segunda-feira, 30 de novembro de 2015

N@ CAPA: Monstros Clássicos

A noiva, a múmia, o Fantasma, o invisível, o Lobisomem, Frank e o Conde. 

Vejamos, no mês de novembro temos o dia de finados e, em 2015, ainda tivemos o privilégio de uma bela sexta-feira 13 para assombrar os supersticiosos. Talvez seja por esse clima que o blog teve os monstros clássicos do cinema em destaque. Frankenstein, Drácula, Fantasma da Ópera, O Homem Invisível e múmias fazem sucesso no cinema há muito tempo. O Frankenstein que temos em nosso imaginário é menos o criado por Mary Shelley e mais a concepção visual criada por James Whale (comentado esse mês com Deuses e Monstros/1998) com a ajuda valiosa de Boris Karloff para dar vida à criatura. O monstro ganharia outras transposições para o cinema, mas nenhuma com o mesmo impacto do filme de 1931 (até Robert DeNiro encarnou a criatura em 1994 num longa dirigido por Kenneth Brannagh). Hoje o personagem pode ser visto nas telas brasileiras em Victor Frankenstein, que tem o foco no pai da criatura (James McAvoy)  pelos olhos de seu assistente Igor (Daniel Radcliffe). O personagem também é um dos pontos mais fortes da série Penny Dreadful, que vai ao ar pela HBO aqui no Brasil. Vale lembrar que o filme de 1931 fez tanto sucesso que gerou uma continuação com outro personagem icônico, A Noiva de Frankenstein (1935) que foi concebida também por James Whale e influenciou penteados famosos de Lady Gaga e Marge Simpson. Whale também levou para as telas O Homem Invisível em 1933, baseado na obra de H.G. Wells. O personagem voltaria a ter outras versões para o cinema, geralmente flertando com a ficção científica (como Paul Verhoven reforçou em O Homem sem Sombra/2000 com Kevin Bacon) ou até comédias (Memórias de Um Homem Invisível/1992 com Chevy Chase) Outro personagem de horror clássico absoluto é o célebre Conde Drácula da Transilvânia. Embora tenha recebido atuação inspirada de Gary Oldman na adaptação de Francis Ford Coppola (em 1992) para o livro de Bram Stoker, a grande referência do vampiro nas telonas é ainda a personificação de Bela Lugosi de caninos afiados e sede de sangue. Depois dele inúmeros vampiros chegariam às telas por diversos atores (Tom Cruise, Brad Pitt, Robert Pattinson, David Bowie, Leslie Nielsen, Eddie Murphy até o recente Luke Evans). Assim como os dois, o Lobisomem também recebe versões constantes para a telona. A última versão mais pomposa da criatura foi em 2010, onde foi encarnada por Benicio Del Toro, mas você deve lembrar de Jack Nicholson em Lobo (1994) ou do antológico Um Lobisomem Americano em Londres (1981)  de John Landis - enquanto as meninas preferem lembrar de Taylor Lautner sem camisa na saga Crepúsculo. Já A Múmia de vez em quando recebe uma refilmagem, Boris Karloff também imortalizou o personagem em 1932, década em que os longas de terror alcançaram seu auge em Hollywood. Depois foi a vez de Christopher Lee vestir o famoso figurino de ataduras em 1959 até que, em 1999, Brendan Fraser protagonizou uma aventura com referência aos clássicos do gênero -com o maior clima de Indiana Jones, rendendo mais duas continuações (recentemente, Tom Cruise mencionou querer ressuscitar a franquia). Para terminar,  O Fantasma da Ópera, baseado na obra de Gaston Leroux, recebeu sua primeira versão para a telona em 1925, ganhou várias séries de TV até ser refilmado em 1989 com Robert Englund (famoso intérprete de Freddy Krueger) na pele do famoso personagem. Em 2004 outra versão chegou às telas com Gerard Butler na pele do mascarado, a direção foi de Joel Schumacher e a base era o musical de Andrew Lloyd Weber que ficou décadas em cartaz na Broadway - mas as bilheterias no cinema não chegaram a empolgar. Se você não viu nenhum filme com os personagens citados acima (o que eu duvido muito), não se preocupe, em breve Hollywood irá preparar novas versões de cada um deles. 

NªTV: Jessica Jones (Netflix)

Krysten e David: o poder da sugestão em clima noir. 

Depois do sucesso absoluto de Demolidor (que está entre as minhas séries favoritas do ano), o Netflix lançou no dia vinte de novembro, em escala mundial, seu novo programa em parceria com a Marvel Studios: Jessica Jones. Dos quatro personagens da editora que aparecerão em programas do canal, Jessica deve ser a menos conhecida (além do já citado Demolidor, Luke Cage e Punhos de Ferro terão suas próprias séries antes de se reunirem em Os Defensores). Diferente da agressividade da outra série ambientada em Hell's Kitchen, Jessica Jones investe num clima noir desde a primeira cena, algo mais do que coerente, já que a personagem (vivida por Krysten Ritter, famosa por sua atuação em Breaking Bad) é apresentada como uma detetive particular após passar por problemas com seus poderes no passado. Esses problemas tem um grande responsável: Kilgrave (David Tennant), um vilão sem poderes colossais, riquezas ou genialidade, mas que consegue destruir qualquer pessoa com seu poder de sugestão. Desde o primeiro episódio, a série apresenta vários personagens que orbitam em torno da heroína, de sua amiga famosa Trish Walker (Rachael Taylor), passando pelo casal de vizinhos irmãos e o futuro esposo de Jessica (pelo menos nas HQs) Luke Cage (Mike Colter), o que beneficia o desenrolar da história. Além de mudar a cor do cabelo da protagonista (que aparecem mais negros que nunca), a série ousa mudar o sexo do advogado que costuma trabalhar com Jessica, transformando Jeryn Hogarth em Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) que é lésbica. Nos treze episódios, somos apresentados aos conflitos de Jessica com o seu passado, sua dificuldade em se ajustar a uma vida aparentemente normal depois de estar sob o domínio de Kilgrave, que aos poucos demonstra seu interesse amoroso por ela - ou será apenas o gosto de sentir seu domínio por alguém que insiste a resistir a ele? Por ser uma super-heroína diferente, várias pessoas tem percebido no programa fortes cores feministas, mas eu não chegaria a tanto, mas diante da euforia, os roteiristas podem aprofundar essa característica nas próximas temporadas. Porém, embora considere o programa interessante, achei a cadência dos episódios um tanto irregular e até cansativos em sua necessidade de adiar as revelações sobre sua protagonista, alimentando seu aspecto sombrio de forma um tanto repetitiva. No entanto, a série se beneficia do bom elenco que consegue driblar o que há de mais delicado em sua concepção: abordar os super-poderes de forma realista. Krysten consegue brincar com, certa canastrice, o descrédito em torno de sua personagem, assim como Tennant se alimenta do quanto o seu poder parece absurdo a primeira vista. Jessica Jones já tem fãs fiéis, mas sua segunda temporada corre o risco de ser adiada indefinidamente por conta do calendário de produções da Marvel no site. No entanto, Jessica (assim como Demolidor) demonstra que a Marvel é extremamente esperta ao explorar uma nova linguagem para os seus heróis fora das telonas. Se Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D personifica a fase bem humorada de suas fases iniciais no cinema, as séries do Netflix apontam para outra direção, mais sóbria, realista e madura para a nova fase de aventuras da editora. 

Jessica Jones (EUA/2015) de Melissa Rosenberg com Krysten Ritter, David Tennant, Carrie-Anne Moss, Mike Colter, Rachael Taylor e Eka Darville. ☻☻☻

Pódio: Phillip Seymour Hoffman

Bronze: o padre suspeito.
Dúvida (2008)
Phillip morreu cedo demais (46 anos) após se tornar um dos melhores atores de sua geração. Em seu currículo estão atuações memoráveis e uma delas é como o padre acusado de molestar um dos alunos de um colégio católico no ano de 1964. Phillip, capricha nas ambiguidades do seu personagem, sem deixar claro se é culpado ou inocente. Reza a lenda que somente ele ouviu do próprio autor (John Patrick Shanley que assina a direção do filme) se o personagem é culpado ou não. Mesmo após o final a dúvida permanece. O filme lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante. 

Prata: O enfermeiro bonzinho.
Magnólia (1999)
Phillip era um dos atores favoritos do diretor Paul Thomas Anderson e foi neste filme caleidoscópico que se tornou um dos meus também. Na pele do zeloso enfermeiro Phil Parma, o ator vive um sujeito bastante diferente dos seus personagens problemáticos. Seu personagem é de um tom humanista que soa como um porto seguro entre a dezena de personagens que compõem a história. Poucos irão entender minha escolha para esse segundo lugar,  mas  percebo aqui uma das construções mais sutis do ator e sempre que revejo o filme o considero ainda melhor em cena. 

Ouro: o escritor brilhante.
Capote (2005)
Sei que parece um clichê colocar o filme que lhe rendeu o Oscar de melhor ator em primeiro lugar, mas como ignorar uma das interpretações mais arrepiantes já vistas numa tela de cinema? Na pele do escritor Truman Capote, Phillip Seymour Hoffman conquistou dezenas de prêmios pela jornada do autor na escrita de clássico A Sangue Frio. Da afetação da voz aos gestos, sem perder de vista a inteligência articulada de Capote, o ator está perfeito em cada cena. Ainda tenho na memória a cena arrepiante onde lê um dos trechos mais contundentes do livro em que o filme se baseia. Essa foi a primeira indicação entre as quatro vezes em que concorreu ao Oscar.    

PL►Y: O Mistério de God's Pocket

Turturro e Hoffman: cidadezinha esquisita. 

John Slaterry ficou famoso com sua atuação na finada série Mad Men. Com seu charme de cabelos brancos, conquistou fãs entre o público feminino e masculino, além de cacife para dirigir cinco episódios do seriado onde vivia o conquistador Roger Sterling. John aproveitou que estava em alta e resolveu adaptar para as telas o livro de Peter Dexter, uma história cheia de possibilidades sobre um homicídio camuflado de acidente numa cidadezinha onde não há muita perspectiva de vida. God's Pocket (traduzindo: Bolso de Deus) é o tal lugar onde vive a voluptuosa Jeanie Scarpato (Christina Hendricks, colega de elenco de Slaterry em Mad Men) e seu atual marido, Mickey Scarpato (Phillip Seymour Hoffman em um dos seus últimos momentos na telona). Os dois moram numa casa suburbana com o filho de Jeanie, o projeto de delinquente Leon (o sempre estranho Caleb Landry Jones). Desde a primeira cena, o jovem não parece ser flor que se cheire e no trabalho, após provocar um dos colegas de serviço, o rapaz acaba morto. No entanto, quando a polícia chega, os colegas dizem que Leon morreu devido a um acidente.  O episódio servirá de ponto de partida para evidenciar a rede de relações da cidade, envolvendo um ladrão amigo de Mickey (John Turturro), um agente funerário (Eddie Marsan) e um jornalista renomado por escrever crônicas locais - que se torna responsável por cobrir o caso (papel de Richard Jenkins). Embora o filme comece promissor com a atmosfera sombria e fotografia desprovida de glamour, a expectativa de quem assiste vai diminuindo conforme o diretor deixa a atmosfera cada vez mais carregada, deixando tudo artificial perante os exageros na composição dos personagens. Carregando nos traços de uma comunidade um tanto sórdida, Slaterry se enrola no desenvolvimento da trama, se perdendo entre personagens que perdem seu aspecto curioso e se tornam cada vez mais distantes da promessa do início. Slaterry demonstra ambição na direção, mas ainda não tem a desenvoltura necessária para guiar seus atores durante a narrativa de um longa metragem, deixando a estranha sensação de que a narrativa ao invés de avançar, implode! O resultado carece de estilo e prova que um bom elenco não consegue salvar um roteiro esquemático, nem quando o diretor tenta exalar aquela atmosfera de filmes sobre pessoas comuns envolvidas com crimes da década de 1970. Enfim, Phillip Seymour Hoffman (falecido em fevereiro do ano passado), merecia uma despedida mais elaborada.  

O Mistério de God's Pocket (God's Pocket/EUA-2014) de John Slaterry com Phillip Seymour Hoffman, Christina Hendricks, John Turturro e Richard Jenkins. ☻☻

domingo, 29 de novembro de 2015

PL►Y: Encarcerado

Jerry e Ben: filho e pai presos um ao outro. 

Relações entre pai e filho já renderam filmes memoráveis, mas poucos possuem a tensão emocional de Encarcerado, afinal, o roteirista Johnatan Asser lava a roupa suja de um filho problemático com o seu pai ausente dentro da prisão - e o diretor David Mackenzie não tem medo de carregar nas tintas desse relacionamento que parece regrado por uma bomba relógio. Eric Love (Jack O'Connell) tem apenas dezenove anos, mas seu histórico repleto de agressividade e infrações é respeitável. Destinado a um presídio, sua fúria precisa ser domada para que as coisas não piorem para o seu lado (seja com os outros detentos ou com os policiais). Até esse ponto, o filme demonstra que não irá deixar de fora todos os elementos que já vimos em outros filmes do gênero, no entanto, a história ganha outras conotações quando Eric encontra no presídio o seu próprio pai, Neville (Ben Mendelsohn). Seu comportamento ainda mais estável com toda a carga de ressentimentos que existem entre os dois. É nessa dinâmica entre pai e filho que o filme consegue tornar-se original, mesmo quando os dois não estão juntos em cena, o diretor consegue manter o espectro de um sobre o outro a todo instante. Seja quando Eric participa de um grupo para domar sua agressividade (aconselhado pelo próprio pai), ou quando precisa lidar com a homossexualidade do pai dentro daquele universo repleto de testosterona. Os conflitos entre os dois crescem de tal forma que a tensão afeta os outros detentos e a própria administração da instituição, revelando ou escondendo interesses que ficarão mais evidentes ao final agressivamente catártico que se aproxima - o que não impede o diretor que criar belas cenas com seus personagens. Ben Mendelsohn alcança aqui seu melhor momento desde que ficou conhecido com, o também familiar, Reino Animal (2010) exalando uma paternidade conflituosa que parece mais atrapalhar do que ajudar seu rebento (que deseja tanto proteger naquele ambiente hostil). Por outro lado, o destaque fica mesmo com Jack O'Connell, aqui no seu primeiro passo rumo ao estrelato que chegou logo depois com Invencível (2014) de Angelina Jolie. O rapaz tem talento suficiente para dar conta de emoções complicadas sem perder uma certa ingenuidade que confere bastante humanidade ao seu personagem (sem parecer intimidado mesmo na já manjada cena de brigar peladão no chuveiro). Só pelos dois atores o filme já merece respeito. 

Encarcerado (Starred Up/Reino Unido-EUA/2013) de David Mackenzie com Jack O'Connell, Ben Mendelsohn, David Ajala, Rupert Friend e Frederick Schmidt. ☻☻☻☻

sábado, 28 de novembro de 2015

Na Tela: Sr. Holmes

Milo e Ian: dupla interessante. 

Já exibido em alguns festivais e mostras no Brasil, Sr. Holmes já pode ser visto nos cinemas. em torno do filme existe uma grande expectativa para gerar uma indicação ao Oscar a Ian McKellen, que dá corpo e alma para uma versão idosa do consagrado detetive Sherlock Holmes. O filme é assinado por Bill Condon, que finalmente lança um bom filme após uma década patinando em produções questionáveis. Condon e McKellen já trabalharam juntos em Deuses e Monstros (1998), filme que rendeu a primeira indicação ao Oscar de Ian e a estatueta de roteiro adaptado para o cineasta. Partindo da ideia de que é sempre interessante imaginar como seria o passar do tempo para personagens literários consagrados, o escritor Mitch Cullin lançou o livro "A Slight trick of the Mind", onde imagina como seria a velhice do personagem antológico de Arthur Conan Doyle no mundo real. Assim, Holmes já está aposentado e procura alguma lógica no mundo após ter visto duas Guerras Mundiais. Talvez por sentir-se derrotado perante os horrores que a humanidade foi capaz de realizar, Holmes vive recluso numa casa na costa da Inglaterra, onde convive apenas com a governanta (Laura Linney, em bom desempenho) e o filho dela, o pequeno Roger (Milo Parker, uma achado). Longe de querer ser um filme de Sherlock Holmes, o filme procura explorar a relação de Sr. Holmes com o pequeno Roger, enquanto a mente desse senhor de 93 anos começa a traí-lo a do menino está em ebulição criativa e curiosa. São nas conversas com Milo, que Holmes percebe a necessidade de passar sua história a limpo, do relacionamento com o amigo fiel Sr. Watson temos apenas um vislumbre e os casos começam a se confundir na mente do experiente detetive. O filme utiliza alguns elementos que remetem diretamente à atmosfera dos livros sobre o detetive, mas de forma a contemplar, como seria o olhar de Holmes sobre tudo o que aconteceu se ele realmente existisse. Ian McKellen está excelente em cena, atribuindo sutileza e inteligência ao personagem que recebeu versões mais modernas na última década, trata-se de um belo trabalho do ator que se beneficia de uma química excepcional com o novato Milo Parker, especialmente com a subtrama sobre abelhas e vespas, onde o menino demonstra ser um belo discípulo (do ator e do personagem). Ao contrário de suas produções anteriores, Bill Condon aposta na economia para conquistar o expectador e o resultado consegue ser melancolicamente envolvente graças a um tempero cômico. Trata-se do tipo de filme que não se tornará um grande sucesso de bilheteria, mas pode ficar na memória de quem embarcar nessa fantasia simples e bem construída. 

Sr. Holmes (Mr. Holmes/Reino Unido - EUA/2015) de Bill Condon com Ian McKellen, Laura Linney, Milo Parker e Hiroyuki Sanada. ☻☻☻

terça-feira, 24 de novembro de 2015

INDICADOS AO INDEPENDENT SPIRIT-2016

Tangerine: quatro indicações ao Independent Spirit.

Hoje foram divulgados os indicados ao INDEPENDENT SPIRIT AWARDS. A premiação do cinema indie americano torna-se cada vez mais um termômetro para o Oscar, já que com a renovação dos membros da Academia, muitos filmes costumam aparecer nas duas listas de indicados. Ano passado isso ficou ainda mais evidente quando quatro dos cinco filmes indicados ao prêmio de melhor filme do ISA estavam concorrendo também ao Oscar da mesma categoria (sendo o grande premiado em ambos o aclamado Birdman). Curiosamente o brasileiro Que Horas Ela Volta? ficou de fora da categoria de filme estrangeiro após sua premiação em Sundance - o que evidenciou ainda mais o húngaro Son of Saul como o favorito em língua estrangeira da temporada. Como era de se esperar, a premiação rompe paradigmas, indicando as atrizes trans de Tangerine em categorias femininas, a produção do Netflix Beasts of no Nation e Jennifer Jason Leigh como melhor atriz caodjuvante por Anomalisa. Vale lembrar que algumas produções que ambicionam uma indicação ao Oscar ainda não estrearam nos EUA e portanto, ficaram de fora dos indicados (como Joy e Hateful Eight). Os ganhadores do Independent Spirit serão anunciados no dia 27 de fevereiro de 2016. 

Melhor Filme
 Anomalisa
Beasts of No Nation
Carol
Spotlight
Tangerina

Melhor Direção
 Sean Baker, Tangerine
Cary Joji Fukunaga, Beasts of No Nation
Todd Haynes, Carol
Charlie Kaufman & Duke Johnson, Anomalisa
Tom McCarthy, Spotlight
David Robert Mitchell, Corrente do Mal

Melhor Atriz
 Cate Blanchett, Carol
Brie Larson, O Quarto de Jack
Rooney Mara, Carol
Bel Powley, O Diário de uma Adolescente
Kitana Kiki Rodriquez, Tangerine

Melhor Ator
Christopher Abbott, James White
Abraham Attah, Beasts of No Nation
Ben Mendelsohn, Mississippi Grind
Jason Segel, O Final do Tour
Koudous Seihon, Mediterranea

Melhor Roteiro
 Charlie Kaufman, Anomalisa
Donald Margulies, O Final do Tour
Phyllis Nagy, Carol
Tom McCarthy & Josh Singer, Spotlight
S. Craig Zahler, Bone Tomahawk

Melhor Atriz Coadjuvante
 Robin Bartlett, H.
Marin Ireland, Glass Chin
Jennifer Jason Leigh, Anomalisa
Cynthia Nixon, James White
Mya Taylor, Tangerine

Melhor Ator Coadjuvante
Kevin Corrigan, Results
Paul Dano, Love & Mercy
Idris Elba, Beasts of No Nation
Richard Jenkins, Bone Tomahawk
Michael Shannon, 99 Homes

Melhor Roteiro de Iniciante
 Jesse Andrews, Eu, Você e a Garota que vai Morrer
Joseph Carpignano, Mediterranea
Emma Donoghue, O Quarto de Jack
Marielle Heller, O Diário de uma Adolescente
John Magary, Russell Harbaugh, Myna Joseph, The Mend

Melhor Fotografia
 Beasts of No Nation
Carol
Corrente do Mal
Meadlowland
Songs My Brothers Taught Me

Melhor Documentário
 (T)error
Best of Enemies
Heart of Dog
The Look of Silence
Meru
The Russian Woodpecker

Melhor Filme Estrangeiro
 Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência
O Abraço da Serpente
Garotas
Mustang
O Filho de Saul

Melhor Filme de Iniciante
 The Diary of a Teenage Girl
James White
Manos Sucias
Mediterranea
Songs My Brothers Taught Me

Prêmio Robert Altman
 Spotlight

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

NªTV: Mr. Robot

Slater e Rami: tecnologia temperada com esquizofrenia. 

Ainda que repleto de feriados (ou talvez por isso mesmo), novembro tem sido um mês bastante exaustivo, deixando pouco tempo para esse humilde ser escrever no blog. Esse é o motivo pelo qual somente agora terminei de assistir a cultuada Mr. Robot (exibida por aqui no canal Space com o nome de Sociedade Hacker, a série ainda está disponível no site do canal). Forte candidata a melhor série do ano, o programa surpreendeu ao ser lançada pelo canal USA, famosa por produções otimistas que sempre ficam fora do radar da crítica e das premiações - aqui o tom é totalmente diferente. A série criada por Sam Esmail era inicialmente um filme, mas que (por motivos que especularei mais a frente) acabou sendo abortado e transformado em série (o que deixou espaço de sobra para deixar a trama ainda mais elaborada). A trama conta a história do gênio da informática Elliot Alderson (Rami Malek que sabe usa muito bem usar seu rosto de traços incomuns), que trabalha numa empresa de segurança digital dirigida por Gideon Goddard (Michel Gill) ao lado da amiga de infância Angela Moss (Portia Doubleday). Entre os clientes da empresa está o conglomerado ECorp, uma corporação que abrange vários segmentos do mundo moderno (internet, celulares, produtos de informática, cartões de crédito...) e que possui uma ligação infeliz com o passado de Elliotr e Angela, afinal, foi a empresa responsável pela morte do pai dele e a mãe dela. Desde o primeiro episódio, sabemos que, nas horas vagas, Elliot é um hacker habilidoso, que passa o tempo investigando a vida de quem cruza o seu caminho, fazendo alguns atos heróicos (e outros nem tanto) no que acredita colaborar na criação de um mundo melhor. Suas ações chegarão a outro patamar, quando entrar para um grupo de hackers liderado pelo misterioso Mr. Robot (Christian Slater) que quer destruir a ECorp. O que poderia ser somente sobre a execução de um plano, recebe camadas surpreendentes quando descobrimos que Elliot está longe de ser um sujeito estável. Viciado em morfina e indisciplinado com sua psiquiatra e medicamentos, ao longo dos dez episódios da primeira temporada teremos muitos segredos a descobrir na série que flerta o tempo inteiro com a esquizofrenia de seu protagonista. Desde os primeiros minutos você irá perceber as semelhanças da série com Clube da Luta (1999) de David Fincher (o que deve ter causado o cancelamento do filme de Sam Esmail) e a semelhança não aparece apenas no plano que perpassa toda a temporada, mas também nos enquadramentos, filtros utilizados, cortes nervosos e narrativa não linear. Mas as fontes cinematográficas não param por aí, referências à V de Vingança (2005) e Psicopata Americano (2000) também aparecem na construção de um universo extremamente coeso e surpreendente. Mr. Robot ainda possui uma coleção de outros personagens instigantes - destaque para o jovem executivo sueco Tyrell Wellick (um impressionante Martin Wollström) e o andrógino WhiteRose (B.D. Wong) - e uma trilha que impressiona pelo uso de sonoridades eletrônicas (quase sempre ruídos) que inserem o espectador nas emoções do protagonista, fazendo nos sentir dentro dele,  como se fosse uma amigo imaginário do atormentado Elliot.  Desde o primeiro episódio a série já diz a que veio - o que a tornou na grande surpresa na temporada 2015. Mr. Robot teve sua segunda temporada garantida antes mesmo de estrear após a comoção gerada por seu piloto em exibições teste  (sorte da crescente legião de fãs que se pergunta quem bateu naquela porta no final do último episódio). 

Martin Wollström: o "American Psycho" Sueco.

Mr. Robot (EUA/2015) de Sam Esmail com Rami Malek, Christian Slater, Martin Wollström, Portia Doubleday, Michel Gill, Ben Rappaport, Gloria Reuben, Stephanie Corneliussen e Frankie Shaw. ☻☻☻☻☻ 

PL►Y: A Entrevista

Diana Bang, Rogen e Franco: incidente diplomático por mais do mesmo. 

Assistir  A Entrevista foi um grande desafio para mim. Eu pensei que já estava acostumado com o humor chulo das comédias estreladas pela dupla Seth Rogen e James Franco, mas eu estava completamente enganado. Talvez eu tenha enjoado do estilo impresso pelos dois amigos, mas, por outro lado, penso que A Entrevista é um tanto preguiçoso - e seria um enorme fracasso se não fosse toda a polêmica envolvendo o ditador norte-coreano Kim Jong-un, que ameaçou até fazer uma guerra contra os Estados Unidos quando tomou ciência do filme. Não era para tanto, afinal, apesar da tonelada de palavrões e baixarias, o filme é bastante inofensivo para a política mundial. O filme começa interessante com o entrevistador Dave Skylark (Franco) conseguindo a confissão de que o rapper Eminem (vivido pelo próprio em participação especial) é homossexual. Seu produtor, Aaron Rapaport (Rogen) considera o "furo jornalístico" uma grande conquista, mas isso não altera em nada o desprezo que todos sentem pelo programa de Skylark - dedicado às futilidades do mundo das celebridades. Percebendo que não é muito conhecido pela credibilidade em abordar temas relevantes, Aaron tenta dar novo rumo à carreira televisiva quando Skylark descobre que é o entrevistador favorito de Jong-un (Randall Park). Eis que o produtor consegue uma entrevista com o ditador - o que chama a atenção da CIA que tenta aproveitar a oportunidade para matar o entrevistado. Apesar do clima de pastiche dos filmes de intriga internacional, as piadas seguem a linha dos outros filmes da dupla, mas com a diferença de James Franco aparecer mais idiota do que nunca e Rogen tentar manter a seriedade de seu personagem. Cenas sobre drogas e sexo aparecem muitas vezes, mas a graça acaba ficando com Randall Park, que apresenta uma química surpreendente com Franco enquanto seus personagens parecem ficar amigos entre um passeio de tanque e outro. No fundo o que torna o filme sem graça é a visão pouco original utilizada para fazer uma manjada troça da mídia, nesse ponto a imbecilidade exagerada de Skylark acaba deixando a desejar. 

A Entrevista (The Interview/EUA-2014) de Evan Goldberg e Seth Rogen com James Franco, Seth Rogen, Randall Park, Diana Bang e Lizzy Caplan.

domingo, 22 de novembro de 2015

CATÁLOGO: As Duas Faces de Um Crime

Gere e Norton: roubando a cena. 

Existem filme que são salvos pela atuação de um ator. Ele torna-se responsável para que as pessoas vejam o filme (apesar de todos os defeitos que apresenta a sessão), torna-se a fonte de interesse para que as pessoas o assistam várias vezes e o motivo para que recomendemos aos amigos uma produção que por pouco seria medíocre. Quando estreou, As Duas Faces de Um Crime de Gregory Hoblit contava com o nome de Richard Gere no alto dos créditos para chamar a atenção do público. Ao seu lado estavam duas atrizes confiáveis (Laura Linney e Frances McDormand), mas que ainda não eram reconhecidas como deviam - mas que eram capazes de trazer credibilidade para as cenas mais estapafúrdias. Enquanto elas faziam o seu trabalho, Gere aperta os olhinhos, faz biquinho e faz charme para a câmera e justificar seu cachê milionário fazendo o público feminino achar que o filme vale o preço do ingresso ao vê-lo desemprenhar um advogado sem muita credibilidade. Portanto, a surpresa de ver um estreante mastigar todos os seus colegas de cena torna-se ainda mais saboroso. Edward Norton era um ilustre desconhecido quando foi escolhido para viver o suspeito de assassinato cujo o filme gira em torno. Um rapaz com cara, voz e jeito de uma ingenuidade insuspeita, mas que é acusado de matar um respeitado padre local sem motivos aparentes. O filme segue sem muito entusiasmo, com trilha jazzística, diálogos pouco elaborados, cortes rápidos e troca de olhares desprovidas de qualquer sutileza entre os atores, mas tudo muda quando se descobre que o ingênuo Aaron (Norton) sofre de dupla personalidade. A ideia poderia ser ridículo, mas são nesses momentos que percebemos como Edward Norton conseguiu (com um único filme) ser considerado um dos melhores de sua geração - e perceber o quanto todo o filme destoa de seu desempenho colossal. Chega a ser engraçado, ver Richard Gere imaginando que o filme é dele enquanto o novato rouba as cenas e provoca arrepios nas poucas cenas em que aparece. Ainda que tudo soe um tanto previsível, sempre que vejo o filme, agradeço a ele por ter revelado um ator que é capaz de fazer qualquer produção subir para outro patamar. Não por acaso, Edward Norton conseguiu aqui sua primeira indicação ao Oscar  - no caso, de ator coadjuvante, ele ainda seria indicado ao prêmio de melhor ator por American History X (1999) e coadjuvante por Birdman (2015). As Duas Faces de um Crime está longe de ser um grande filme, mas vale ser revisto como o registro do nascimento de um dos atores mais celebrados do final do século XX. 

As Duas Faces de Um Crime (Primal Fear/EUA-1996) de Gregory Hoblit com Richard Gere, Laura Linney, Edward Norton e Frances McDormand. ☻☻

APOSTAS PARA O OSCAR 2016 - CAPÍTULO III

Spotlight
Há quem aponte esse drama jornalístico dirigido por Thomas McCarthy como o atual favorito ao Oscar 2016, por outro lado, existem aqueles que consideram que o filme passa longe da eficiência dos clássicos do gênero. Ainda que divida opiniões, Spotlight promete polêmicas ao abordar uma investigação jornalística sobre casos de pedofilia na igreja católica. Baseado numa matéria premiada no começo dos anos 2000, o filme tem um elenco que impressiona: Michael Keaton (em ótima fase), Rachel McAdams, Mark Ruffalo, Stanley Tucci e John Slattery. 

Brooklyn 
John  Crawley é um diretor britânico que recebe cada vez mais atenção - e parece que esse ano ele acertou em cheio com essa adaptação do livro de Colm Tóibín sobre uma jovem irlandesa (Saoirse Ronan) que se muda para os EUA nos anos 1950, precisamente no bairro do Brooklyn. Lá ela irá se envolver com um bombeiro de origem italiana (vivido por Emory Cohen) enquanto tenta se adaptar à nova realidade. O filme, com roteiro de Nick Hornby, colhe muitos elogios pela atuação de sua jovem estrela (já indicada ao Oscar aos doze anos por Desejo e Reparação/2007).

Joy
Nunca subestime o fôlego de um filme de David O. Russell. O diretor que mais cravou indicações ao Oscar nos últimos cinco anos (foram vinte e cinco indicações com três filmes lançados) conta agora a história real de Joy Mangano (Jennifer Lawrence em sua terceira parceria com o diretor), que conciliou sua vida de mãe solteira e inventora para se tornar uma das empreendedoras mais bem sucedidas dos Estados Unidos. Poucos viram o filme que é mantido a sete chaves pelo diretor, mas o elenco promete não decepcionar (conta ainda com Bradley Cooper, Robert DeNiro, Isabella Rossellini, Diane Ladd e Virginia Madsen). 

Sicario
Enquanto isso, o canadense Denis Villeneuve (indicado ao Oscar de filme estrangeiro pelo seu impressionante Incêndios/2010) tenta chamar a atenção da Academia pela segunda vez com esse filme (em cartaz no Brasil) sobre uma ação ambiciosa da CIA para destruir um chefão do tráfico de drogas mexicano. Em meio à ação, uma agente do FBI (Emily Blunt) irá testar seus limites morais e éticos. O Oscar não tem dedicado muita atenção a filmes do gênero, mas vai que... no elenco ainda estão Josh Brolin e Benicio Del Toro. 

Love & Mercy 
Aclamado como o filme mais pop no páreo desse ano, essa cinebiografia de Bryan Wilson, vocalista do antológico Beach Boys, coleciona cada vez mais admiradores pela forma como conta a trajetória de um ícone da música. Partindo do relacionamento com o pai abusivo, passando pelas excentricidades no processo criativo, o uso de drogas e o relacionamento com uma banda que não entendia todas as suas intenções, o filme de Bill Pohlad traz Paul Dano e John Cusack encarnando o músico em fases distintas de sua vida. O elenco ainda traz Paul Giamatti e Elizabeth Banks em papéis importantes na vida de Wilson. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

PL►Y: Invencível

O'Connell: torturas em excesso comandadas por Angelina Jolie. 

Faz tempo que Angelina Jolie anuncia que irá se afastar da carreira de atriz, tanto que atua cada vez menos. A esposa de Brad Pitt anda cada vez mais interessada em firmar-se como cineasta. Para isso já caminha para seu terceiro longa metragem atrás das câmeras. Sua estreia em Na Terra de Amor e Ódio (2011) não empolgou público, crítica ou distribuidores, mas deixou evidente suas ambições com doses consideráveis de pretensão. Ano passado ela lançou seu segundo filme como diretora, a produção foi cercada de nomes de prestígio (o roteiro era dos irmãos Coen e a produção assinada pelo marido) e enriquecida com inúmeros comentários que pareciam colocá-lo entre os favoritos ao Oscar. É verdade que o filme concorreu em três categorias (fotografia, mixagem de som e edição de som), mas nada que empolgasse os envolvidos. Jolie não fez um filme ruim, mas carente de estilo. Sua linguagem é clássica demais (embora apele por embaralhar os tempos da narrativa) e sua história descamba para o patriotismo que concorreu diretamente com as qualidades ambíguas de American Sniper de Clint Eastwood (que concorreu a seis estatuetas, incluindo melhor filme). Invencível conta a impressionante história de Louis Zamperini (o ótimo Jack O'Connell demonstrando ter fôlego para astro), um rapaz de origem italiana, que torna-se atleta e recordista olímpico para pouco depois servir na Segunda Guerra Mundial, passar 45 dias num bote em alto mar, sendo resgatado por japoneses e sofrer tipos variados de tortura. Não é difícil perceber porque a vida de Zamperini virou filme, tão pouco o interesse de Jolie contar uma história de superação tão comovente, no entanto, a diretora inexperiente opta por alguns recursos que soam estranhos. Não consigo entender, por exemplo, o motivo do filme gastar tanto tempo esmiuçando as violências sofridas pelo protagonista (dando-lhe mais de duas horas de duração que mereciam ser mais enxutas), das inúmeras cenas em que apanha pelas mãos do cabo Watanabe (o andrógino Takamasa Ishihara, mais conhecido como o astro pop japonês Miyavi), passando pela parte em que Louis é socado por cada um dos prisioneiros de guerra que convivem com ele, ressalta menos a força de seu personagem e mais um certo sadismo. Para além do olhar maniqueísta sobre uma maldade "quase natural dos japoneses", o filme em momento algum menciona questões sobre o ataque a Hiroshima e Nagasaki, que seria crucial para o fim da guerra e a libertação dos personagens. Deslizes como esse tornam o filme menos interessante do que deveria, perdendo a oportunidade de aprofundar ainda mais as loucuras da guerra e a crueldade humana. Resta ao espectador apreciar a boa atuação de O'Connell e seu algoz Miyavi, numa química estranha, quase sadomasoquista que parece atrair muito a diretora. Ao que parece, as ambições de Jolie como cineasta encontraram terreno em Hollywood, mas depois de um trabalho aparentemente exaustivo, a atriz resolveu simplificar em seu próximo filme, À Beira Mar não terá cenas de guerra ou torturas, mas se dedicará a captar a crise de um casal vivido por Jolie e Pitt. 

Invencível (Unbroken/EUA-2014) de Angelina Jolie com Jack O'Connell, Domhnall Gleeson Miyavi, Jai Coutney, Garrett Hedlund e Finn Witrock. ☻☻

domingo, 15 de novembro de 2015

NªTV: Les Revenants - 2ª Temporada

Les Revenants: mistérios que continuam. 

Depois de longa demora, finalmente chega ao ar no Brasil (pelo Canal MAX) a segunda temporada da minha série favorita do ano passado, a francesa Les Revenants. De lá para cá, a temática da série recebeu uma versão genérica confusa (Ressurrection) e uma versão americana mais literal e sem alma (The Returned) que só comprovam seus méritos. Aos fãs resta o consolo de que os franceses esperaram muito mais para conhecer novos acontecimentos da cidade onde os mortos voltaram a conviver com os vivos sem qualquer explicação. A primeira temporada estreou na França em novembro de 2012 e terminou sem pretensões de criar uma segunda. Com o sucesso mundial da série, a segunda temporada ganhou forma até que seu elenco e roteirista estivessem disponíveis -  o que demorou mais do que o esperado. Portanto, não sinta-se esquisito que você se sentiu um tanto deslocado nos dois primeiros episódios que já foram ao ar por aqui, parece que o efeito mundial foi esse mesmo. A segunda temporada tem sua história ambientada seis meses depois dos fatos do último episódio da primeira. Nesse período, houve uma enchente na cidade, fazendo com que alguns habitantes falecessem, outros fugissem e existisse uma divisão entre duas partes da cidade, em uma delas vive os moradores que se recusaram a partir, da outra estão os mortos que retornaram. Entre um grupo e outro, está um grupo de militares que tentam reorganizar a cidade e entender os boatos sobre os mortos que voltaram por ali. Não dá para contar muita coisa para não estragar o clima de mistérios e surpresas que a série conserva para seus novos oito episódios. Mas vale dizer que Adele (Chlotilde Hesme) gera um filho de seu ex-noivo Simon (Pierre Perrier), que ressuscitou na temporada anterior (mais de uma vez, registre-se) e que ninguém sabe os mistérios que ronda o bebê. Além disso, o pequeno Victor (Swann Nambotin, que cresceu bastante de uma temporada para a outra), que voltou após mais de trinta anos morto, continua sendo cuidado por Julie (Céline Sallette), - embora novas surpresas sobre sua família sejam reveladas nessa nova temporada. Alguns personagens parecem ter morrido na enchente e outros ainda procuram os desaparecidos, mas novas revelações devem acontecer ao longo dos episódios. Chama a atenção, que os produtores investiram numa linguagem visual diferente da utilizada anteriormente, com muitos planos abertos e mais longos gerando cenas quase documentais, deixando os expectadores com a sensação de que muita coisa mudou enquanto estivemos fora daquele universo (tal e qual os mortos que ainda devem voltar). O clima fúnebre, misterioso e melancólico continua crescendo gradativamente - e seu foco sobre as emoções de vivo e mortos no retorno ao convívio com seus entes queridos continua funcionando. O criador Fabrice Gobert já começou a dar forma à uma nova temporada na série criada a partir do filme homônimo (lançado por aqui com o nome de Eles Voltaram/2004) de Robin Campillo. Resta pedir para que não demore tanto para chegar à nossa TV. 

Les Revenants - 2ª Temporada (França - 2015) de Fabrice Gobert com Chlotilde Hesme, SWann Nambotin, Céline Salette, Pierre Perrier, Guillaume Gouix e Ana Girardot. ☻☻☻☻

CATÁLOGO: Por uma Vida Menos Ordinária

Ewan e Cameron: romance esquisito. 

A transição de cineastas europeus para o cinema hollywoodiano não costuma ser fácil, mesmo porque o estilo muitas vezes precisa ser traduzido para uma indústria de traços tem específicos, havendo dificuldades para ficar do jeito que o diretor quer ou do jeito que o produtor deseja. Se o diretor tiver sorte (e contar com um estúdio que banque sua visão das coisas) a transição pode ser menos traumatizante, caso contrário, sua carreira pode ficar por um fio. Essa foi a sensação que os fãs tiveram quando se depararam com Por Uma Vida Menos Ordinária, primeiro longa metragem com dinheiro americano do escocês Danny Boyle -  responsável por duas pérolas do cinema independente europeu dos anos 1990 (e se você ainda não viu Cova Rasa/1994 ou Trainspotting/1996, você está esperando o quê?) - que, aparentemente, desejava uma guinada na carreira quando resolveu fazer uma comédia romântica temperada com humor negro (recurso muito bem utilizado em seus filmes anteriores). O filme conta a história de Robert (Ewan McGregor), um faxineiro que perde o emprego quando seu patrão troca seus serviços pelos de uma máquina. Revoltado, e desempregado, ele resolve sequestrar a filha patricinha do magnata, a problemática Celine (Cameron Diaz). O relacionamento dos dois segue a velha cartilha das comédias românticas, os dois irão se desentender até o fim do filme, até que percebam que existe um certo interesse mútuo entre eles (mas o melhor momento do casal é a cena que se inspira nem antigos musicais). O filme demora para engrenar e está bem longe do ritmo estiloso que tornou Boyle conhecido mundialmente, deixando como toque mais original a dupla de anjos da pesada O'Reilly (Holly Hunter) e Jackson (Delroy Lindo) que tenta manter o casal junto (a qualquer preço) seguindo métodos pouco ortodoxos (reza a lenda que o casal celestial foi concebido originalmente como uma dupla de matadores profissionais, mas na última hora, o diretor resolveu colocá-los como anjos adeptos do uso de violência). É verdade que o diretor capricha numa plasticidade moderninha vintage para ambientar os personagens, mantem a trilha sonora bacana como característica, mas perde pontos por nunca fazer um desenho competente dos personagens que sempre parecem um confusos no desenrolar da história. Robert e Celine contam com doses cavalares da dupla de atores para funcionar perante o público e pode até agradar se tivermos boa vontade com o típico jogo cênico de opostos que se atraem (ele é sonhador e escreveu um romance sobre a filha bastarda de Marilyn Monroe com John Kennedy e ela... bem... Celine parece um projeto de sociopata). Se o filme fez pouco sucesso na época, e tornou-se digno de pouca lembrança, vale conferir por ele marcar a despedida da parceria de Boyle com seu ator assinatura até então. Depois de três filmes juntos, o diretor e Ewan McGregor nunca mais trabalharam juntos. 

Por Uma Vida Menos Ordinária (Reino Unido -EUA/199) de Danny Boyle com Ewan McGregor, Cameron Diaz, Holly Hunter, Delroy Lindo e Stanley Tucci. ☻☻☻

sábado, 14 de novembro de 2015

§8^) Fac Simile: Ewan McGregor

Nosso repórter imaginário encontrou o ator Ewan McGregor numa festa à fantasia. Ewan acaba de comemorar vinte anos de casado com Eve Mavrakis, com quem tem quatro filhas. O ator aceitou responder cinco perguntas de nosso correspondente, nessa entrevista que nunca aconteceu:

§8^) A sequência de Trainspotting, sai ou não sai?

Ewan Danny (Boyle) de vez em quando fala sobre isso, mas reclama que estamos muito bem para viver drogados quarentões. Vamos fazer um trabalho de piorar nossas vidas assim que ele mandar!

§8^) Vendo você vestido desse jeito não posso deixar de lembrar da época em que você era conhecido como "o peladão de Hollywood", por aparecer sem roupa em vários filmes: Trainspotting (1996), O Livro de Cabeceira (1996)...

Ewan Caramba! Nem me lembre dessa época...

§8^) ... O Beijo da Serpente (1997), Velvet Goldmine (1998)...

Ewan ... dia desses minhas filhas haviam encontrado um monte de fotos desse tempo! Na época eu não imaginava que as fotos estariam em evidência por tanto tempo... 

§8^) Eu ia perguntar se tinha algum motivo especial para você aparecer sem roupa em tantos filmes...

Ewan Puro exibicionismo. Sabe como é, queria ouvir as pessoas comentando. Sempre me elogiaram pelo meu talento e eu queria elogios por outra coisa. Talvez se eu não houvesse me despido tanto, já teria um Oscar na estante...

§8^) Voltaria a tirar a roupa em seus próximos filmes?

Ewan Talvez, mas acho que essa fase já passou e quem quiser me ver pelado é só procurar no Google. 

§8^) Esse negócio de ficar sem roupa vem da tradição escocesa de não usar cueca debaixo do kilt? 

Ewan Sempre lidei com naturalidade sobre a minha nudez, mas nunca tinha pensado nisso, mas é uma boa justificativa. Parece algo de resgate das origens... algo intelectual! Gostei! vou justificar assim da próxima vez! Mas não conta para as minhas filhas, ok? Você não faz ideia o que é ter cinco mulheres falando na sua cabeça!

PL►Y: Sangue Jovem

Ewan e Brenton: sem ter que fazer cara de bonzinho. 

Fazia tempo que o ator escocês Ewan McGregor não aparecia num papel desagradável. O astro que ficou conhecido como o sarcástico Alex de Cova Rasa (1994) e ficou famoso como o viciado em heroína Mark Renton de Trainspotting (1996) se dedica cada vez mais aos papéis de bom moço. Portanto, o maior atrativo desse filme australiano (que nem chegou aos nossos cinemas) é o fato do moço viver um ladrão, líder de gangue e tudo mais. Porém, não espere novidades durante a exibição. O filme gira em torno de um jovem presidiário chamado JR (Brenton Thwaites), que descobre que a vida na prisão não é fácil (principalmente pelo risco de ser violentado sexualmente). Sorte que ele cai nas graças de um grupo de detentos chefiados por Brendan Lynch (McGregor), que irá lhe oferecer alguma proteção num ambiente tão hostil. No entanto, a pena de JR é curta e ele logo sai da prisão, mas retorna para auxiliar na fuga de Brendan e seu bando numa cena um tanto inverossímil. Essa é apenas a parte inicial do filme, já que JR irá ajudar Brendan num plano que poderá render milhões de dólares. Enquanto o tal plano não aparece, JR se envolve com a amante de seu mentor, Tasha (Alicia Vikander). Não chega a ser uma história ruim, mas não existe grande novidade no que vemos na tela, parecendo que o diretor Julius Avery fez uma colagem de vários filmes de bandido (o filme de presídio, o amor bandido e o filme de assalto) sem muita animação ou criatividade - e prejudicado pela falta de química entre Brenton e Alicia. O jovem casal anda cotado em Hollywood atualmente, mas aqui aparecem frios feito gelo. Talvez por isso eu tenha considerado o filme arrastado e sem emoção, fazendo com que os atores tenham que se virar com os personagens unidimensionais (em geral sabemos muito pouco sobre eles, tornando difícil a identificação da plateia). Não existem cenas memoráveis, diálogos bem escritos, restando ao público apreciar como Ewan McGregor é desperdiçado em papéis menores ao seu talento. Ainda que não seja um grande papel, na pele de Brendan Lynch, Ewan parece respirar aliviado em não ter que fazer cara de bonzinho durante toda a filmagem - e acredite, isso faz a diferença.

Sangue Jovem (Son of a Gun/ Austrália-Reino Unido/2014) de Julius Avery com Ewan McGregor, Brendon Thwaites, Alicia Vikander e Matt Nable. ☻☻

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

CATÁLOGO: Deuses e Monstros


Ian e Brendan: criador e... criatura?

Espero que a má fase de Bill Condon tenha passado, afinal, depois de dirigir dois filmes memoráveis (Deuses e Monstros/1998 e Kinsey/2004) ele parece ter se tornado um mero operário de Hollywood, capaz de fazer (meio mais ou menos) o que lhe pedem (Dreamgirls/2006, Saga Crepúsculo/2012) de forma que até quando tentou voltar a ser relevante em O Quinto Poder/2013  sobre o Wikileaks,  a coisa desandou. A coisa parece ter melhorado com Mr. Holmes - filme que deve render uma indicação ao Oscar para Ian McKellen -  o que só comprova que Condon é bom quando se concentra nos dramas de seus personagens e deixa o apelo mais popular de lado. Deuses e Monstros foi seu terceiro filme para o cinema, mas o primeiro em que exibiu sua verve de autor, contando a história do criador da clássica imagem que temos na cabeça quando falamos de Frankenstein. Mary Shelley criou a história do personagem, mas foi o cineasta britânico James Whale (1889-1957), radicado nos Estados Unidos que criou a estética da criatura no filme Frankenstein (1931) - e, posteriormente, de sua noiva de cabelos em pé. Whale ficou famoso por criar filmes de horror bastante populares nos anos 1930 e sua história já era bastante interessante. Nascido em 1889 em uma família de metalúrgicos (profissão para qual não tinha o menor jeito), Whale serviu o exército durante a I Guerra Mundial e tornou-se prisioneiro de guerra em 1917, mas ao voltar para casa encontrou o caminho ao dedicar-se ao teatro nos anos 1920. A carreira em Hollywood veio somente na década seguinte. O filme de Condon concentra-se quando o cineasta já era idoso, precisamente no ano de sua morte, onde já estava de lado pela indústria e se recuperando de um AVC. Whale (vivido magistralmente por Ian McKellen) vive aos cuidados da mal humorada governanta Hanna (Lynn Redgrave, perfeita e indicada ao Oscar de coadjuvante!), além de cheio de interesses pelo novo jardineiro musculoso, Clayton Boone (Brendan Fraser). Pois é, Whale era gay num período em que essa palavra dava urticária na terra do cinema. Baseado na biografia O Pai de Frankenstein de Christopher Bram, o roteiro do próprio Condon (ganhador do Oscar de roteiro adaptado) tem seus maiores méritos em explorar a mente já confusa de Whale, onde lembranças do passado se misturam com o presente, construindo uma narrativa envolvente e complexa sobre a personalidade do biografado. É sensacional a forma como brinca com as semelhanças anatômicas de Brendan Fraser com Frankenstein (a cena que ele observa Boone e diz: "Você tem uma cabeça muito bonita" é antológica), além disso mantém a tensão sexual entre os dois personagens masculinos sempre de forma elegante, até o final delirante de cores fortes. É verdade que Condon exige de nós uma certa ingenuidade para acreditar que não houve um relacionamento amoroso entre Whale e seu jardineiro na vida real, mas isso é apenas um detalhe de um filme cheio de qualidades. Além da direção segura de Condon e do roteiro elaborado, o filme ainda se beneficia de uma sintonia perfeita entre seu trio de atores (pena que Brendan Fraser não soube aproveitar a deixa e dar uma guinada em sua carreira que hoje mostra-se acabada, uma pena já que aqui ele demonstra que tinha talento para além do carisma).  Deuses e Monstros é um filme interessante sobre um personagem pouco lembrado na história do cinema e que merece todo respeito, pena que não foi suficiente para a Academia engolir seus preconceitos, afinal, Ian McKellen é um dos atores abertamente homossexuais de Hollywood e lhe conferir o merecido Oscar de Melhor Ator daquele ano parecia demais - o prêmio acabou ficando com Roberto Benigni por seu meloso A Vida é Bela. Ano que vem a Academia terá a chance de se redimir com o ator, que é um dos meus artistas favoritos. 

Deuses e Monstros (Gods and Monsters/Reino Unido - EUA/1998) de Bill Condon com Ian McKellen, Brendan Fraser, Lynn Redgrave e Lolita Davidovich ☻☻☻☻

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

APOSTAS PARA O OSCAR - CAPÍTULO II

45 Anos (45 Years)
Um casal está prestes a celebrar seus 45 anos de casamento quando recebe uma notícia inesperada: uma antiga namorada dele é encontrada morta após anos desaparecida. Isso basta para que todos os anos juntos sejam postos sob nova perspectiva num jogo de sutilezas, olhares e silêncios sob a batuta do diretor Andrew Haigh. Tão intimista quanto elogiado, o filme já se encontra em cartaz no Brasil e ganha cada vez mais destaque pelas atuações dos veteranos Tom Courtenay (já indicado duas vezes ao Oscar) e Charlotte Rampling (que nunca foi indicada ao prêmio - e conta com minha torcida para esse ano). A dupla já levou para a casa os prêmios de melhor ator e melhor atriz no Festival de Berlim desse ano. 

Carol
Outra bela sintonia de elenco é vista nesse drama dirigido por Todd Haynes, que recebeu o prêmio de melhor atriz em Cannes/2015 para Rooney Mara (o que surpreendeu muita gente que considerava que o prêmio iria para Cate Blanchett). O filme conta o relacionamento da elegante Carol (Blanchett) que enfrenta o divórcio e conhece a jovem Therese (Mara). As duas ficam cada vez mais próximas quando uma divergência familiar ocorre. Baseado no livro de Patricia Highsmith, Haynes comprova seu gosto pelo tom refinado da narrativa e o valor de atrizes vigorosas sob sua batuta.

As Sufragistas (Sufragettes)
Atrizes com chances de serem indicadas é o que não falta nesse filme de forte cunho feminista dirigido por Sarah Gavron. Carey Mulligan, Meryl Streep e Helena Bonhan Carter juntam forças nessa história sobre a luta pelo voto feminino na Inglaterra. Baseado em fatos reais é o filme mais politizado da temporada e deve render indicações para pelo menos uma de suas atrizes. A mais cotada no momento é Carey Mulligan, mas nunca ignore o poder de Carter e, ainda mais, de Meryl Streep. Fora isso, o tema sempre chama atenção numa tela grande. 

Mr. Holmes 
Outro filme de alma inglesa no páreo do Oscar é esse longa simpático de Bill Condon, que marca seu reencontro com Ian McKellen - e tudo indica que o ator deverá ser indicado ao Oscar pela terceira vez. O filme é uma fantasia sobre a existência real de Sherlock Holmes e o acompanha no ano de 1947, quando está com 93 anos e vive numa casa remota no litoral ao lado de sua governanta (Laura Linney) e o filho dela, o pequeno Roger (Milo Parker, um achado). Lidando com problemas de memória e saúde debilitada, o filme tem a chance de reparar o mico que foi tirar o Oscar de Ian por seu magnífico trabalho em Deuses e Monstros/1998 - trabalhando com o próprio Condon. 

Os Oito Odiados (The Hateful Eight)
Não tem jeito, todo filme de Quentin Tarantino é um evento e tem sempre os holofotes da mídia voltados para ele - o que facilmente se converte em indicações a prêmios. Mesclando vários faroestes clássicos, o filme conta a história de vários passageiros de uma diligência que são impedidos de continuar a jornada por conta de uma nevasca. Como se não bastasse, eles se tornam vítimas de um grupo de criminosos. No elenco estão Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern e Jennifer Jason Leigh... tudo é superlativo (e imprevisível) quando se trata de Tarantino... mas diálogos inacreditáveis estão garantidos!

domingo, 8 de novembro de 2015

FILMED+: Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Depp e Carter: tortas recheadas de vingança. 

Penso que é sempre difícil para um diretor realizar um grande filme e realizar outro de mesmo quilate em seguida. Poucos são capazes dessa façanha, a grande maioria começa a cometer obras menores até que encontre o caminho novamente. Posso citar o exemplo de Tim Burton. É público e notório que ele é um dos poucos diretores americanos que criaram um universo próprio para seus filmes, mas desde que lançou sua adaptação de Sweeney Todd  o diretor tem decepcionado em seus lançamentos seguintes. Alguns vão dizer que as qualidades do macabro musical lhe deram combustível para um grande filme e que esperamos algo no mesmo patamar, outros dirão que Burton tornou-se preguiçoso nos últimos anos e outros dirão que Burton encontrava-se no auge de sua criatividade e talento quando fez o filme. Burton é um cineasta tão peculiar, que mesmo quando utiliza histórias de outras pessoas, é capaz de imprimir sua assinatura autoral e tornar completamente suas. Em Sweeney Todd (originalmente escrito por por Hugh Wheeler com música e letra do bamba Stephen Sondhein e montada a primeira vez em 1979 na Broadway) sua assinatura é evidente, especialmente na capacidade de surpreender e fazer um musical calcado em ódio, raiva e vingança. As letras são pura ironia e ganham, nas atuações de Johnny Depp (no que considero o seu melhor momento como ator até hoje) e Helena Bonham Carter, toda a alma que merecem para transformar o filme em uma obra relevante. Depp encarna o barbeiro Benjamin Barker, que volta à Londres em busca de vingança contra o homem que destruiu sua família, mas para isso, assume a identidade de Sweeney Todd. Para se vingar do Juiz Turpin (Alan Rickman) - que ainda mantem a filha de Barker prisioneira de seus desejos mais impuros - Todd, conta com a ajuda de Mrs Lovett (Carter), que vende em sua loja as piores tortas de Londres. Aos poucos os dois colocam em prática a vingança do barbeiro, que, fora de controle, irá vitimar várias várias pessoas. A estética sombria do filme é de encher os olhos, com seus figurinos extravagantes, cenários grandiosos e personagens que não conseguem esconder suas almas atormentadas em canções bizarras. Entre golpes de navalha, tortas de recheios suspeitos e jorros de sangue, Burton conta a história de um homem tão cego pelo ódio que nem perceberá quando o amor aparecer diante dos seus olhos. Cego pela vingança, Todd é valorizado pela atuação vigorosa de Depp, que não perde a dimensão humana de seu instinto mais sanguinário - e ele é acompanhado com grande competência pela Srª Burton, já que Helena Bonhan Carter apresenta aqui um dos seus melhores momentos na tela. O espetáculo é tão coerente que nada está fora do lugar, algo raríssimo para quem flerta com o exagero. Graças aos deuses do cinema, Tim Burton não é Baz Lurhman, e consegue criar um conjunto harmônico, visceral que trata a música não como um artifício, mas um instrumento narrativo tão forte quanto as imagens carregadas de dramaticidade que compõem o filme. 

Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd - The Demon Barber of Fleet Street/ EUA-Reino Unido - 2007) de Tim Burton com Johnny Depp, Helena Bonhan Carter, Alan Rickman, Timothy Spall e Sacha Baron Coen. ☻☻☻☻☻ 

Filmes2013: Salomé

Kevin e Jessica: bons atores sobre um palco filmado.

Muitos irão considerar uma blasfêmea, mas não sou muito fã das produções que Al Pacino costuma dirigir. Até admito que sua estreia com Ricardo III - Um Ensaio (1996) foi interessante ao mostrar como uma montagem teatral em torno da peça de Shakespeare ganhava forma, mas ao assistir sua última empreitada atrás das câmeras o que era uma ousadia, passou a parecer uma espécie de covardia. Ao explorar uma montagem do texto Salomé de Oscar Wilde, ele faz exatamente a mesma coisa. Nada contra ele explorar o processo de criação do espetáculo no documentário (Wilde Salome) exibido em alguns festivais desde 2011, o problema maior foi ele gerar outro projeto em 2013, onde filma e exibe a peça em si sobre um palco (e os dois forma lançados juntos nos EUA, enquanto aqui um ou outro só aparecem em exibições especiais). Sendo assim, Salomé exibe justamente o que eu mais temia nos filmes anteriores: como diretor, Al Pacino tem medo de fazer filmes. Protegido pela estética teatral e a curiosidade do público em torno da dramaturgia, seus filmes geram interesse, mas no fundo, o que Pacino queria era fazer uma adaptação, mas sem a exposição de tentar gerar um trato cinematográfico ao texto clássico. A edição pode até enganar, mas o fato é que Salomé resulta num filme desengonçado demais, um misto de teatro filmado e cinema que em poucos momentos funciona. Os maiores méritos ficam por conta de Jessica Chastain, que encarna uma Salomé incandescente como só os maiores pesadelos de João Batista seria capaz de tecer. Nesse aspecto, sua imagem inusitada de uma palestina pálida e de cabelos vermelhos, chama a atenção para o fato de ser uma mulher incomum para os registros bíblicos - e por isso mesmo, tão tentadora à corte em que vivia. Neta de Herodes, o Grande, ela foi criada na corte de Jericó pelo tio Herodes Antipas (vivido por Al Pacino) e é conhecida por ser a responsável pela execução de João Batista (Kevin Anderson) - seria um SPOILER  mesmo com a famigerada história da cabeça na bandeja? No texto, fica claro como João era incômodo para o poder local, principalmente por acusar a mãe da jovem Salomé, Herodias (Roxanne Hart), de adultério. Herodias odiava João e, junto à Antipas e Salomé, torna-se uma figura importante numa história sobre hipocrisia, pecado, vingança e ambição. Nem vou entrar nos méritos do texto de Wilde (que não poderia deixar de ser forte, provocador e excepcional), mas o trato do diretor deixa tudo um tanto engessado, que não colabora em nada para que seus maiores méritos sejam saboreados plenamente. Como peça pode até funcionar, mas numa tela torna-se chato e um tanto sem sentido em suas falas descritivas, cortes bruscos e atores que recitam o texto como se as pessoas da última fileira precisassem ouvir o que está acontecendo no palco. Adoraria que Pacino deixasse seus melindres de lado e investisse numa adaptação cinematográfica do texto e não na comodidade do teatro filmado, então ele não teria a necessidade de dizer que o filme parecer hermético demais aos incultos que não sabem apreciar arte elevada... quando na verdade ele tenta disfarçar seus temores em se tornar um cineasta mais interessante. Talvez assim suas obras atrás das câmeras pudessem ser descobertas pelo público que ainda o reconhece como um dos maiores atores em atividade. 

Salomé (Salome/EUA-2013) de Al Pacino, com Al Pacino, Jessica Chastain, Kevin Anderson, Ralph Guzzo, Steve Roman e Roxanne Hart. ☻☻