Kinnear e Bello: até que a pornografia nos separe.
É inegável que Paul Shrader tem atração por personagens do submundo que sempre pendem para o lado mais sombrio do ser humano. Seu maior clássico ainda é o texto de Taxi Driver (1976), que lhe abriu caminho para a carreira de diretor com a comédia Vivendo na Corda Bamba (1978) para depois mergulhar no mundo da pornografia com Hardcore (1979) e no universo michê em Gigolô Americano (1980) que lançou Richard Gere ao estrelato. Apesar de já ter assinado a direção de 18 filmes, Schrader tem um fã clube bastante restrito que não garante que seus filmes se tornem sucessos de bilheteria ou que recebam um espaço nos cinemas brasileiros. Auto Focus foi seu filme de 2002 e, apesar dos elogios prestados à atuação de Greg Kinnear, o filme foi mal nas bilheterias e foi assistido por meia dúzia de gatos pingados quando passou em uma ou outra sala por aqui. O elenco é de fato o maior atrativo do filme sobre o comediante Bob Crane que se tornou famoso por um seriado de TV que satirizava o nazismo - Hogan's Heroes (batizado por aqui de Guerra, Sombra e Água Fresca) que foi ao ar de 1965 até 1971. A fama na TV durou até que descobriram seu vício em sexo e pornografia. Apesar de contar boa parte da vida de comediante, o filme padece (estranhamente) de falta de assunto. Crane começou a carreira em programas de rádio e vivia aparentemente feliz com a esposa (Rita Wilson, a esposa de Tom Hanks) e seus filhos. Quando começou a se tornar famoso tornou-se amigo de John Henry Carpenter (Willem Dafoe), um funcionário da Sony Eletronics (que caiu em desgraça com o advento da TV a cores e descobriram que ele era daltônico). Carpenter o apresentou um mundo de orgias e demais aventuras sexuais. O filme mostra o hábito de Carpenter e Crane gravarem suas aventuras sexuais com prostitutas, strippers, fãs e aspirantes ao estrelato e como essa prática sacrificou sua relação com a primeira e a segunda esposa (vivida por Maria Bello) - esta até se considerava sexualmente liberada até que ele foi longe demais até para os padrões dela. O filme começa em tom de comédia e depois se torna cada vez mais sombrio, até o ponto em que a carreira de Crane chega ao fundo do poço e culmina num misterioso assassinato. Kinnear carrega o filme nas costas mostrando a ascensão e queda de um sujeito simpático que se perde em fantasias, até se tornar um sujeito desagradável e totalmente alienado do mundo ao seu redor. Ou seja, tudo que Schrader adora! Pena que apesar de alguns bons momentos o filme seja repetitivo demais até que as coisas comecem a desmoronar. Uns quinze minutos a menos teriam feito milagres evalorizaria ainda mais as atuações precisas de Dafoe e Crane como uma dupla de amigos bem íntimos.
Auto Focus (EUA/2002) de Paul Schrader com Gregg Kinnear, Willem Dafoer, Maria Bello e Rita Wilson. ☻☻
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