sexta-feira, 21 de julho de 2023

PL►Y: Tetris

 
Nikita e Taron: comunismo x capitalismo. 

Comentei aqui no blog que senti falta de algo em Air - A História por Trás do Logo, último filme dirigido por Ben Affleck, o que não impediu que o filme fosse um dos mais falados do primeiro semestre do ano, chegando a ser apontado por alguns críticos como uma produção que pode ser lembrada na temporada de ouro que se aproxima. Talvez seja tudo uma estratégia de marketing para que o filme, produzido incialmente para o catálogo do Prime Video, ganhe ainda mais notoriedade. É interessante notar que outro filme sobre um produto famoso chegou ao streaming recebendo uma escala bem menor de atenção, embora o considere bem mais interessante. Tetris é um filme que não se concentra na criação de um dos games mais populares de todos os tempos, mas na complicada jornada de sua popularização, afinal, apesar do joguinho ter ficado famoso mundialmente através do gameboy da Nintendo, tudo foi construído em um lugar que não dava a mínima para o que se passava no mundo dos videogames na década de 1980: a União Soviética. Quando Tetris começava a ficar famoso de forma quase clandestina, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) já começava a sentir que o comunismo estava mal das pernas. Gorbatchov já percebia o declínio, as denúncias de corrupção já  apareciam, a KGB também percebia que algo estava mudando no cenário da Guerra Fria... mas o que tudo isso tem a ver com o joguinho dos quadradinhos caindo (isso não é uma metáfora para a situação da URSS... ou seria?)? Foi neste cenário que o soviético Alexey Pajitnov (Nikita Efremov) inventou o jogo de estratégia que dependia do pensamento rápido do jogador. De início sua criação fez a diversão de seus colegas de trabalho, mas não demorou para que começasse a chamar atenção do outro lado da economia mundial, especialmente de Henk Rogers (Taron Egerton), que em uma feira de games tropeçou no joguinho viciante e percebeu todo o seu potencial. Começa então uma verdadeira disputa pelos direitos do jogo, geralmente intermediada por Roert Stein (Toby Jones), mas aos poucos, Henk descobre que nada é tão simples como parece. A lógica da URSS é totalmente diferente do que os empresários capitalistas imaginam, afinal, Alexey, como cidadão da sociedade socialista soviética, não tinha direito sobre o jogo, e sim a própria União Soviética detinha os direitos de negociação. Com a intenção de priorizar o bem coletivo ao invés do individual, toda arrecadação em torno dos direitos do jogo, deveriam ser revertidos para o país e não para Alexey. Sendo assim, ao invés de  negociar com o criador, Henk deveria agir de acordo com os termos de uma estatal que lidava com assuntos vinculados à importação e exportação. Não bastasse isso, existe uma série de detalhes contratuais que complicam ainda mais as negociações com as autoridades russas. Parece complicado? Não é. Pelo menos não com o roteiro de Noah Pink (da série Genius) que consegue criar uma história tão tensa como divertida. O ritmo impresso pelo diretor John S. Baird também é envolvente, deixando o espectador curioso para saber como o jogo de popularizou ao redor do mundo e, obviamente, fica na torcida por Henk e Alexey que são defendidos por Taron Egerton e Nikita Efremov cheios de carisma. Existe aqui ainda um panorama bastante compreensível sobre as tensões da Guerra Fria, com direito a espiões e tudo mais, alcançando um resultado surpreendente para quem conhece o jogo (que é usado como referências várias vezes nas transições de cenas e quando o filme precisa resumir o que está acontecendo para lidar com as limitações de orçamento). Bem realizado e interessante, Tetris merece mais atenção do que recebeu durante os últimos meses na AppleTV. 

Tetris (Tetris / Reino Unido - EUA) de John S. Baird com Taron Egerton, Nikita Efremov, Toby Jones, Oleg Stefan, Anthony Boyle, Sofya Lebedeva, Ayane Nagabuchi, Miles Barrow e Igor Grabuzov. ☻☻☻☻

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