Rocky, Boy e o pai desmiolado: ternura politicamente incorreta.
Espero que muita gente tenha procurado os filmes do neozelandês Taika Waititi depois que viu o que ele fez com Thor: Ragnarok (2017). Quem não fez isso ainda, fica a dica. No blog já comentei anteriormente o hilariante O Que Fazemos nas Sombras/2014 e o divertido Fuga Para a Liberdade/2016, antes deles, Taika dirigiu Boy, seu segundo longa metragem. Aqui o diretor já demonstra que seu estilo está bem definido, o que faz com que uma história sem grandes novidades seja agradável de se assistir com boas piadas, momentos sentimentais e um tempero de nostalgia. Boy é o nome do protagonista, um menino que vive com outras crianças de sua família enquanto a responsável por eles precisou viajar para o funeral de um parente. Ambientado em 1984, Boy (o carismático James Rolleston) é fã de Michael Jackson e sonha com o dia em que seu pai voltará e o levará para conhecer o ídolo. Trata-se evidentemente de um delírio, já que o pai do menino está preso e quando ele aparece está bem longe de ser exemplar. Alamein (o próprio Taika Waititi) aparece num carro com dois amigos e alimenta ainda mais as ilusões do filho, mas aos poucos a realidade se mostrará bem diferente da esperada pelo guri. A começar pelo corte de cabelo horroroso que o pai lhe faz, passando pela motivação aos roubos de Boy à plantação de maconha de uma vizinha e a tarefa árdua de fazer buracos no quintal (em busca do dinheiro roubado pelo pai e que ele não faz muita ideia de onde enterrou), ou seja, a vida do menino muda bastante com a chegada do progenitor. Taika Waititi compõe um pai cheio de exageros, que tem momentos tão engraçados quanto incômodos - ele é capaz de ameaçar os colegas que perseguem seu filho, atropelar um animal na beira da estrada e não dar a mínima, além de ignorar o filho caçula, o fofo Rocky (Te Aho Eketone-Whitu), cujo parto complicado levou a mãe ao falecimento. Rocky é responsável por alguns dos melhores momentos do filme, já que ele acredita que possui super-poderes que nem sempre funcionam (e a forma como o filme aborda esta fantasia é simplesmente deliciosa). Com várias crianças em cena lidando com um bando de adultos que estão bem longe de ser confiáveis, o filme não deixa de ter um certo tom de rito de passagem, quando o rapazinho começa a enxergar o mundo com outros olhos, sobretudo ao perceber que seu pai está bem longe de ser o cara legal que ele imagina. O roteiro (do próprio Waititi), não cita Freud ou outros embasamentos rebuscados, mas consegue atingir um ponto interessante sobre aquele momento em que você se distancia do pai para criar sua própria identidade. Embora tenha alguns problemas de ritmo, o filme consegue ser um bom filme família, politicamente incorreto, mas família!
Boy (Nova Zelândia - 2010) de Taika Waititi com James Rolleston, Taika Waititi, Te Aho Eketone-Whitu, Haze Heweti e Rachel House. ☻☻☻
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