Adam e Moritz: irmãos em conflito.
Sou chato demais para gostar de comédias. Tive certeza disso quando uma amiga me perguntou sobre uma boa comédia que assisti recentemente. Pensei por longos minutos... e enquanto escrevo no blog não consigo lembrar qual foi que citei naquele momento. Eu poderia ter falado de Soul Kitchen, que me fez dar boas risadas quando assisti. O diretor alemão descendente de turcos Fatih Akin (do premiado Contra a Parede, que ainda não me perdoo por não ter escrito sobre) gosta de misturar etnias, trilhas e situações curiosas em seus filmes. Alguns acusam do cineasta constar sempre o mesmo tema com gêneros diferentes - preciso citar outros que fazem a mesma coisa sempre e que todos fingem não perceber? Deixando essas implicâncias de lado, Soul Kitchen é uma ótima surpresa - afinal, quantas chances de rir com uma comédia alemã você teve em sua vida? Sucesso cult em festivais, o filme é despretensioso e, por isso mesmo, bastante interessante. Zinos (o bom Adam Bousdoukos que também assina o texto) é descendente de gregos e dono do restaurante que dá nome ao filme. Bem, chamar aquele lugar de restaurante é praticamente um favor, já que seus pratos consistem basicamente em descongelar e fritar coisas para os seus fregueses pouco exigentes. A vida de Zinos parece ter alcançado um ponto cômodo, mas as coisas começam a sair dos eixos quando sua namorada resolve ir trabalhar em outro país e espera, ansiosamente, para que Zinos a encontre. Quando a moça vai embora ela parece deixar a porta aberta para que novos personagens cruzem o caminho de seu namorado. Um deles é o irmão dele, Ilias (Moritz Bleibtreu) que precisa de uma ajuda para dizer que trabalha no restaurante enquanto cumpre sua pena de regime semiaberto na prisão. Se Ilias pelo menos fingisse que está trabalhando as coisas seriam mais fáceis (mas não vai demorar para que a garçonete marrenta do lugar comece a se interessar pelo prisioneiro). Outro que entra para a família Soul Kitchen é um chef de cozinha que prentende ensinar aquele bando de gente a apreciar uma culinária mais elaborada (e que faz o restaurante entrar em crise) e finalmente, Thomas Neumann (Wotan Wilke Möhring), um especulador imobiliário que está disposto a acabar com o restaurante para que possa comprá-lo e revendê-o a um preço exorbitante. Fatih Akin se preocupa pouco em criar um fio condutor para a história, preferindo explorar as situações que se passam entre os personagens, seja as graças, delírios ou romances. Ganha espaço na história a hérnia de disco de Zinos, a carreira de DJ de Ilias (ou seus problemas com jogo) e o sucesso que o restaurante passa a fazer quando abre uma escola de música na vizinhança. Soul Kitchen pode ser apresentado como uma anúncio da fenomenal trilha soul que embala a trama, mas também como a premissa de um filme com uma alma jovem e moderna, bem diferente da imagem sisuda que as pessoas fazem dos alemães. Há quem diga que os vilões (imobiliários) do filme (além do louro Möhring tem a cara nazista de Udo Kier) personifiquem essa imagem negativa de uma Alemanha que perdeu espaço nos últimos anos, mas se você não se preocupa com nada disso e quer apenas se divertir você vai adorar os ingredientes fraternais misturados na cozinha cheia de alma de Fatih Akin.
Soul Kitchen (Alemanha/2009) de Fatih Akin com Adam Bousdoukos, Moritz Bleibtreu, Birol Ünel, Anna Bederke, Wotan Wilke Möhring e Udo Kier. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário