de seu personagem. Sua interpretação é o que nos faz oscilar do início alegre até o momento em que a atmosfera ensolarada cede lugar a uma história triste sobre o poder de destruir a quem amamos quando simplesmente não deixamos que faça suas próprias escolhas.  O filme me pareceu uma versão adolescente de O Colecionador (celebrada obra de John Fowles que virou filme em 1965 com Terence Stamp no elenco), mas em seu desfecho arrasador, sabemos que uma parte do jovem David ficou pelo caminho, talvez sua melhor parte, a mais terna, promissora e feliz. 

 Livro de Escotismo para Meninos (The Scouting Book for Boys/Reino Unido-2009) de Tom Harper com Thomas Turgoose, Holliday Grainger, Rafe Spall e Susan Lynch. ☻☻☻

quinta-feira, 11 de abril de 2013

DVD: Cinco Anos de Noivado

Emily e Jason: entre sonhos e casório adiado. 

Aos poucos Jason Segel prova que não quer só o reconhecimento como comediante. Depois de Jeff e as Armações do Destino (2011) ele escreveu para si o papel de quase galã neste Cinco Anos de Noivado. No filme, Jason é quase o parceiro ideal, ele pode não ser propriamente bonito (embora algumas amigas até o considerem pegável), mas tem aquele jeitão despojado e bem humorado que tem público fiel. No filme ele é o chef de cozinha Tom Solomon que namora com a psicóloga Violet (Emily Blunt em atuação bem mais leve que o costume). O pedido de casamento acontece logo no início e gera expectativa em todos os parentes e amigos, mas o matrimônio acaba adiado quando Violet consegue ingressar num curso de pós-doutorado numa Universidade em Michigan - e Tom a acompanha deixando a carreira para trás. Enquanto Violet consegue destaque em sua pesquisa em psicologia comportamental, Tom fica cada vez mais frustrado com as mudanças em sua vida (colabora para isso o fato do amigo desencanado vivido por Chris Pratt ter casado com a cunhada antes que ele e Violet chegarem primeiro ao altar). Trabalhando em uma lanchonete especialista em sanduíches, a vida de Tom não parece melhor nem quando resolve se distrair com o novo amigo que faz tricô nas horas vagas (sempre criando peças mal feitas) e a caça de cervos. Some a isso o flerte de Violet com um professor sabichão (Rhys Ifans) e você terá ideia dos problemas que o casal enfrenta durante o filme. Apesar de uma piada bobalhona aqui e e outra ali, o filme me surpreendeu pela forma como os acontecimentos são bem costurados. Gradativamente acompanhamos o relacionamento de Violet e Tom passar por todo tipo de provação até que comecem a considerar outro rumo para suas vidas. No fim das contas o filme consegue dar novos contornos para o gasto gênero das comédias românticas. Com assinatura de Judd Apatow na produção, o filme mantém sua rotina de saber equilibrar a personalidade de homens e mulheres, sem demonizar um ou outro, mas mostrando atribulações reais que um casal de verdade pode atravessar - apesar de todo o amor que um sente pelo outro. Os (acidentais) cinco anos de noivado são perpassados por óbitos de parentes e por encontros com Alex (Chris Pratt) e Suzie (Alison Brie da série Community) que sempre geram situações curiosas ao representarem a vida que Tom e Violet deveriam ter - além dos comentários sempre pessimistas da mãe de Violet (vivida pela australiana Jacki Weaver. Bem humorado e romântico o filme até arranja espaço para dar algumas alfinetadas no mundo da psicologia - e deixa o público satisfeito à espera de um final feliz para o casal que ganha nossa simpatia já nas primeiras cenas. 

Cinco Anos de Noivado (Five Years Engagement/EUA-2012) de Nicholas Stoller com Jason Segel, Emily Blunt, Rhys Ifans, Chris Pratt, Alison Brie e Jacki Weaver. ☻☻

quarta-feira, 10 de abril de 2013

DVD: O Futuro

July e Hamish: doçura misturada com David Lynch. 

O que esperar de um filme que é narrado por um gatinho de voz sinistra? Com certeza, um punhado de situações inusitadas. Se a primeira parte de O Futuro até engana parecendo ser mais uma comédia romântica típica do cinema independente sobre frustrações e humor tristonho, a coisa muda de figura quando chega em sua metade e a narrativa investe no surreal e o tom se torna até sombrio. Acho que se David Lynch dirigisse uma comédia romântica, ela seria bastante parecida com esse segundo filme assinado pela cineasta Miranda July. Premiada em Cannes por sua estreia em 2005 com Eu, Você e Todos Nós, July volta a câmera para um casal que - ao julgar pela semelhança física - parecem ser almas gêmeas. Sophie e Jason parecem viver confortavelmente em seu pequeno universo domiciliar entre brincadeiras pessoais e ambições que parecem nunca se concretizar. Até o dia em que encontram um gato na rua (o tal que narra o filme) e decidem cuidar dele a vida de ambos parecia estar num ponto cômodo que nem precisava ser modificado. Levando o bichano ao veterinário, descobrem que ele ficará em observação por quase um mês devido à uma patinha quebrada. A data marcada para buscar o felino desperta no casal o sentimento de que o tempo passa aos poucos sem que se deem conta de que alguns de seus desejos ficaram para trás. Sophie (a própria diretora e roteirista do filme) percebe que poderia fazer mais sucesso postando vídeos de dança no Youtube do que se dedicando às aulas de um bando de crianças de pretensões dançantes. Enquanto isso, Jason (Hamish Linklater, o irmão impagável da série The Adventures of Old Christine em atuação contida) resolve fazer algo pelo mundo como sempre sonhou... ou quase, já que o máximo que consegue é participar de uma organização que vende árvores ao preço de dez dólares! O engraçado é que nem quando se rendem às suas ambições o casal parece gostar do que faz. É neste ponto que o relacionamento entra em crise. Embora sejam carinhosos um com o outro, a passividade de Sophie parece cessar somente para fazer esquisitices - e ela acaba se rendendo a um caso com um homem mais velho que vive solitário com a filha. O amante aceita sem questionar as excentricidades de Sophie e quando ela resolve contar o que está havendo para Jason o filme dá sua guinada rumo ao desconhecido. Se a brincadeira de parar o tempo ganha um pequeno espaço logo no início, ela se mostra um recurso inevitável para retratar o pavor das surpresas que só um "agora" pode causar, ao mesmo tempo, denota uma certa inércia de Jason diante dos acontecimentos. Enquanto a vida de Jason para, a de Sophia prossegue por caminhos não menos inusitados. Seja pela garota que deseja se enterrar no fundo do quintal ou por uma camiseta que ganha vida para assombrá-la. Embora O Futuro separe a trajetória de seus personagens (inclusive do gatinho que ao final é condenado à uma ausência constante pela total inabilidade dos seus novos donos de perceber a passagem do tempo), o final parece apontar para um retorno ao passado, ou seria ao presente que já é o futuro vivenciado? O Futuro é um olhar bastante pessoal de July sobre uma relação amorosa e, por isso mesmo, merece tanto estranhamento quanto atenção de quem busca um filme diferente para assistir. 

O Futuro (The Future/EUA-Alemanha/2011) de Miranda July com Miranda July, Hamish Linklater, David Warshofsky e Isabella Acres.
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terça-feira, 9 de abril de 2013

DVD: As Aventuras de Pi


Parker e Pi: filme bonito por dentro e por fora. 

Muita gente ficou surpresa quando viu Ang Lee ser eleito pelo Oscar o melhor diretor de 2012. Achavam que com Ben Affleck fora do páreo (ainda com toda a consagração de Argo) a vitória de Steven Spielberg seria certa. Eu já imaginava que a Academia não renderia a Spielberg uma terceira estatueta de diretor, mas não esperava que fosse consagrar, pela segunda vez, o cineasta taiwanês. Desde que levou para a casa a estatueta de diretor por Brokeback Mountain (2005) o diretor não caia no gosto da Academia e até do público. Depois de carregar no erotismo em Desejo e Perigo (2007) e fazer um retrato ingênuo do festival de rock mais famoso da história em Aconteceu em Woodstock (2009) já estava na hora de fazer um filme arrebatador como esta adaptação do premiado livro do canadense Yann Martel. Lançado em 2001, o livro teve sua própria cota de polêmicas - ao ponto de ser acusado de se tratar de plágio do livro "Max e os felinos" do brasileiro Moacir Scliar. Na obra de Scliar um jovem náufrago alemão se vê num bote ao lado de um jaguar. Na época do lançamento, Martel chegou a fazer declarações bastante deselegantes alegando que pegou uma ideia "que não foi aproveitada como deveria por um escritor ruim". No meio da confusão, Scliar resolveu se calar e Martel pediu desculpas fazendo agradecimentos à "semente" de Pi que foi plantada não pelo livro de Scliar, mas por uma resenha que lera sobre a obra. Alegando ser bastante diferente do livro brasileiro, Martel ficou bastante feliz com as onze indicações ao Oscar que o filme recebeu. Muitos dos méritos do filme se deve ao esforço hercúleo de Lee que conduziu um orçamente inchado de 240 milhões numa produção arriscada que envolvia cerca de três mil profissionais. Dá para perceber em que partes da leitura a produção começou a tomar forma na mente de seu diretor como um longa em 3D. Cenas como as do naufrágio, o momento em que céu e terra se fundem para um bote que parece navegar no infinito, o ataque dos peixes voadores, o salto da baleia e outros belíssimos momentos renderam cenas que impressionaram na telona, mas que mesmo em DVD não devem decepcionar. Ainda acho que o único problema é  o início que demora a engrenar ao introduzir a relação do jovem indiano Pi(scine) Patel com uma religiosidade híbrida. Ainda assim, a relação do personagem com Deus(es) é fundamental para o andamento da trama e serve de liga para os acontecimentos que se seguem quando o navio em que viaja com a família e os animais do zoológico naufraga. Depois de tirar o fôlego da plateia com a tragédia, Pi (o estreante Suraj Sharma) se vê num bote ao lado de uma zebra, uma hiena e um tigre de bengala conhecido como Richard Parker (!), mas logo um orangotango irá se juntar ao grupo. Aos poucos, Pi se verá sozinho com o ameaçador Tigre, que de uma maneira incomum irá colaborar para a sua sobrevivência. A forma como o tigre lhe inspira medo e solidariedade é um dos grandes trunfos do filme que flerta com a fantasia em alguns momentos sem desafinar na narrativa. Lee cria um espetáculo para os olhos, sem perder de vista as reflexões filosóficas que um homem solitário pode ter em seus confrontos com a natureza ao seu redor e em si mesmo. Não bastasse todas as qualidades da produção, o roteiro ainda reserva um desfecho surpreendente para a história que torna tudo ainda mais simbolicamente rico. Nem precisava tanto, as cenas em que Pi e Richard Parker vencendo suas diferenças na imensidão do oceano já são suficientemente arrebatadoras (com ou sem 3D).

As Aventuras de Pi (Life of Pi/USA-Taiwan/2012) de Ang Lee com Suraj Sharma, Irrfan Khan, Rafe Spall, Gérard Depardieu, Adil Russain e James Saito. ☻☻☻

sábado, 6 de abril de 2013

DVD: À Beira do Abismo

Banks e Worthington: surpresas, suspense e piadas. 

Sam Worthington é um desses atores que os críticos adoram odiar! Trata-se de um caso em que a mídia especializada pega um ator para Cristo e não adianta fazer nada! Nenhum gênero ou esforço é capaz de parar a implicância. Está certo que Sam está longe de ter os dotes interpretativos de um Michael Fassbender ou Wagner Moura, mas também não é essa coisa tão insuportável de assistí-lo como outros atores que tem por aí. Dá para perceber em seus filme que o homem se esforça, mas ele tem uma verdadeira pedra em seu currículo: Avatar (2009) de James Cameron. Parece até que existiam alguns tolinhos que achavam que o rapaz era um dos responsáveis pelo sucesso do filme repleto de efeitos especiais que renderam gorda bilheteria. No entanto, Worthington tem a confiança dos estúdios que sempre lhe convidam para um novo papel - lhe deram até uma franquia de sucesso (Fúria de Titãs que deve render uma terceira parte em breve). Seria maldade dizer que o brando suspense À Beira do Abismo só não se torna um filme melhor por conta de sua presença. O filme é um bom passatempo e, por isso mesmo, cumpre seu papel de forma satisfatória. A trama é cheia de reviravoltas que acabam cansando pelo meio do caminho, mas o elenco cheio de rostos conhecidos consegue prender a atenção enquanto o público tenta montar o quebra-cabeça sugerido pelo roteiro. Um homem misterioso (Worthington) ameaça se jogar do alto de um prédio de Nova York. O aparente suicida começa a despertar suspeitas de que todo o alarde é para esconder alguma coisa. O seu passado acaba deixando claro que tudo pode ser um golpe - e a questão que paira na mente da plateia é se ele é inocente ou culpado... do que? Melhor não revelar. O diretor Asger Leth poderia levar um pouco mais a sério sua história e evitar as piadinhas que vão retirando cada vez mais a credibilidade do que estamos assistindo. Nem me refiro ao alívio cômico promovido pelos personagens de Jamie Bell e Genesis Rodriguez, nem ao climão descaradamente chupado de Onze Homens e Um Segredo, mas todos os personagens não precisavam ficar provando que são bem humorados mesmo quando um homem está para se jogar de um prédio. A maior prejudicada acaba sendo Elizabeth Banks, que leva a sério o seu papel de psicóloga que tenta evitar a tragédia e se vê no meio de um dilema ético e profissional envolvendo a suspeita de corrupção entre seus colegas - o tom cômico da brincadeira acaba jogando toda a dramaticidade no brejo. O filme tem boas cenas de ação e suspense, mas poderia ser ainda melhor se caprichasse mais nos diálogos e não atirasse para todos os lados para agradar todo tipo de público. Da forma como foi feito nem parece que foi inspirado numa obra de Stephen King!!

À Beira do Abismo (Man on a Ledge/EUA-2012) de Asger Leth com Sam Worthington, Elizabeth Banks, Jamie Bell, Ed Harris, Edward Burns, Genesis Rodriguez, Kyra Sedgwick e Anthony Mackie. ☻☻

KLÁSSIQO: Alice Não Mora Mais Aqui

Burstyn e Lutter: dupla mais que afinada. 

Atuando desde a década de 1950, Ellen Burstyn já foi indicada sete vezes ao Oscar, mas a única estatueta que tem na estante é por conta de sua parceria com o diretor Martin Scorsese neste Alice Não Mora Mais Aqui (1974) - vale lembrar que não são poucos que dizem que ela merecia outro por sua performance inesquecível em Réquiem Para um Sonho (2000), sua última indicação ao prêmio da Academia. Por conta de Réquiem, Ellen se tornou uma das minhas atrizes veteranas favoritas e tornou-se o principal motivo para que eu assistisse ao quarto filme do cineasta, o que lançou antes do ponto de virada com Taxi Driver. Não tem como não associar o início de ar fabuloso do longa com O Mágico de Oz, onde a fotografia avermelhada sobre uma paisagem rural é cortada pela voz de uma garota cantante até que a mãe lhe chame a atenção. Este é o passado de Alice (Burstyn), que em sua maturidade vive com um marido grosseirão e um filho que é uma verdadeira figura (cortesia de Alfred Lutter que largou a carreira promissora de ator ainda na década de 1970 e hoje ganha a vida como empresário no campo da informática). Devo confessar que estranhei bastante o tom cômico do filme, afinal, não estou acostumado a ver Scorsese dirigindo uma comédia (embora muitos de seus filmes tenham alta carga de humor negro). Alice parece bastante acomodada à sua vidinha comum quando torna-se viúva aos 35 anos, mas encara o fato como a oportunidade de um verdadeiro recomeço. Ela arruma suas coisas, coloca o filho dentro do carro e tem a ambição de retomar a carreira de cantora (que nunca decolou). É uma trama simples, mas escrita com grande desenvoltura por Robert Gretchell (indicado ao Oscar de roteiro original por sua estreia que é, também, seu melhor trabalho), o autor  tempera o que poderia ser um filme edificante com um humor bastante peculiar. Obviamente que não deixa de existir certa doçura quando Alice senta ao piano para convencer um dono de restaurante que sabe cantar ou quando engata um romance com um novinho Harvey Keitel (que mais tarde se mostra um desequilibrado de primeira), mas o filme gasta mais o tempo com os personagens curiosos que cruzam o caminho da protagonista - especialmente quando ela consegue emprego de garçonete numa das lanchonetes mais desorganizadas da história do cinema. Nesta parte o filme ainda ganha a participação mais do que especial de Diane Ladd (a mãe de Laura Dern) como uma colega de trabalho desbocada. O filme segue os passos de Alice, seus romances, seus conflitos e suas tentativas de encontrar um novo rumo para a vida quando as certezas parecem ter ficado somente no passado. Ellen tem uma atuação bastante humana, sem tornar a personagem uma pobre coitada ou numa heroína, ela chama a atenção por ser justamente uma personagem comum em situações comuns. Ainda que o filme tenha Keitel e Kris Kristofferson como par romântico da atriz, é o moleque que faz o precoce Tommy que se torna o maior destaque masculino do elenco (desde sua primeira cena em que aparece deitado no chão ao som de rock setentista, sabemos que teremos um personagem interessante para acompanhar)! Alfred Lutter tinha treze anos quando realizou as filmagens e alcançou uma atuação tão espirituosa que foi visto como um dos jovens mais promissores da década de 1970, foi indicado ao BAFTA pelo papel e  depois chegou a trabalhar com Woody Allen. Ele não é o único adolescente promissor do filme, no papel de Audrey, sua melhor amiga andrógina, está Jodie Foster em sua primeira experiência sob a batuta de Scorsese (dois anos antes de fazer a pequena prostituta de Táxi Driver). Assim como A Época da Inocência (1993), Kundun (1997) e o recente  A Invenção de Hugo Cabret (2011), Alice é um filme que mostra como o talento de seu diretor é multifacetado, já que na mão de outro o filme seria mais um filminho esquecível sobre a força feminina. 

Alice não Mora Mais Aqui (Alice Don't Live Here Anymore/EUA-1974) de Martin Scorsese com Ellen Burstyn, Alfred Lutter, Kris Kristofferson, Harvey Keitel, Jodie Foster e Diane Ladd. ☻☻☻