quarta-feira, 22 de julho de 2020

PL►Y: Viveiro

Jesse, o bebê e Imogen: a arte do sem sentido. 

Fazer filmes estranhos podem até parecer simples, aparentemente é só construir uma história sem pé nem cabeça que seja capaz de manter o espectador curioso em saber como aquilo irá terminar. No entanto, além de espalhar alguns detalhes capazes de fazer com que se busque sentidos abaixo da superfície, também é preciso que o final da trama seja satisfatório. Não que ele precise explicar o que está acontecendo, mas precisa ser algo arrebatador, que, de preferência, subverta o que foi visto até então. Talvez esta seja a maior falha de Viveiro, um filme de estrutura simples e circular, cuja história não avança e se repete até chegar ao desfecho (e o título á revela bastante do que se trata). É verdade que aqui e ali acontece uma coisinha que cria a esperança de que aquele universo irá desmontar, mas o maior problemas está no final (que pode se dizer: volta para o início promissor).  A trama gira em torno de um jovem casal que busca a casa ideal para morar. Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg), acabam entrando em uma imobiliária e conhecendo um corretor esquisito que os levam para um condomínio distante, de uma perfeição  visivelmente artificial. Lá encontram uma casa espaçosa, que parece perfeita para morar e criar um filho (e o quarto já vem projetado para um menino). Eles não fazem ideia que ficarão presos naquele lugar por um longo tempo. Sem vizinhos por perto e nem sinal do corretor que os levou para aquele mundo estranho, eles se percebem presos em uma rotina que se altera quando o roteiro acrescenta mais um personagem que só ironiza a construção daquela família "ideal". Com inspiração surrealista, torna-se possível fazer várias leituras sobre o que acontece no filme, sobre a relação entre um casal, sobre a ideia do que é ser uma família, como a rotina pode ser uma prisão, de como um filho pode ser um estranho para seus pais, a negação de alguns papéis sociais, obsessões, medos, tédio (e se o espectador optar não fazer será provavelmente rotulado como aquele que não entendeu o sentido do filme, relaxa, o filme não avança mesmo). O diretor Lorcan Finnegan (que assina o roteiro junto com Garret Stanley) deixa tudo solto, frouxo e sem explicações de propósito na construção absurda de sua narrativa. No final ele até ensaia dar algumas respostas, mas nada que mude muito o tom entediante da história. Talvez a ideia rendesse um bom curta-metragem, num filme de pouco mais de noventa minutos a coisa fica repetitiva e não se desenvolve como deveria. Quanto ao elenco, Imogen Poots se esforça, mas o roteiro que corre atrás do próprio rabo não lhe oferece muita substância para desenvolver, ainda assim, ela consegue fazer mais do que Jesse Eisenberg que passa a maior parte do filme cavando um buraco no quintal. Misturando terror, suspense e uma pitada de ficção científica, Viveiro é mais um filme genérico que bebe na fonte de Além da Imaginação - que também tinha seus episódios ruins No entanto, a maior decepção está realmente no desfecho. Fosse algo imprevisível, poderia ser mais interessante, do jeito que é, torna sua birutice em experiência bastante esquecível.

Viveiro (Vivarium / Irlanda - Bélgica - Dinamarca, Reino Unido - EUA / 2019) de Lorcan Finnegan com Jesse Eisenberg, Imogen Poots e Jonathan Aris. 

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