quinta-feira, 3 de maio de 2012

DVD: Tudo Pelo Poder


Gosling: alguém tem que fazer o serviço sujo...

Depois de um enorme tropeço de público e crítica em sua carreira de diretor (com o bobo O Amor não Tem Regras/2008), George Clooney reencontrou o sucesso em seu segundo ofício quando resolveu adaptar a peça "Farragut North" de Bill Willimon para o cinema. Tudo Pelo Poder aborda novamente a política, tema que rendeu vários elogios ao diretor de Boa Noite, Boa Sorte (2005). Mas se no que concorreu ao Oscar de 2006 o cineasta abordava a caça aos comunistas na década de 1950, agora ele volta sua lente para as eleições presidenciais, ou melhor, o burburinho que cerca a escolha dos candidatos. Cercado de um elenco de primeira, Clooney fez um dos filmes mais aclamados do ano passado e, embora tenha concorrido a vários Globos de Ouro (incluindo filme e direção), no Oscar teve que se contentar com a indicação ao prêmio de roteiro adaptado. O filme aborda as prévias para a escolha do candidato democrata à presidência americana, no centro da disputa está o governador Mike Morris (George Clooney) candidato que se alimenta do auxílio valioso de seus assessores, o calejado Paul Zara (Phillip Seymour Hoffman) e o prodígio Stephen Myers (Ryan Gosling). Morris é um pré-candidato do partido que precisa vencer as prévias nos estados e a situação nunca lhe parece muito favorável diante de seu concorrente, o senador Thompson (Jeffrey Wright) e a gana de seu assessor Tom Duffy (Paul Giamatti). Clooney consegue manter um clima tenso onde as articulações políticas soltam aos olhos e tendem a contaminar até os mais certinhos. Desde o início Myers é mostrado como um rapaz esperto, mas que persegue ideais que nenhum outro personagem considera que possam ser representados por muito tempo pelo candidato Morris. Quando o centro da narrativa parece girar em torno do fim da campanha existe um desvio nos interesses do especator. Quando surge Molly (Evan Rachel Wood), uma bela estagiária que cruza o caminho de Myers podemos ter uma ideia do que irá acontecer, mas essa camada mais pessoal da narrativa tromba com a outra e o resultado reflete bem o clima paranóico que cerca uma eleição. Mas quando a fidelidade de Myers é questionada e ele precisa salvar mais do que a sua reputação (leia-se os ideais que parece ter abandonado pelo caminho) o filme tem pouco tempo para resolver o cenário que armou cuidadosamente. Embora o roteiro tenha um punhado de clichês, o filme consegue ser interessante por sempre cruzar o pessoal e o coletivo utilizando os interesses de um candidato e de seus eleitores - prova disso são os discursos e entrevistas que sempre abordam temas polêmicos como aborto, homossexualismo, racismo, guerras. Da mesma forma, o filme se beneficia de construir no espectador sempre uma desconfiança sobre a forma como os fatos são mostrados (os caminhos que se seguem ao fato de Molly tornar-se um problema são as maiores provas disso). O roteiro atira para todos os lados, democratas, republicanos, idealistas bem intencionados, a imprensa (bem representada por um Marisa Tomei mais escorregadia que de costume) e ninguém parece ficar limpo até o final da sessão, todos tem seus pequenos (ou grandes) pecados pessoais  que podem se tornar uma vantagem para o adversário. O que emerge de tudo isso é o fato do ser humano ser extremamente político, sempre equilibrando seus interesses para realizar qualquer ação - o problema é quando no meio do caminho podemos tomar decisões que não podem ser desfeitas e, neste ponto, nem o final aberto que o filme  reserva para  seu herói (?) idealista pode resolver. Mesmo com o elenco afiado, Gosling é o que mais motiva o espectador a acompanhar o processo de desmonte moral (ou crescimento?) que seu personagem sofre (mesmo que pareça não se dar conta disso) e, ao fim, embora seus olhar possa reservar o auge de uma vingança, o desfecho pode decepcionar boa parte da plateia.

Tudo pelo Poder (Ides of March/EUA-2011) de George Clooney com Ryan Gosling, George Clooney, Evan Rachel Wood, Phillip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Marisa Tomei e Jeffrey Wright. 

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