É Proibido Fumar: A Glória de Muylaert!
Já que o filme do Lula irá concorrer a uma vaga no Oscar achei que seria muito óbvio e eleitoreiro lhe fazer uma crítica nesse momento. Portanto, resolvi escrever sobre o meu candidato favorito à vaga do presidente tupiniquim na disputa. Pra começo de post eu sou suspeito em falar de Anna Muylart, uma vez que sou fã de carteirinha de seu curta A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti (1995) e fui ao cinema de uma cidade não tão vizinha para ver ao lado de meia-dúzia de gatos pingados o seu primeiro filme premiado em Gramado (Durval Discos) o qual sai satisfeito daquela fuga do gênero marginália que começava a se repetir no cinema brasileiro - afinal era o ano de Cidade de Deus, o auge dessa corrente em todos os sentidos. Anna Muylaert é de longe uma das diretoras mais interessantes de nosso país, não me refiro só aos seus filmes, mas ao seu estilo pessoal mesmo, calado, meio tímido, fala macia e capacidade de expressar muito mais do que está escrito no roteiro em tramas simples mas recheadas de significados que reconhecemos de imediato. Essa não obviedade de seu cinema está representado de forma magistral em É Proibido Fumar, que antes de estrear coleciounou prêmios no Festival de Brasília (filme, direção, roteiro, ator, atriz, trilha...) e desde então permanece alvo das premiações (recentemente recebeu outros três pelo voto dos leitores de uma revista conhecida). É Proibido Fumar parece uma comédia romântica, mas não é. Trata-se de um filme sobre a solidão, a sensação de estar deslocado ao ponto de se isolar do mundo e ter como único amigo um prazer que destrói aos poucos, no caso da protagonista Baby (Glória Pires em mais uma atuação primorosa), o cigarro. Com o jeitão meio hippie ela parece uma prima do Durval que se recusava a vender CDs em sua loja. Baby se contenta em ensinar violão para alguns alunos, visitar a irmã, discutir com a outra e fumar, fumar muito. Tudo muda quando ela conhece o novo vizinho (Paulo Miklos, em sua melhor atuação) que tem estilo parecido com o dela e acaba de sobreviver ao fim de um relacionamento. Não vai demorar para que os dois engatem um romance com todos os prazeres e angústias a que tem direito... sendo que as angústias se multiplicam quando ele pede para Baby parar de fumar e parecer trocar um vício (o cigarro) pelo outro (o namorado). Ela cede ao pedido, mas sua abstinência terá resultados mortais... não necessariamente para ela. Muylaert é craque nessas mudanças de tom na narrativa e a forma como insere os elementos que darão corpo à essa segunda parte da história torna tudo coeso e muito próximo de nossa fatalidade cotidiana. Até o final Baby guardará um segredo e ao desfecho Muylaert molda com perfeição uma cumplicidade que só algumas pessoas podem ter. O filme só não vai receber cinco carinhas porque em DVD podemos ver algumas cenas adicionais que ficaram de fora da edição final (Baby conversando com o aluno, Baby fumando samambaia e o casal passeando de bicicleta ao fim da sessão), será que essas cenas fariam a diferença na escolha do MinC?
É Proibido Fumar (Brasil-2009) de Anna Muylaert com Glória Pires, Paulo Miklos e Marisa Orth. ☻☻☻☻
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