Hanks e Rhys: encontro terapêutico com um ícone americano.
Em tempos de Covid19, o casal Tom Hanks e Rita Wilson foi uma das primeiras provas de que ninguém está imune. Recentemente tivemos a boa notícia de que depois de várias semanas de tratamento os dois estão bem e colaborando com pesquisas para encontrar uma forma de combater a doença. Antes disso, Hanks havia começado o ano bem, rompendo o jejum de dezenove anos sem indicação ao Oscar. Depois de longo período sendo esnobado, o ator foi indicado ao prêmio de ator coadjuvante por seu trabalho neste bom filme da diretora Marielle Heller sobre o icônico apresentador de TV Fred Rogers (1928-2003). Mais conhecido como Mr. Rogers, ele era formado em Pedagogia e foi Ministro Presbiteriano, além de compositor de músicas educativas. Seu programa de televisão (Mr. Rogers Neighborhood) foi produzido de 1968 a 2001, o que ajudou a construir uma verdadeira lenda do entretenimento americano. Rogers ficou famoso por nadar todas as manhãs, não beber ou fumar, era vegetariano, casado e pai de dois filhos. Se apresentava como um sujeito cativante e, portanto, torna-se mais do que compreensivo a construção de um filme envolvendo sua personalidade. O filme retrata um episódio muito particular em sua vida, a ocasião em que o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é indicado para realizar uma matéria sobre ele. Vogel é o total oposto de Rogers, pessimista, cético e amargo devido ao relacionamento problemático com o pai (vivido por Chris Cooper) e seu temperamento começa a afetar seu casamento. A verdade é que a forma de encarar a vida faz com que ele tenha bastante resistência em aceitar que possa existir uma pessoa com a serenidade de Rogers. Embora no início exista um desconforto inevitável, são os diálogos com Rogers que fazem o jornalista começar a repensar sua postura diante das dores e rancores perante o mundo. Baseado num artigo publicado sobre este encontro de opostos, Heller reforça a aura que Mr. Rogers possui com uma atuação serena e um tanto melancólica de Hanks, que atinge uma naturalidade impressionante como uma pessoa pública. O filme foi um tanto criticado por não apresentar nenhuma novidade sobre a personalidade do apresentador, embora, o roteiro faça isso de forma muito sutil no diálogo de Vogel com a senhora Rogers (Maryan Plunkett) e na última cena em que o Rogers toca piano. O trabalho de Matthew Rhys (ator britânico celebrado pelo seu excelente trabalho na série The Americans) é mais complicado: provocar empatia com um personagem um tanto antipático (mas ele executa a tarefa de maneira convincente). De certa forma, seu papel reflete um pouco o olhar da própria diretora sobre o famoso apresentador. Cineasta indie acostumada a lidar com personagens controversos (como em Diário de Uma Adolescente/2015 e Poderia me Perdoar?/2018), Rogers é o oposto do que ela costuma trabalhar em suas obras - e por isso mesmo deve ter lhe despertado tanto interesse. No entanto, diante dos seus trabalhos anteriores, parece que aqui ela patina em gelo fino. Embora tenha forte carga emocional, o filme é bastante discreto mas (aspecto que achei muito interessante), por vezes, flerta com a fantasia no meio da narrativa - o que reserva momentos de grata surpresa para o espectador.
Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood / EUA - 2019) de Marielle Heller com Matthew Rhys, Tom Hanks, Chris Cooper, Susan Kaleshi Watson e Maryan Plunkett. ☻☻☻
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