Slater e Rami: tecnologia temperada com esquizofrenia.
Ainda que repleto de feriados (ou talvez por isso mesmo), novembro tem sido um mês bastante exaustivo, deixando pouco tempo para esse humilde ser escrever no blog. Esse é o motivo pelo qual somente agora terminei de assistir a cultuada Mr. Robot (exibida por aqui no canal Space com o nome de Sociedade Hacker, a série ainda está disponível no site do canal). Forte candidata a melhor série do ano, o programa surpreendeu ao ser lançada pelo canal USA, famosa por produções otimistas que sempre ficam fora do radar da crítica e das premiações - aqui o tom é totalmente diferente. A série criada por Sam Esmail era inicialmente um filme, mas que (por motivos que especularei mais a frente) acabou sendo abortado e transformado em série (o que deixou espaço de sobra para deixar a trama ainda mais elaborada). A trama conta a história do gênio da informática Elliot Alderson (Rami Malek que sabe usa muito bem usar seu rosto de traços incomuns), que trabalha numa empresa de segurança digital dirigida por Gideon Goddard (Michel Gill) ao lado da amiga de infância Angela Moss (Portia Doubleday). Entre os clientes da empresa está o conglomerado ECorp, uma corporação que abrange vários segmentos do mundo moderno (internet, celulares, produtos de informática, cartões de crédito...) e que possui uma ligação infeliz com o passado de Elliotr e Angela, afinal, foi a empresa responsável pela morte do pai dele e a mãe dela. Desde o primeiro episódio, sabemos que, nas horas vagas, Elliot é um hacker habilidoso, que passa o tempo investigando a vida de quem cruza o seu caminho, fazendo alguns atos heróicos (e outros nem tanto) no que acredita colaborar na criação de um mundo melhor. Suas ações chegarão a outro patamar, quando entrar para um grupo de hackers liderado pelo misterioso Mr. Robot (Christian Slater) que quer destruir a ECorp. O que poderia ser somente sobre a execução de um plano, recebe camadas surpreendentes quando descobrimos que Elliot está longe de ser um sujeito estável. Viciado em morfina e indisciplinado com sua psiquiatra e medicamentos, ao longo dos dez episódios da primeira temporada teremos muitos segredos a descobrir na série que flerta o tempo inteiro com a esquizofrenia de seu protagonista. Desde os primeiros minutos você irá perceber as semelhanças da série com Clube da Luta (1999) de David Fincher (o que deve ter causado o cancelamento do filme de Sam Esmail) e a semelhança não aparece apenas no plano que perpassa toda a temporada, mas também nos enquadramentos, filtros utilizados, cortes nervosos e narrativa não linear. Mas as fontes cinematográficas não param por aí, referências à V de Vingança (2005) e Psicopata Americano (2000) também aparecem na construção de um universo extremamente coeso e surpreendente. Mr. Robot ainda possui uma coleção de outros personagens instigantes - destaque para o jovem executivo sueco Tyrell Wellick (um impressionante Martin Wollström) e o andrógino WhiteRose (B.D. Wong) - e uma trilha que impressiona pelo uso de sonoridades eletrônicas (quase sempre ruídos) que inserem o espectador nas emoções do protagonista, fazendo nos sentir dentro dele, como se fosse uma amigo imaginário do atormentado Elliot. Desde o primeiro episódio a série já diz a que veio - o que a tornou na grande surpresa na temporada 2015. Mr. Robot teve sua segunda temporada garantida antes mesmo de estrear após a comoção gerada por seu piloto em exibições teste (sorte da crescente legião de fãs que se pergunta quem bateu naquela porta no final do último episódio).
Martin Wollström: o "American Psycho" Sueco.
Mr. Robot (EUA/2015) de Sam Esmail com Rami Malek, Christian Slater, Martin Wollström, Portia Doubleday, Michel Gill, Ben Rappaport, Gloria Reuben, Stephanie Corneliussen e Frankie Shaw. ☻☻☻☻☻
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