Jackman: a vida sexual enquanto pauta política.
É no mínimo curioso que no mesmo ano em que um dos filmes mais aclamados da temporada de ouro se chamava A Favorita (dez indicações ao Oscar e convertendo a estatueta de melhor atriz para Olivia Colman), os distribuidores resolveram batizar um filme esquecido das premiações como O Favorito. The Front Runner (título original) era um dos filmes mais cotados para o Oscar, a direção de Jason Reitman sempre gera interesse e a presença do astro Hugh Jackman ao lado de Vera Farmiga e J.K. Simmons indicava que o filme estava disposto a fazer bonito. Lançado em novembro, no meio dos pesos pesados da temporada o filme não foi bem nas bilheterias e não empolgou a crítica com o escândalo na campanha do senador Gary Hart em 1987. Hart (vivido com seriedade por Jackman) tentava cravar sua candidatura à presidência pelo partido Democrata em 1988 com seu carisma e pinta de galã de TV. Seu discurso era afinado com grande parcela da população, seus planos eram emblemáticos para os eleitores e os enchia de esperança, ou seja, era a cara da mudança num país que via do lado republicano a candidatura de George Bush (o pai), até então vice de Ronald Reagan. Tudo ia bem até que Hart se tornou pioneiro em algo que rende manchetes até hoje: um escândalo sexual no mundo da política. Diante da crescente intenções de voto para Hart, a mídia começou a procurar algo que pudesse vender ainda mais jornais e acabou se deparando com suspeitas sobre a infidelidade do senador. Reitman e seus parceiros roteiristas tem aqui uma história real cheia de possibilidades, mas que perde o fôlego num roteiro inconsistente que não consegue decidir qual mensagem quer passar. As referências estão bem claras aqui, do início em que os personagens falam demais ao mesmo tempo (algo bem Robert Altman) passando pela intenção de emular a tensão do clássico Todos os Homens do Presidente/1975, mas não empolga justamente pelo texto insosso para um tema tão explosivo. A coisa piora consideravelmente quando ensaia o discurso de denúncia sobre abusos que homens poderosos feito Hart cometeram ao longo da vida misturado com o receio de demonizar a mídia que associa a vida pessoal de candidatos à sua competência política. Quando o filme precisa se equilibrar entre estes dois pontos ele piora consideravelmente. Sem se comprometer em dizer que era tudo um grande mal entendido ou se algo realmente aconteceu, o filme perde a oportunidade de se aprofundar em um dos "pilares" do conservadorismo do Tio Sam: o discurso da moral e dos bons costumes. O resultado só não fica mais desengonçado por conta da competência de Hugh Jackman na pele do desconfortável candidato (pena que ele aparece pouco) e de seu elenco de apoio. Infelizmente, O Favorito tropeça em sua pretensão e perde fôlego quando deveria se tornar uma crônica política contundente para o tempo que vivemos.
O Favorito (The Front Runner / EUA-2018) de Jason Reitman com Hugh Jackman, Vera Famiga, J.K. Simmons, Alfred Molina, Mark O'Brien, Mike Judge, Sara Paxton e Kaitlyn Dever. ☻☻