quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Sequestro do voo 735

Ganghreia: piloto em apuros na trama real.

Ouvi muitos elogios ao filme O Sequestro do Voo 735 e imaginei que eles eram principalmente direcionados à uma produção que procura olhar para um gênero diferente do que a cinematografia nacional costuma voltar-se. Agora disponível no Star+, pude perceber que o filme tem outros méritos além desse, principalmente por colocar a bordo de um avião a tensão política do Brasil no período em que a história se passa. Em 29 de setembro de 1988, um voo que fazia a rota de Porto Velho ao Rio de Janeiro, um homem armado com um revólver calibre 32 rendeu a tripulação e anunciou que se tratava de um sequestro. Objetivo? Jogar a aeronave com seus 98 passageiros contra o palácio do planalto. A motivação do sequestrador era sua insatisfação com o presidente, na época o maranhense José Sarney, conterrâneo do sequestrador. O motivo? O não cumprimento de suas promessas de campanha. A situação do país é explicada nos minutos iniciais: a saída do período de Ditadura Militar, o falecimento do presidente eleito, a posse do vice, o estabelecimento de uma nova constituição, a tensão da convivência dos novos governantes com o corpo militar do país... o grande diferencial do filme fica por conta destas circunstâncias que constroem uma atmosfera diferenciada do que poderia ser apenas um filme de ação Made in Brazil. Existe aqui uma abordagem da trajetória sequestrador e os percalços de sua vida, mas também da vida do piloto que também tem lá sua cota de problemas com os problemas sócio-econômicos do período. Viver no Brasil nunca foi fácil, ainda mais perante a instabilidade econômica pós redemocratização. A direção de Marcos Baldini é bastante segura, conseguindo criar uma tensão bastante envolvente entre os personagens, especialmente entre o piloto vivido por Danilo Ganghreia e seu algoz encarnado por Jorge Paz, no entanto, vale destacar sua construção de cenas tão imersivas sobre as manobras que o avião precisa realizar que fiquei com a sensação de estar dentro daquilo tudo. São cenas realmente impressionantes que demonstram que nosso cinema tem capacidade de fazer planos e enquadramentos bem mais elaborados do que estamos acostumados a ver por aqui. A reconstituição de época também é bastante competente e achei interessante como o roteiro cita bandas dos anos 1980 para contextualizar o tempo, além da relação de toda a situação com os ataques de 11 de setembro! O Sequestro do Voo 735 é um filme muito bem realizado e que impressiona por sua capacidade de entregar algo mais do que se espera dele, tal e qual Baldini fez com outra história completamente diferente com sua versão de Bruna Surfistinha (2011).

O Sequestro do Voo 135 (Brasil/2023) de Marcus Baldini com Danilo Ganghria, Jorge Paz, César Mello, Roberta Gualda, Juliana Alves, Adriano Garib e Wagner Santisteban. ☻☻

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