quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

HIGH FI✌E: Janeiro

Cinco filmes vistos em janeiro que merecem destaque:

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Na Tela: A Forma da Água

Sally e Jones: amor entre espécies diferentes. 

Com treze indicações ao Oscar (incluindo nas categoria de melhor filme, direção, atriz e roteiro original), chega aos cinemas brasileiros A Forma da Água, o novo filme de Guillermo del Toro. Apontado como o grande favorito ao prêmio, o filme já recebeu o Leão de Ouro de melhor filme no último Festival de Veneza e, surpreendentemente, apela para um gênero que a Academia costuma ver com desconfiança: a fantasia. Porém, o que faz a diferença aqui é o fato de del Toro ter se tornado um especialista no gênero - e ele está a vontade ao utilizar referências sobre oa própria história do cinema, além de misturar vários gêneros em uma única narrativa. Prova de que sua habilidade especial para contar histórias sobre monstros está no auge é o fato de já ter levado o Globo de Ouro e o Critic's Choice Awards de melhor direção. Guillermo já havia realizado uma obra-prima em O Labirinto do Fauno (2006) e aqui se aproxima mais uma vez da perfeição. A trama conta a história de amor entre uma mulher e um monstro - e vai além do que um filme tradicional costuma ir. Ela é Elisa (Sally Hawkins), faxineira de um laboratório em Baltimore em 1962. Ela é muda e tem como melhor amiga a colega de trabalho Dalila (Octavia Spencer). Em um conturbado dia de trabalho, elas percebem que existe algo muito secreto escondido ali. Não demora muito para Elisa descobrir que se trata de uma criatura marinha, um anfíbio de forma humanoide que foi capturada na Amazônia. A criatura (vivida por Duncan Jones) é mantida trancafiada e constantemente maltratada pelo Coronel Richard Strickland (Michael Shannon), mas nada impede que os laços entre Sally e o monstro se torne mais intensos e coloquem em prática um plano para libertá-lo. A afinidade entre os dois pode nascer da identificação da personagem por sentir-se deslocada num mundo que sempre a vê de forma diferente, mas o roteiro intensifica ainda mais este relacionamento sem medo de criar cenas repletas de erotismo (e que surpreendem a quem espera um filme de fantasia inofensivo). Além de fantasia, romance e erotismo o filme ainda tem cenas de horror, espionagem, sapateado, humor, ação, suspense... ou seja, torna-se um desafio para qualquer diretor. Del Toro nos convida mais uma vez para apreciar seu estilo único e depende muito de nosso nível de aceitação para que o filme funcione,  sorte que ele capricha em cada detalhe para que este convite seja irresistível. Fotografia, trilha sonora, direção de arte, efeitos especiais, tudo é irretocável em seu preciosismo. O diretor é visivelmente apaixonado por suas criaturas, talvez por ter ficado impressionado com o clássico "B" O Monstro da Lagoa Negra (1954) quando era um menino de sete anos. O menino cresceu e continua fiel às suas origens enquanto constrói alegorias sobre o mundo atual. Em A Forma da Água o que ele nos pede através de Elisa (e Sally Hawkins está ótima no papel) e seu amado é que aceitemos as diferenças em um mundo cada vez mais intolerante. Levando em consideração que se trata de um diretor mexicano trabalhando nos EUA da era Trump, não é pouca coisa - e se levar o Oscar de direção irá completar a trinca de amigos diretores mexicanos a levar o prêmio para a casa. Os hermanos (Alfonso Cuarón e Alejandro Gonzalez Iñárritu) estão na torcida. 

A Forma da Água (The Shape of Water/EUA-2017) de Guillermo del Toro com Sally Hawkins, Octavia Spencer, Duncan Jones, Michael Shannon, Richard Jenkins e Michael Stuhlbarg. ☻☻☻☻

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

FILMED+: The Square - A Arte da Discórdia

Notary: uma das melhores provocações do filme. 

Quando The Square ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes no ano passado muita gente ficou surpresa, já que o filme de Ruben Östlund é uma grande provocação com o mundo das artes e, embora muita gente não perceba, é uma comédia pela forma como satiriza e esgarça os paradoxos de sua história. Roben já se mostrou um grande provocador em seu filme anterior, Força Maior (2014) quando uma família entra em crise após uma avalanche. Em The Square ele explora o mundo das artes e discussões que perpassam constantemente o mundo atual, assim, o roteiro cria paralelos entre as exposições num prestigiado museu de Estocolmo e a vida de seu curador-chefe, Christian (Claes Bang). Quem curte um roteiro explicadinho provavelmente não irá gostar do filme, já que Östlund gosta das entrelinhas, do que está subentendido e das ironias que compõem o painel de suas histórias. Assim, embora Cristian seja a perfeição da imagem do homem moderno (inteligente, culto, bonito, charmoso, bem empregado...), as coisas já começam a desandar na primeira cena, numa entrevista em que ele não consegue explicar o que disse numa declaração anterior - declaração repleta dos jargões de seu ramo, mas usado de forma geral e vazia. No fundo, Cristian está preocupado com uma nova instalação, The Square, que serve para provocar reflexões sobre as responsabilidades que um ser humano possui com o outro. A partir daí, ironicamente, a postura do curador sempre caminha no sentido oposto desta proposta, seja pelos desdobramentos do roubo de seu celular ou a indiferença com que lida com os diversos sem-teto que cortam seu caminho durante a história até chegar num controverso vídeo promocional explosivo, cuja repercussão foge ao controle e compreensão do protagonista. Para lembrar o paralelo entre o curador e a proposta da obra, Östlund evoca vários "squares" durante o filme, seja num quadro na parede, na escada vista de cima (que depois se torna, propositadamente, uma espiral ou na apresentação de líderes de torcida ao final do filme - que exemplifica com perfeição essa ideia e teria rendido um vídeo promocional bem mais eficiente). Existem outras situações que testam alguns limites do espectador (assim como algumas obras de arte) ou a percepção que temos sobre arte e sobre a vida em sociedade. Assim, são muito bem vindos os elementos que aparentemente estão fora do lugar (o bicho de estimação da jornalista vivida por Elisabeth Moss ou o bebê), as cenas da coletiva de imprensa com um portador de Síndrome de Tourette na plateia e, principalmente, a performance do artista que finge ser um macaco em meio a um jantar refinado. Esta cena está destinada a se tornar clássica, principalmente pelo trabalho corporal impressionante do ator Terry Notary que interpreta o performático Oleg. Terry já está habituado a simular movimentos símios, já que participou dos filmes da franquia Planeta dos Macacos (não apenas como ator, mas também como coreógrafo) e foi o responsável por personificar King Kong no recente A Ilha da Caveira/2017, mas vê-lo em cena sem efeitos especiais é realmente fascinante. A cena ainda é emblemática pelo perplexo Christian (o nome não é por acaso...) demonstrar mais uma vez não entender muito bem o que está acontecendo ao seu redor (seja  na vida real, na arte ou na mistura das duas) e pela postura de Julian (Dominic West), artista sempre cético diante das situações que acontecem no museu. The Square é ousado, divertido, reflexivo e incômodo, nos proporcionando uma experiência cinematográfica diferente, nada está ali sem ter uma intenção (mesmo quando você fica entediado diante dele), não por acaso é um dos favoritos ao Oscar de Filme Estrangeiro deste ano, um feito notável para uma obra que segue a cartilha do ame ou odeie à risca (P.S.: imagino que Robert Altman também amaria este filme). 

John Nordling e Claes Bang: sobre a arte de se questionar. 

The Square - A Arte da Discórdia (The Square/Suécia, Alemanha, França e Dinamarca - 2017) de Ruben Östlund com Claes Bang, Elisabeth Moss, Terry Notary, John Nordling, Christopher Læssø, Elijandro Edouard e Dominic West. ☻☻☻☻☻

PL►Y: O Rei da Polca

Jack Black e sua trupe: Polca e pirâmides. 

Jan Lewandowski (Jack Black) é um cantor e compositor polonês que faz shows de polca em eventos de púbico minguado. Ele também tem uma loja de souvenirs de sua terra natal e em ambos empreendimentos ele conta com a ajuda da esposa, Marla (Jenny Slate) - o que não impede que o dinheiro sempre esteja curto. Ele parece encontrar a salvação de sua vida financeira em convencer pessoas a investirem nele, tendo um retorno de 12% no resgate das quantias. Jan não faz a mínima ideia de que o que está fazendo é ilegal, pelo menos até um agente do governo explicá-lo mas... ele continua os financiamentos, só que com maior sigilo. Este é o fio condutor da comédia O Rei da Polca e o mais curioso do filme de Maya Forbes é que se trata de uma história real já vista no filme The Man Who Would Be a Polka King (2009), o que torna ainda mais absurdo o que este indicado ao Grammy faz (é verdade, ele concorreu ao prêmio!) - ele inventa até um pacote de viagens pela Europa para visitar o Papa e confusões num concurso de beleza em que sua esposa participa. Não por acaso, a história é contada de forma bem ágil, com vários números musicais e um roteiro valorizado principalmente pelo elenco. Jack Black é o grande destaque, tornando seu personagem num sujeito adorável. Com seu estilo peculiar (e exagerado) torna-se fácil simpatizar com  Jan, mesmo quando ele começa a demonstrar que está longe de ser uma pessoa confiável. Aqui o ator encontra mais um dos personagens que parecem concebidos para ele (assim como o professor Dewey de Escola de Rock/2003, o lutador de Nacho Libre/2006 e o dual Bernie/2011), sem falar que Jack é ótimo em performances de palco e se garante bem em cenas de canto e (se vira) nos momento de dança. Outra que garante cada vez mais a minha empatia é  Jenny Slate, que tem seus bons momentos como a esposa um tanto deslumbrada em ser uma celebridade local (que subitamente começa a se incomodar de estar sempre à sombra do esposo). Quem também está no elenco é a  australiana Jacki Weaver, que vive a sogra megera de Jan -  a atriz que já foi indicada ao Oscar duas vezes por papéis maternais bem distintos, aqui tem uma atuação impagável (em algumas cenas ela parece que vai rasgar a garganta de tanto ódio pelo genro). Maya Forbes acerta no tom e no ritmo de contar uma história cheia de trapalhadas - e o roteiro ainda encontra espaço para alfinetadas feministas, o exagerado patriotismo americano e vida carcerária. Quem embarcar na brincadeira verá que o primeiro filme da Netflix em 2018 gera boas risadas, quem espera um filme sério sobre um criminoso... bem, estes deveriam procurar outro programa. 

O Rei da Polca (The Polka King/EUA-2017) de Maya Forbes com Jack Black, Jenny Slate, Jaci Weaver, Jason Shwartzman, J.B. Smoove e Robert Capron. ☻☻☻ 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Na Tela: 120 Batimentos por Minuto

Biscayart: lutando contra o HIV. 

Ganhador de quatro prêmios no Festival de Cannes no ano passado, incluindo o Grande Prêmio do Júri, 120 Batimentos por Minuto foi escolhido pela França para tentar uma vaga no páreo de melhor filme estrangeiro no Oscar da Academia - e acabou ficando de fora em uma das peneiras prévias, já que está bem longe de seguir os padrões dos votantes da categoria com suas doses de erotismo e uma queda pela polêmica (uma vez que o grupo retratado no filme era expert em gerar controvérsia com suas manifestações provocadoras). O filme retrata o trabalho do grupo ACT UP formado por membros soropositivos e simpatizantes da causa que girava em torno de melhorar o atendimento do Estado francês aos contaminados pelo vírus da AIDS. Vale ressaltar que o filme é ambientado nos anos 1990, onde as pesquisas sobre o vírus ainda engatinhavam e ainda havia muito preconceito em torno da doença. O resultado era que as campanhas governamentais mostravam-se pouco efetivas, assim como o acompanhamento dos casos recebia menos atenção do que devia. Assim, naquela década - que nem é tão distante assim - a doença proliferava de forma assustadora, ao ponto de se configurar como uma verdadeira epidemia. Assim, as ações do ACT UP se articulavam contra a indiferença com que a maioria da sociedade lidava com o HIV. Afinal, a ideia de peste gay poderia ter sido ultrapassada, mas a ideia de grupo de risco permanecia bastante forte no imaginário social. Desde o início o filme já insere o espectador dentro daquela realidade, demonstrando como dentro de um mesmo grupo ativista existem suas próprias divergências e contradições. A ideia se repete várias vezes durante o filme, assim como os planejamento das ações do grupo, várias delas tendo como principal alvo a indústria farmacêutica que não ouvia a opinião dos soropositivos no desenvolvimento dos medicamentos e, segundo o ACT UP os tratava mais como cobaias do que como pacientes. Não vou entrar no mérito se o grupo exagera em suas ações ou não, mas, embora o filme demonstre as tensões que existem dentro do grupo, falta um pouco de autocritica nos personagens em alguns momentos da história. O diretor Robin Campillo (um dos autores de Entre os Muros da Escola/2008 e diretor do filme Les Revenants/ que deu origem à série) cria no decorrer da narrativa uma manobra interessante ao partir de um universo amplo para um bastante particular, assim, aos poucos o filme recai sobre Sean (Nahuel Pérez Biscayart) e seu relacionamento com Nathan (Arnaud Valois). Nathan também tem o importante papel na trama de servir de olhos para o espectador, já que é um dos poucos soronegativos presentes no grupo. Campillo cria a narrativa em tom quase documental, com poucos closes e ângulos feitos para dar a impressão de que a câmera invade a vida daqueles personagens (incluindo momentos de intimidade) em uma atmosfera bastante realista. Embora pudesse ser mais enxuto, 120 Batimentos por Minuto é um filme denso que consegue ser desagradável quando  necessário. Vale ressaltar que seu tom de urgência parece feito na medida para uma população jovem que não vê a AIDS mais como uma ameaça e não faz ideia das lutas e tensões que já existiram em torno dela.

120 Batimentos por Minuto (120 battements par Minute/França-2017) de Robin Campillo com Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz, Félix Maritaud e Alouïse Savage. ☻☻☻

INDICADOS AO OSCAR - 2018: Melhor Ator


Daniel Kaluuya  (Corra!) Quantos atores conseguiram ser indicados ao Oscar de Melhor Ator por um filme de terror? Garanto que não foram muitos. Pelo papel do rapaz negro que ao visitar a família da namorada branca se vê no meio de uma conspiração bizarra, Daniel Kaluuya conseguiu sua primeira indicação ao Oscar. Sua atuação é realmente marcante e o permite transitar entre várias emoções. O sucesso do filme só comprova o talento que já foi visto anteriormente em Sicario/2015 e nas séries Skins e Black Mirror. Daniel nasceu em Londres há 29 anos e tem de doze de carreira. 


Daniel Day Lewis (Trama Fantasma) Pelo papel do estilista que vive um relacionamento conturbado com uma modelo mais jovem, Day Lewis foi lembrado pela Academia novamente. O ator diz que este este é seu último filme (será? Escuto isso desde Gangues de Nova York/2002). Impressiona o fato que com mais de quarenta anos de carreira no cinema, este ator inglês tenha apenas vinte e dois filmes no currículo. No entanto, foram trabalhos suficientes para que conquistasse seis indicações ao Oscar. Daniel já foi três vezes premiado nesta categoria - por Meu Pé Esquerdo/1989, Sangue Negro/2017 e Lincoln/2012. Definitivamente não é fácil ser um dos melhores atores do mundo!

Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq). Com oito indicações ao Oscar e duas estatuetas (de melhor ator por Dia de Treinamento/2001 e coadjuvante por Tempo de Glória/1989), o ator norte-americano é uma unanimidade em Hollywood. Neste filme dirigido por Dan Gilroy, ele vive o personagem do título, um advogado de defesa idealista que se vê envolvido em situações adversas - prestes a tomar decisões extremas em sua carreira. Tenso e ambientado nos bastidores dos sobrecarregados tribunais de Los Angeles, o filme pode incluir Denzel no seleto clube dos atores mais premiados do Oscar. 

Gary Oldman (O Destino de Uma Nação) Depois de tantos anos de serviços prestados ao cinema, parece que finalmente este renomado ator inglês levará seu primeiro Oscar para a casa. Favorito por sua personificação impressionante do primeiro ministro britânico Winston Churchill. Gary Oldman já levou todos os grandes prêmios de atuação da temporada. Embora tenha participado de vários filmes de sucesso, Oldman tem apenas uma indicação ao Oscar anterior (por O Espião Que Sabia Demais/2011) desde que começou a fazer filmes em 1982. Se ganhar o reconhecimento é  totalmente merecido. 

Timothée Chalamet (Me Chame Pelo seu Nome) No meio de tantos pesos pesados, outro estreante nas indicações do Oscar foi este jovem rapaz de 21 anos nascido em Nova York. No papel do rapaz de dezessete anos que se apaixona por um aluno de seu pai, Chalamet demonstra várias camadas em um personagem complicado que amadurece diante da câmera na descoberta da sexualidade. Considerado por muitos a grande revelação de 2017 (ele também está em outro indicado ao Oscar: Ladybird), o ator já havia chamado atenção por seus trabalhos em Interestellar (2014) e na série Homeland onde viveu o problemático Finn Walden, filho do vice-presidente da série.

O ESQUECIDO: James Franco (O Artista do Desastre)  Desde que o filme começou a fazer sucesso em festivais, a indicação dele era tida como certa... mas bastou ele levar o Globo de Ouro de melhor ator de comédia para que tudo mudasse. Com as acusações de assédio vindo à tona justamente no período de votação para o Oscar, Franco ficou de fora com sua atuação hilariante como Tommy Wiseau, diretor, ator, produtor e roteirista do pior filme da história do cinema: The Room. Franco já foi indicado ao Oscar por seu trabalho em 127 Horas (2010) e até apresentou a cerimonia em 2011. Depois de ser banido até de uma capa especial da revista Vanity Fair, a pergunta é: será que ele consegue superar esse desastre pessoal?

Na Tela: O Destino de Uma Nação

Srª e Sr. Churchill: atuação perfeita de Gary Oldman. 

Indicado para seis Oscars, O Destino de Uma Nação tem muitos méritos. A começar pelo elenco talentoso, capitaneado por um diretor que se tornou especialista em modernizar visualmente filmes de época. Some isso a todo o preciosismo técnico que um longa pode ter  e você terá um filme como este. O filme começa poucos dias antes de Winston Churchill (vivido por Gary Oldman em excelente atuação) assumir como Primeiro Ministro da Grã-Bretanha, durante um dos momentos mais sombrios da história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial. Churchill logo viverá o dilema entre realizar um tratado de paz com a Alemanha Nazista ou se opor à ela. A Alemanha avançava para a Europa Ocidental e a invasão era cada vez mais iminente. A população sentia-se ameaçada, o rei não sabia muito o que fazer (George VI vivido por Ben Mendelosohn, mas já vimos a parte da história dele no oscarizado O Discurso do Rei/  com Colin Firth) e o próprio partido começava a temer as decisões que Churchill tomaria. O desafio do protagonista é: como costurar tantos interesses divergentes e observar o que é melhor para a sua nação sem deixar-se contaminar por todo o período nebuloso à sua volta. Não é um tema fácil  de abordar ou digerir sem transformar o cinema em aula de história. Nesta tarefa complicada, Joe Wright demonstra mais uma vez ser um diretor muito habilidoso. Seus ângulos, movimentos de câmera e timing colaboram para que o filme seja atraente e fácil de assistir, colabora muito para isso o elenco, especialmente Gary Oldman que diante de uma pesada maquiagem (mas brilhantemente executada) encarna Churchill de forma arrepiante. Favorito ao Oscar deste ano, fica difícil acreditar que em mais de trinta anos de carreira no cinema, Gary tenha apenas um a indicação anterior ao prêmio da Academia (por O Espião que Sabia Demais/2011) e nenhum careca dourado na estante. Seu desempenho na vida domiciliar e nos discursos inflamados é melhor do que do próprio Churchill - que é uma figura bem mais controversa do que várias obras recentes costumam demonstrar (afinal, não podemos esquecer, que ele era um político... ou seja, metido em conflitos e negociação de interesses, escolhas e renúncias e tudo o mais) e neste ponto que reside o ponto fraco do filme: o roteiro. Ele acerta ao tentar mostrar as várias facetas do personagem (sua genialidade em oratória, seu temperamento explosivo...) e consegue humanizá-lo, mas soa truncado ao abordar um período histórico tão complicado. Em alguns momentos o texto poderia ser mais enxuto e dar menos voltas em favor de construir uma tensão e urgência sobre o que acontecia no mundo naquele momento, o que não ocorre. Há situações que visivelmente só aconteceram na ficção (a do metrô é o melhor exemplo disso) e outras licenças poéticas que não sei se foram acertadas. Embora tenha sacadas visuais interessantes, falta peso para a narrativa, de forma que fica até difícil imaginar que o que vemos aqui é o outro lado da história vista no desespero de Dunkirk (que também está no páreo de melhor filme do ano). O Destino de Uma Nação não alcança todas as notas que deveria, paga o preço de contar uma história que já vimos antes, mas satisfaz um público que adora este tipo de filme histórico e bem realizado visualmente (como vários votantes da Academia, por exemplo). 

O Destino de uma Nação (The Darkest Hour / EUA - Reino Unido / 2017) de Joe Wright com Gary Oldman, Kristin Scott-Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Stephen Dillane e Samuel West. ☻☻☻

domingo, 28 de janeiro de 2018

Na Tela: O Artista do Desastre

Os irmãos Franco: celebrando a catástrofe. 

Por muito tempo o pior filme da história era responsabilidade do cineasta americano Ed Wood (1924-1978), artista que recebeu sua própria cinebiografia (excelente por sinal) pelas mãos de Tim Burton em 1994. Mas o reinado de Wood foi ameaçado em 2003 quando o desconhecido Tommy Wiseau lançou o cultuado The Room. Além de bancar o filme do próprio bolso (com uma grana que ninguém sabe de onde vinha) e sua permanência em cartaz por algumas semanas - para que o filme pudesse concorrer ao Oscar (sim, ele acreditava realmente nisso!), Tommy exibe o filme ainda hoje ao redor do mundo para uma legião de fãs fiéis do filme que é tão ruim  que chega a ser bom. Imaginar que o filme poderia ser bom de alguma forma soa como exagero, já que The Room se tornou o exemplo de como uma pessoa não faz a mínima ideia de como fazer um filme. Com problemas de continuidade, atuações exageradas, personagens que desaparecem da história sem qualquer explicação e trama sem o menor sentido, The Room é realmente um desastre cinematográfico e, por isso mesmo, diverte plateias até hoje. A jornada de produção deste filme antológico virou livro pelas mãos de Greg Sestero, amigo de Wiseau e estrela do filme,  a obra instigou James Franco e transforma-lo em filme e, o melhor de tudo, você não precisa assistir um filme para saborear o outro. O Artista do Desastre tem momentos hilariantes ao abordar um personagem excêntrico, estranho e que ninguém faz a mínima ideia de sua idade e origem (algumas fontes dizem que ele tem mais de sessenta anos e nasceu na Polônia), mas imagina-se que ele herdou uma fortuna, além de ser solitário e ter um carinho especial por Greg (de quem tem crises de ciúmes bastante intensas). O filme começa quando os dois faziam um curso de teatro e resolveram partir para tentar a carreira em Los Angeles. Diante das constantes rejeições, Wiseau resolveu fazer seu próprio filme ao lado do amigo e aí começa a aventura. Desde o início, Wiseau demonstra não ter a mínima noção de como fazer um filme - e sua equipe percebe isso em vários momentos, mas continua o serviço já que o pagamento está sempre em dia. Entre crises de egocentrismo, megalomania, ciúmes e surtos quando alguém dizia que ele era a imagem perfeita de um vilão, Wiseau tem atitudes inacreditáveis (repete uma cena simplória ao infinito, tem xilique para manter uma cena de sexo com seu traseiro em destaque, castiga a equipe sem água ou ar condicionado...) e concede material para James Franco demonstrar que como ator ele realmente não tem pudores. Franco realiza aqui o seu filme mais acessível como diretor e um dos seus melhores trabalhos como ator, tanto que recebeu o Globo de Ouro de ator de comédia pela performance - mas ficou de fora do Oscar (dizem que foi por causa das denúncias de assédio que começaram a surgir contra ele, ou talvez por ser o James Franco mesmo...). No Globo de Ouro, Franco ainda rendeu um dos momentos mais constrangedores da noite ao impedir que o verdadeiro Tommy Wiseau chegasse ao microfone. O momento apenas ressaltou que sobra ego e falta humildade a James. Muita gente ficou curiosa em saber o que Tommy diria no microfone, um repórter do Los Angeles Times conseguiu descobrir, o artista do desastre em pessoa diria "Se muitas pessoas amassem umas às outras, o mundo seria um lugar melhor para viver. Vejam The Room, se divirtam, aproveitem a vida. O Sonho Americano está vivo, e é real". O Artista do Desastre concorre ao Oscar na categoria de  melhor roteiro adaptado. 

O Artista do Desastre (The Disaster Artist/EUA-2017) de James Franco com James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Alison Brie, Jackie Weaver, Megan Mullally, Josh Hutherson e Paul Scheer. ☻☻☻☻

PL►Y: Tinha que ser Ele?

Franco e sua nova família: mais uma comediota. 

Em 2011, James Franco conseguiu sua primeira indicação ao Oscar. Foi por conta de 127 Horas (2009) aclamado filme de Danny Boyle que marcou o auge da carreira do ator. Ele estava tão em alta que foi convidado para apresentar a cerimônia no mesmo ano e o resultado foi desastroso. Desde então ele participou de noventa projetos diferentes que lhe renderam todo o tipo de críticas. De filmes sérios, comediotas, séries, vídeos e tudo o mais que você possa imaginar, Franco mostrou-se um verdadeiro workaholic. Em 2017 sua carreira pareceu finalmente voltar a ter foco quando dirigiu O Artista do Desastre, recebendo elogios esteve cotado para o Oscar, ganhou o Globo de Ouro de melhor ator de comédia e... começaram a surgir denúncias sobre a conduta sexual imprópria do moço com as mulheres (e eu esperando aparecer alguma dos bastidores de Interior Leather Bar/2013). Em menos de 24 horas a carreira do moço foi do céu ao inferno. Antes deste episódio o ator apareceu neste Tinha que Ser Ele?, uma comédia onde interpreta o genro dos pesadelos do sogrão - e não deixava de ser irônico vê-lo num filme desses depois de todas as polêmicas que já se envolveu. James vive Laird Mayhew, um rapaz que ficou milionário no ramo de tecnologia e que namora a jovem Stephanie (Zoey Deutch). Stephanie é filha de Ned Fleming (Bryan Cranston), Ned tem sua própria empresa - que já viveu dias melhores. A primeira vez que Ned e Laird se veem já não é das melhores e a coisa piora quando ele é convidado a visitar a casa do futuro genro. A casa é toda tecnológica, com direito a sistema operacional para reger tudo (com voz de Kaley Cuoco de Big Bang Theory), funcionários trabalhando dia e noite e... nenhum papel na casa inteira. Obviamente que a visita irá se tornar um martírio, especialmente quando Ned descobrir que Laird irá pedir a mão da garota em casamento. Embora a sogra (Megan Mullally) simpatize com o rapaz e o caçula (Griffin Gluck) enxergue tudo com um certo deslumbramento, os conflitos entre sogro e genro só crescem até o final previsível. Até lá o roteiro capricha em piadas grosseiras, escatologias, piadinhas sexuais e todo tipo de coisas que se tornaram comuns nas comédias americanas de maior apelo comercial. A melhor piada é mesmo ver um sério Bryan Cranston em contraste com um desmiolado James Franco. No geral são quase duas horas da mais pura comediota americana e que pode até agradar os fãs dos dois atores se eles não exigirem demais de uma premissa dessas. 

Tinha que ser Ele? (Why Him? EUA-2016) de John Hamburg com Bryan Cranston, James Franco, Megan Mullally, Zoey Deutsch e Griffin Gluck. ☻☻

sábado, 27 de janeiro de 2018

NªTV: Mosaic

Sharon e Reuben: sabor de decepção. 

Durante toda a semana assisti Mosaic, a nova série criada por Steve Soderbergh que foi ao ar pela HBO. Originalmente a obra foi concebida para ser vista através de um aplicativo de celular ou tablet nos Estados Unidos e o objetivo era que diante dos recortes de várias partes da história, o espectador clicasse nas janelas e montasse a trama como bem entendesse, seguindo determinado personagem  ou pista sobre a morte de uma personagem. A ideia já é por si só revolucionária (e fica com ares de um Você Decide mais elaborado para a era digital). No Brasil a ideia ganhou uma narrativa linear em formato de série convencional pela HBO na forma como o diretor preferiu seguir a própria história. O resultado pode ser muito moderno em aplicativos, mas em termos de série de TV me pareceu uma grande decepção. A história gira em torno da investigação de um crime e desde o início sabemos que a vítima foi Olivia Lake (Sharon Stone no seu projeto mais ambicioso em tempos), escritora de livros infantis e que recentemente criou uma fundação filantrópica. Nos primeiros capítulos conhecemos a personagem e os homens que cruzaram o seu caminho e se tornaram os suspeitos do crime. Entre eles está Joel (Garrett Hedlund) um jovem ilustrador que trabalha como garçom para pagar as contas e  Eric (Frederik Weller), que tem interesses em Olivia para além do carnal. Misture a isso uma subtrama sobre interesses imobiliários e o que temos é uma série que atira para muitos lados e confunde mais do que prende a atenção. Na versão do diretor, Mosaic não conseguiu prender a minha atenção, achei tudo (ironicamente) desconectado e com uma narrativa pouco empolgante, com todos os atores dizendo seus diálogos no mesmo tom e sem muita emoção. Esqueça aquela atmosfera de tensão crescente em torno do suspense, aqui ela simplesmente não existe. Em alguns momentos o programa até prende atenção (sobretudo quando Garrett Hedlund está em cena), mas o tratamento dado aos personagens torna muito difícil se envolver com os seus dilemas. Neste ponto a própria Olivia Lake se torna o melhor exemplo. Sharon Stone continua linda e reluzente quando aparece em cena, mas sua Olivia não consegue ser mais do que o arquétipo da beldade que não aceitou a passagem do tempo e se tornou uma megera insegura (ou seria uma paródia daquela outra escritora vivida pela atriz em Instinto Selvagem/1992?). Montada em seis episódios, Mosaic finge ter resolução no quinto episódio, mas aí aparece o último e você não faz a mínima ideia do que ele está fazendo ali. Talvez no aplicativo seja uma delícia montar a sua história, mas não deixa de ser engraçado que Soderbergh concebesse uma versão tão monótona para um projeto feito para ser tão inovador. 

Mosaic  (EUA-2018) de Steve Soderbergh com Sharon Stone, Garrett Hedlund, Frederick Weller, James Ransone, Paul Reubens, Beau Bridges e Maya Kazan.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

INDICADOS AO OSCAR 2018


Hoje pela manhã foram divulgados os indicados ao Oscar 2018 e embora os favoritos já ganhassem forma nas últimas semanas, algumas surpresas deram um gosto especial! Lesley Manville (que foi lembrada somente no BAFTA nesta temporada), Kaluuya e Plummer ganharam força nesta reta final!  O Oscar será entregue no dia 04 de março e até lá irei comentar os indicados nas principais categorias e os filmes que estão na disputa. 

Melhor Filme



Melhor Atriz

Melhor Ator Coadjuvante
Christopher Plummer (Todo o Dinheiro do Mundo)

Melhor Atriz Coadjuvante

Melhor Roteiro Adaptado

Melhor Roteiro Original

Melhor Filme em Língua Estrangeira

Melhor Design de Produção

Melhor Fotografia

Melhor Figurino
Victória e Abdul

Melhor Canção
"Stand up for something" (Marshall)
"This is Me" (O Rei do Show)

Melhor Edição

Melhor Mixagem de Som

Melhor Edição de Som

Melhor Animação

Melhor Curta de Animação
Dear Basketball
Garden Park
Lou
Negative Space
Revolting Rhymes

Melhor Curta
Dekalb Elementary
The 11 o' clock
My Nephew Emmett
The silent Child
Waty Wote/All of us

Melhor Trilha Sonora
Três Anúncios Para um Crime

Melhor Documentário
Abacus: Pequeno o bastante para condenar
Visages Villages
Ícaro
Últimos homens em Aleppo
Strong Island

Melhor Documentário em Curta-Metragem
Edith+Eddie
Heaven is a traffic jam on the 405
Heroin(e)
Knife Skills
Traffic Stop

Melhor Maquiagem e Penteados
O Destino de uma Nação
Victoria e Abdul
Extraordinário

Melhores Efeitos Visuais
Blade Runner 2049
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Kong: A Ilha da Caveira
Star Wars: Os Últimos Jedi
Planeta dos Macacos: A Guerra

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Na Tela: Com Amor, Van Gogh

Van Gogh: animação impressionante. 

Em oito anos de intenso trabalho, o holandês Vincent Willem van Gogh se tornou o autor de alguns dos quadros mais belos da arte mundial. Com mais de duas mil obras no currículo, sua história de vida também ficou famosa pelas fortes cores dramáticas de sua trajetória. Hoje se considera que ele sofria de problemas psicológicos e alucinações, com a instabilidade mental lhe garantindo fama de louco e fracassado em vida. Reconhecido pela posteridade, seu sucesso permanece até hoje. Diante de um artista com vida e obra tão ricas, a dupla Dorota Kobiela e Hugh Welchman resolveram fazer um filme em homenagem a ele. No entanto, não queriam fazer um filme comum com atores, mas uma animação que desse vida ao estilo próprio do pintor. O resultado se vê em Com Amor, Van Gogh filme que se encontra em cartaz em poucas salas no Brasil e candidato à uma indicação ao Oscar na categoria de melhor animação. O filme impressiona pelo visual impressionante pintado por cem artistas responsáveis por darem vida aos traços do pintor. No longa vemos a obra de Van Gogh ganhar vida diante dos nossos olhos, transformando a tela de cinema em uma pintura em movimento constante. Ao final do longo trabalho havia mais de sessenta e cinco mil frames pintados no estilo do artista para compor a narrativa do filme. A história gira em torno de Arman Roulin (Douglas Booth), filho do carteiro (Chris O'Dowd) que por muitos anos foi responsável por entregar as cartas de Van Gogh. O problemático Arman recebe de seu pai a missão de entregar a última carta do artista endereçada para o seu irmão, Theo. Em sua jornada, Arman irá se deparar com vários relatos sobre o pintor, sua rotina de trabalho, suas musas, a perseguição por parte de alguns moradores e seus momentos mais trágicos. Embora o roteiro seja um pouco repetitivo em seu conceito, ele serve para o propósito do filme explorar o máximo possível as histórias em torno do artista e as paisagens já retratadas em sua obra. Outra curiosidade do filme é o uso de atores e atrizes reais na reprodução das telas. Assim O'Dowd, Saoirse Ronan e Helen McCrory ganham sua própria fantasia de retrato pintado por Van Gogh e entregam boas atuações. Com Amor, Van Gogh é uma animação ambiciosa, que se não fizer milhões de bilheteria ao redor do mundo, ao menos proporciona ao espectador que o assiste viver momentos de puro encantamento numa sala de cinema. 

Armand: atores viram pinturas. 

Com Amor, Van Gogh (Love, Vincent - Reino Unido/Polônia - 2017) de Dorota Kobiela e Hugh Welchman com Douglas Booth, Chris O'Dowd, Saoirse Ronan, Helen McCrory e Eleanor Tomlinson. ☻☻☻☻

Premiados Screen Actor's Guild - 2018

E o favoritismo vai para: o elenco de Três Anúncios para um Crime.

Se a temporada de prêmios começou com fortes candidatos, mas sem grandes favoritos, o que se viu ontem no Screen Actor's Guild é que o Oscar não deve trazer grandes surpresas se seguir as tendências do Globo de Ouro, do Critic's Choice Awards e SAG. Três Anúncios para o Crime continua sendo o favorito na categoria de melhor filme, ator coadjuvante e atriz (com Saoirse Ronan e Margot Robbie garantidas no páreo com a favorita Frances McDormand - ainda mais com ela declarando que os mais jovens também precisam de incentivo nas premiações), Gary Oldman também segue firme para ser o melhor ator da temporada (e os outros concorrentes devem ser os mesmos - a dúvida é se as denúncias de assédio contra James Franco abrirão espaço para Tom Hanks... acho que não...). Surpresa mesmo veio nos prêmios televisivos, já que This is Us não ficou satisfeito em levar para a casa o prêmio de Melhor Ator e se consagrou sobre a grande estreia do ano (The Handmaid's Tale, que perdeu até o prêmio de melhor atriz em série dramática, em que era favorito, para Claire Foy - que foi premiada novamente por The Crown). Ressaltando que os indicados ao Oscar saem amanhã (já fizeram suas apostas?) e o SAG é o prêmio do Sindicado de Atores (e só premia o elenco, tendo 1,2 mil votantes em comum com o Oscar), os premiados na noite de ontem foram os seguintes:  


Melhor Elenco de Cinema
Três Anúncios Para um Crime

Melhor Atriz de Cinema 
Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

Melhor Ator de Cinema 
Gary Oldman (O Destino de uma Nação)

Melhor Atriz Coadjuvante de Cinema 
Allison Janney (Eu, Tonya)

Melhor Ator Coadjuvante de Cinema 
Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

Melhor elenco de Dublês de Cinema 
Mulher-Maravilha

Melhor elenco em Série de Drama
This is Us

Melhor elenco em Série de Comédia
Veep

Melhor atriz em filme para a TV ou série limitada
Nicole Kidman (Big Little Lies)

Melhor ator em filme para a TV ou série limitada
Alexander Skarsgård (Big Little Lies)

Melhor atriz em série de drama
Claire Foy (The Crown)

Melhor ator em série de drama
Sterling K. Brown (This is Us)

Melhor atriz em série de comédia
Julia Louis-Dreyfus (Veep)

Melhor ator em série de comédia
William H. Macy (Shameless)

Melhor elenco de dublês em série de drama ou comédia
Game of Thrones

This Is Us: o patriarca da família agradece a maior surpresa da noite. 

domingo, 21 de janeiro de 2018

PL►Y: Voldemort - A Origem do Herdeiro

Rossi: uma sementinha no imaginário da Warner. 

Tudo começou com um trailer feito por fãs sobre a origem daquele que não se pode dizer o nome. O vídeo fez muito sucesso na internet e, com os milhares de fãs ao redor do mundo embarcando na ideia, os criadores do tal trailer pediram à Warner Bross os direitos para filmarem a história de Voldemort antes dele ser o lorde das trevas (e sem nariz) que atazanava a vida do bruxinho Harry Potter. Curiosamente a Warner cedeu ao pedido e permitiu que o filme fosse realizado, desde que não houvesse interesse comercial e fosse disponibilizado online. Com o sinal verde, o diretor e roteirista novato Gianmaria Pezzato seguiu em frente em seu fanfilm e ele foi lançado recentemente no Youtube. Na época do trailer eu não havia me dado conta de que se tratava de uma produção italiana, aspecto que foi o que mais me chamou atenção logo nos créditos iniciais pelos sobrenomes dos envolvidos. Quando o filme começa, fica evidente o esmero de Pezzato de seguir a cartilha dos últimos filmes baseados na obra de J. K. Rowling, utilizando uma fotografia sombria, assim como os figurinos e cenários similares ao dos filmes originais. O roteiro utiliza alguns aspectos do mundo criado por Rowling para dar forma às primeiras malvadezas de Tom Marvolo Ridle (Stefano Rossi), jovem bruxo promissor de Hogwarts. Contado a maior parte do tempo em flashback, a história é amparada pela narrativa de Grisha (Maddalena Orcali) que é presa por uma ordem de bruxos na Rússia ao tentar recuperar o diário do jovem Ridle vários anos após o desaparecimento dele. No interrogatório que se segue, Grisha conta como era seu relacionamento com o rapaz, destaca o fato de que faziam parte de um grupo de amigos herdeiros de famílias importantes dentro da bruxaria, além de esclarecer os primeiros crimes de Ridle.  Ainda que seja um filme feito por fã, Voldemort - A Origem do Herdeiro tem aspectos que são bem cuidados. É verdade que possui um roteiro que poderia ser menos confuso nas várias informações que lança para o espectador (mas isto também tem ligação com a curta duração vinculada ao orçamento restrito vindo de financiamento coletivo), mas ainda assim, ele sustenta o interesse do espectador. O que mais me incomodou foi o uso exagerado da trilha sonora e os sucessivos closes nos olhos dos atores. Como filme de estreia, Pezzato faz melhor que alguns velhos conhecidos de Hollywood e consegue conduzir bons momentos - especialmente de Stefano Rossi, que vive Tom Ridle (várias vezes seu rosto me pareceu familiar, mas depois me dei conta que o confundi com o americano Scott Foley quando era jovem). Li alguns críticos reclamando que as atuações do filme são bem fracas, mas não chega a tanto (alguns atores exageram em cena mas nada demais), acho que o maior problema foi a dublagem do vídeo disponibilizado na Internet. Os fanáticos irão apontar algumas falhas na história (escrita nas entrelinhas de Harry Potter e o Príncipe Mestiço), mas o filme está longe de ser vergonhoso, pelo contrário, deve ter plantado uma sementinha na Warner das possibilidades que eles possuem para ampliar o universo de Harry Potter e ainda deve servir de carta de apresentação para alguns dos envolvidos neste projeto feito de fã para fã. Ou seja, merece um ponto extra pela iniciativa de Gianmaria Pezzato.  

Voldemort: A Origem do Herdeiro (Voldemort: The Origin of the Heir/Itália-2018) de Gianmaria Pezzato com Stefano Rossi, Maddalena Orcali, Rorie Stockton, Davide Ellena, Andreas Baglio e Aurora Moroni. ☻☻☻

sábado, 20 de janeiro de 2018

Pódio: Armie Hammer

Bronze: os irmãos gêmeos. 
Ninguém tinha dado muita atenção para Armie Hammer em seus trabalhos anteriores. Sua guinada na carreira aconteceu mesmo quando ele apareceu em dose dupla como os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss que ajudaram Mark Zuckerberg a desenvolverem o Facebook. Na pele dos gêmeos milionários, bem nascidos, praticantes de remo (e que processaram Zuckerberg em alguns milhões de dólares), Armie tem um ritmo tão perfeito contracenando consigo mesmo que é difícil acreditar que se tratava apenas de um ator em cena. O trabalho lhe valeu uma indicação ao SAG Awards de melhor elenco. 

Prata: o visitante sedutor. 
2º Me Chame Pelo Seu Nome (2017)
Na pele do estudante americano que acaba se apaixonando pelo filho doprofessor ao norte da Itália, Armie Hammer derreteu a crítica que sempre zombava de seu pé frio para produções. Não que o ator tenha passado vergonha em algum filme, mas sua atuação luminosa serve para lembrar que o reconhecimento do talento de um ator não pode ser medido por conta de bilheterias. Com seu primeiro sucesso de público e crítica em muito tempo, Hammer já foi indicado ao Globo de Ouro e Independent Spirit de ator coadjuvante (e aguarda o Oscar fazer o mesmo). 

Ouro: o fiel escudeiro. 
O polêmico filme sobre um dos nomes mais importantes do FBI, não se esquivou de tratar de um dos aspectos mais íntimos da vida de J. Edgar Hoover (Leo DiCaprio): o relacionamento com o amigo Clyde Tolson. Na abordagem sutil desta polêmica, Armie Hammer cria um personagem que revela o que o protagonista tem de mais humano, com direito a algumas cenas memoráveis. Hammer tem uma atuação bastante introspectiva, em que um gesto, olhar ou tom de voz faz toda a diferença - por isso, foi lembrado na categoria de Melhor Ator Coadjuvante no SAG Awards. Não fosse uma catastrófica maquiagem utilizada no filme talvez o Oscar houvesse lembrado dele também.