Margot e Pauline: deliciosa comédia amarga
Acho que os críticos guardam magoas profundas por alguns diretores independentes quando percebem que sua obra de estréia possui elogios demais para pisotearem no coitado. Sendo assim, os críticos esperam pacientemente até a obra seguinte para espinafrarem o cara. Foi isso que aconteceu com Noah Baumbach quando ele lançou Margot e o Casamento. Apesar do filme ter semelhanças com seu filme de estréia (assim como em A Lula e a Baleia, o texto aborda escritores num núcleo familiar e tem aquela forma peculiar com que o roteiro dialoga com a edição) o percurso dos acontecimentos é diferente - assim como o humor aparece de forma mais clara (apesar de muita gente não perceber). Para piorar a situação do filme foi quando Nicole Kidman começou a ter seu relacionamento com o botox posto em questão, no fim das contas as qualidades do filme acabaram sendo esquecidas. Pois é, ao contrário do que a maioria das pessoas fazem eu vou elogiar Margot e o Casamento, um filme que me fez rir um bocado ao mesmo tempo que me comove por não ter pudores em mostrar que o tom amargo de sua personagem camufla sua vulnerabilidade. Baumbach já começa o filme com um piadinha sobre a aparência de Nicole (que aparece morena como em As Horas, filme que lhe deu o Oscar, mas sem a prótese no nariz) e nesse subtexto já começa a mostrar que há algo de adolescente na rabugice de sua personagem. A forma como Margot se relaciona com o filho tem algo fraterno, como se ele fosse o irmão caçula, companheiro de aventuras e ao mesmo tempo vítima de seus dias de mau humor. A trama tem como ponto de partida o casamento da irmã de Margot, Pauline (Jennifer Jason Leigh, esposa do diretor) com um homem que é o estereótipo do american loser (Jack Black, mais contido que de costume). Está certo que Margot é uma das criaturas mais antipáticas que já passaram pela tela de cinema, mas seu brilhantismo conjugado com suas implicâncias geram algumas das cenas mais engraçadas do filme. Aos poucos Baumbach nos mostra seu universo próprio, os vizinhos estranhos, os relacionamentos familiares excêntricos, as pequenas maldades cotidianas e as crueldades familiares (afinal, quem melhor para conhecer nossos pontos fracos?). Frustrações e desejos se atraem e repelem por toda a sessão - a quase zen Pauline e a densa Margot são como tantas outras irmãs que vemos por aí, e a química entre Jennifer e Nicole funciona muito bem. Apesar de seus comentários cortantes, Margot está longe de ser uma vilã, em vários momentos demonstra que seu olhar sobre o mundo reflete suas próprias frustrações, seu deslocamento no mundo e nesse quesito, Nicole tem uma atuação memorável ao abraçar o que sua personagem tem de mais desagradável. Talvez o maior "erro" de Baumbach tenha sido confiar suas fichas em um roteiro que não explora uma catarse explícita de sua personagem (como o confronto de Anne Hathaway com a mãe em O Casamento de Rachel, que segue a mesma linha de Margot), mas quem gosta de filmes que revelam personagens intimistas não devem se incomodar. Falando em incomodar, algo que me desagrada no filme é o cacoete em ficar destilando rótulos psicológicos em seus personagens, nada que prejudique essa pérola do humor negro que se encerra com a tristeza de Karen Dalton entoando Something on your mind. Trata-se de um filme que saiu por aqui direto em DVD e merecia maior atenção dos cinéfilos de plantão. Provavelmente o novo filme do diretor terá melhor sorte, Greenberg - que deve estrear nesse ano - tem Ben Stiller no elenco.
Margot e o Casamento (Margot at the wedding/EUA-2007) de Noah Baumbach com Nicole Kidman, Jennifer Jason Leigh, Jack Black, John Turturro e Zane Pais. Disponível em DVD. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário