sexta-feira, 20 de setembro de 2019

KLÁSSIQO: A Igualdade é Branca

Delpy e Zbigniew: problemas para consumar o casamento.

Depois do aclamado capítulo de estreia da trilogia das cores (A Liberdade é Azul/1993), a segunda parte da obra de Krzysztof Kieslowski foi vista com desconfiança pela crítica. Talvez porque consideraram A Igualdade é Branca bem menos sutil do que o anterior, além de ser bem mais irônica  ao contar, digamos, uma estranha história de amor. O fato é que depois de todo o tom contemplativo do anterior, o cineasta criou uma história completamente diferente, desta vez investindo em um tom mais cômico e até farsesco para sua alegoria sobre a igualdade. Assim que vemos a pendenga do casal Karol (Zbigniew Zamachowski) e Dominique (Julie Delpy) no tribunal, percebemos que a igualdade a que o filme se refere será trabalhada fora da "justiça". Afinal, o polaco Karol não domina o francês, o que se mostra um grande problema quando vão viver na França após o casamento. Nervoso, ele tenta se defender, mas sempre depende de um intérprete para ser ouvido. De nada adianta, afinal, Dominique está enfurecida com os problemas que o marido enfrenta para consumar o casamento. Para o apaixonado Karol o problema é provisório, mas para Dominique já se passou tempo demais até que a situação se resolvesse. Ali mesmo no tribunal, começa a tragédia do marido,. Com o divórcio declarado ele não tem para onde ir, tem problemas para utilizar o dinheiro que tem no banco e Dominique não perde uma chance de humilha-lo - chegando até a forjar um incêndio para acusa-lo. Nesta primeira parte é curioso pensar onde a igualdade irá aparecer na história, já que a relação de poder entre os dois é completamente desproporcional. Com a ajuda de um amigo, Karol acaba voltando para Polônia afim de dar a volta por cima, nem que para isso precise colocar sua vida em risco em vários momentos. A Igualdade é Branca tem um humor obscuro, tipicamente do leste europeu e reserva um final surpreendente para o espectador, que finalmente entenderá onde reside a igualdade do filme - ainda que este conceito seja apresentado de forma bastante provocadora. Para fazer funcionar a história, o diretor conta com o ótimo Zbigniew Zamachowski, que está perfeito como Karol. Ele é um ator tão carismático em um personagem tão ultrajado que se torna impossível não simpatizar com ele desde as primeiras cenas. Do outro lado está Julie Delpy com sua enganadora carinha de anjo, que persiste até o desfecho. As ironias da história não impede que o filme tenha momentos pontuais de lirismo ao longo da sessão (as cenas de Dominique na igreja com um branco quase cegante são um achado), mas ainda assim causou estranhamento em quem considerou A Liberdade é Azul uma obra-prima. Ao surpreender por investir em uma atmosfera diferente,  Krzysztof levou o prêmio de melhor diretor no Festival de Veneza pelo seu trabalho fascinante. 

A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc / França - 1994) de Krzysztof Kieslowski com Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr, Jerzy Nowak e Juliette Binoche. ☻☻

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