sábado, 19 de outubro de 2019

KLÁSSIQO: Vergonha

Liv e Max: o casamento em  tempos de guerra. 

Ao longo da carreira o sueco Ingmar Bergman dirigiu cerca de 70 produções divididas entre cinema e televisão. Trabalhando entre os anos de 1946 e 2008, seu cinema atravessou décadas sem maiores problemas, uma vez que Bergman sempre foi moderno na abordagem de suas histórias que sempre deixavam o foco no ser humano e suas emoções. O aspecto psicológico de seus personagens é sempre importante no desenvolvimento de suas narrativas, e, por este motivo, encarar um dos seus filmes é sempre uma tarefa um tanto árdua pelas emoções que desperta no espectador. Vergonha (1968) é um filme do qual se houve falar pouco, lançado depois de Persona (1966) e antes de Gritos e Sussurros (1972), o filme conta a história de um casal que escolheu viver afastado em uma ilha. Os dois mantém uma rotina bastante bucólica e partem para a cidade somente para vender o que produzem e comprar o que não conseguem fazer por conta própria. No entanto, este isolamento não impede que os dois saibam que a guerra permanece ao redor deles e, aos poucos, se aproxima impiedosamente. Não demora para que o que parecia ser um paraíso seja invadido e coloque não apenas o casamento, mas a vida de ambos em risco. Bergman nunca foi muito chegado a abordar questões políticas em seus filmes, mas neste aqui ele arranha um pouco esta temática apresentando o poder devastador da guerra, não apenas no espaço físico, mas também no interior dos seus personagens. Neste aspecto, as oscilações no ritmo da história é primordial para que o espectador sinta as transformações que acontecem na história. A tranquilidade é invadida por explosões, violência e morte, mas, ainda assim é notável como tudo isso serve para que algumas rachaduras no relacionamento entre Jan (Max von Sydow) e Eva (Liv Ullman) recebam cada vez mais densidade. O que eram detalhes que poderiam ser contornados se tornam cada vez mais incômodos obstáculos para que os dois permaneçam juntos. As inseguranças dele, a ausência de filhos, o fantasma da traição sobre ambos, são elementos que aos poucos Bergman utiliza para aprofundar o abismo entre os dois, provocando uma dinâmica de atração e repulsa na segunda metade do filme. Acho que não precisa dizer que Max e Liv estão ótimos nos conflitos dos seus personagens. No entanto, foi o trabalho de Max von Sydow que mais de chamou atenção, o ator confere um certo charme sensível para Jan, que aos poucos se esvai e o leva a ter atitudes impensáveis para o personagem que conhecemos no início da história. Pelos seus méritos, que impressionam até hoje, Vergonha foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. 

Vergonha (Skammen / Suécia - 1968) de Ingmar Bergman com Liv Ullman, Max Von Sydow, Sigge Fürst e Ulf Johansson. ☻☻

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