sexta-feira, 16 de agosto de 2013

CATÁLOGO: A Prova

Crowe, Picot e Hugo: amizade, crueldade e cegueira. 

Só para lembrar, Hugo Weaving e Russell Crowe são australianos e não é todo dia que podemos ver um filme em que os dois estão juntos, ainda mais no início de carreira. A Prova é o terceiro longa da carreira de Crowe (ele tinha 26 anos quando o filme foi rodado) e o quinto da carreira de Weaving (que tinha 30 anos na época), dirigido por Jocelyn Moorhouse (responsável pelos femininos Colcha de Retalhos/1995 e Terras Perdidas/1997) o filme ainda consegue ser encontrado em DVD graças à presença dos seus protagonistas que ganharam grande projeção em Hollywood seja como Gladiador (2000) ou como o severo agente Smith de Matrix (1999). Quem acostumou a gostar das superproduções estreladas pelos dois irá estranhar o tom seco da narrativa e aquele jeito que se tornou famoso com as produções independentes da década de 1990. No entanto, quem se concentrar no jogo de poder que se estabelece entre os personagens do filme poderá perceber que A Prova tem seus méritos. O filme parece ser sobre um triângulo amoroso, mas não é. Martin (Hugo Weaving) é cego de nascença, mesmo assim tem o hobby de fotografar o mundo ao seu redor - mesmo que seja para pedir para alguém narrar o que aparece nelas. Aparentemente bem resolvido, Martin tem lá os seus fantasmas do passado (especialmente retratados nos flashbacks em que aparece pequeno ao lado da mãe) e divide a casa com uma governanta fantasmagórica bastante viva. Ela é Célia (Genevieve Picot), que alivia sua frustração de conviver com um homem que finge ignorar a tensão sexual que existe entre os dois colocando objetos no caminho dele, só para vê-lo tropeçar - ou então, muda objetos de lugar só para que ele não os encontre. Desde a primeira cena, Célia deixa claro que não vale muita coisa e, ao longo do filme, só irá provar essa tese. É interessante como Célia é mostrada mais dependente de Martin do que ele dela - esse deve ser outro motivo para que ela sabote as ações de Martin. A relação entre os dois piora mais ainda quando Martin conhece Andy (Crowe). Andy trabalha num restaurante e quase por acaso cruza o caminho do protagonista. Ele acaba narrando algumas fotos para o fotógrafo e cativa Martin com o jeito sincero e direto de descrevê-las. O problema é quando a amizade entre os dois passa a ser ameaçada por Célia, colocando a confiança que Martin deposita no amigo à prova. Em termos de narrativa o filme não tem nada de inovador, tendo sua originalidade nas crueldades que Célia arma para seu objeto de desejo - incluindo a forma como se impõe entre os dois amigos. Uma outra visão da história sobrepõe a cegueira de Martin a uma possível homossexualidade enrustida, que torna a leitura dos personagens mais interessante. Assim, ainda que rejeitada pelo fotógrafo, Célia surge como uma espécie de elo entre os dois homens (existe algo que Andy só poderá consolidar através dela, já que Martin reluta assumir a real afinidade que sente por ele e vice-versa).  É verdade que o filme poderia desenvolver um pouco mais o desfecho que parece um tanto apressado (o filme é bem curto, com 86 minutos de duração), mas consegue matar a curiosidade dos fãs de dois atores consagrados num momento antes de se tornarem famosos. 

A Prova (Proof/Austrália-1991) de Jocelyn Moorhouse com Hugo Weaving, Russell Crowe e Genevieve Picot. ☻☻☻

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