Tippi e Sean: Freud explica...
Ano passado foi o ano em que os diretores voltaram sua atenção para a relação de Alfred Hitchcock com suas musas. O cinema tentou desvendar os bastidores de Psicose e a relação do diretor com as mulheres que estavam ao seu redor durante a produção, mas o resultado acabou ofuscado pela produção da HBO A Garota estrelado por Sienna Miller e Toby Jones - encarnando respectivamente Tippi Hedren e Hitchcock. Os filmes podem deixar claro que o cineasta tem méritos incontestáveis em suas obras, no entanto, deixa claro que a forma como o diretor tratava suas estrelas beirava a obsessão. A relação do diretor com as atrizes que trabalhavam com ele é explorada no livro "Fascinado pela Beleza: Alfred Hitchcock e suas atrizes" de Stephen Rebello que já pode ser encontrado no Brasil. O livro ressalta que havia algo em comum com as atrizes que trabalharam com ele. Kim Novak, Grace Kelly e Hedren sempre aparentavam vulnerabilidade proporcional à beleza e elegância que exibiam na tela, mas foi Hedren quem mais sofreu com o sadismo do diretor (ao que ele creditava uma espécie de motivação para as atuações). Descoberta por sua carreira em comerciais, Hedren já comera o alpiste que o diabo amassou em Os Pássaros (1963) ao ser atacada por penosos de verdade! A experiência poderia ter evitado que continuasse trabalhando com o diretor, mas um contrato para filmar outros filmes do cineasta a obrigou a encarnar a heroína deste Marnie, o qual muitos consideram o último grande filme do diretor. O roteiro, apesar de baseado no livro de Winston Graham, era uma provocação explícita com Hedren, menos por ser uma ladra e mais pelo caráter frígido da personagem (que não se empolga nem com um dos maiores galãs da época, Sean Connery). No entanto, os fãs acostumados ao suspense sufocante do diretor irão perceber que o mistério cede lugar a um drama romântico que tem espaço para o horror somente em seus momentos finais. Marnie Edgar é uma bela mulher que trabalha em empresas somente para roubar. Parte do dinheiro ela dá para a mãe, que acredita que a filha é secretária de um renomado empresário, com a outra parte ela se mantém até encontrar a próxima presa. O problema é que sua próxima presa (a família Rutland) tem um herdeiro que conhece sua trajetória de ladra: Mark Rutland (Sean Connery). Mark mostra-se mais atraído por Marnie do que propriamente preocupado com os prejuízos que ela pode lhe causar. Mesmo depois que o roubo é consumado, a atração de Mark por aquela bela mulher não diminui, pelo contrário, parece aumentar já que ele estabelece um relacionamento onde não consegue disfarçar seu interesse por analisá-la. A resposta para os transtornos de Marnie (não apenas a dificuldade de se relacionar com um homem, como as crises nervosas ao se deparar com a cor vermelha) parece brotar da estranha relação que a personagem possui com a mãe. Particularmente, me interessa menos os segredos de Marnie do que se ela fica ou não com Mark! Até o final explicativo, o filme é tão elegante como qualquer outro de Hitchcock e a química de Connery com Hedren garante o clima no final de tom "o amor triunfará". Sabendo hoje de todos os problemas da relação de Alfred com Tippi é inevitável destacar o profissionalismo do casal durante a execução do filme, mesmo sabendo que este foi o último longa em que trabalharam juntos, já que a atriz rompeu o contrato para fazer os filmes posteriores do diretor.
Marnie - Confissões de Uma Ladra (Marnie/EUA-1964) de Alfred Hitchcock com Tippi Hedren, Sean Connery, Diane Baker e Bruce Dern. ☻☻☻