Kristen Wiig: o preço da riqueza. |
Nos anos 1960, Maxine Simmons (Kristen Wiig) é uma mulher que sonha em ter um lugar ao sol da alta sociedade de Palm Beach. Um dos seus maiores desejos é poder frequentar o clube que dá nome à série, um local frequentado somente pela elite local e que parece um daqueles lugares tão fora da realidade que beira a fantasia. Só que para isso ela ela precisa da indicação de três sócias. Ela acredita que sua vida irá melhorar muito quando conseguir conviver com aquele bando de gente tão endinheirada quanto esnobe, mas desde o primeiro episódio ela percebe que não será uma tarefa fácil e, mais do que isso, ao longo dos nove episódios que compõem a primeira temporada na AppleTV+, a sensação é que ela vê o sonho se tornar um pesadelo. Bem, se a personagem não descobre isso, o público tem cada vez mais certeza. Cheia de humor, deboche e ironias, a série se constrói a partir das trapalhadas de Maxine em ganhar respeito em mundo à qual não pertence e acaba gastando mais do que tem para conseguir sustentar uma imagem que não é a dela. Eu nunca havia pensado em como ser rico é algo caro, não apenas com os gastos para uma vida de ostentação, mas também para manter os gastos com as festas e os bailes de caridade, doações e tudo mais em que você não pode ficar para trás. Enquanto a personagem gasta uma fortuna para manter uma imagem de luxo (realizando até alguns crimes pelo caminho), toda a imagem de perfeição daquele mundo se desconstrói com arranjos, traições e corrupções. O melhor de Palm Royale fica para para os primeiros episódios em que acompanhamos com surpresa os fatos surpreendentes que pairam sobre a personagem, como a história em que é esposa de um grande herdeiro e suas visitas constantes à uma senhora presa imóvel à uma cama que não sabemos ao certo quem é. Se o programa começa em uma expectativa crescente do espectador, ampliando e conferindo cada vez mais complexidade aos personagens, conforme avança para além de sua metade, ela perde o fôlego e ganha cada vez mais um ar de novela, sem evitar cair na repetição de sempre fazer sua protagonista quebrar a cara. Me atrevo a dizer que Kristen Wiig tem aqui o papel de uma vida, embora tenha realizado bons trabalhos no cinema, eu sempre tinha a impressão que ela poderia fazer muito mais nos projetos em que aparecia. Aqui, a atriz consegue sustentar nossa torcida por uma personagem que é totalmente equivocada em suas ambições, basta ver os encontros com o grupo feminista liderado por Laura Dern, que aos poucos, se torna sua amiga. Falando em Kristen e Laura, o elenco é um verdadeiro triunfo, afinal ainda conta com Allison Janney como a ricaça megera mor do pedaço, a venerada veterana Carol Burnett em um papel cheio de surpresas e até Kaia Gerber (a filha de Cindy Crawford) em um papel bastante promissor. Para além do estelar elenco feminino, temos Ricky Martin numa performance bastante reveladora de seu talento como ator, vivendo um funcionário do hotel cheio de segredos e nuances diferentes do que você imagina, torna-se outro personagem que ganha nossa torcida. Renovada para uma segunda temporada, a série é bastante animada e cheia de acontecimentos, mas por vezes peca pela repetição que ao final deixa um gosto de que funcionaria melhor como minissérie. No entanto, reúne os talentos necessários para funcionar como uma saborosa crônica sobre o american way of life.
Palm Royale (EUA-2024) de Abe Sylvia com Kristen Wiig, Ricky Martin, Carol Burnett, Laura Dern, Allison Janney, Josh Lucas, Leslie Bibb, Kaia Gerber, Julia Duffy, Claudia Ferri e Jordan Bridges. ☻☻☻☻
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