Peter Sarsgaard: sensacional olhar sobre Stanley Milgram e sua obra.
Lançado em 2015, desprezado por nossos distribuidores e atualmente disponível no Netflix, O Experimento de Milgram resgata o polêmico trabalho do psicólogo social norte-americano Stanley Milgram. O experimento foi realizado no ano de 1961 na Universidade de Yale e consistia em dois voluntários em papéis específicos em lados diferentes de uma sala. De um lado o chamado "professor" citava palavras para o outro, chamado aluno. Se o aluno errasse a resposta da atividade, ele tomava choques elétricos que aumentavam gradativamente conforme os erros aconteciam. A experiência era supervisionada por um instrutor e, mesmo com o "aluno" reclamando dos choques, o "professor" permanecia obedecendo as regras. O filme revela aos poucos os meandros desta experiência ao espectador, se por um lado poderia se pensar que a ideia era o aumento da concentração para evitar os choques elétricos, por outro, os choques elétricos eram inexistentes e as reclamações do aluno eram apenas gravações. A pesquisa de Milgram levantou debates controversos sobre a ética na pesquisa científica, já que era considerado que o voluntário no papel do"professor" deveria saber que o que estava sendo testado não era a memória do "aluno" (que na verdade era outro cientista interpretando o papel de voluntário), mas a obediência à autoridade, mesmo diante do desconfortável visível na execução da tarefa. Milgram veio de uma família judaica e seus estudos tentavam compreender a origem do sentimento que faz pessoas aderirem à processos destrutivos por obediência, mesmo que signifique passar por cima de padrões de moralidade - o que pode motivar a torturar e executar pessoas sob o argumento de que apenas executavam ordens. Obviamente que o holocausto e a figura de Adolf Eichman, assim como o conceito de banalidade do mal construída pela filósofa Hannah Harendt motivaram Eichman em sua pesquisa e aparecem no roteiro, o que explicíta o que a obra de Milgram possui de controversa e contundente. O melhor de tudo é que o diretor Michael Almereyda (conhecido por sua versão moderninha de Hamlet/2000 com Ethan Hawke) não se contenta com todo este conteúdo e constrói um filme de narrativa bastante instigante, tornando o próprio Milgram num personagem curioso. Vivido de forma inspirada por Peter Sarsgaard, o personagem conversa com o expectador olhando a câmera, narrando o filme de corpo presente (tendo consciência inclusive do que o futuro lhe reserva), esta opção não apenas o aproxima do expectador mas também injeta um humor inusitado no personagem. Além disso, o roteiro apresenta outras ideias do pesquisador (e sim, você conhece várias...), sua vida familiar com a esposa e os filhos e até a repercussão de seus estudos na vida acadêmica sempre com uma estética interessante (cenários projetados deliciosamente fakes, o elefante andando pelo corredor, o menino de rosto verde e outros detalhes que deixam o espectador com a sensação de que ele mesmo está sendo testado pelo personagem). Com roteiro bem amarrado, bons atores e narrativa inspirada, O Experimento de Milgram lembra como seus estudos ainda falam mais sobre a humanidade do que gostaríamos.
O Experimento de Milgram (Experimenter/EUA-2015) de Michael Almereyda com Peter Sarsgaard, Winona Ryder, Anthony Edwards, Jim Gaffigan, John Palladino, Harley Ware, Harley Ware, Anton Yelchin, John Leguizamo e Taryn Manning. ☻☻☻☻☻
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