sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

#FDS Justine Triet: A Batalha de Solferino

Laetitia: o caos no macro e no micro.

Em foco no #FimDeSemana do mês, a cineasta Justine Triet é aclamada mundialmente após Anatomia de Uma Queda levar para a casa a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2023, o primeiro de muitos prêmios que o filme recebeu ao longo do ano de 2023. A aclamação culminou nas cinco indicações ao Oscar recebidas pelo filme (incluindo melhor filme, direção e roteiro) nada mal para uma produção estrangeira que não foi a escolhida por seu país de origem a disputar a vaga de filme internacional. Reza a lenda que um dos motivos para este snob são as falas políticas de Trier na imprensa que critica política cultural do atual governo francês. Esta pegada política da cineasta é muito presente em seu primeiro longa de ficção: A Batalha de Solferino, que de certa forma, retoma o tema de um documentário realizado por ela em 2009 sobre as eleições francesas. Aqui ela mescla o acompanhamento da apuração das eleições francesas de 2012 (na disputa entre Sarkozy e François Hollande que estavam praticamente empatados nas pesquisas) com um dia no cotidiano da repórter Laetitia (Laetitia Dosch) responsável para cobrir a apuração diante da multidão na Rua Solferino, local em que se encontra a sede do partido socialista francês. Se a multidão na rua cria um clima caótico, a vida da protagonista não é muito diferente, já que ela mal consegue se arrumar para o trabalho enquanto suas duas filhas pequenas choram e o namorado pede atenção por se sentir um tanto de lado. Quando o babá chega para ajudar, as coisas não melhoram muito com as crianças e tendem a piorar com a recomendação de que ele não deve de forma alguma deixar que o pai das crianças, Vincent (Vincent Macaigne, eleito melhor ator no Festival de Mar Del Plata) entre na casa para vê-las. Caso isso aconteça, ela pede até para um vizinho (Vatsana Sedone) intervir. Acontece que ela vai para o trabalho e Vincent chega e complica ainda mais o dia daquela mulher. Trier ainda carrega aqui as marcas de seu trabalho documental, sobretudo quando percebemos que as entrevistas com os escolhidos na multidão são reais, seja pelos discursos engajados ou desarticulados que estão no filme. Fica marcado assim uma disputa no campo político mais amplo daquele país, mas que cria uma analogia interessante na disputa que se estabelece entre Laetitia e Vincent pelas filhas, o que por vezes gera decisões absurdas de ambos até envolver a polícia. Trier imprime um tom propositalmente frenético e caótico no filme, trazendo um senso de urgência que por vezes torna até compreensível as decisões equivocadas dos personagens. É tanta discussão, tanta gente falando ao mesmo tempo, tanta gritaria que por vezes beira o insuportável. Curiosamente quando o filme se acalma e se torna mais "domiciliar" o filme perde o ritmo e se torna um tanto redundante. Desta vez a improvisação fica mais evidente, mas não sabe para onde ir, chegando a um final que aspira ser de diálogo e conciliação (ou um pastiche disso) mas que se torna insatisfatório por nunca avançar em sua mistura entre o dramático e cômico. No entanto, esta contraposição entre o micro e o macro estabelecido pelo roteiro serviu para que Triet fosse indicada ao César pela primeira vez na categoria de melhor primeiro filme. Uma estreia longe de ser perfeita, mas bastante promissora. 

A Batalha de Solferino (La Bataille de Solférino/França - 2013) de Justine Triet com Laetitia Dosch, Cincent Macaigne, Arthur Harari, Virgil Vernier, Liv Harari e Vatsana Sedone.

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