segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

FILMED+: Flow

Flow: uma obra-prima direto da Letônia.

Considero sempre interessante quando no meio das animações produzidas durante o ano aparece uma verdadeira joia de um país que não costumamos ter muito contato com a cinematografia. Eis que da Letônia apareceu um filme que muitos apontaram como a melhor animação de 2024. Celebrada em festivais, o filme foi o escolhido letão para representar o país na categoria de Filme Internacional o que chamou ainda mais atenção para a produção que cravou sua presença na categoria e também na de melhor animação do ano. Um presente duplo para o país que já havia tentado uma vaguinha no Oscar por 16 vezes anteriores e somente agora conseguiu o reconhecimento da Academia. Pode-se dizer que Flow é um filme irresistível, sua estética é diferente da que se tornou comum em Hollywood e seu roteiro não conta com diálogos, apenas com a fluência dos acontecimentos com a sonoridade à base de uma trilha sonora discreta e a precisa utilização dos sons (reais) dos bichos que vemos em cena. A trama gira em torno de um simpático gatinho preto que percebe que o mundo ao seu redor lida com um alagamento. É público e notório o medo que os gatos possuem da água, motivo pelo qual deixa o bichano ainda mais aflito. Ainda que os cenários demonstrem que houve presença de pessoas por ali, elas não estão mais por lá. O roteiro não explica o motivo de somente vermos os bichos naquela região ou o motivo da água invadir tudo, o que deixa para a plateia preencher as lacunas com a própria imaginação. Em sua jornada, o gatinho irá encontrar um grupo de cachorros não muito amistosos, uma capivara, um lêmure e um grupo de serpentários um tanto temperamentais. Na luta por não se afogar, o protagonista junto de outros bichos irão navegar em um barco e verão os traços de suas personalidades (ou seria puro instinto?) ajudar e atrapalhar em alguns instantes, o que ajuda a construir uma trama emocionante sobre empatia, amizade, sobrevivência e sacrifício. Vendo o gatinho lutando para não se afogar, lembrei daqueles momentos em que pensamos se vale a pena continuar remando contra a maré, mesmo quando não temos mais forças ou energias para tanto e a motivação vem de imaginar que pode haver muita coisa boa para além daquela adversidade. Em Flow existe um desfecho místico para toda aquela situação, uma bela sequência que me provocou um deslumbramento que foi logo seguido de uma certa melancolia por conta do desfecho de um dos seres mais misteriosos do filme. O longa é de uma perfeição tão singela que é impossível ficar indiferente e vale um elogio especial para o diretor Gints Zilbalodis que constrói a relação entre seus personagens de forma tão perfeita, que você pode jurar que ouviu a voz dos personagens durante o filme. Um trabalho excepcional que foi realizado com a ferramenta Blender e um orçamento de quatro milhões de dólares (só para ter uma ideia, Robô Selvagem custou 78 milhões e Divertida Mente2 teve o orçamento de 200 milhões). Flow já está na minha lista de filmes favoritos a estrearem por aqui em 2025. Uma obra-prima.

Flow (Straume / Letônia - 2024) de Gints Zilbalodis. ☻☻☻☻☻

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