Sigourney Weaver: nasce o legado de Ellen Ripley
Sempre que vejo Alien: O Oitavo Passageiro (1979) tenho a impressão que Ridley Scott não tinha a mínima ideia de que iniciava o seu maior legado cinematográfico. No currículo o diretor inglês tinha apenas alguns trabalhos para a televisão e uma experiência anterior no cinema (Os Duelistas/1977), apesar de ter se reinventado nos últimos anos à frente de épicos, Alien demonstrou que o diretor ficava bastante à vontade ao dirigir uma ficção científica (tanto que voltou ao gênero em 1982 com o cultuado Blade Runner). Alien tornou-se uma referência para o gênero ao mesclar a narrativa sci-fi com o horror e gerou diversos clones menos inspirados que beberam, principalmente, seu visual industrial apocalíptico. O primeiro é considerado por muitos o melhor da saga ao apresentar a missão da tripulação da nave espacial Nostromo que investiga uma misteriosa transmissão espacial. A tal transmissão leva a tripulação para um planeta desconhecido onde existe uma forma de vida desconhecida que utiliza seres humanos como hospedeiros. Além do clima constante de horror impressiona a criação de um monstrengo cujo o sangue é ácido e a apresentação de uma das maiores heroínas do cinema, a Tenente Ripley - vivida por uma quase desconhecida Sigourney Weaver. Scott já apresenta aqui o seu gosto por personagens femininas vigorosas! No entanto, o filme não alcançaria o sucesso sem o clima certeiramente claustrofóbico impresso pelo diretor - que não se contenta em mostrar como o monstrengo tenta dizimar os outros sete passageiros da nave. Além disso, o longa apresenta aspectos que se tornariam marcas da série, como um andróide problemático (vivido aqui por Ian Holm ) e a excepcional direção de arte (indicada ao Oscar), sem falar nos mistérios (como a nave alienígena caída no planeta misterioso) que só ficam claros quando assistimos Prometheus (2012) - que apresenta uma história anterior a este clássico da ficção científica. O final eletrizante deixava o caminho em aberto para uma sequência que deveria honrar o faturamento de mais de quinze vezes o valor do orçamento (hoje, modestos onze milhões de dólares) e o Oscar de efeitos especiais.
Aliens: sequência anabolizada.
Alien fez tanto sucesso que uma sequência parecia inevitável, no entanto ela demorou sete anos para ser realizada. O problema? O principal era a preocupação de fazer uma continuação que honrasse o legado do primeiro filme. Nos anos que separam os dois proliferaram filmes que bebiam no sucesso do longa de Ridley Scott, todas produções inferiores e com uma pegada trash mais que acentuada. O efeito interferiu o próprio lançamento da continuação oficial, já que até um Alien 2 já existia. A solução? Chamar a sequência de Aliens. A presença do S já deixava os fãs salivando com a expectativa de ter mais de um monstro no segundo filme. Dito e feito. A Tenente Ripley volta para essa aventura com ainda mais destaque na trama onde a simbologia de salvar a espécie humana fica ainda mais forte - já que ela precisa salvar uma garotinha que sobreviveu ao ataque dos Aliens à uma colônia terráquea em outro planeta. De início Ripley fica desorientada ao se ver acordada 57 anos depois do primeiro filme e pior ainda, às voltas com interesses nada nobres de uma empresa sobre os seus inimigos do espaço. Neste filme os produtores entenderam que deveriam mostrar mais monstros e ainda capricharam no confronto de Ripley com uma espécie de rainha Alien responsável pela reprodução da espécie. O responsável por essa visão mais ambiciosa dentro da franquia é James Cameron, que substituiu Ridley Scott na direção e estava disposto a mostrar que sabia lidar com cenas de ação mais elaboradas do que as apresentadas em Piranhas 2 (1981) e até em O Exteminador do Futuro (1984). Tenho a impressão que o roteiro foi ainda mais trabalhado que o anterior e o resultado foi sucesso de bilheteria e uma indicação ao Oscar de atriz para Sigourney Weaver. O filme concorreu ainda a outras seis categorias técnicas, levando para a casa a de Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais. Seis anos depois Sigourney voltaria ao papel da Tenente Ellen Ripley, em Alien3 a personagem vai parar numa colônia penal chamada Florina 161 (e tem que raspar a cabeça por conta dos piolhos abundantes no local e para criar uma imagem ainda mais forte para a saga). Depois de tantos diretores hesitarem em assumir a franquia a tarefa ficou para o diretor de video clipes David Fincher - que teve vários problemas com a produção.
Alien³: confronto de corpo no corpo.
O problema principal do terceiro episódio é o roteiro, que parece ainda pior por Fincher querer um filme mais contemplativo - e isso incomodou quem procurava a agitação presente no filme anterior. A história é mais simples e os personagens penam para não cair no estereótipo mais comum dos prisioneiros cinematográficos. Muitos também reclamaram das cenas muito escuras (onde se predominava os tons negros e vermelhos, como se a intenção fosse transformar aquele planeta prisão num inferno sideral). Sorte que Sigourney Weaver continua impregnando sua personagem com a mesma dignidade dos filmes anteriores e irá sofrer um bocado quando se der conta de que ela trouxe seu maior inimigo para aquele lugar. Fincher opta por um suspense mais sutil e deixa a tensão correr solta nos minutos finais com a presença de monstrengos ainda mais habilidosos do que nos filmes anteriores. No entanto, não é difícil perceber que o filme tem um ritmo irregular. O motivo para isso deve ser o não acordo entre o diretor e os produtores. No fim das contas o conflito na decisão pelo corte final afetou o andamento do filme, tanto que Fincher nem gosta de lembrar desse trabalho. Ainda assim, o final impressiona e parece sepultar qualquer possibilidade de haver outra continuação. Apesar das críticas o filme arrecadou mais do que o anterior (159 milhões de dólares pelo mundo), mas o orçamento estourado de 63 milhões já havia desagradado os produtores (o anterior custou 18 milhões e arrecadado 131 milhões, portanto, foi mais lucrativo). Alien3 rendeu mais uma indicação de efeitos especiais para a franquia. Ainda não sei dizer se achei uma boa ideia fazerem
Alien: A Ressurreição (1997) que ressuscita a Tenente Ripley 200 anos depois de sua morte. Também não sei quem teve a ideia de entregar a direção do filme para o francês Jean Pierre Jeunet. Sem experiência no gênero, ao invés de tentar valorizar o roteiro mais fraco da franquia, Jeunet prefere fazer do filme um verdadeiro museu de horrores decorado com muita geleca. Nunca antes num filme da série se viu tanta coisa gosmenta! O filme parte da ideia de clonar Ripley (Weaver, mais uma vez), mas ela volta diferente, já que seu DNA acaba misturado ao do monstrengo inimigo. Os interesses que já apareciam no segundo filme aqui se consolidam e colocam a Terra em perigo e para deter a destruição da humanidade, Ripley conta com a ajuda de um bando de piratas espaciais mal treinados e uma andróide chamada Analee (Winona Ryder). As novidades do filme? As cenas são mais claras e os Aliens aparecem nadando pela primeira vez, mas é pouco para segurar a trama. O filme foi o mais caro da franquia (75 milhões) e faturou pouco mais do dobro disso (161 milhões), o resultado? Os produtores não gostaram e começaram a usar o personagem em filmes de terror mais baratos - assim nasceu
Alien Vs Predador 1 (2004) e
2 (2007), os quais me recuso a comentar nessa retrospectiva. Sorte que Ridley Scott em
Prometheus (2012) parece disposto a colocar as coisas nos trilhos mais uma vez.
Alien - O 8ºPassageiro (EUA-Reino Unido - 1979) de Ridley Scott com Sigourney Weaver, Tom Skerritt, Veronica Cartwrigth, Harry Dean Stanton, Ian Holm e Bolaji Dadejo. ☻☻☻☻
Aliens (EUA-Reino Unido/1986) de James Cameron com Sigourney Weaver, Paul Reiser, Bill Paxton e Michael Biehn. ☻☻☻☻
Alien³ (EUA-1992) de David Fincher com Sigourney Weaver, Charles S. Dutton, Charles Dance, Lance Henriksen, Pete Postlethwaite e Paul McGann ☻☻☻
Alien - A Ressurreição (EUA-1997) de Jean Pierre Jeunet com Sigourney Weaver, Winona Ryder, Dominique Pinon, Ron Perlman e Dan Hedaya. ☻☻