Depois de dirigir curtas e programas de TV desde os anos 1990, Joanna Hogg estreou na direção com Sem Relação (2007), filme em que uma convidada em crise no casamento flerta com o filho da anfitriã e expõe as fissuras nas relações daquela família. Em seu filme seguinte, Arquipélago, a diretora revisita as fissuras de uma família, mas desta vez, as fissuras não ficam aparentes devido a interferência de alguém de fora, mas surgem de dentro para fora quando um dos membros ensaia uma despedida. O membro em questão é Edward (Tom Hiddleston que interpretava o filho sedutor do filme anterior da diretora), ele está prestes a embarcar para ser voluntário na África na orientação de adolescentes sobre suas vidas sexuais. Ele ficará fora por longos meses e, para realizar uma espécie de despedida, a mãe, Patrícia (Kate Fahy) resolve se reunir com o filho e a filha, Cynthia (Lydia Leonard) em uma antiga propriedade da família na Sicília. Durante os dias em que o trio passará à beira mar, eles terão a companhia da jovem cozinheira Rose (Amy Lloyd) e do professor de pintura Christopher (Christopher Baker), que ajudará mãe e filha a passar o tempo transformando o ócio em algo criativo. Se no primeiro filme Hogg já lidava com o risco de aparentemente não ter nada acontecendo até que a trama se revela, em Arquipélago a coisa se torna ainda mais complicada, já que o ócio é o que move o filme. É a estranha sensação de que não existe nada a fazer que escancara a ideia de que nada acontece durante boa parte do filme. No entanto, os diálogos e situações servem justamente para acentuar o distanciamento entre os membros daquela família, de forma que são estes personagens que compartilham a mesma árvore genealógica que compõem o arquipélago a que o título se refere (e pode adicionar até o pai ausente que não se houve sequer a voz em uma ligação regada à estresse). Aos poucos entendemos a história daquela família e como se tornaram pessoas desconectadas entre si. Não é por acaso que Christopher, prestes a viajar por um longo período (mesmo sem ter certeza se realmente deseja fazer aquilo) passa a maior parte do tempo conversando com a cozinheira - já que acatou a ideia de não levar a namorada para o encontro familiar interminável. Também é sintomático que a irmã sempre pareça insatisfeita, reclamando de tudo e com análises frias sobre qualquer situação apresentada por seus familiares, ou que a mãe comedida exploda toda vez que algo lhe foge ao controle (seu momento de maior paz é quando pinta um quadro cinzento no conforto do quarto com um vendaval revelado fora da casa revelado pela janela). Mesmo sob o risco de entediar a plateia, Hogg confirma aqui seu gosto por retratar o tédio e a insatisfação de uma família que não precisa se preocupar com dinheiro para pagar as contas no fim do mês. Pode não ser um filme empolgante (apesar que parte da plateia pode se empolgar ao ver o intérprete de Loki tirar as calças diante da câmera sem qualquer cerimônia) ou que você guarde na memória por muito tempo, mas acredito que esta narrativa arrastada é a proposta da diretora ao retratar um encontro de pessoas que viveram debaixo do mesmo teto por muito tempo e não fazem questão de permanecerem tão próximas novamente.
Arquipélago (Archipelago / Reino Unido - 2010) de Joanna Hogg com Tom Hiddleston, Kate Fahy, Amy Lloyd, Christopher Baker e Will Ash. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário