quinta-feira, 26 de novembro de 2020

PL►Y: Quando a Vida Acontece

 
Lavinia e Elias: o desejo de aumentar a família. 

Não sei se já aconteceu com você, mas já houve algum filme que você assistiu por conta de uma música? Não é o caso de você ouvir a música da trilha sonora de um filme no rádio e ficar curioso de assistir, mas um filme que você começa a ver e não parece nada demais quando de repente toca aquela música que faz você investir a conhecer aquela história. Isso aconteceu comigo ela primeira vez com Quando a vida Acontece, filme austríaco em cartaz na Netflix que não tinha ouvido ou lido nada a respeito até que ele cruzasse meu caminho em uma destas noites em que você não sabe muito bem o que assistir. O filme começa com um casal que aparenta estar há algum tempo tentando ter um bebê com uso de inseminação artificial. Logo que o filme começa, Alice (Lavinia Wilson) recebe mais uma vez a notícia de que o embrião parou de se desenvolver. Ela comenta que imaginava que aquilo tinha acontecido já que não sentia mais nada ali. A médica logo reage dizendo que do tamanho milimétrico que possuía, dificilmente ela sentiria alguma coisa. O diálogo é simples, mas retrata uma grama enorme de sentimentos envolvidos à história daquele casal. Todo o histórico de expectativas frustradas começaram a pesar sobre ela e o seu casamento com Niklas (Elias M'Barek), além de persistir naqueles procedimentos irá gerar mais gastos com tratamentos. Ciente do desgaste emocional, a médica  sugere que os dois façam uma viagem juntos. Quando voltam para casa e Alice vai cuidar de suas plantas e surge Nothing Really Matters de Cat Power que transforma uma cena comum em algo de rasgar o coração. Foi neste momento que o filme de estreia da diretora Ulrike Kofler arrebatou meu interesse. Kofler também assina o roteiro e demonstra bastante segurança em lidar com uma história introspectiva e profundamente emocional, além disso, a longa experiência de Kofler como editora fez uma grande diferença na costura do filme. Tão logo Alice e Niklas vão para uma pousada no litoral eles conhecem o casal que se hospeda ao lado, Christi (Anna Unterberg) e Romed (Lucas Spisser), pais do adolescente David (Fedor Teymi) e da adorável Denise (Iva Höpperger). No início a voz infantil da menina paira sobre o casal sem filhos como uma espécie de fantasma, um espectro poltergeist mesmo, ao ponto de desejarem mudar de quarto. Os casais acabam se aproximando por conta da  menina e um laço bastante interessante se instaura entre Alice e Denise. As personagens tem poucas cenas juntas, mas que funcionam enquanto afagos para aquela mulher que precisa lidar com seus sentimentos dolorosos sobre a maternidade nunca concretizada. Some isso ao peso da impossibilidade de gerar um filho na vida dos dois, um certo ciúme pela amizade que se instaura entre os dois esposos e, o mais interessante, o contraponto criado sutilmente entre aqueles dois casais. Christi e Romed oferecem um olhar menos romântico sobre ter filhos, seja por comentários de uma gravidez indesejada, a filha que de vez em quando some ou o filho que fuma escondido. Assim, Quando a Vida Acontece evolui de forma bastante tranquila e emociona pela forma como entrelaça seus personagens de forma bastante envolvente. Além disso tem uma trilha sonora magnífica (que conta ainda Stay, também de Cat Power) que funciona com perfeição na construção da atmosfera desejada. O resultado é um filme que surpreende pela delicadeza com que conta sua história. 

Quando a Vida Acontece (Was Wir Wollten / Áustria - 2020) de Ulrike Kofler com Lavinia Wilson, Elias M'Barek, Lucas Spisser, Anna Unterberg, Iva Höpperger e Fedor Teymi. 

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