sábado, 26 de agosto de 2017

Combo: Quero Ser Michael Haneke

Há quem ame e há que odeie a obra do cineasta austríaco Michael Haneke (foto), o fato é que torna-se impossível ficar indiferente ao seu estilo único de contar histórias. Seu estilo sem concessões, com longos silêncios, atuações contidas, câmera imóvel e tanto faz se o filme é em cores ou preto e branco, ele gosta mesmo é de explorar sentimentos complexos como poucos são capazes de fazer perante a plateia. Ganhador de dez prêmios no Festival de Cannes (sendo duas Palmas de Ouro: uma por A Fita Branca/2009, outra por Amor/2012 - que também lhe rendeu o Oscar de filme estrangeiro), Haneke tem não apenas fãs como também discípulos no meio cinematográfico, diretores que compartilham com ele o gosto por testar os nervos da plateia com seu pessimismo perante a humanidade. Este combo destaca cinco filmes que sempre deixam aquela impressão de que seus diretores queriam ser Michael Haneke atrás das câmeras:  

05 Depois de Lucia (2012)
Premiado no Festival de Cannes na mostra Un Certain Regard não foram poucos os que perceberam as semelhanças entre a narrativa do mexicano Michel Franco com a obra do cineasta austríaco. Ao contar a história da jovem Alejandra que se muda com o pai para outra cidade e começa a sofrer bullying na escola, Franco utiliza os silêncios, a câmera fixa e deixa o espectador completamente desconfortável com a espiral de acontecimentos que se segue na tela. Trata-se de uma obra que exige bastante da plateia diante de uma violência que nem Alejandra ou seus agressores sabe de onde emerge. Mais Haneke, impossível...

04 Elefante (2003)
Até diretores experientes podem flertar com o cinema de Haneke de vez em quando (especialmente quando querem ganhar prêmios no Festival de Cannes). A versão fictícia de Gus van Sant para o massacre na escola em Columbine nos Estados Unidos é puro estilo do austríaco. Das longas tomadas nos intermináveis corredores, passando pelas reveladoras sutilezas dos personagens, silêncios e diálogos que dizem menos do que deveriam, Elefante se revela uma espécie de filme teen verídico com a marca hanekiana. O resultado levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e permanece inédito nos cinemas americanos até hoje. 

Alexandros Avranas é um diretor grego que em seu segundo filme saiu com quatro prêmios no Festival de Veneza (incluindo melhor diretor). O motivo para tanto é seu olhar um tanto frio e indiferente sobre uma família grega que para driblar a crise financeira realiza algumas negociações bastante estranhas. O drama apresenta seus personagens compondo uma família comum, só que ela esconde um desconfortável segredo que se descobre aos poucos após o suicídio da filha adolescente. O filme gerou polêmica e fez alguns críticos questionarem que tipo de prazer um filme tão cruel poderia gerar na plateia?

O grego Yargos Lanthimos ganhou o prêmio em Cannes na mostra Un Certain Regard com este filme e foi parar entre os indicados ao prêmio de Filme Estrangeiro no Oscar. O longa é sobre um casal que cria seus filhos sem contato algum com a vida em sociedade e o resultado foge ao controle lentamente. Estranhíssimo o diferencial de Yargos é o seu humor negro que torna tudo ainda mais bizarro (e que ele aprofundou em O Lagosta/2015 que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Roteiro Original). Com fãs cada vez mais numerosos, Lanthimos tem seu terceiro filme entre os mais aguardados do ano. The Killing of a Sacred Deer (prêmio de roteiro em... Cannes) traz Nicole Kidman e Colin Farrell num drama psicológico pesadão. 

Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, Michael é um drama que se constrói como um suspense na relação entre Michael (Michael Fuith) e um menino de dez anos (David Rauchenberger). Se no início você imagina que se trata de pai e filho, as coisas ficam mais estranhas quando descobrimos que o menino vive trancado no porão e... você começa a imaginar do que se trata. A abordagem discreta de um tema tão delicado beira o inacreditável graças ao diretor e roteirista Markus Schleinzer. Markus é o que consegue reproduzir de forma mais precisa o estilo cruelmente sutil de Haneke, o motivo é simples: ele foi assistente do diretor no celebrado A Professora de Piano/2001. 

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