sábado, 29 de julho de 2023

PL►Y: Babilônia

Margot: sabor de fim de festa. 

Com La La Land (2016) o cineasta Damien Chazelle se tornou a pessoa mais jovem a receber o Oscar de melhor direção. Ali ele declara um pouco do seu amor pela cidade de Los Angeles ancorado na história de amor de um atriz e um pianista que tentavam a sorte nos arredores de Hollywood. O filme era todo colorido e adocicado fazendo com que as premiações caíssem de amores por ele. Era um passo um tanto surpreendente para quem havia estreado com o raivoso Whiplash (2014), que também havia caído nas graças do Oscar. Em nome da não obviedade o diretor fez algo ainda mais inusitado para quem acompanhava sua carreira, fez O Primeiro Homem (2018) sobre o primeiro astronauta a ir para o espaço. O filme foi considerado frio e sem graça por muita gente. Ele então resolve revisitar personagens que tentam a sorte na capital do cinema, só que desta vez vira tudo do avesso. Babilônia é o quarto filme de Chazelle e era um dos títulos mais aguardados para o Oscar desse ano, mas acabou indicado somente aos prêmios de figurino, trilha sonora e direção de arte - o que no fim das contas é o que realmente pode ser visto como unanimidade perante a trama que se expande por três horas de duração.  Muitos alardearam que a visão do diretor para a transição do cinema mudo para o falado como algo caótico. Mas acho que isso não incomoda o diretor, já que considero que esta sensação era justamente o que o diretor queria. O problema é que no meio de tudo isso o que poderia ser uma comédia ácida se torna um novo subgênero: a comédia azeda. Não como um abacaxi ou um limão, mas como uma laranja que passou do ponto. Dizem que para construir o roteiro, Chazelle pesquisou muito material sobre o cinema dos anos 1920 que são considerados os mais loucos de Hollywood. Afinal, a indústria cinematográfica estava em seus primórdios e atraía todo tipo de gente para lá, geralmente pessoas cheias de sonhos e histórias de vida complicadas. Embora o elenco seja cheio de rostos conhecidos, a trama gira mais em torno daquele período do que das histórias de cada personagem, de forma que eles terminam carecendo de um pouco mais de desenvolvimento. A sorte é que o diretor conta com Margot Robbie (indicada ao Critic's Choice e Globo de Ouro pelo papel) para dar vida a Nelle LaRoy, uma aspirante à atriz que consegue alguma fama ao final da era do cinema mudo, mas que logo encontra dificuldade na transição para o cinema falado. O mesmo acontece com o astro Jack Conrad (Brad Pitt também indicado ao Critic's Choice e Globo de Ouro) que sabe ter chegado no auge e o fato que agora resta apenas descer. Outros personagens que merecem destaque são Manny Torres (Diego Calva), um faz tudo do estúdio que cobiça um lugar de respeito e Sidney Palmer (Jovan Adepo) que tem a cor da pele como um obstáculo ainda maior para ganhar respeito em uma indústria majoritariamente branca. Existem ainda mais dezenas de personagens que por vezes falam ao mesmo tempo (o que por vezes me fez lembrar alguns filmes de Robert Altman) e curtem festas, muitas festas. O mais interessante do filme é a reconstrução dos bastidores do cinema mudo em sua transição para o cinema falado, criando uma mudança na sonoridade do próprio filme, que é muito mais barulhento quando se está no cinema mudo (afinal, não havia captação de som). Chazelle constrói sua narrativa oscilando entre o glamouroso e o grotesco, mas não demonstra o amparo de um roteiro sólido para dar conta de tudo que aponta. O filme tropeça aqui e ali, perde o foco, mata um personagem, emociona em alguns momentos, aborrece em outros, se estica demais, mata mais alguns personagens e resulta um tanto desengonçado diante da história que quer contar. Não é o desastre que muita gente apontou, mas também não é a obra-prima que o diretor almejava. É um filme caro, exuberante e azedo - não como o destino de alguns de seus personagens, para estes o desfecho é amargo mesmo. 

Babilônia (Babylon/EUA-2022) de Damien Chazelle com Margot Robbie, Brad Pitt, Diego Calva, Jovan Adeppo, Jean Smart, Flea, Olivia Wilde, Lukas Haas, Eric Roberts, Max Minghella e Katherine Waterston. ☻☻☻

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